Na
imensa riqueza da nossa sabedoria popular, podemos ler: ‘se queres ver
[conhecer] o vilão, mete-lhe a vara [o cargo] na mão’…
Quem não
se terá desiludido com pessoas que, antes eram simples e sinceras, mas, quando
chegadas ao poder, se tornaram manhosas e prepotentes? Quem não terá já visto
pessoas arrogantes em lugares de poder e sôfregas no seu mando? Quem não se
terá apercebido que os amigos não podem ser (só) para as ocasiões, mas que há
momentos em que estas revelam naqueles os piores dos inimigos? Quem não terá
percebido que foi usado, pelo simples facto de estar num posto de alguma
importância?
Ora,
tudo se pode complicar se somos nós que estamos no tal lugar de mando, pois,
com alguma facilidade nos podemos tornar razoáveis exemplares de vilões,
tenha-se em conta o tique mais ou menos bem camuflado. Com efeito, há situações
que fazem as pessoas muito para além das pessoas poderem fazer as ocasiões. Não
basta parecer sério, é preciso sê-lo de verdade e com todas as causas e as
irremediáveis consequências…
= De
entre muitos dos variados cenários para que possa haver vileza, poderemos
destacar quem está por detrás dum balcão – seja físico ou virtual – ou quem tem
de atender outras pessoas, poderá incorrer com alguma facilidade em vilania,
usando do seu poderzinho mais ou menos percetível, criando ascendência
psicológica e moral sobre quem é atendido… dificultando ou sonegando
informações para que, assim, possa demonstrar a sua ignóbil importância. Por
vezes há fardas (de certas autoridades) que encobrem tais demonstrações de
prepotência. Noutros casos são meras formalidades que podiam ser atenuadas, mas
que não o são por acintosa vilanagem…
=
Poderemos considerar que, no nosso espaço luso – nos diversos campos e muitas
atividades – esta caraterística já foi menos percetível e já houve menos
vassalos a tal cortesia. Com um certo enriquecimento de algumas faixas da
população parece que se está reproduzir com velocidade de doença
infectocontagiosa esta subtileza campónia, mas que agora se vem a revelar mais
refinada, bem cheirosa e conquistadora.
Certos
lóbis e grupos de pressão já não se escondem para cultivarem a vilania, que
quase poderá tornar-se em breve um outro nome de cidadania. Quando vemos uma
parlamentar ufanar-se da promoção duma similar em opção sexual a membro do
governo da nação, isto não será excesso de vilanagem e arremedo de prepotência?
Quando nos apercebemos que certos setores se fazem valer mais pelo conluio do
que pela qualidade, não será isto ressonância de vileza? Quando o que vale é
mais a aparência do que a realidade, não será isto subjugação à vilania mais
primária?
Muitas
das conquistas recentes dalguns agrupamentos partidários dão a impressão que o
vilão – qual coletivo anónimo, mas bem conhecido – saiu à rua e está a criar o
seu exército de sequazes, militantes e votantes. Alguns não lhes basta serem
menos honestos para arrastarem consigo incautos bem pagos com empregos na
esfera estatal e com ordenados quase injustos para a produção que apresentam…
Em tempos idos dizia-se: ‘tal dinheirito, tal trabalhito’, isto é, menos bem
pago, menos bem trabalhado; agora poderemos dizer: com tal dinheirinho,
merecíamos melhor qualidade de serviço e de trabalho!... E ainda por cima estão
por sobre qualquer possibilidade de desemprego!
= Numa
palavra: precisamos, com urgência, duma correta educação para a cidadania, onde
são denunciados vilões encobertos, espertos e oportunistas. O tempo nos fará
justiça, mas com o nosso contributo ativo, atuante e atento!
António Sílvio Couto
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