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terça-feira, 1 de março de 2022

‘Big brother’ da guerra

Como seria expetável as imagens da ‘guerra na Ucrânia’ tornaram-se uma espécie de ‘big brother’ informativo. Sobre a designação de ‘big brother’ consideramos essa amostragem contínua de cenas com pessoas retidas numa casa, sob o desejo de ganhar um prémio mais ou menos chorudo e deixando ver (quase) tudo daquilo que fazem (farão) até de lá saírem.
Quanto à ‘guerra na Ucrânia’ tornou-se, por estes dias, o centro das notícias, com uns certos ingredientes medievalescos de conquista de um povo – os russos – sobre outro povo – os ucranianos – num tempo que se desejava de paz e de respeito dos povos entre si…

1. Nos mais diversos lugares surgiram, neste fim-de-semana, manifestações de comunhão com o povo da Ucrânia, ansiando a paz e abjurando tudo quanto possa dar continuidade àquela guerra e aos seus sinais. Também na Moita, no passado domingo, à noite se reuniram dezenas de pessoas ao pé do monumento público a Nossa Senhora da Boa Viagem para marcarem a solidariedade e sintonia com aqueles – ao longe ou mais perto – sofrem as agruras do momento presente. Mais do que uma ação religiosa ou de índole política, pretendeu-se que esta ocorrência fosse uma manifestação cívica, onde aquelas vertentes estivessem presentes, mas não fossem preponderantes. De entre os vários cidadãos contaram-se elementos dos órgãos autárquicos, das Igrejas, dos setores sociais e eclesiais e, sobretudo, contamos com a presença de um padre ucraniano (e outros concidadãos) que acompanha os imigrados desde há alguns anos…no nosso país. Foi um tempo simples e sereno, tentando emitir tais sentimentos para aqueles que a mais de quatro mil quilómetros não estão a viver tais fragâncias.

2. Há perguntas que se fazem, umas audíveis e outras mais interiores, sobre tudo quanto está a acontecer na Ucrânia. Com que direito o presidente da Rússia faz esta invasão de um país, querendo impor à força as suas ideias e os seus projetos? Onde está o respeito mínimo para com os outros, mesmo que possam ser menos bons vizinhos? A pretensão de reconstruir a ‘grande Rússia’ dos czares e do império bolchevique soviético justifica o desenvolvimento desta guerra? Todos os meios serão aceitáveis para conseguir os fins? Até onde irá a concretização das pretensões do chefe e a obediência dos subordinados? Neste tempo de cultivo de fazer tudo o que se possa para aparecer – simbolizado no tal ‘big brother’ – este episódio da guerra não fará parte da programação mais subtil e engenhosa? Nesta imposição da futilidade reinante não andaremos a ver mais os erros alheios do que atentarmos corrigir as nossas lacunas mais recônditas?

3. Este clima de confusão instalou-se no ambiente mundial. Por momentos parecemos todos presos pelas consequências de mais um desvario de alguém que denota perturbação mental mínima, pois não se percebe que um dirigente desequilibrado possa arrastar todos para a desgraça. Só que esse tal ‘louco’ não está só e, mesmo que nos custe, poderemos encontrar um tal de ‘putin’ – ditador, mau e intransigente – no interior de cada um de nós. Com efeito, nele podemos encontrar a representação mais funesta e quase macabra daquilo que pode emergir nas nossas atitudes, palavras, gestos e comportamentos de intolerância à diferença, de reação à menos boa aceitação e até de desagregação do meio em que vivemos, quando não aceitamos corretamente as advertências dos outros.

4. Numa última referência talvez devamos considerar, em tudo isto, um apelo à conversão pessoal e social que estes momentos de convulsão criados pela guerra nos podem proporcionar. Desde logo a alusão à conversão da Rússia como nos foi alertada em Fátima, pelas manifestações de Nossa Senhora. Os factos desse tempo eram outros, mas os perigos continuam hoje. Quem possa tornar-se sinal do mal não falta por aí e quem continue a viver mais no materialismo do que na dimensão espiritual é incontornável… Por isso, precisamos de parar e de escutar; de serenar e de refletir; de questionar-nos e não de nos desculparmos; de nos humanizarmos e não de nos enfurecermos, pois tudo mudará, quando eu começar a mudar…
O processo pode iniciar-se hoje!

António Sílvio Couto

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