De há uns tempos a esta parte é recorrente ouvirmos um certo tipo de jornalismo usar a construção de que importa contar uma boa história – talvez se devesse usar antes o outro termo ‘estória’ – por forma a falar de coisas da vida, que prendam as pessoas e as faça serem envolvidas pelas situações dos outros…
Se esta
tendência tem vindo a ganhar forma e corpo num certo jornalismo escrito e
narrativo, tanto vai sendo servido e sorvido em programas televisivos, que nos
apresentam – sobretudo em figurinos das tardes – também estórias, que têm tanto
de sério quanto de mirabolante, à mistura com heróis saídos do nada e guindados
a um certo estrelato…ao menos enquanto duram as ilusões, seja do contador, seja
dos proponentes…
É neste
quadro quase simbólico que leio, entendo e interpreto o caso de um rapaz que se
apresentou muito próximo do Papa Francisco, autoconsiderando-se confidente do
mesmo, num ‘tu-cá-tu-lá’ quase arrogante, senão for mesmo confrangedor. Quem
conduzia a narrativa deixou-se enlevar pelos feitos apresentados, mais
parecendo uma avozinha ao pé da lareira do que uma pessoa com formação
jornalística minimamente credível.
Quem
conhece a personalidade dos charlatães sabe que laboram em efabulações
contínuas, criando personagens, onde a sua figura emerge como um interlocutor
bem-falante e sobrevoando sobre os pobres mortais, que o devem admirar e até
bajular. Já vi – e de alguma forma vivi por arrastamento – casos destes que se
faziam passar por professores universitários, usando o estratagema de lhe ser
comunicado por telefone a colocação fictícia… Isto pode durar algum tempo –
semanas ou meses – e na duração, o dito como que se torna um alguém importante,
mas vazio…com medo de ser descoberto.
- Na
estória em apreço, que envolve o Papa Francisco, percebe-se que há lacunas e
incongruências. Ao ser perguntado ao entrevistado se o Papa usar a internet,
aquele respondeu que só lê jornais e ele até seria a sua fonte de informação
para o referido Papa…contando-lhe o que se passa no mundo e influenciando
tomadas de posição papais… Teve o bom senso de não especificar nenhuma. Ora, o
Papa Francisco escreve todos os dias no twitter. Fá-lo numa lousa antiga e
outros passam a limpo as ideias? Que sentido tem dizer de um Papa tão versado
nas coisas da tecnologia, referir que não usa as ferramentas da internet?
- Dirá
alguém que foram exibidas imensas fotografias onde se vê aquele que eu apelido
de charlatão e o Papa. Mas isso será confirmação de que tais momentos
aconteceram? Como bons manuseadores da manipulação, os charlatães são peritos
na arte do photoshop, isto é, da montagem (limpeza e edição) onde quase sempre
colocam quem lhes interessa ou retiram quem não os beneficia. Se tivéssemos
acesso a tais fotos poderíamos conferir a montagem, sem grande dificuldade,
pois há quase sempre lacunas, falhas e erros.
- Outra
tendência dos charlatães é a de incluírem situações, episódios, circunstâncias
só favoráveis, escondendo ardilosamente nomes (de pessoas ou de instituições),
de datas ou de lugares que podem desconstruir a estória congeminada. Por vezes,
conseguem conquistar cúmplices para o que desejam…No caso em apreço um tanto
tenuemente poderemos sentir a alusão aos pais… Não foi dito nome da congregação
onde ingressou e nada foi referido das universidades onde estudou… Lapso ou
esquecimento propositado?
- Uma
outra faceta dos charlatães é tomarem um ar muito sério e grave, por forma a
que a estória que estão a querer vender – será mais impingir – pareça capaz de
convencer… Não era (é) essa a figura do dito?
- Numa
palavra: o canal de televisão, que anda à procura da verdade no polígrafo, não
estará a precisar de ir ele mesmo à avaliação dos seus programas de
entretenimento?
= Daquilo
que vi, refleti e acabo de escrever, ouso propor que seja feita queixa – por
alguém responsável da Igreja católica (Santa Sé, nunciatura ou qualquer crente
– deste charlatão, que está a usar o Papa Francisco para se promover. Não
precisamos de quem venha trazer mais confusão à Igreja.
Espero e
estimo não estar a faltar à caridade, mas esta só é boa e benéfica, se for
servida com verdade.
António Sílvio Couto
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