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terça-feira, 16 de outubro de 2018

Se queres ver o vilão…


Na imensa riqueza da nossa sabedoria popular, podemos ler: ‘se queres ver [conhecer] o vilão, mete-lhe a vara [o cargo] na mão’…

Quem não se terá desiludido com pessoas que, antes eram simples e sinceras, mas, quando chegadas ao poder, se tornaram manhosas e prepotentes? Quem não terá já visto pessoas arrogantes em lugares de poder e sôfregas no seu mando? Quem não se terá apercebido que os amigos não podem ser (só) para as ocasiões, mas que há momentos em que estas revelam naqueles os piores dos inimigos? Quem não terá percebido que foi usado, pelo simples facto de estar num posto de alguma importância?

Ora, tudo se pode complicar se somos nós que estamos no tal lugar de mando, pois, com alguma facilidade nos podemos tornar razoáveis exemplares de vilões, tenha-se em conta o tique mais ou menos bem camuflado. Com efeito, há situações que fazem as pessoas muito para além das pessoas poderem fazer as ocasiões. Não basta parecer sério, é preciso sê-lo de verdade e com todas as causas e as irremediáveis consequências… 

= De entre muitos dos variados cenários para que possa haver vileza, poderemos destacar quem está por detrás dum balcão – seja físico ou virtual – ou quem tem de atender outras pessoas, poderá incorrer com alguma facilidade em vilania, usando do seu poderzinho mais ou menos percetível, criando ascendência psicológica e moral sobre quem é atendido… dificultando ou sonegando informações para que, assim, possa demonstrar a sua ignóbil importância. Por vezes há fardas (de certas autoridades) que encobrem tais demonstrações de prepotência. Noutros casos são meras formalidades que podiam ser atenuadas, mas que não o são por acintosa vilanagem… 

= Poderemos considerar que, no nosso espaço luso – nos diversos campos e muitas atividades – esta caraterística já foi menos percetível e já houve menos vassalos a tal cortesia. Com um certo enriquecimento de algumas faixas da população parece que se está reproduzir com velocidade de doença infectocontagiosa esta subtileza campónia, mas que agora se vem a revelar mais refinada, bem cheirosa e conquistadora.

Certos lóbis e grupos de pressão já não se escondem para cultivarem a vilania, que quase poderá tornar-se em breve um outro nome de cidadania. Quando vemos uma parlamentar ufanar-se da promoção duma similar em opção sexual a membro do governo da nação, isto não será excesso de vilanagem e arremedo de prepotência? Quando nos apercebemos que certos setores se fazem valer mais pelo conluio do que pela qualidade, não será isto ressonância de vileza? Quando o que vale é mais a aparência do que a realidade, não será isto subjugação à vilania mais primária?

Muitas das conquistas recentes dalguns agrupamentos partidários dão a impressão que o vilão – qual coletivo anónimo, mas bem conhecido – saiu à rua e está a criar o seu exército de sequazes, militantes e votantes. Alguns não lhes basta serem menos honestos para arrastarem consigo incautos bem pagos com empregos na esfera estatal e com ordenados quase injustos para a produção que apresentam… Em tempos idos dizia-se: ‘tal dinheirito, tal trabalhito’, isto é, menos bem pago, menos bem trabalhado; agora poderemos dizer: com tal dinheirinho, merecíamos melhor qualidade de serviço e de trabalho!... E ainda por cima estão por sobre qualquer possibilidade de desemprego!  

= Numa palavra: precisamos, com urgência, duma correta educação para a cidadania, onde são denunciados vilões encobertos, espertos e oportunistas. O tempo nos fará justiça, mas com o nosso contributo ativo, atuante e atento!   

 

António Sílvio Couto

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