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sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Sublimes patranhas


Na exposição frenética das notícias diárias vemos alguns setores andarem numa roda-viva: o governo a intoxicar com investimentos de milhões (ferrovia, espaço aéreo, subterrâneo, etc.)…querendo fazer em meses o que esteve cativado em anos; clubes desportivos com dinheiro à fartura para treinadores e jogadores; uns praticantes em final de carreira que se travestem de generosos ao regressarem à pátria porque usufruem de descontos para metade nos impostos; coisas e loisas de boa vontade que encobrem jogadas fabricadas para público (desatento, flácido e manipulado) se enfeitiçar…

Alguns episódios parecem, desde logo, tão inverosímeis, que podem facilmente ser descartados. Outros momentos por tão repetitivos, logo geram desconfiança. Nalguns casos nota-se alguma subtileza nos assuntos, enquanto noutros parece que se capta com facilidade a desconexão entre as pretensões e a realidade.

Estas sublimes patranhas quase parecem ‘falsas notícias’ tal a ténue credibilidade com que aparecem a um público mais atento, exigente e com outros critérios que não sejam a filiação partidária, a ansiedade de protagonismo ou até o insuficiente discernimento sobre aquilo que nos vendem a toda a hora…  

= A máquina das agências noticiosas – essas que fazem e gerem as agendas dos jornais e os alinhamentos televisivos – estão em constante laboração: fabricam factos e trucidam personagens, fazendo com que, quem lhes paga, esteja na crista da onda, qual surfista em maré de campeonato final…

Progressivamente se vai dessacralizando o dogma da comunicação social, essa que permite atingir o poder, prolongar-se nele e arranjar lacaios para que continuem a ser gerados novos militantes. Com que habilidade temos de deixar de ser fiéis do mesmo noticiário, do mesmo canal de rádio ou até do mesmo jornal. Confrontar os critérios de seleção das notícias faz com que tenhamos de saber aferir-nos à diversidade dos pontos de vista, sem nos deixarmos manipular só por uma perspetiva, a de quem noticia ou quer vender o produto informativo. 

= Vejamos exemplos, a partir do enunciado supra citado:

– o tal jogador que escolheu uma equipa portuguesa para vir jogar agora, soube aproveitar o desconto que o governo propôs de cinquenta por cento no IRS, durante cinco anos. Foi isto, generosidade ou habilidade? Porque não se disse (quase) nada sobre o assunto? Quem fica a ganhar com estas habilidades?

 – se o relatório ambiental chumbar o projeto, não haverá aeroporto no Montijo. Era necessária tanta pompa e aparato para algo que pode não passar dum bluff e de ‘fake news’? Havia necessidade de enganar deste modo o povo e de gastar tanto tempo com algo incerto e talvez errático?

– o tempo gasto sobre certos clubes de futebol é excessivo e fastidioso. Porque será que algumas notícias são espremidas até à exaustão, enquanto outros passam incólumes e vão fazendo o seu trabalho de ganhar a todo o custo? Uns vendem, outros dispersam? 

Nota – Aconteceu num canal televisivo, em direto, o abandono de dois (dos quatro) convidados para comentarem um assunto, dando como razão a manipulação duma reportagem – ao que disseram feita à revelia dos intervenientes – e sobre casos pré-pagos. Pena é que um dos participantes se escondesse não no armário mas por trás duma cortina encomendada… Mais uma patranha bem cozinhada, mas bastante mal servida!

Coragem, precisa-se.

 

António Sílvio Couto



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