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segunda-feira, 28 de junho de 2021

‘De joelhos’ na hora da despedida

 


Coincidência ou sinal? Da única vez que vi os jogadores da nossa seleção de futebol estarem de joelhos em terra antes de um jogo teve como consequência a derrota e a eliminação do campeonato europeu…

Fique claro: contesto aquele gesto como forma de exprimir a luta contra o racismo – dada a sua ideologização e tendo outros sinais como possíveis e bem mais pacíficos – num tempo crispado por menos boas razões em várias partes do mundo.

Atendendo aos resultados poderemos tentar discernir o seu alcance ao nível desportivo, social, cultural e religioso.

1. Desde logo sinto que estar de joelhos é algo de significativo do relacionamento com Deus e não pode ser banalizado ou tão pouco instrumentalizado, como certas forças lhe têm dado a cobertura. Citando a velha frase de D. António Ferreira Gomes – ‘de pé diante dos homens e de joelhos só diante de Deus’… Como portugueses os jogadores deviam saber e viver nesta linha deste pensamento e conduta. Quiseram brincar com Deus e eis os resultados…

 2. O abuso daquele gesto em situações de desporto trouxe à lembrança a mistura com que alguns setores advogam, quando lhes convém, a independência do setor desportivo, mas com que sutileza se subjugam quando outros interesses emergem. Dá a impressão que o ‘respect’ que apregoam é unívoco e não cria implicações diversificadas senão no conteúdo ao menos na forma. Uma espécie da massa acrítica vai na onda e nem se questiona quanto ao significado das coisas…

 3. Efetivamente este jogo do campeonato da Europa, onde Portugal foi interveniente, revelou atitudes nem sempre racionais. Desde logo a afirmação populista – este termo cai aqui muito bem – da segunda figura do Estado luso ao ‘convocar’ a massa dos adeptos para irem ao local do jogo…as condições, as circunstâncias ou as consequências não foram atendidas naquele momento e, como se pensasse que foi algo temerário, continuou a insistir por alguns dias na mesma tecla de arregimentador de confusões… E não é que o ‘povo’ fervoroso seguiu o caudilho! Gente sem bilhete nem lugar no estádio, sem cuidados nem prevenções encheu as ruas – assim nos mostraram as televisões – numa zona considerada de alto risco e pouco cuidado…quanto à propagação do vírus. 

 4. Agora que a seleção de futebol foi eliminada – mesmo após certas conquistas…nem sempre tão convincentes como seria desejável – surgirão os contestadores do ‘chefe’, particularmente naquilo que tem a ver com a sua conduta de fé. Um certo jocoso estava subjacente quando ele se referia aos princípios de relação com o divino. Contrariamente a outros grupos de atletas, os nossos ‘representantes’ continuaram sobranceiramente no seu ar agnóstico e quase descrente. Quase nenhum tinha (ou tem) sinais de crença, pelo menos de forma explícita. Por isso, considero resultado de manipulação aquele ajoelhar antes do jogo com os belgas…Veremos, por estes dias, certos ‘treinadores de bancada’ a quererem interferir na tática, mesmo que isso implique expulsar Deus e a referência à sua ajuda.

 5. De facto, é nas horas da derrota que melhor se conhecem os que estão connosco. Nas vitórias corresse o risco de confundir sucesso com capacidade, habilidade ou esperteza, mas nos reveses se pode compreender um tanto mais claramente em quem cremos, em quem confiamos e a Quem reconhecemos como guia e mestre.

Ora, esta derrota antecedida daquele gesto e concretizada nos múltiplos azares no jogo, pode e deve fazer-nos pensar, questionando as nossas opções e aquilo que nos compromete. Perdemos uma batalha, mas a guerra vai continuar…                

 

António Sílvio Couto

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