Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Que nos dizem as eleições brasileiras?


Acabada a primeira volta das eleições presidenciais no Brasil – à mistura com outras competições ao nível político interno – podemos perceber que vai realizar-se, no próximo dia 28, a segunda volta, que por lá chamam de ‘turno’. Chegaram a esta nova fase dois concorrentes diametralmente opostos: Jair Bolsonaro, que recolheu 46,6% dos votos (isto é, cerca de 49 milhões de eleitores) e Fernando Haddad com 28,4%, que representa cerca de 13 milhões de votos. 

= Agora que decorreu esta fase do pleito podemos, um tanto mais criteriosamente, tentar perceber as lições das eleições no Brasil. Com efeito, dizem que o principal vencedor conseguiu apresentar as suas ideias à margem ou à revelia do controle da comunicação social tradicional, isto é, da imprensa, pela rádio e na televisão, usando – dizem com suficiente habilidade – a tais ‘redes sociais’, onde muito daquilo que se pode apresentar foge à censura dos jornalistas apelidados de ‘independentes’. Digam-me onde há algum ou alguma desses jornalistas com tal epíteto? O uso do critério (dogmático) de editorial, não deixa qualquer dúvida: para dizer isto e não aquilo; para colocar esta foto e preterir aquela; para realçar o que aquele disse e menosprezar o que outro proferiu…não há isenção, tem de haver critério e este exige um quadro de escolhas, que são (ou podem ser) discutíveis e censuráveis por outros…

Também se notou – tanto da parte de lá do Atlântico como desta parte – um razoável preconceito e/ou favorecimento de certos candidatos. Alguns cunharam rótulos para aqueles com quem se identificavam menos e – pasme-se agora com estes resultados de primeira volta – o povo brasileiro seria tão inconsciente que votou, em larga escala, em quem poria em causa a própria democracia… Isto só de mentes ditatoriais, que exigem que os outros concordem consigo e, quem pensar de forma diferente da sua, tem de ser abatido… tanto pela palavra como pela desonra, a difamação e a calúnia.

Outro aspeto ainda a ter em conta em vários dos comentadeiros/as de serviço: muitatis mutandis fazem olhar para aqueles que, nos diversos canais televisivos, não conseguem transmitir os jogos de futebol e depois se entretêm horas a fio a lamber os restos dos ossos, mesmo que partindo à força as barreiras que se lhes opõem. Assim, vimos certas figuras dum certo espetro sociopolítico aparecerem para analisar os resultados para a presidência da república no Brasil: criaram clichés de leitura no espaço europeu – saudosos da ‘cortina de ferro’ e das ‘amplas liberdades’ deles – para quererem agora esquartejar as escolhas dos brasileiros, como se eles fossem desprovidos de razão, de competências e de motivação. Basta de tanto paternalismo colonialista encapotado e ao retardador! 

= Que podem dizer-nos as eleições brasileiras…para nós europeus? Desde logo que a desilusão tem escolhas que nem sempre se entendem. De facto, o candidato agora melhor colocado, porque tão expressamente vencedor na primeira fase, catapultou a recusa de quem governou aquele país-continente nos últimos treze anos – a tal vaga antipetista. Estes prometeram muito e executaram bastante, mas os cofres faliram sem recursos para cumprir tantas promessas. Lá foi deste modo e cá como será, em breve? A nossa geringonça tem meios para concretizar todos os desejos e pretensões?

Por lá colheu – ao que parece com mediana aceitação – a tentativa de sacudir o medo, a violência, a criminalidade… aliadas a uma crescente tendência de amoralismo. Por cá ainda não nos apercebemos das consequências da onda de amoralidade que vem conquistando vários setores da nossa sociedade. Não valeria a pena abrir os olhos enquanto vamos a tempo de reverter certas opções anti-vida e sob a condução de quem quer impor aos outros a promiscuidade individual?

Ao que dizem uma das mais fortes batalhas encetadas no Brasil tem sido a luta contra a corrupção. Dizem que poucos tem as mãos limpas... Os mais recentes governantes estão sob a alçada da justiça. O castigo aos vencidos pareceu uma vitória contra essa doença por lá. Não teremos nada a colher para os nossos ‘políticos profissionais’? Quando teremos pessoas capazes de quererem servir os outros sem se servirem deles e dos lugares que ocupam? Não haverá tendência para fazer da corrupção um tabu, quando convém?

Numa palavra: será possível surgir, em Portugal, um Bolsonaro…sem grande história e que deixe memória?      

 

António Sílvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário