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domingo, 25 de outubro de 2020

Homenagens


De vez em quando vemos notícias de pessoas que são homenageadas. As formas, os modos, as razões e as consequências dessas homenagens são tão diversas quantas as pessoas visadas, tanto por parte dos promotores como os promovidos, sem esquecer as motivações e até as ocasiões de tais homenagens.

Se há pessoas que se prestam – porque aceitam, senão mesmo procuram – para tais eventos, outras podemos encontrar que se furtam – sobretudo em vida – desses acontecimentos. O pior de tudo isto é se, quem é homenageado, seria o primeiro a não estar presente nisso a que o submetem…a contragosto.

As formas de homenagear revestem-se de diversos figurinos: sessões (ditas) solenes onde se tecem elogios às pessoas ‘ilustres’ em foco; descerramento de lápides – nalgumas situações também quadros fotográficos – quase simbólicas, ligando a ‘figura’ em relevo a esse lugar ou a algum feito relevante nele contido; colocação do nome de alguma artéria viária (rua, praça, praceta, avenida, beco ou viela) a alguém que possa ter-se destacado na localidade…funcionando a situação desse mesmo espaço como simbologia da sua relevância; colocação e inauguração de alguma estátua (ou algo semelhante), atendendo aos feitos praticados e retratando alguma faceta da personalidade de quem se quer fazer perdurar para os vindouros a memória e o reconhecimento.

Normalmente as homenagens cuidam de não sejam feitas em vida dos visados, como se houvesse algum pejo em reconhecer aquilo que as pessoas fizeram de diferente – pela dedicação, pelas virtudes humanas e/ou espirituais e mesmo pelos atos de relevo – do resto dos outros ou que se possam vir a envaidecer-se com aquilo que delas dizem ou que possam ainda, no resto de tempo de vida que vivam, contradizer aquilo que motivou a ser-lhes reconhecido algum mérito ou que se tenham destacado ‘do comum dos mortais’…

De entre as homenagens em que o ‘ilustre’ cidadão recebe o reconhecimento em vida costuma destacar-se a condecoração – nas suas mais variadas formas e concedida pelas mais díspares entidades – conferindo-se deste modo algo que não servirá somente para honrar a família, mas para também motivar os outros concidadãos.

Recordo a conversa com um prelado já falecido e a quem tinham sido dadas variadíssimas condecorações e medalhas ao longo do seu ministério e da vida em que ele dizia: nada disso vale grande coisa para mim, pois, a minha família cuidará de que não vão comigo para a sepultura…

 

= Sem pretender questionar quem presta homenagem e tão pouco a quem é dado algum reconhecimento, tenho para comigo, enquanto cristão uma frase me que incomoda – depois de fazerdes tudo o que vos foi pedido, dizei: somos servos inúteis, só fizemos o que devíamos fazer!

Fique claro que nunca recebi – nem espero receber – qualquer distinção e tão pouco homenagem de nada nem de ninguém. Também espero que não me levem a mal esse outro pensamento: ao ver tantas das homenagens, condecorações e outros reconhecimentos, preferiria dizer que recusei e que não aceitei algo que, a ver pelo role passado, nem sempre seria honroso constar da mesma listagem…

Em jeito de inquietação ouso colocar breves perguntas: o cumprimento do dever bem feito não será o melhor reconhecimento daquilo que fazemos? Será justo, cristãmente, que se relevem os factos de uma personalidade, se ela só foi um dom de Deus, com os outros, e que desenvolveu as faculdades que lhe foram concedidas pelo mesmo Deus? Não deambulará muito de mundano nas coisas da Igreja, usando estratégias e esquemas pouco cristãos?

 

= Presto homenagem e inclino-me a quantos/as viveram e vivem a vida não em busca de honrarias, mas desejando somente realizar em favor dos outros algo que os possa edificar e, se erraram/erram, sejam capazes de reconhecer os erros, de pedir perdão – a desculpa soa a pouco – a Deus, aos outros e a si mesmos…

Heróis e santos temo-los, no passado e até no presente. Assim os saibamos ver e honrar condignamente… com os olhos em Deus!    

 

António Sílvio Couto

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