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terça-feira, 30 de outubro de 2018

Equipas de (futebol) mercenários…


Numa das últimas partidas de futebol, nas competições europeias, uma equipa portuguesa tinha, no seu onze titular, apenas um jogador de nacionalidade lusa…por sinal com estatuto de internacional pela seleção. Ora isto como que nos pode e deve fazer refletir sobre a composição da maioria das equipas que praticam futebol, a sua representatividade do país ou mesmo sobre um certo mercantilismo em que se move a (dita) ‘indústria do futebol’…ou será antes comércio?

De facto, muito daquilo que se vive no mundo do futebol – com código de conduta próprio, regras e leis à medida, gestão e financiamento à sua maneira, critérios e valores adequados aos seus objetivos – faz dele uma sociedade à parte do resto das ocupações sociais, cívicas e quase morais. Ai de quem tente entrar nesse mundo, correrá o risco de vida ou ao menos de integridade física e psicológica!

Se soubéssemos ler os sinais que o futebol emite diríamos, no mínimo, que estamos umas décadas ou séculos atrasados, pois aí se vendem homens por preços exorbitantes, quais escravos da Idade antiga ou negreiros (não tem o sentido da cor da pele, mas tão só da atitude laboral) dos nossos tempos. Se naquelas épocas houve vozes que se ergueram para contestar e combater a escravatura, hoje estamos calados e cúmplices duma afronta à dignidade humana, pela simples razão de serem mais bem pagos e, portanto, escravos de qualidade extra… pelo trabalho que faz encher estádios e polariza discussões de clubes.

Estes mercenários circulam de país em país, ao sabor da melhor execução futebolística, sem nos apercebermos do curto tempo de validade que têm e da exploração física e moral a que estão submetidos pelas mafias não detetáveis pela fuga aos impostos e à promoção duns tantos mais habilidosos… sejam magnatas do petróleo, autarcas em ascensão ou dirigentes com tiques de caciquismo.

Em tempos dizia-se que jogavam por ‘amor à camisola’, agora dizem-se ‘profissionais’, desde que melhor pagos ou trocados por idênticos executores mais novos e artísticos. Há situações em que um jogador pode jogar e marcar por uma equipa/clube e, num curto espaço de tempo, estar do outro lado da barricada contra quem antes lhe pagava ou de cuja camisola se dizia defensor… Não será isto uma atitude de mercenário? Não faltará nisto ética e sentido de responsabilidade? Não se difundirá mais a propensão para a mentira do que a valorização da verdade…humana, ética e desportiva? 

= Eis breves questões sobre o tal ‘mundo’ do futebol:

- Quando se fará uma investigação despida de preconceitos para averiguar se o futebol não é um espaço de lavagem de dinheiro de outras atividades ilícitas, ilegais e quase imorais?

- Quando se fará uma purga de tantos interesses que se vão encobrindo no âmbito do futebol e com armas pouco claras e minimamente verdadeiras?

- Quando se vê alguma luta pela dignificação da exposição/venda dos animais, não se estarão a esquecer os campos do futebol, sem medos nem ressentimentos, vendendo os executantes (jogadores, treinadores, dirigentes, etc.) como artigos sem marca nem qualidade?

- Quando se dá mais importância ao jogo feito fora do campo, não se estará a desdignificar quem o pratica em favor de quem o cozinha?

- Quando se passa mais tempo a discutir o jogo e menos a disputá-lo com verdade e honestidade, não se estará a dar importância aos abutres em vez de olharmos para as aves que, de facto, voam?  

Ora, enquanto o futebol for mais indústria e/ou comércio e menos desporto, estaremos a confundir as funções dos praticantes, dos dirigentes e dos que gostam dele como ação humana digna e dignificadora… Tudo o resto poderá cheirar a mentira, a confusão e a corrupção… com mais ou menos mercenários e menos para mais desportistas!

 

António Sílvio Couto  

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