Depois
da insensatez do facebook algo tinha de ser feito para colocar bom senso na
cabeça e no comportamento do povo. Não se podia continuar a dizer e mostrar
tudo e o resto, da forma mais abjeta e desabrida com que se vinha a crescer na
banalização das pessoas, a começar por cada um dos intervenientes. Quase tudo e
todos estavam sob a alçada duma certa promiscuidade sem critérios, pois se foi
descendo tão abaixo que já quase nada estava sob reserva ou condição…nem de si
mesmo.
Perante
tão aberrante espetáculo a que vínhamos a assistir, tinha de ser feito algo que
pudesse continuar a fazer de cada pessoa alguém com dignidade e com reserva de
mistério – seja no sentido cristão do termo, seja no conceito de defesa do que
cada um é e precisa de ser cuidado. Mesmo que, uma boa parte das pessoas, não
tenha tento nem discernimento daquilo que pode ou deve mostrar no estendal
faceboquiano, será preciso criar condições para que não haja conflitos de
interesses nem possam ficar impunes as prevaricações duns tantos sobre outros…
Neste
sentido parece ganhar importância e nova significação o tal novo ‘regulamento
geral de proteção de dados’, que entrou em vigor a 25 de maio passado. Embora
possa parecer, num primeiro momento, quase um emaranhado de condicionantes,
deverá ser interpretado, salutarmente, como uma salvaguarda legislativa
europeia para os abusos e deformações de comportamento a que vínhamos a
assistir… Dirá nosso povo na sua sabedoria: para grandes males, grandes remédios!
Há, no
entanto, no processo de difusão, de explicação e de implementação deste
regulamento algo que deixa um pouco a desejar sobre a capacidade, a
inteligência e até a perspicácia dos nosso concidadãos, pois, em certa medida,
parece que nos consideram quase mentecaptos quando está em causa muito da nossa
identidade, da nossa salvaguarda de presença com os outros e até de defesa para
com certos intrusos na nossa vida pessoal, familiar, associativa, cultural e
social. Com efeito, certas regras agora propostas não passam de chamadas de
atenção ao bom senso, em ordem a defender-nos dos abusos sobre a exposição da
nossa vida privada com que estávamos a ser assediados pelas façanhas e
tropelias do facebook: o cuidado para que não haja intromissões na captação,
difusão ou exposição de assuntos que podem fragilizar ainda mais as pessoas,
como são os assuntos de saúde, de opções religiosas ou de condicionantes para
com cada pessoa naquilo que ela é e para com quem não tem nada a saber para
além do estritamente necessário e na relação de funções ou solicitação de algum
serviço específico, sobretudo se isso obriga a sigilo e/ou confidencialidade…
Nestes
aspetos aduzidos nada há que possa ser mais importante do que a pessoa, pois,
como referimos acima, o mistério de cada pessoa tem de ser salvaguardado sempre
e, duma forma especial, quando estão em causa as crianças, os mais fragilizados
ou vulneráveis da sociedade. Também ninguém pode tirar proveito dos
conhecimentos que teve (ou tem) em razão do tipo de trabalho/profissão que
exerce, pois isso poderia constituir abuso de confiança, senão mesmo de
violação (clara ou presumida) da intimidade da pessoa.
Parece
não subsistir qualquer dúvida de que, cada vez mais, temos de ser defendidos e
nem a (dita) liberdade de informação poderá sobrepor-se a qualquer interesse
dos meios policiais, fiscais, estatais ou mesmo de investigação. Com efeito,
teremos de saber conjugar bem os modos de segurança e de liberdade, bem como as
tentativas de pretender escarafunchar a vida alheia, sem regras nem critérios… À
era do facebook tem de se impor a de proteção de dados com regras e
limites…claros e assinalados na lei, igual para todos os cidadãos.
Breves
questões:
- Com
tantos cartões e informações dadas a torto-e-a-direito, que pretendíamos,
descontos ou estarmos a facultar ingerência na vida das pessoas?
- Com
tantos sinais de vulgarização da pessoa sobre si mesma e para com os outros,
não tinha de chegar a hora da normalização das relações interpessoais e não na
exploração do sensacionalismo?
- Com a
criação duma certa impunidade em dizer tudo o que apetecia, não tínhamos de ser
mais ponderados, rigorosos e sensatos naquilo que dizemos e mostramos, de nós e
dos outros?
- Não
estará a faltar a todos os intervenientes na ‘proteção de dados’, um certo
rigor sem rigorismo à mistura com boa-fé e uma razoável dose de apreciação da
nossa inteligência pessoal e coletiva?
António Sílvio Couto
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