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quarta-feira, 23 de junho de 2021

Autárquicas – o erro de votar na ‘pessoa’

 

Estamos em ano de eleições autárquicas. Emergem candidatos como cogumelos – certamente todos sabem onde estes nascem, como se manifestam e quais os resultados que dão.

Nos tempos mais recentes surgiram uns tantos, ditos de independentes, que não são nada (ideologicamente), não valem muito (sociologicamente) e para pouco prestam (culturalmente). Vamos esmiuçar estes itens, mesmo que isso possa melindrar uns tantos…

Desde já uma declaração de desinteresse: não aprecio quem se possa refugiar no epiteto de ‘independente’ para camuflar ressabiamentos quanto a quem o preteriu e, sobretudo, essa nuvem de incompetentes que querem ser alguém sem despirem a máscara do oportunismo.

 1. Estas (em 2021) serão as décimas terceiras eleições de âmbito autárquico – câmaras e assembleias municipais, juntas e assembleias de freguesia… O dito ‘poder autárquico’ teve o seguinte quadro de votação e desenvolvimento no tempo com a respetiva abstenção: 1976 (35,4%), 1979 (26,2), 1982 (28,6), 1985 (36,1), 1989 (39,1), 1993 (36,6), 1997 (39,9), 2001 (39,9), 2005 (39), 2009 (41), 2013 (47,4) e 2017 (45).   

 2. Seja lá quem for o eleito, é-o sempre em ligação a alguma ideologia… senão política ao menos de caciquismo, de tentativa de poder pessoal ou sob outros interesses nem sempre explícitos. Quem se apresenta como seguidor – simpatizante, militante ou adepto – de um partido assume (para ou bem e/ou para o mal) aquilo sob o qual se enquadra. Sobretudo nos sufrágios nas eleições autárquicas os órgãos locais dos partidos têm grande participação, proximidade e até vínculo à terra por parte de quem concorre. Nestas eleições notam-se menos os paraquedistas procedentes do aparelho nacional ou distrital, embora possam condicionar as escolhas nem sempre como as mais adequadas… 

 3. É uma perfeita anomalia intelectual alguém dizer que vota na ‘pessoa’, sem cuidar em que ideologia – clara, tácita ou estrategicamente – tal se enquadra. Nos escaninhos mais subtis das candidaturas há sempre algo que faz concorrer, ao menos pelo seu ego mais entranhado. Seja qual a desculpa que se pretenda engendrar, os candidatos ou os votantes nunca são independentes de ninguém…nem da própria sombra. De pouco adianta querem convencer que as listas de independentes trazem (ou traziam) mais eleitores a pronunciarem-se, pois a ‘moda’ está em declínio de forma clara e, talvez, assustadora.

 4. É bom, útil e saudável que os candidatos-concorrentes saibam dizer claramente ao que vem, com que meios e quais os objetivos. Sobretudo os recandidatos podem cair na tentação de que já são conhecidos e que possam camuflar as reais intenções. Em certos casos nota-se a mão do partido que representam – é daqui que vem manipulação – escondendo incompetências, sobrancerias e jogos pouco claros. Como já vi tantas destas situações escuso-me de dizer que não tem a ver com qualquer realidade atual em apreço…

 5. Há localidades neste país que vivem em regime de ditadura quase há cem anos – quase cinquenta no dito fascismo e outros tantos desde a revolução de abril de 74 sob a alçada da mesma cor. Será isto benéfico para a pretensa democracia? Não haverá ninguém mais competente do que os de sempre e do mesmo partido? A alternância é só para os outros ou poderia ser experimentada por todos? A imposta limitação de mandatos – três consecutivos no mesmo lugar – não esconde a falta de alternativa? Repare-se na troca de candidatos de um para outro lugar só para segurar o poder…na hora da contagem de resultados.

 
6. À luz de experiências conhecidas e pelas piores razões talvez seja necessário colocar questões: as autarquias são geradoras de riqueza ou distribuidoras de benesses? Com tantos assalariados – em muitos casos os municípios são o grande empregador local – não será fácil manter-se no poder pela simples razão de que se tem de obedecer ao patrão? Será que são as pessoas que não mudam ou os que mandam é que não conseguem aferir-se ao essencial do poder autárquico? Há por aí muitos tiques de ditadores dissimulados!   

 

António Sílvio Couto

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