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quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Charlatão, digo eu!

 


De há uns tempos a esta parte é recorrente ouvirmos um certo tipo de jornalismo usar a construção de que importa contar uma boa história – talvez se devesse usar antes o outro termo ‘estória’ – por forma a falar de coisas da vida, que prendam as pessoas e as faça serem envolvidas pelas situações dos outros…

Se esta tendência tem vindo a ganhar forma e corpo num certo jornalismo escrito e narrativo, tanto vai sendo servido e sorvido em programas televisivos, que nos apresentam – sobretudo em figurinos das tardes – também estórias, que têm tanto de sério quanto de mirabolante, à mistura com heróis saídos do nada e guindados a um certo estrelato…ao menos enquanto duram as ilusões, seja do contador, seja dos proponentes…

É neste quadro quase simbólico que leio, entendo e interpreto o caso de um rapaz que se apresentou muito próximo do Papa Francisco, autoconsiderando-se confidente do mesmo, num ‘tu-cá-tu-lá’ quase arrogante, senão for mesmo confrangedor. Quem conduzia a narrativa deixou-se enlevar pelos feitos apresentados, mais parecendo uma avozinha ao pé da lareira do que uma pessoa com formação jornalística minimamente credível.

Quem conhece a personalidade dos charlatães sabe que laboram em efabulações contínuas, criando personagens, onde a sua figura emerge como um interlocutor bem-falante e sobrevoando sobre os pobres mortais, que o devem admirar e até bajular. Já vi – e de alguma forma vivi por arrastamento – casos destes que se faziam passar por professores universitários, usando o estratagema de lhe ser comunicado por telefone a colocação fictícia… Isto pode durar algum tempo – semanas ou meses – e na duração, o dito como que se torna um alguém importante, mas vazio…com medo de ser descoberto.

- Na estória em apreço, que envolve o Papa Francisco, percebe-se que há lacunas e incongruências. Ao ser perguntado ao entrevistado se o Papa usar a internet, aquele respondeu que só lê jornais e ele até seria a sua fonte de informação para o referido Papa…contando-lhe o que se passa no mundo e influenciando tomadas de posição papais… Teve o bom senso de não especificar nenhuma. Ora, o Papa Francisco escreve todos os dias no twitter. Fá-lo numa lousa antiga e outros passam a limpo as ideias? Que sentido tem dizer de um Papa tão versado nas coisas da tecnologia, referir que não usa as ferramentas da internet?

- Dirá alguém que foram exibidas imensas fotografias onde se vê aquele que eu apelido de charlatão e o Papa. Mas isso será confirmação de que tais momentos aconteceram? Como bons manuseadores da manipulação, os charlatães são peritos na arte do photoshop, isto é, da montagem (limpeza e edição) onde quase sempre colocam quem lhes interessa ou retiram quem não os beneficia. Se tivéssemos acesso a tais fotos poderíamos conferir a montagem, sem grande dificuldade, pois há quase sempre lacunas, falhas e erros.  

- Outra tendência dos charlatães é a de incluírem situações, episódios, circunstâncias só favoráveis, escondendo ardilosamente nomes (de pessoas ou de instituições), de datas ou de lugares que podem desconstruir a estória congeminada. Por vezes, conseguem conquistar cúmplices para o que desejam…No caso em apreço um tanto tenuemente poderemos sentir a alusão aos pais… Não foi dito nome da congregação onde ingressou e nada foi referido das universidades onde estudou… Lapso ou esquecimento propositado?

- Uma outra faceta dos charlatães é tomarem um ar muito sério e grave, por forma a que a estória que estão a querer vender – será mais impingir – pareça capaz de convencer… Não era (é) essa a figura do dito?

- Numa palavra: o canal de televisão, que anda à procura da verdade no polígrafo, não estará a precisar de ir ele mesmo à avaliação dos seus programas de entretenimento? 

 

= Daquilo que vi, refleti e acabo de escrever, ouso propor que seja feita queixa – por alguém responsável da Igreja católica (Santa Sé, nunciatura ou qualquer crente – deste charlatão, que está a usar o Papa Francisco para se promover. Não precisamos de quem venha trazer mais confusão à Igreja.

Espero e estimo não estar a faltar à caridade, mas esta só é boa e benéfica, se for servida com verdade.

 

António Sílvio Couto

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