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quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Temas de eterna juventude


O sínodo dos bispos, que está a decorrer em Roma – será todo o mês de outubro – pretende analisar questões que preocupam os jovens dos nossos tempos. Sob o tema – ‘os jovens, a fé e o discernimento vocacional’ – a 15.ª assembleia ordinária do Sínodo dos Bispos poderá ser uma oportunidade – queira Deus que não seja perdida – para a Igreja entender os jovens hodiernos e para estes perceberem a Igreja católica…como dom de Deus e não como mera instituição humana…mesmo que mais ou menos humanizada.

Nesta assembleia sinodal encontramos 267 representantes dos bispos católicos de todo o mundo, 34 jovens (entre os 18 e os 29 anos), para além de especialistas na temática dos jovens, convidados e outros colaboradores.

De entre os vários temas recolhidos do inquérito realizado para preparar o sínodo chegaram ao espaço de reflexão e de questionamento na aula sinodal temas como: a afetividade, o papel da mulher, a sexualidade, a cultura digital, a vivência da liturgia…entre tantos outros, que poderão/deverão ser abordados com simplicidade, seriedade e sinceridade.

Ora, diante deste panorama temático, que há de diferente do tempo de jovens há trinta (década de 80 do século vinte) ou de há cinquenta anos (década de 60 do mesmo século)? Verifica-se, assim, uma tão grande mudança dos temas e das questões neste meio século de história? Temos, neste quadro de verificação, três gerações – avós, filhos e netos – e elas será, seriamente, tão diferentes na forma, no conteúdo e na práxis?

Se atendermos aos factos históricos mais marcantes daquelas décadas podemos encontrar afinidades bem mais normais do que possa parecer.

- Na década de 60 viveu-se sob a erupção do tempo da contestação hippy do ‘make love, not war’ transatlântico, associado ao ‘maio de 68’ e toda uma forma de viver a vida e, sobretudo, a sexualidade…Foi a época das revoluções populares e das transgressões dos padrões anteriores…Mesmo na Igreja católica se deu a mudança (aggiornamento) do Concílio Vaticano II. Um certo pacifismo permitia/incentivava a nada ser proibido!

- Na década de 80 viveu-se o desmoronamento político/social do quadro marxista, consubstanciado com a queda do muro de Berlim, em 1989. Os jovens que, anteriormente, tinham contestado, assumiam agora o poder, mais recauchutados do que renovados nas suas ideias e intenções. As ditaduras, tanto de direita como de esquerda, foram soçobrando e deixando confundidos muitos dos desiludidos com a fé, a religião, os modelos impostos e os regimes sem nexo. Os jovens desse tempo já não faziam a tropa nem iam à guerra, enquanto alguns suportes morais – como a família e os sistemas educativos – entravam em colapso…mais rápido do que seria previsível.

- Chegados quase ao final do primeiro quartel do século XXI, vemos que os temas, mutatis mutandis, continuam a andar à volta da afetividade/sexualidade, do específico do papel da mulher neste tempo (mais não seja em reação à má conduta anterior), às questões da liturgia (se virmos para dentro do espaço eclesial) e, num aspeto específico: a comunicação em tempo digital e em maré de internet… Outras questões de âmbito social, político, laboral… de incidência interpessoal e na dimensão comunitária ainda parecem andar fora das preocupações de muitos dos nossos jovens…cada vez mais retardados e ao retardador…Aos 30 anos já está mais do que na hora de assumir responsabilidades!  

= Sem menosprezar as visões dos jovens do nosso tempo, talvez seja de questionar a educação sexual/afetiva que a Igreja católica ministrou ao longo de séculos: de preferência repressiva e não propositiva, mais com condenações estoicas e menos com propostas de sabor epicurista/hedonista, mais pelo negativismo contra tudo e para com todos do que pela valorização da dimensão positiva da vida e das condições conquistadas… Agora que os ditames das religiões tradicionais – cristãs, judaicas, islamitas, budistas ou hinduístas – são contestados, vemos que uma porção significativa dos jovens vive ao sabor do ritmo dos ‘likes’ faceboquianos e pelas ‘amizades’ virtuais das redes (ditas) sociais, mas, cada vez mais, sós, marginalizados e abandonados. Será pela reconquista da dimensão personalista de cada pessoa que poderemos elencar, discernir e educar para os valores humanos e humanizantes. Acreditemos nos jovens, como gostamos que nos aceitassem…     

 

António Sílvio Couto  


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