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sábado, 21 de agosto de 2021

Para uma visão cristã nos acidentes


 Será que Deus está nos acidentes que nos acontecem? Os acidentes são resultado do quê: falha humana, erro ou descuido? Deus permite ou somos nós que provocamos os acidentes? Haverá uma forma cristã de interpretar os acidentes – de viação, de trabalho, domésticos – assumindo cada um as suas responsabilidades? Estas e outras possíveis perguntas poderão ajudar-nos a fazer uma leitura cristã de quanto nos acontece, mesmo quando isso é (ou pode ser) perturbador, dramático ou traumatizante…
 
1.Definição’ descritiva de ‘acidente’Um acidente é um evento inesperado e/ou indesejável, que causa danos pessoais, materiais (patrimoniais) ou financeiros e que ocorre de modo não intencional... Os acidentes podem revestir a forma de colisão ou queda, lesão ou ingestão de veneno... 
Se os resultados dessas negligências eram previsíveis e não tenham sido tomadas as respetivas precauções, quem tal causou pode ser responsabilizado por eventuais consequências.

2. Atendendo aos vários campos de ocorrência, os acidentes deixam marcas nos intervenientes, nas famílias e, mesmo, na sociedade em geral. Vejamos alguns espaços/campos/situações de ocorrência de acidentes:
- na última década registaram-se, em Portugal, cerca de sete mil mortos em acidentes rodoviários… ao nível europeu os números são algo elevados: faleceram nas estradas europeias quase vinte e duas mil pessoas, o equivalente a sessenta vítimas por dia e 1,09 milhões de feridos, dos quais 179 mil com gravidade…
- os acidentes de trabalho ocorridos em 2019, no nosso país, totalizaram quase duzentas mil situações, com mais de uma centena de óbitos… Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT) há mais de 337 milhões de acidentes no trabalho, cada ano, resultando com as doenças profissionais mais de 2,3 milhões de mortos por ano…
 
3. Que respostas podemos encontrar no âmbito católico?
Sobretudo tendo em conta a intervenção dos movimentos católicos ligados ao mundo do trabalho podemos encontrar propostas de simples e ousadas, à mistura com outras algo ideologizadas (por exemplo as procedentes da pastoral operária), tendo em conta quem intervém e quais os alvos que pretende atingir. Desde logo a celebração do dia mundial em memória das vítimas de acidentes do trabalho’, a 28 de abril de cada ano. Embora não seja de iniciativa da estrutura da Igreja católica, ela participa na comemoração do ’dia mundial em memória das vítimas das estradas’, que ocorre no terceiro domingo de novembro de cada ano e no qual se pretende lembrar os que partiram, apoiar os que sofrem e agir para impedir mais desastres.
Se atendermos à nossa condição de fragilidade – continua, crescente e em maturação ao longo da nossa vida – poderemos perceber e enquadrar ainda melhor o mistério da Encarnação do Verbo, que é a expressão básica e suprema da nossa condição humana… e todos os acidentes da vida serão vistos com olhos novos, centrados em Jesus e amados, por antecipação para connosco.
 
4. Cada cristão é investido em ser presença de Jesus cuidando das mazelas dos seus irmãos, estando atento as traumas dos acidentes, sendo a terapia da compaixão, suportando quantos d’Ele precisam através de nós… Hoje continuamos a ser o seu cuidado ativo: pelo cuidado das mazelas deixadas pelos acidentes, entre as perdas de vidas e os perdões não-dados, passando pela escuta e o silêncio sem lições escusadas; pela atenção aos traumas prolongados no tempo e na história recontada, vezes sem-conta; pela terapia da compaixão, onde a vítima recosta a sua vivência, sem tempo para lições nunca aprendidas…
Os acidentes podem ser oportunidades de conversão ou de revolta, onde o Deus de Jesus se pode (e deve) fazer o novo samaritano, sem outro interesse que não seja a pessoa ferida no corpo, na alma ou até no espírito… Se o vivemos, demos disso testemunho!
 
António Sílvio Couto
 

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