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quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Traquinices de uma certa esquerda...


Nos tempos mais recentes temos assistido, num misto de perplexidade e de angústia, às diversas posições de certas formações (ditas) partidárias, que ora querem fazer parte da solução, ora do problema: umas vezes dizem que concordam com a proposta de orçamento de estado para 2021, outras vezes fazem-se de muito difíceis, como se tivessem a resposta mágica de se consideram imprescindíveis para o futuro de tudo e de todos...

‘Mutatis mutandis’ é como o rapaz lá do bairro/rua que trouxe a bola  para que os outros pudessem jogar – é o dono da bola: ele escolhe a equipa, traça as regras, tenta pôr os outros a jogar, mas ameaça acabar o jogo, se ele não for o vencedor... Ora, como os outros já lhe conhecem as manhas, acham que ele só ameaça e que regateia até que lhe deem o que ele quer: protagonismo, ter atenção, mas sem os outros o jogo pode acabar, sem vencidos nem vencedores, podendo ele ser o mais prejudicado, agora ou no futuro!

Quem não viu já isto no grande ‘jardim-de-infância’ em que o país se tornou? Não temos a sensação de que  se vê desmentir em público o que se terá dito em privado ou que se pretende desdizer em privado o que foi proferido em público? Alguns dos intervenientes não parecem ser mais servidores da ideologia, pela qual se norteiam do que pelo (dito) serviço público que adulam? Será justificável este clima de intriguismo, que a ser real, mais parece ter contornos de brincadeira em traquinice?

 

= Certamente que será dispensável acrescentar às crises sanitária e económica uma outra de pendor político-partidário. Nota-se que vai perpassando a expetativa de que haja responsabilidade para que não tenhamos de viver a curto prazo algo que viria a confundir ainda mais as questões sociais que a pandemia veio espoletar.

De facto, dá a impressão de que a fome tem (mesmo e mais) ideologia, pois uns tantos procuram explorar as fragilidades alheias – onde a falta de recursos económicos é das mais expressivas – tirando delas proveito político-eleitoral. Não haverá quem acorde para denunciar esta exploração recorrente dos ‘trabalhadores e do povo’? Porque não se levantam as vozes da justiça contra estes manipuladores,  em defesa da correta conduta dos recursos e não pela apropriação dos mesmos a médio prazo?

 

= Os múltiplos milhões que, em breve, virão da União Europeia correm o risco de mais uma vez caírem no saco dos da mesma pandilha. Nas diversas tranches procedentes da UE, desde a adesão em 1986, os beneficiários tem sido quase sempre da mesma latitude e nem mesmo as diversas anomalias – detatadas, denunciadas ou encapotadas – têm corrigido os critérios.

O setor do Estado continua a ser o maior sorvedouro dos milhões de Bruxelas. Os privados, que geram riqueza e pagam impostos, continuam a ser os postergados do sistema. Isto tem de mudar, pois não pode haver cidadãos de segunda – e são a maioria social, cultural e económica – suportando as bazófias de uma percentagem de beneficiados...à la carte.

Os vetores da educação e da saúde, da segurança e do trabalho, por exemplo, têm de saber conviver e articularem-se com os que são do Estado e os do setor privado e mesmo social. Veja-se o que está acontecer com o socorro desta pandemia de covid-19. Os estatais precisam dos que o não e estes terão toda a obrigação moral e cívica de serem complementares articulamente.  Basta de animosidade e de conflitos.

 

= A democracia – já dizia W. Churchill – é o pior dos regimes, à exceção dos outros. Perante esta afirmação algo nos deve levar a que tenhamos vontade e decisão para renovarmos o sistema com base na democracia, excluindo, legitimamente, os ditadores encapotados. Com efeito, em tantas das atitudes das traquinices à portuguesa fica-me a sensação de que há, por aí, muitas/os figuras e figurões para quem só conta a sua ‘democracia’; alguns dizem-se defensores das liberdades, mas têm de ser as suas; outros lançam loas às eleições, mas só quando as ganham; numa palavra: quem nos governa/dirige saberá que tem de respeitar os que não são da sua cor ideológica?

‘Há um tempo para tudo’ (Ecl 3,1-8) ...diz-nos a Sagrada Escritura!  

 

António Sílvio Couto

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