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quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Caranguejos, lacraus e minhocas…à portuguesa

 


Apesar dos diferentes habitats em que se desenrolam, estes três ‘bichos’ podem tipificar a nossa condição de portugueses: luta de caranguejos, ataques dos lacraus e sobrevivência das minhocas…servir-nos-ão para enquadrar a nossa conduta coletiva e, porque não, de teor mais individual.

Não pretendo dar lições a ninguém nem induzir seja quem for em erro, pois, estes três ‘sinais’ sociais da nossa condição de portugueses são muito mais comum no tecido humano, cultural, político e económico do que julgamos, misturando-se na mesma situação a versão caranguejo com a de lacrau e até a convulsão de minhoca se atravessa na ética – pretensamente republicana – de uns tantos…

 

1. Luta de caranguejos – Contaram-me este episódio algo bizarro: um indivíduo estava a apanhar caranguejos, quando um outro se aproximou e, vendo-o, a colocar os caranguejos num balde destapado, lhe perguntou: então, não tens receio que os caranguejos saiam do balde e que fiques sem nada? ‘Não’, retorquiu ou outro: ‘são caranguejos portugueses, quando virem uns a sair, puxam os outros para baixo para que não saiam’.

O júbilo com que vimos certas forças e meios de comunicação social a tratar algumas figuras a contas com a justiça, deu a entender que há gente que é incapaz de distinguir entre o sucesso alheio e a acusação de malfeitoria sobre todos os que não pactuam com a sua coloração ideológica. Nem todos os capitalistas são ladrões e corruptos, nem todos os empresários se comportam como outros patrões, nem todos os que dão emprego exploram os trabalhadores. Esta mentalidade de caranguejo com que certos políticos de ‘esquerda’ tratam os demais nunca fará do nosso país outra coisa que não seja um antro de preguiçosos pendurados no fazer o menos possível, ganhando o máximo que possam… Não era tempo de sacudir esta mentalidade dialético-marxista, que tantos prejuízos tem trazido ao mundo do trabalho, ontem como hoje?

 

2. Ataques do lacrau – diz a velha fábula que, um dia, um lacrau, querendo atravessar um rio, mas não tinha condições por não saber nadar. Por perto estava uma rã, essa sim com experiência de andar na água e de atravessar charcos e rios. O lacrau (escorpião) disse à rã se lhe fazia o favor de o transportar nas suas costas, ao que, avisada pelo conhecimento que tinha do comportamento fatídico do lacrau, ripostou em não aceitar o desafio. O lacrau insistiu: se eu te picar, morreremos ambos. Concordando com a proposta, a rã carregou o lacrau e, no meio do rio, sentiu uma picada, dizendo: por quê isto, se vamos morrer os dois. Ao que o lacrau respondeu: está na minha natureza…  

Quanta gente ingrata anda por aí! Quantos aferrolham nas costas dos que lhe fizeram favores! Quantos se servem dos outros para se promoverem sem olharem a meios para atingirem os seus fins! Quantos conjugam o verbo atraiçoar nos diversos tempos e formas, sem pejo nem vergonha. Agora que nos perfilamos para novas eleições autárquicas, começamos a perceber que uns tantos não merecem que lhes confiemos o voto, pois nos atraiçoaram em tempos recentes.    

 

3. Psicologia da minhoca – quem conhecer, minimamente, as minhocas saberá que vivem em lugares húmidos, lamacentos e que se deslocam ondulando o corpo sobre si mesmas, sem levantarem muito a cabeça, sobrevivendo enterradas, escavando galerias e canais no solo e procurando abrigo e alimento na terra.

Num tempo de gente sem coluna, chamar-lhe minhoca poderá ainda ofender as que o são e tentam sobreviver para não acabarem como isco de pesca. Não é de forma gratuita que se aplica o termo ‘minhoquice’ para caraterizar o não-assunto com que certas pessoas se entretêm. Sim, as minhoquices são tropelias de quem não tem vida própria e se ocupa da alheia…nas redes (ditas) sociais, nas conversas de café, nas intrigas de facebook ou mesmo nas suspeitas que lançam, alimentam e reproduzem.

É verdade: quem não sabe andar de pé, rasteja e faz-de-conta que os outros lhe ligam importância. Tantas minhocas povoam o nosso mundo, favorecendo e sendo aduladas por idênticos na sua insignificância.

 

= Dos caranguejos invejosos, dos lacraus venenosos e das minhocas peçonhentas, livrai-nos, Senhor.

 

António Sílvio Couto

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