Numa das
últimas partidas de futebol, nas competições europeias, uma equipa portuguesa
tinha, no seu onze titular, apenas um jogador de nacionalidade lusa…por sinal
com estatuto de internacional pela seleção. Ora isto como que nos pode e deve
fazer refletir sobre a composição da maioria das equipas que praticam futebol,
a sua representatividade do país ou mesmo sobre um certo mercantilismo em que
se move a (dita) ‘indústria do futebol’…ou será antes comércio?
De
facto, muito daquilo que se vive no mundo do futebol – com código de conduta
próprio, regras e leis à medida, gestão e financiamento à sua maneira,
critérios e valores adequados aos seus objetivos – faz dele uma sociedade à
parte do resto das ocupações sociais, cívicas e quase morais. Ai de quem tente
entrar nesse mundo, correrá o risco de vida ou ao menos de integridade física e
psicológica!
Se
soubéssemos ler os sinais que o futebol emite diríamos, no mínimo, que estamos
umas décadas ou séculos atrasados, pois aí se vendem homens por preços exorbitantes,
quais escravos da Idade antiga ou negreiros (não tem o sentido da cor da pele,
mas tão só da atitude laboral) dos nossos tempos. Se naquelas épocas houve
vozes que se ergueram para contestar e combater a escravatura, hoje estamos
calados e cúmplices duma afronta à dignidade humana, pela simples razão de
serem mais bem pagos e, portanto, escravos de qualidade extra… pelo trabalho
que faz encher estádios e polariza discussões de clubes.
Estes
mercenários circulam de país em país, ao sabor da melhor execução
futebolística, sem nos apercebermos do curto tempo de validade que têm e da
exploração física e moral a que estão submetidos pelas mafias não detetáveis
pela fuga aos impostos e à promoção duns tantos mais habilidosos… sejam
magnatas do petróleo, autarcas em ascensão ou dirigentes com tiques de
caciquismo.
Em
tempos dizia-se que jogavam por ‘amor à camisola’, agora dizem-se
‘profissionais’, desde que melhor pagos ou trocados por idênticos executores
mais novos e artísticos. Há situações em que um jogador pode jogar e marcar por
uma equipa/clube e, num curto espaço de tempo, estar do outro lado da barricada
contra quem antes lhe pagava ou de cuja camisola se dizia defensor… Não será
isto uma atitude de mercenário? Não faltará nisto ética e sentido de responsabilidade?
Não se difundirá mais a propensão para a mentira do que a valorização da
verdade…humana, ética e desportiva?
= Eis
breves questões sobre o tal ‘mundo’ do futebol:
- Quando
se fará uma investigação despida de preconceitos para averiguar se o futebol
não é um espaço de lavagem de dinheiro de outras atividades ilícitas, ilegais e
quase imorais?
- Quando
se fará uma purga de tantos interesses que se vão encobrindo no âmbito do
futebol e com armas pouco claras e minimamente verdadeiras?
- Quando
se vê alguma luta pela dignificação da exposição/venda dos animais, não se
estarão a esquecer os campos do futebol, sem medos nem ressentimentos, vendendo
os executantes (jogadores, treinadores, dirigentes, etc.) como artigos sem
marca nem qualidade?
- Quando
se dá mais importância ao jogo feito fora do campo, não se estará a
desdignificar quem o pratica em favor de quem o cozinha?
- Quando
se passa mais tempo a discutir o jogo e menos a disputá-lo com verdade e
honestidade, não se estará a dar importância aos abutres em vez de olharmos
para as aves que, de facto, voam?
Ora, enquanto
o futebol for mais indústria e/ou comércio e menos desporto, estaremos a
confundir as funções dos praticantes, dos dirigentes e dos que gostam dele como
ação humana digna e dignificadora… Tudo o resto poderá cheirar a mentira, a
confusão e a corrupção… com mais ou menos mercenários e menos para mais
desportistas!
António Sílvio Couto
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