Acabada
a primeira volta das eleições presidenciais no Brasil – à mistura com outras
competições ao nível político interno – podemos perceber que vai realizar-se,
no próximo dia 28, a segunda volta, que por lá chamam de ‘turno’. Chegaram a
esta nova fase dois concorrentes diametralmente opostos: Jair Bolsonaro, que
recolheu 46,6% dos votos (isto é, cerca de 49 milhões de eleitores) e Fernando
Haddad com 28,4%, que representa cerca de 13 milhões de votos.
= Agora
que decorreu esta fase do pleito podemos, um tanto mais criteriosamente, tentar
perceber as lições das eleições no Brasil. Com efeito, dizem que o principal
vencedor conseguiu apresentar as suas ideias à margem ou à revelia do controle
da comunicação social tradicional, isto é, da imprensa, pela rádio e na
televisão, usando – dizem com suficiente habilidade – a tais ‘redes sociais’,
onde muito daquilo que se pode apresentar foge à censura dos jornalistas
apelidados de ‘independentes’. Digam-me onde há algum ou alguma desses
jornalistas com tal epíteto? O uso do critério (dogmático) de editorial, não
deixa qualquer dúvida: para dizer isto e não aquilo; para colocar esta foto e
preterir aquela; para realçar o que aquele disse e menosprezar o que outro
proferiu…não há isenção, tem de haver critério e este exige um quadro de
escolhas, que são (ou podem ser) discutíveis e censuráveis por outros…
Também
se notou – tanto da parte de lá do Atlântico como desta parte – um razoável
preconceito e/ou favorecimento de certos candidatos. Alguns cunharam rótulos
para aqueles com quem se identificavam menos e – pasme-se agora com estes
resultados de primeira volta – o povo brasileiro seria tão inconsciente que
votou, em larga escala, em quem poria em causa a própria democracia… Isto só de
mentes ditatoriais, que exigem que os outros concordem consigo e, quem pensar
de forma diferente da sua, tem de ser abatido… tanto pela palavra como pela
desonra, a difamação e a calúnia.
Outro
aspeto ainda a ter em conta em vários dos comentadeiros/as de serviço: muitatis
mutandis fazem olhar para aqueles que, nos diversos canais televisivos, não
conseguem transmitir os jogos de futebol e depois se entretêm horas a fio a
lamber os restos dos ossos, mesmo que partindo à força as barreiras que se lhes
opõem. Assim, vimos certas figuras dum certo espetro sociopolítico aparecerem
para analisar os resultados para a presidência da república no Brasil: criaram
clichés de leitura no espaço europeu – saudosos da ‘cortina de ferro’ e das
‘amplas liberdades’ deles – para quererem agora esquartejar as escolhas dos
brasileiros, como se eles fossem desprovidos de razão, de competências e de
motivação. Basta de tanto paternalismo colonialista encapotado e ao retardador!
= Que podem
dizer-nos as eleições brasileiras…para nós europeus? Desde logo que a desilusão
tem escolhas que nem sempre se entendem. De facto, o candidato agora melhor
colocado, porque tão expressamente vencedor na primeira fase, catapultou a
recusa de quem governou aquele país-continente nos últimos treze anos – a tal
vaga antipetista. Estes prometeram muito e executaram bastante, mas os cofres
faliram sem recursos para cumprir tantas promessas. Lá foi deste modo e cá como
será, em breve? A nossa geringonça tem meios para concretizar todos os desejos
e pretensões?
Por lá
colheu – ao que parece com mediana aceitação – a tentativa de sacudir o medo, a
violência, a criminalidade… aliadas a uma crescente tendência de amoralismo.
Por cá ainda não nos apercebemos das consequências da onda de amoralidade que
vem conquistando vários setores da nossa sociedade. Não valeria a pena abrir os
olhos enquanto vamos a tempo de reverter certas opções anti-vida e sob a
condução de quem quer impor aos outros a promiscuidade individual?
Ao que
dizem uma das mais fortes batalhas encetadas no Brasil tem sido a luta contra a
corrupção. Dizem que poucos tem as mãos limpas... Os mais recentes governantes
estão sob a alçada da justiça. O castigo aos vencidos pareceu uma vitória
contra essa doença por lá. Não teremos nada a colher para os nossos ‘políticos
profissionais’? Quando teremos pessoas capazes de quererem servir os outros sem
se servirem deles e dos lugares que ocupam? Não haverá tendência para fazer da
corrupção um tabu, quando convém?
Numa
palavra: será possível surgir, em Portugal, um Bolsonaro…sem grande história e
que deixe memória?
António Sílvio Couto
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