Tem
causado alguma celeuma uma opinião dum tal professor (ao que parece)
universitário que, na sua perspetiva, considera uma ‘uma violência’ obrigar as
crianças a beijarem os avós, pois se estaria, desde então, a condicionar as
crianças, acarretando consequências pedagógicas para o futuro…
De quem
exprimiu tal opinião logo foram escarafunchar o ‘perfil’ e as notas recolhidas
talvez possam explicar, um tanto melhor, tal tomada de posição, se bem que, no
nosso caso, nem interesse muito a vida do tal ‘intelectual’, pois, antes de
tudo, teremos é de tentar saber, se a ousadia expressa, tem algo a ver com a
realidade em geral e não tendo em conta as experiências do particular…
= Será o
beijo – na sua expressão mais simples e natural – uma expressão de afetividade
ou uma caraterística cultural? Não teremos subvertido o recurso ao beijo como
manifestação banal e banalizada? Atendendo às experiências pessoais, seja quem
for ou de que sexo seja, será o beijo uma manifestação de proximidade ou uma
vulgarização inconsequente? Não haverá outras formas de cumprimento, entre
pessoas adultas, mais afetivas e sinceras do que as que tenta aduzir o gesto do
beijo? Até onde poderá ir a boa ou má vivência da afetividade, manifestada
através do beijo, nos comportamentos atuais de tantas e tão variadas pessoas?
Outras
questões se poderão colocar, por forma a tentarmos interpretar as mui díspares
posições sobre alguns gestos e comportamentos, desde que não se ouse fazer crer
que a minha posição é a mais correta, sem deixar aos demais a possibilidade de
serem pessoas livres e sem acusações para com ninguém…
= A
propósito do posicionamento do dito professor, foram-se ouvindo outras
opiniões, que podem ajudar-nos a entender a complexidade da questão ou a
simplicidade dos comportamentos humanos, equilibrados e adultos…psicológica e
afetivamente.
Uma boa
parte de técnicos ouvidos sobre o assunto consideram que a forma de
cumprimentar os avós com um beijo não é, na maioria dos casos, um problema
social, mas tão-somente de educação, tanto cultural como familiar. Alguns
consideram que, se uma criança reage a não querer cumprimentar os avós com um
beijo, não se deve forçar, antes se deverá encontrar as razões, dialogando com
as crianças, pois elas podem ter as suas razões…para tal atitude. Outros ainda
consideram que o cumprimento por parte das crianças com um beijo, onde se podem
(ou devem) incluir os avós, é algo normal numa sociedade onde como que se
vulgarizou esta forma de saudação e de cumprimento entre as pessoas mais velhas
ou mais novas…sendo sempre de respeitar e de encontrar as razões para algo que
possa sair deste quadro de normalidade…
Embora
sob reserva alguns dos técnicos cujas opiniões foram escutadas por meios de
comunicação social consideraram abusiva a extrapolação do tal professor em
generalizar para casos de violência na adolescência aduzindo raízes nas menos
boas experiências das crianças em relação aos avós… Será de dizer que ninguém
poderá ser considerado sério nas suas posições extremas (ou mesmo extremistas) se
se coloca como modelo das vivências dos outros…
=
Atendendo a que uma boa parte dos que hoje começam a ser avós são filhos da
revolução de abril de 74, teremos de saber fazer a leitura adequada de muito
daquilo que foi alguma liberdade má entendida e, possivelmente, menos bem
vivida. Numa linguagem comum poder-se-á considerar que ser avó/avô é ser
mãe/pai duas vezes, podendo corrigir nos netos o que não foi bem feito nos
filhos. Em situações muito habituais é possível ver os avós a cuidarem dos
netos pela razão da ocupação profissional dos filhos. Muitos destes quase nem
estão com os filhos e a relação afetiva e efetiva é muito cimentada com os mais
velhos. Por isso, será de desconfiar dalguma aversão que o tal professor
manifestou para com os avós, traumatizando os mais novos… Para certas mentes já
só falta condicionar o relacionamento entre as gerações, se os mentores tiverem
más experiências para os que eram (são) seus avós…
Uma referência pessoal: tenho pena de só ter
conhecido, muito tarde, a avó materna, mas isso não me fez descrer da boa e
necessária relação entre avós e netos… onde um beijo nunca seria um ato de
violência, antes de ternura, de aconchego e mesmo de perdão!
António
Sílvio Couto
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