Estamos
em ano de eleições autárquicas. Emergem candidatos como cogumelos – certamente todos
sabem onde estes nascem, como se manifestam e quais os resultados que dão.
Nos
tempos mais recentes surgiram uns tantos, ditos de independentes, que não são
nada (ideologicamente), não valem muito (sociologicamente) e para pouco prestam
(culturalmente). Vamos esmiuçar estes itens, mesmo que isso possa melindrar uns
tantos…
Desde já
uma declaração de desinteresse: não aprecio quem se possa refugiar no epiteto
de ‘independente’ para camuflar ressabiamentos quanto a quem o preteriu e,
sobretudo, essa nuvem de incompetentes que querem ser alguém sem despirem a
máscara do oportunismo.
1. Estas (em 2021) serão as décimas
terceiras eleições de âmbito autárquico – câmaras e assembleias municipais,
juntas e assembleias de freguesia… O dito ‘poder autárquico’ teve o seguinte
quadro de votação e desenvolvimento no tempo com a respetiva abstenção: 1976 (35,4%), 1979 (26,2), 1982 (28,6),
1985 (36,1), 1989 (39,1), 1993 (36,6), 1997 (39,9), 2001 (39,9), 2005 (39),
2009 (41), 2013 (47,4) e 2017 (45).
2. Seja lá quem for o eleito, é-o
sempre em ligação a alguma ideologia… senão política ao menos de caciquismo, de
tentativa de poder pessoal ou sob outros interesses nem sempre explícitos. Quem
se apresenta como seguidor – simpatizante, militante ou adepto – de um partido
assume (para ou bem e/ou para o mal) aquilo sob o qual se enquadra. Sobretudo
nos sufrágios nas eleições autárquicas os órgãos locais dos partidos têm grande
participação, proximidade e até vínculo à terra por parte de quem concorre.
Nestas eleições notam-se menos os paraquedistas procedentes do aparelho
nacional ou distrital, embora possam condicionar as escolhas nem sempre como as
mais adequadas…
3. É uma perfeita anomalia intelectual
alguém dizer que vota na ‘pessoa’, sem cuidar em que ideologia – clara, tácita
ou estrategicamente – tal se enquadra. Nos escaninhos mais subtis das
candidaturas há sempre algo que faz concorrer, ao menos pelo seu ego mais
entranhado. Seja qual a desculpa que se pretenda engendrar, os candidatos ou os
votantes nunca são independentes de ninguém…nem da própria sombra. De pouco
adianta querem convencer que as listas de independentes trazem (ou traziam) mais
eleitores a pronunciarem-se, pois a ‘moda’ está em declínio de forma clara e,
talvez, assustadora.
4. É bom, útil e saudável que os
candidatos-concorrentes saibam dizer claramente ao que vem, com que meios e
quais os objetivos. Sobretudo os recandidatos podem cair na tentação de que já
são conhecidos e que possam camuflar as reais intenções. Em certos casos
nota-se a mão do partido que representam – é daqui que vem manipulação –
escondendo incompetências, sobrancerias e jogos pouco claros. Como já vi tantas
destas situações escuso-me de dizer que não tem a ver com qualquer realidade
atual em apreço…
5. Há localidades neste país que
vivem em regime de ditadura quase há cem anos – quase cinquenta no dito
fascismo e outros tantos desde a revolução de abril de 74 sob a alçada da mesma
cor. Será isto benéfico para a pretensa democracia? Não haverá ninguém mais
competente do que os de sempre e do mesmo partido? A alternância é só para os
outros ou poderia ser experimentada por todos? A imposta limitação de mandatos
– três consecutivos no mesmo lugar – não esconde a falta de alternativa?
Repare-se na troca de candidatos de um para outro lugar só para segurar o
poder…na hora da contagem de resultados.
6. À luz de experiências conhecidas
e pelas piores razões talvez seja necessário colocar questões: as autarquias
são geradoras de riqueza ou distribuidoras de benesses? Com tantos assalariados
– em muitos casos os municípios são o grande empregador local – não será fácil
manter-se no poder pela simples razão de que se tem de obedecer ao patrão? Será
que são as pessoas que não mudam ou os que mandam é que não conseguem aferir-se
ao essencial do poder autárquico? Há por aí muitos tiques de ditadores
dissimulados!
António Sílvio Couto
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