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sábado, 17 de outubro de 2020

Máscara – antecâmara da mortalha?

 


É hoje adereço (mais do que indispensável, obrigatório) da indumentária de todos e de qualquer um: a máscara, que encobre o nariz e a boca, tentando, assim, evitar a transmissão/receção de possíveis vírus infetocontagiosos…sobretudo do sars-cov-2.

Temos hoje, regra geral, três tipos de máscaras: cirúrgicas, sociais (ou comunitárias) e respiradores. Cada uma delas faz a sua função, desde que proteja a saúde do utilizador e de quem com ele se cruze ou conviva.

Os números significativos de novos infetados, de falecidos e de internados fez com que as autoridades – de saúde, governativas e políticas – introduzissem uma nova etapa de resguardo de todos e de cada um: o estado de calamidade.

Em que consta e quais as medidas deste grau máximo de gravidade, que é a implementação do estado de calamidade? 

Atendendo ao agravamento da situação social da difusão do covid-19 foram postas em prática as seguintes medidas: na rua, em espaços comerciais e restaurantes, não poderão estar mais de cinco pessoas juntas; a partir de agora, meados de outubro, casamentos e batizados só poderão contar com 50 convidados; nos estabelecimentos de ensino, ficam proibidas festas e outros eventos que não tenham a ver com as aulas; os valores das multas para estabelecimentos que não cumpram as regras serão aumentados para um teto máximo de dez mil euros; a fiscalização (pelas forças de segurança e das atividades económicas) será reforçada, tanto para estabelecimentos como para pessoas individuais; será “vivamente recomendado” o uso obrigatório de máscaras na rua quando se justificar, assim como a instalação da aplicação Stayaway Covid em contexto laboral, escolar e académico, nas forças armadas e de segurança e na administração pública.

 

= Se há medidas que são consensuais, também as há menos corretas e quase ditatoriais. Se o uso de máscara parece normal e bem aceite, a tentativa de impor o descarregamento da ‘app stayaway covid’ tem vindo a ganhar foros de controvérsia e coloca-nos sob uma espécie de regime não-respeitador da intimidade das pessoas, tenham sido doentes ou potenciais…atingidos.

Já há mais de um mês me pronunciei contra esta coisa de ‘app’, considerando-a uma intromissão na vida privada das pessoas e fazendo dos ‘doentes registados’ uma espécie de leprosos da tecnologia.

Escrevi a 3 de setembro e está disponível no blogue: aquieagoraeu.blogspot.pt: «Esta ‘aplicação’ não poderá ir nessa onda de subverter os direitos pessoais com interesses coletivos – numa neo-coletivação assaz subtil – expondo as pessoas sem pejo, desde se possa cumprir o objetivo de mostrar que controlamos tudo e todos, à custa da invasão da privacidade e dos direitos mais fundamentais, como a reserva e a confidencialidade da própria doença?

E, se de repente, num aglomerado de pessoas (até pode ser numa missa) – resultado da confluência de várias ‘app’s – se der um afastamento de quem recebeu a informação sobre um infetado, isso será benéfico para a segurança pública?».

Dir-me-ão que é de gosto duvidoso autocitar-se. Sim, mas no princípio de setembro senti a mesma repulsa que agora me invade e se radicaliza: não podemos a todo o custo querer impor – mesmo sem saber se pode ser cumprido – algo que desrespeita as pessoas no mais básico da sua convivência social. De facto, o pior que nos pode acontecer é termos autoridades que não se fazem dignificar pela simples razão de que aquilo que pretendem impor é inexequível ou até mesmo ilegal…Não basta ter poder, é preciso saber exercê-lo!

 

= Estamos mais uma vez no fio da confusão e temos de assumir que o vírus é altamente contagioso e perigoso. Todos os cuidados são mínimos. Urge, por isso, consciencializarmo-nos de que devemos cuidar de nós mesmos e dos outros, não aconteça do não-uso, por exemplo da máscara, pode vir a tornar-se a antecâmara da mortalha. O mais pequeno descuido poderá ser irreversível para nós e para os outros. Efetivamente um pouco de humildade poderá valer vidas, isto é, se entrarmos numa convivência que saiba os limites até onde se pode ir, poderemos ajudar a não propagar a infeção, que, tanto quanto já se percebeu, passa pela autodefesa e pelo resguardo no trato social…máximo.     

  

António Sílvio Couto

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