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segunda-feira, 14 de junho de 2021

‘Respect’ – de joelhos só diante de Deus

 


Tem vindo a ganhar alguma repercussão um gesto algo temerário, aliado a uma palavra: alguns atletas colocam um dos joelhos no chão antes das partidas de futebol ou a anteceder algum outro momento desportivo… o termo adstrito é ‘respect’ (respeito).

Qual o significado do gesto de colocar um dos joelhos em terra? Com que objetivo se vai ele propagando e propagandeando? Quando se iniciou a campanha do ‘respect’ e com que finalidade? Haverá ligação ou aproveitamento de uma e de outra das situações? Como podemos e devemos – se existe – interpretar tal relacionamento? Estaremos perante uma nova linguagem, envolvida e envolvendo outros códigos?

 1. O termo ‘respect’ (respeito) foi introduzido no contexto desportivo no euro-2008, pelo então presidente da UEFA, Michel Platini, pretendendo ser uma campanha de promoção do respeito e de combate a todas as formas de racismo e de ataques ao espírito do futebol. Deste modo se desejava incentivar a diversidade, a paz e a reconciliação através do futebol, que o seja para todos e com todos, onde se possa ter saúde, haver respeito pelo ambiente e a lutar contra toda a forma de discriminação, de racismo ou de violência.

2. O gesto de colocar um dos joelhos no chão antes dos jogos – sobretudo de futebol (americano ou outro) – foi uma sugestão para colmatar a impossibilidade de cumprimento pelo aperto de mão, dadas as condições restritivas decorrentes da pandemia. Lançada esta campanha por uma associação de combate ao racismo, ganhou outra expressão social, política e cultural após a fatídica morte de um negro americano que sucumbiu à forma algo brutal com que foi preso – com um joelho a dominá-lo – e que lhe veio a causar a morte…

3. A determinada altura da convivência social vimos que foram associadas estas duas ideias: o respeito antirracista e o ajoelhar em forma de provocação, a quem cometa atos dignos de condenação e de não-respeito pela diferença, a opinião e o comportamento alheio. Só que, dá a impressão, se foi longe de mais, tornando um gesto com sabor religioso como uma forma menos digna de reconhecer a discordância, o combate e até mesmo a provocação… pior ainda se, quem não entrar nesta representação rocambolesca, poderá vir a ser referenciado como possível apoiante de ideias que certamente combate com mais força do que com este folclore barato… De facto, estamos num mundo bem mais manipulador do que se julga e ainda mais castrador da liberdade verdadeira do que se pretende…

4. ‘De pé diante dos homens e de joelhos só diante de Deus’. Eis uma frase atribuída a D. António Ferreira Gomes bispo do Porto, aquando do seu tempo de exilado pelo Estado novo.

Efetivamente, só Deus merece que nos ajoelhemos em reconhecimento da sua grandeza, não confundindo os interesses humanos com os direitos divinos. Olhos nos olhos vemos os outros na nossa mesma instância e de joelhos em terra adoramos Deus a quem reconhecemos como único Senhor. Como têm piorado as condições humanas – gerais e particulares – quando colocamos Deus fora, senão mesmo contra, aquilo em que nos envolvemos…Excluído Deus, tudo o resto poderá ser aceite quase-acriticamente.  

 5. Não será que o racismo fervilha, cresce e se manifesta pela exata correspondência em termos perdido a noção de Deus e o seu lugar na nossa vida pessoal, familiar, social e política? Tiraram Deus das coisas públicas e mais facilmente surgiram novas formas de escravatura, pois Deus nos faz respeitar os outros, quando por Ele temos maior consciência, aceitação e presença. Este acentuado ‘ismo’ vem trazer à memória tantos dos mais graves atropelos à dignidade humana e não será com gestos de rebeldia para com Deus que a nossa sociedade se humanizará, pelo contrário, está a tornar-se cada vez mais animalesca, tanto nos conteúdos como nas formas tácita ou implícitas.  

 6. Desgraçado homem/mulher que se ajoelha em idolatria diante de outro igual, sem perceber que só Deus merece adoração, louvor e reconhecimento da sua senhoria, alteza e reverência… Estou de pé ou de joelhos?

 

António Sílvio Couto

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