João Paulo II chamou à família de “santuário da vida”. Ora ‘santuário’ quer dizer que é um‘lugar sagrado’. É na família que a vida humana surge como de uma nascente sagrada, é cultivada e formada. É missão sagrada da família, guardar, revelar e comunicar ao mundo o amor e a vida.
Já no Concílio Vaticano II se tinha cunhado uma outra expressão para definir a
família: ‘a Igreja doméstica’ (1), onde Deus reside, é reconhecido, amado,
adorado e servido, ensinando ainda que: ‘a salvação da pessoa e da sociedade
humana estão intimamente ligadas à condição feliz da comunidade conjugal e
familiar’ (2). Desta forma a família, na qual convivem
as várias gerações, que se ajudam mutuamente em adquirir maior sabedoria e em
harmonizar os direitos pessoais com outras exigências sociais, constitui o
fundamento da sociedade.
Na ‘Carta às Famílias’ (1994), João Paulo II considera que ‘antes de criar o
homem, o Criador como que reentra em si mesmo para procurar o modelo e a
inspiração no mistério do seu ser’. Todos os seres criados, exceto o homem, já
nascem dotados de tudo o que precisam para se tornarem completos na sua
natureza. Connosco, humanos. é diferente, pois Deus nos quis semelhantes a Ele
e construtores do nosso próprio futuro. É o que Deus disse ao casal-premigénio:
“Crescei e multiplicai-vos e dominai a terra”. (Gn 1,28).
Na visão bíblica,
homem e mulher são chamados a, em comum, continuar a ação criadora de Deus, e a
construção mútua de ambos. Só ao casal humano dá a inteligência para ver, a
liberdade para escolher, a vontade para perseverar e a consciência para ouvir
continuamente a Sua voz. Esta é a alta dignidade que Deus confere à criatura
feita à sua imagem e semelhança. Para corresponder a esta grandeza dada pelo
Criador, o homem deve viver a sua liberdade com responsabilidade. Pecar será
sempre abusar da liberdade que Deus nos deu; isto é, vivê-la sem
responsabilidade e sem verdade. ‘Ponho diante de ti a vida e a morte, a benção
e a maldição. Escolhe, pois, a vida, para que vivas com a tua posteridade,
amando o Senhor teu Deus, obedecendo a sua voz e permanecendo unido a ele’ (Dt
30,19-20).
Ao falar da família no plano de Deus, o Catecismo da Igreja Católica, diz que
ela é ‘vestígio e imagem da comunhão do
Pai, do Filho e do Espírito Santo. Sua atividade procriadora e educadora é o
reflexo da obra criadora do Pai’ (Catecismo da Igreja Católica, 2205).
Essas palavras indicam que a família -- constituída e construida na base de um
relacionamento estável entre um homem e uma mulher -- é, na terra, a marca --
‘vestígio e imagem’ - do próprio Deus, que, através dela, continua a sua obra
criadora.
Efetiva e afetivamente a família é ‘a célula originária da vida social... É a
sociedade natural na qual o homem e a mulher são chamados ao dom de si no amor
e no dom da vida...a família é a comunidade na qual, desde a infância, se podem
assimilar os valores morais, em que se pode começar a honrar a Deus e a usar
correta mente da liberdade. A vida em família é iniciação para a vida em
sociedade’.
Neste sentido, a família é o eixo da humanidade, é a sua pedra angular. O
futuro da sociedade e da Igreja passam inexoravelmente por ela. É ali que os
filhos e os pais devem ser felizes. Quem não experimentou o amor no seio de um
lar -- equilibrado, feliz e harmonioso - poderá ter dificuldade em conhecê-lo
fora dele ou pior, terá maior dificuldade ainda em quer e viver isso como
projeto de vida para a sua vida. Com efeito, ‘a importância da família na vida e no bem-estar da sociedade implica
uma responsabilidade particular desta no apoio e fortalecimento do matrimónio e
da família. A autoridade civil deve considerar como seu grave dever «reconhecer
e proteger a verdadeira natureza do matrimónio e da família, defender a
moralidade pública e favorecer a prosperidade doméstica’ (3). Com tantos ataques à família assim construida, na base do
relacionamento entre um homem e uma mulher, não teremos de considerar que tais
fomentadores desses temas fraturantes quanto à família, afinal, não reproduzem
mais do que a má ou deficiente experiência de vida familiar...
1. Cf. Concílio Vaticano II, Constituição dogmática ‘Lumen gentium’ sobre a
Igreja, 11
2. Cf. Concílio Vaticano II, Constituição pastoral ‘Gaudium et spes’ sobre a
Igreja no mundo atual , 47.
3. Cf. Catecismo da Igreja Católica,
2210.
António Sílvio Couto
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