Já vai
nalgumas horas o tempo dedicado pela comunicação social ao ‘caso’ que envolve o
futebolista Cristiano Ronaldo num tal episódio há quase dez anos nos EUA.
Ainda
não se sabe da veracidade do ‘caso’ e já foram gastos inúmeros recursos –
certamente para ganhos de audiências – humanos e materiais, tentando desvendar
o que há de certo ou de errado na situação.
Dá a
impressão que caiu um mito e agora não há como saciar-se deglutindo os despojos
de tal fenómeno.
Parece
que aquilo que está em causa é o custo – moral, de imagem, de marca, de
personalidade, etc. – sobre quem, tendo subido tão alto parece cair com grande
estrondo e esfacelar-se na poeira da fama que já foi…
Dá a
impressão que este é mais um ‘caso’ à americana: tudo quanto possa envolver
escândalo de âmbito sexual é bem espremido para que dê bom dinheiro, tanto a
advogados como às (pretensas) vítimas.
Outras
situações têm tido idêntico desenvolvimento, havendo como que um guião subtil
para tratar tais ‘casos’, que envolvam assuntos atinentes à sexualidade: casos
de pedofilia com membros do clero católico, combates a pretendentes a lugares
políticos, abusos no mundo do espetáculo… tenham o tempo que tiverem há que
desenterrar os fantasmas pessoais e coletivos para apregoar uma certa
moralidade, que soa a oco e onde os que ganham são os mais palradores e os que se
mostrem mais ofendidos e molestados…mesmo que para a cena.
= Que
sociedade é aquela que tolera as armas, mas combate os mais pequenos deslizes
(ditos) morais, sempre para o lado do sexo? Que paranoia coletiva leva a que se
faça tão grande cruzada e se veja a amoralidade em cada canto ou viela? Este
puritanismo à americana não trará escondido algo mais do que uma vigilância
sórdida e inconsequente? Se não houvesse tanto dinheiro envolvido nestes casos,
assistiríamos a isto que cheira a doentio?
Na
sociedade ocidental – onde os americanos estão quando lhes convém – caminhamos
para uma moral sem religião, criando clichés de boa reputação ao nível público,
mas tolerando aberrações na vertente privada. O velho adágio – ‘virtudes
públicas e pecados privados’ – tem neste campo uma aplicação mais do que
razoável. De facto, há muita boa gente que vai tentando enganar com a imagem
que tenta fazer passar, querendo parecer gente boa, mas que, na dimensão mais
pessoal talvez não se coadune com aquilo que mostra.
Há, no
entanto, nesta moral sem religião, uma espécie de ajuste de contas na linha da tão
propagandeada ‘ética republicana’, onde cada um pretende ser senhor do seu
destino, mas não se assume como falhando – às vezes poderá ser até de falhado –
e propala esse refrão, tão comum quão ridículo, de ‘estar de consciência
tranquila’. Não será que esta gente não se enxerga para ver o mal que fez/faz
aos outros? Até onde poderá ir a incongruência entre o que se diz e aquilo que
se faz?
A
dimensão sexual da pessoa humana não é tudo nem é o todo da pessoa. Por isso,
teremos de saber reeducar-nos na qualidade do nosso ser espiritual, que vive
num corpo e que está sujeito às condicionantes do espaço e do tempo. Saber
pedir perdão é muito mais do que ser absolvido num tribunal e submeter-se ao
perdão divino e dos outros valerá muito mais do que milhões em indemnização…
Precisamos
de tempo para deixar assentar a poeira e de sermos capazes de recuperar dos
escândalos…mesmo do ex-melhor do mundo no campo do futebol!
António
Sílvio Couto
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