Foi
emitido, por estes dias, um programa televisivo em canal aberto, que tem tanto
de patético, quanto de risível: numa espécie de faz-de-conta uns pretensos
‘noivos’ são levados a casar sem se conhecerem…antes tendo o primeiro contato
na hora do (hipotético) enlace.
Desde
logo vale a pena situar-se nos aparentes factos: nenhum processo, mesmo civil,
é feito sem o conhecimento dos intervenientes, pela simples razão de ser
preciso averiguar se os tais ‘nubentes’ estão ou não casados…ou o dito
‘casamento’ é nulo. Outro aspeto não menos significativo: é preciso que os
dados fornecidos e recolhidos sejam verificados por documentos autênticos e
apresentados…logo a surpresa é de manifesto faz-de-conta.
Como
seria, então, possível submeter os ‘réus’ àquela fantochada sem o seu
consentimento, mesmo pela preparação da documentação prevista? Como poderiam
aparecer aquelas múmias – nada há contra as autênticas – um diante do outro sem
se conhecerem…numa conquista de casamento à primeira vista?
Acima de
tudo será de questionar a seleção dos candidatos, pois a festa decorre como se
fosse duma coisa séria se tratasse, mas que não passa duma reles representação
de ‘classe c’. As declarações dos figurantes – por vezes assumindo o papel de
convidados – deixam um tanto a desejar, não só pela medíocre arte
representativa como ainda pelas roupagens usadas… patrocinadas, ao que se pode
depreender, por marcas de roupa, que dão a entender que ou estão em crise de
vendas ou a precisar de publicidade com desconto…
Valerá a
pena ainda questionar quem era a tal ‘figura’ que, pretensamente, aceitou a
expressão de consentimento dos (pretensos) noivos. Se era alguém ligada à
estrutura do registo civil, talvez tenha exorbitado o espaço e as funções…não vimos
a ser assinada a ata do episódio. Se era um elemento da produção do programa,
então, a farsa reveste a configuração de logro, de diversão e de mentira, tanto
diante dos ‘réus’ como dos assistentes ao caso. A brincar deste modo não somos
nem honestos e muito menos credíveis… Ainda se queixam de tantas outras
situações de mentira!
= Com o
devido respeito, já sabíamos – por experiência de vários anos e em diversas
situações – que há um leque de pessoas que não leva minimamente a sério esta
questão do casamento e tão pouco do matrimónio, mas ter a ousada de
ridicularizar esta instituição básica da sociedade humana, é, sobremaneira, uma
ofensa e um ultraje a quem celebrou com respeito o casamento e, especialmente,
o matrimónio. Como não acredito que possa haver coisas inocentes nesta ocupação
dos espaços de comunicação social, parece-me que programas como este e o leque
do ramalhete que comporá a proposta nesta linha, poderá desejar antes de tudo ridicularizar
o que se refere à componente familiar, criando, desse logo, descrédito e
menosprezo, para que viva neste ‘casa-e-descasa’ com que nos temos vindo a
confrontar cada vez mais…normalmente!
Até
agora, a partir do programa emitido, há duas notas a referir: as experiências
falhadas em circunstâncias anteriores dos pretensos ‘nubentes’ e uma certa
idade dos candidatos…onde o desejo de casar se foi diluindo… embora
necessitando.
Porque
considero que o ato de casamento é algo muito sério e envolvente de toda a
vida, acho que programas – de ilusão, de entretenimento ou de confusão – não
fazem qualquer serviço de utilidade pública e muito menos de dignificação dos
participantes. Por isso, será de atender à sua não-difusão para que não se faça
de algo comprometedor da vida das pessoas, uma espécie de farsa com maior ou
menor qualidade…ou audiência.
Não
brinquemos aos casamentos nem façamos do casamento um mero ato de brincadeira
aceite, tolerada ou provocada… Estão vidas e sentimentos de pessoas em jogo,
respeitem-nas!
António Sílvio Couto
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