Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



sábado, 14 de agosto de 2021

Gratidão – virtude humana e/ou dom divino

 


«Com licença», «obrigado», «desculpa». Estas palavras realmente abrem o caminho para viver bem na família, para viver em paz. Trata-se de palavras simples, mas não tão fáceis de pôr em prática!

(...) Em geral, para nós elas são as palavras da «boa educação» – Papa Francisco

 

Que dizer da ingratidão, se até Jesus ficou ofendido, admirado e interrogativo, quando dos dez leprosos curados, só um lhe foi agradecer…e era um ‘samaritano-estrangeiro’?

Antes de mais a gratidão é (ou deve ser) uma virtude humana, isto é, cultivada, manifestada e testemunhada na vida social e mesmo cultural.
Tempos houve em que as pessoas usavam com simplicidade e leveza a expressão: ’muito obrigado’ para exprimirem para com outrem algum reconhecimento por um favor recebido, palavra dada ou atenção colhida. Embora a educação não tenha sido suspensa, vemos que, hoje, as pessoas se consideram mais reivindicativas e com direitos adquiridos, obnubilando essa linguagem da gratidão humana e até para com Deus.
O Papa Francisco tem vindo a reintroduzir na nossa linguagem de vida cristã o uso de três palavras que ele reputa de importantes – com licença, obrigado, desculpa. Através destas palavras/expressões podemos e devemos ser educados uns para os outros, pela sensibilidade que temos para com Deus…
 
* Vejamos algumas incidências desta faceta importante da nossa vida humana e cristã que é a gratidão ou a ação de graças, pois se formos portadores de gratidão, o mundo poderá tornar-se um espaço mais humano, com mais equilíbrio e melhor equidade entre as pessoas e todos poderemos confiar mais uns nos outros…
«Como na oração de petição, qualquer acontecimento e qualquer necessidade podem transformar-se em oferenda de ação de graças. As cartas de São Paulo muitas vezes começam e acabam por uma ação de graças, e nelas o Senhor Jesus está sempre presente: «Dai graças em todas as circunstâncias, pois é esta a vontade de Deus, em Cristo Jesus, a vosso respeito» (1 Ts 518); «perseverai na oração; sede, por meio dela, vigilantes em ações de graças» (Cl 4, 2) (Catecismo da Igreja Católica, 2638).
 
* Eis os elementos contidos na ‘oração de ação de graças’: temos algo a agradecer, que nos foi dado – talvez nem o merecêssemos – e que nos coloca em referência a outrem, isto é, não é de todo só mérito nosso, embora possa ter (e teve) a nossa/minha participação; porque me sinto agradecido exprimo-o de forma 
‘Dar graças’ é reconhecer-se pequeno perante Alguém, que nos concede dons e graças, benefícios e bênçãos, podendo voltar para Ele o nosso olhar em atitude de gratidão, agradecendo e abrindo-se a novas graças. Numa das suas intervenções o Papa Francisco considerou que o mundo está dividido em dois tipos de pessoas: os que não-agradecem e os que o fazem…isto é, os que reconhecem Deus e os outros como presença d’Ele e outros mais autossuficientes e ingratos para com Deus e mesmo para com os outros.
 
* A atitude de gratidão/ação de graças dizemo-lo em relação a Deus e de uma forma mais exponencial na eucaristia – o termo grego original diz mesmo: ‘ação de graças’. No diálogo no início do prefácio da missa temos esta forma de entendimento: ‘demos graças ao senhor nosso Deus’ – ‘é nosso dever, é nossa salvação’…prosseguindo o presidente da assembleia – ‘é verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação, dar-vos graças sempre e em toda a parte por Jesus Cristo, vosso amado Filho’ (prefácio à oração eucarística II). Dir-se-á que aqui se traça, na linha programática de Santo Inácio de Loyola: ‘para a maior glória de Deus’… tudo e sempre! 
 
* A ‘ação de graças’ faz-nos, com efeito, humildes de pé, sabendo quem somos e reconhecendo a Quem devemos o que recebemos e o dom maior é sempre o da vida. Quantas dívidas de gratidão acumulamos ao longo da nossa existência. Quantos sinais que nos escapam para sabermos convenientemente agradecer. Quantas vezes seríamos mas gratos para com os outros se fizéssemos equivaler para com eles as reclamações de gratidão que lhes cobramos…
  

António Sílvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário