O sínodo
dos bispos, que está a decorrer em Roma – será todo o mês de outubro – pretende
analisar questões que preocupam os jovens dos nossos tempos. Sob o tema – ‘os
jovens, a fé e o discernimento vocacional’ – a 15.ª assembleia ordinária do
Sínodo dos Bispos poderá ser uma oportunidade – queira Deus que não seja
perdida – para a Igreja entender os jovens hodiernos e para estes perceberem a
Igreja católica…como dom de Deus e não como mera instituição humana…mesmo que mais
ou menos humanizada.
Nesta
assembleia sinodal encontramos 267 representantes dos bispos católicos de todo
o mundo, 34 jovens (entre os 18 e os 29 anos), para além de especialistas na
temática dos jovens, convidados e outros colaboradores.
De entre
os vários temas recolhidos do inquérito realizado para preparar o sínodo
chegaram ao espaço de reflexão e de questionamento na aula sinodal temas como:
a afetividade, o papel da mulher, a sexualidade, a cultura digital, a vivência
da liturgia…entre tantos outros, que poderão/deverão ser abordados com
simplicidade, seriedade e sinceridade.
Ora,
diante deste panorama temático, que há de diferente do tempo de jovens há
trinta (década de 80 do século vinte) ou de há cinquenta anos (década de 60 do
mesmo século)? Verifica-se, assim, uma tão grande mudança dos temas e das
questões neste meio século de história? Temos, neste quadro de verificação,
três gerações – avós, filhos e netos – e elas será, seriamente, tão diferentes
na forma, no conteúdo e na práxis?
Se
atendermos aos factos históricos mais marcantes daquelas décadas podemos
encontrar afinidades bem mais normais do que possa parecer.
- Na
década de 60 viveu-se sob a erupção do tempo da contestação hippy do ‘make
love, not war’ transatlântico, associado ao ‘maio de 68’ e toda uma forma de
viver a vida e, sobretudo, a sexualidade…Foi a época das revoluções populares e
das transgressões dos padrões anteriores…Mesmo na Igreja católica se deu a
mudança (aggiornamento) do Concílio Vaticano II. Um certo pacifismo permitia/incentivava
a nada ser proibido!
- Na
década de 80 viveu-se o desmoronamento político/social do quadro marxista,
consubstanciado com a queda do muro de Berlim, em 1989. Os jovens que,
anteriormente, tinham contestado, assumiam agora o poder, mais recauchutados do
que renovados nas suas ideias e intenções. As ditaduras, tanto de direita como
de esquerda, foram soçobrando e deixando confundidos muitos dos desiludidos com
a fé, a religião, os modelos impostos e os regimes sem nexo. Os jovens desse
tempo já não faziam a tropa nem iam à guerra, enquanto alguns suportes morais –
como a família e os sistemas educativos – entravam em colapso…mais rápido do
que seria previsível.
- Chegados
quase ao final do primeiro quartel do século XXI, vemos que os temas, mutatis
mutandis, continuam a andar à volta da afetividade/sexualidade, do específico
do papel da mulher neste tempo (mais não seja em reação à má conduta anterior),
às questões da liturgia (se virmos para dentro do espaço eclesial) e, num
aspeto específico: a comunicação em tempo digital e em maré de internet… Outras
questões de âmbito social, político, laboral… de incidência interpessoal e na
dimensão comunitária ainda parecem andar fora das preocupações de muitos dos
nossos jovens…cada vez mais retardados e ao retardador…Aos 30 anos já está mais
do que na hora de assumir responsabilidades!
= Sem
menosprezar as visões dos jovens do nosso tempo, talvez seja de questionar a
educação sexual/afetiva que a Igreja católica ministrou ao longo de séculos: de
preferência repressiva e não propositiva, mais com condenações estoicas e menos
com propostas de sabor epicurista/hedonista, mais pelo negativismo contra tudo
e para com todos do que pela valorização da dimensão positiva da vida e das
condições conquistadas… Agora que os ditames das religiões tradicionais –
cristãs, judaicas, islamitas, budistas ou hinduístas – são contestados, vemos
que uma porção significativa dos jovens vive ao sabor do ritmo dos ‘likes’
faceboquianos e pelas ‘amizades’ virtuais das redes (ditas) sociais, mas, cada
vez mais, sós, marginalizados e abandonados. Será pela reconquista da dimensão
personalista de cada pessoa que poderemos elencar, discernir e educar para os
valores humanos e humanizantes. Acreditemos nos jovens, como gostamos que nos
aceitassem…
António Sílvio Couto
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