É hoje adereço (mais do que indispensável, obrigatório) da indumentária de todos e de qualquer um: a máscara, que encobre o nariz e a boca, tentando, assim, evitar a transmissão/receção de possíveis vírus infetocontagiosos…sobretudo do sars-cov-2.
Temos
hoje, regra geral, três tipos de máscaras: cirúrgicas, sociais (ou
comunitárias) e respiradores. Cada uma delas faz a sua função, desde que
proteja a saúde do utilizador e de quem com ele se cruze ou conviva.
Os
números significativos de novos infetados, de falecidos e de internados fez com
que as autoridades – de saúde, governativas e políticas – introduzissem uma nova
etapa de resguardo de todos e de cada um: o estado de calamidade.
Em
que consta e quais as medidas deste grau máximo de gravidade, que é a
implementação do estado de calamidade?
Atendendo
ao agravamento da situação social da difusão do covid-19 foram postas em
prática as seguintes medidas: na rua, em espaços comerciais e restaurantes, não
poderão estar mais de cinco pessoas juntas; a partir de agora, meados de
outubro, casamentos e batizados só poderão contar com 50 convidados; nos
estabelecimentos de ensino, ficam proibidas festas e outros eventos que não
tenham a ver com as aulas; os valores das multas para estabelecimentos que não
cumpram as regras serão aumentados para um teto máximo de dez mil euros; a
fiscalização (pelas forças de segurança e das atividades económicas) será
reforçada, tanto para estabelecimentos como para pessoas individuais; será “vivamente
recomendado” o uso obrigatório de máscaras na rua quando se justificar, assim
como a instalação da aplicação Stayaway Covid em contexto laboral, escolar e
académico, nas forças armadas e de segurança e na administração pública.
= Se
há medidas que são consensuais, também as há menos corretas e quase
ditatoriais. Se o uso de máscara parece normal e bem aceite, a tentativa de
impor o descarregamento da ‘app stayaway covid’ tem vindo a ganhar foros de
controvérsia e coloca-nos sob uma espécie de regime não-respeitador da
intimidade das pessoas, tenham sido doentes ou potenciais…atingidos.
Já
há mais de um mês me pronunciei contra esta coisa de ‘app’, considerando-a uma
intromissão na vida privada das pessoas e fazendo dos ‘doentes registados’ uma
espécie de leprosos da tecnologia.
Escrevi
a 3 de setembro e está disponível no blogue: aquieagoraeu.blogspot.pt: «Esta
‘aplicação’ não poderá ir nessa onda de subverter os direitos pessoais com
interesses coletivos – numa neo-coletivação assaz subtil – expondo as pessoas
sem pejo, desde se possa cumprir o objetivo de mostrar que controlamos tudo e
todos, à custa da invasão da privacidade e dos direitos mais fundamentais, como
a reserva e a confidencialidade da própria doença?
E, se de repente, num
aglomerado de pessoas (até pode ser numa missa) – resultado da confluência de
várias ‘app’s – se der um afastamento de quem recebeu a informação sobre um
infetado, isso será benéfico para a segurança pública?».
Dir-me-ão que é de gosto duvidoso autocitar-se. Sim,
mas no princípio de setembro senti a mesma repulsa que agora me invade e se
radicaliza: não podemos a todo o custo querer impor – mesmo sem saber se pode
ser cumprido – algo que desrespeita as pessoas no mais básico da sua
convivência social. De facto, o pior que nos pode acontecer é termos
autoridades que não se fazem dignificar pela simples razão de que aquilo que
pretendem impor é inexequível ou até mesmo ilegal…Não basta ter poder, é
preciso saber exercê-lo!
= Estamos mais uma vez no fio da confusão e temos de
assumir que o vírus é altamente contagioso e perigoso. Todos os cuidados são
mínimos. Urge, por isso, consciencializarmo-nos de que devemos cuidar de nós
mesmos e dos outros, não aconteça do não-uso, por exemplo da máscara, pode vir
a tornar-se a antecâmara da mortalha. O mais pequeno descuido poderá ser
irreversível para nós e para os outros. Efetivamente um pouco de humildade
poderá valer vidas, isto é, se entrarmos numa convivência que saiba os limites
até onde se pode ir, poderemos ajudar a não propagar a infeção, que, tanto
quanto já se percebeu, passa pela autodefesa e pelo resguardo no trato
social…máximo.
António Sílvio Couto
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