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sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Violência ‘em beijar os avós’?


Tem causado alguma celeuma uma opinião dum tal professor (ao que parece) universitário que, na sua perspetiva, considera uma ‘uma violência’ obrigar as crianças a beijarem os avós, pois se estaria, desde então, a condicionar as crianças, acarretando consequências pedagógicas para o futuro…

De quem exprimiu tal opinião logo foram escarafunchar o ‘perfil’ e as notas recolhidas talvez possam explicar, um tanto melhor, tal tomada de posição, se bem que, no nosso caso, nem interesse muito a vida do tal ‘intelectual’, pois, antes de tudo, teremos é de tentar saber, se a ousadia expressa, tem algo a ver com a realidade em geral e não tendo em conta as experiências do particular… 

= Será o beijo – na sua expressão mais simples e natural – uma expressão de afetividade ou uma caraterística cultural? Não teremos subvertido o recurso ao beijo como manifestação banal e banalizada? Atendendo às experiências pessoais, seja quem for ou de que sexo seja, será o beijo uma manifestação de proximidade ou uma vulgarização inconsequente? Não haverá outras formas de cumprimento, entre pessoas adultas, mais afetivas e sinceras do que as que tenta aduzir o gesto do beijo? Até onde poderá ir a boa ou má vivência da afetividade, manifestada através do beijo, nos comportamentos atuais de tantas e tão variadas pessoas?

Outras questões se poderão colocar, por forma a tentarmos interpretar as mui díspares posições sobre alguns gestos e comportamentos, desde que não se ouse fazer crer que a minha posição é a mais correta, sem deixar aos demais a possibilidade de serem pessoas livres e sem acusações para com ninguém… 

= A propósito do posicionamento do dito professor, foram-se ouvindo outras opiniões, que podem ajudar-nos a entender a complexidade da questão ou a simplicidade dos comportamentos humanos, equilibrados e adultos…psicológica e afetivamente.

Uma boa parte de técnicos ouvidos sobre o assunto consideram que a forma de cumprimentar os avós com um beijo não é, na maioria dos casos, um problema social, mas tão-somente de educação, tanto cultural como familiar. Alguns consideram que, se uma criança reage a não querer cumprimentar os avós com um beijo, não se deve forçar, antes se deverá encontrar as razões, dialogando com as crianças, pois elas podem ter as suas razões…para tal atitude. Outros ainda consideram que o cumprimento por parte das crianças com um beijo, onde se podem (ou devem) incluir os avós, é algo normal numa sociedade onde como que se vulgarizou esta forma de saudação e de cumprimento entre as pessoas mais velhas ou mais novas…sendo sempre de respeitar e de encontrar as razões para algo que possa sair deste quadro de normalidade…

Embora sob reserva alguns dos técnicos cujas opiniões foram escutadas por meios de comunicação social consideraram abusiva a extrapolação do tal professor em generalizar para casos de violência na adolescência aduzindo raízes nas menos boas experiências das crianças em relação aos avós… Será de dizer que ninguém poderá ser considerado sério nas suas posições extremas (ou mesmo extremistas) se se coloca como modelo das vivências dos outros… 

= Atendendo a que uma boa parte dos que hoje começam a ser avós são filhos da revolução de abril de 74, teremos de saber fazer a leitura adequada de muito daquilo que foi alguma liberdade má entendida e, possivelmente, menos bem vivida. Numa linguagem comum poder-se-á considerar que ser avó/avô é ser mãe/pai duas vezes, podendo corrigir nos netos o que não foi bem feito nos filhos. Em situações muito habituais é possível ver os avós a cuidarem dos netos pela razão da ocupação profissional dos filhos. Muitos destes quase nem estão com os filhos e a relação afetiva e efetiva é muito cimentada com os mais velhos. Por isso, será de desconfiar dalguma aversão que o tal professor manifestou para com os avós, traumatizando os mais novos… Para certas mentes já só falta condicionar o relacionamento entre as gerações, se os mentores tiverem más experiências para os que eram (são) seus avós…

 Uma referência pessoal: tenho pena de só ter conhecido, muito tarde, a avó materna, mas isso não me fez descrer da boa e necessária relação entre avós e netos… onde um beijo nunca seria um ato de violência, antes de ternura, de aconchego e mesmo de perdão!

 

António Sílvio Couto

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