Coincidência
ou sinal? Da única vez que vi os jogadores da nossa seleção de futebol estarem
de joelhos em terra antes de um jogo teve como consequência a derrota e a
eliminação do campeonato europeu…
Fique
claro: contesto aquele gesto como forma de exprimir a luta contra o racismo –
dada a sua ideologização e tendo outros sinais como possíveis e bem mais
pacíficos – num tempo crispado por menos boas razões em várias partes do mundo.
Atendendo
aos resultados poderemos tentar discernir o seu alcance ao nível desportivo,
social, cultural e religioso.
1. Desde logo sinto que estar de
joelhos é algo de significativo do relacionamento com Deus e não pode ser
banalizado ou tão pouco instrumentalizado, como certas forças lhe têm dado a
cobertura. Citando a velha frase de D. António Ferreira Gomes – ‘de pé diante
dos homens e de joelhos só diante de Deus’… Como portugueses os jogadores
deviam saber e viver nesta linha deste pensamento e conduta. Quiseram brincar
com Deus e eis os resultados…
2. O abuso daquele gesto em
situações de desporto trouxe à lembrança a mistura com que alguns setores
advogam, quando lhes convém, a independência do setor desportivo, mas com que
sutileza se subjugam quando outros interesses emergem. Dá a impressão que o
‘respect’ que apregoam é unívoco e não cria implicações diversificadas senão no
conteúdo ao menos na forma. Uma espécie da massa acrítica vai na onda e nem se
questiona quanto ao significado das coisas…
3. Efetivamente este jogo do
campeonato da Europa, onde Portugal foi interveniente, revelou atitudes nem
sempre racionais. Desde logo a afirmação populista – este termo cai aqui muito
bem – da segunda figura do Estado luso ao ‘convocar’ a massa dos adeptos para
irem ao local do jogo…as condições, as circunstâncias ou as consequências não
foram atendidas naquele momento e, como se pensasse que foi algo temerário,
continuou a insistir por alguns dias na mesma tecla de arregimentador de
confusões… E não é que o ‘povo’ fervoroso seguiu o caudilho! Gente sem bilhete
nem lugar no estádio, sem cuidados nem prevenções encheu as ruas – assim nos
mostraram as televisões – numa zona considerada de alto risco e pouco
cuidado…quanto à propagação do vírus.
4. Agora que a seleção de futebol
foi eliminada – mesmo após certas conquistas…nem sempre tão convincentes como
seria desejável – surgirão os contestadores do ‘chefe’, particularmente naquilo
que tem a ver com a sua conduta de fé. Um certo jocoso estava subjacente quando
ele se referia aos princípios de relação com o divino. Contrariamente a outros
grupos de atletas, os nossos ‘representantes’ continuaram sobranceiramente no
seu ar agnóstico e quase descrente. Quase nenhum tinha (ou tem) sinais de
crença, pelo menos de forma explícita. Por isso, considero resultado de
manipulação aquele ajoelhar antes do jogo com os belgas…Veremos, por estes
dias, certos ‘treinadores de bancada’ a quererem interferir na tática, mesmo
que isso implique expulsar Deus e a referência à sua ajuda.
5. De facto, é nas horas da derrota
que melhor se conhecem os que estão connosco. Nas vitórias corresse o risco de
confundir sucesso com capacidade, habilidade ou esperteza, mas nos reveses se
pode compreender um tanto mais claramente em quem cremos, em quem confiamos e a
Quem reconhecemos como guia e mestre.
Ora,
esta derrota antecedida daquele gesto e concretizada nos múltiplos azares no
jogo, pode e deve fazer-nos pensar, questionando as nossas opções e aquilo que
nos compromete. Perdemos uma batalha, mas a guerra vai continuar…
António Sílvio Couto
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