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quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Sabemos para onde vamos?


 Recordo com vivo interesse um ensinamento apresentado por um norte-americano, há cerca de duas décadas, que dizia: tal como John Wayne, nos seus filmes do far west, de mão em riste, apontado em frente, dizia ‘let’s go’ (vamos), assim João Paulo II, por ocasião do ‘jubileu do ano 2000’ e com a ‘nova evangelização’ estava a dizer à Igreja católica: vamos, em frente, rumo à meta…

Vem isto a propósito – mais por ausência ou falência do que por realidade – daquilo que podemos perceber a falta de quem nos aponte o caminho a trilhar, bem como de uma mensagem mobilizadora de todos.

Nesta partilha – algo inquieta, mas não-ansiosa – vou percorrer alguns campos de intervenção, sem perder de vista, essencialmente, o âmbito eclesial.  

 = Leitura algo preocupada dos resultados das eleições presidenciais

Sendo este ato eletivo mais pessoal do que partidário, vimos figuras um tanto desarticuladas do significado de propaganda, servindo-se da máquina de outras ocasiões; invetivando mais a faceta da ideologia, no sentido governativo do que na consonância da presidência; mais ataques de combate à pessoa, numa espécie de assassínio de personalidade, do que às ideias; recurso a clichés já abandonados no resto da Europa, mas fomentadores de conflitualidade social em arquivo de memória; exaltação mais daquilo que divide do que o que une e congrega…

A maioria dos candidatos teve a resposta que merecia: mínima, insuficiente, nalguns casos ridícula…mesmo que tendo pessoas em volta, não passavam de figuras solitárias e mesmo isoladas. Ficará na memória destas eleições presidenciais, o vencedor a deambular sozinho nas ruas da capital, fazendo tempo e ouvindo os discursos dos vencidos. Mas teremos reconhecido nele um guia das hostes lusitanas para os próximos tempos? Sendo agora ‘presidente’ sê-lo-á ‘para todos’, dado que nem todos nele votaram? Como poderá o reeleito presidente continuar a ser fiel aos seus valores, critérios e propostas, sem esquecer a fé católica que sempre assumiu? Continuará a dar cobertura às tropelias governativas, mesmo as mais esconsas e atentatórias da dignidade das pessoas, sobretudo das que têm iniciativa não-estatais nem estatizantes?

Gostaria de lembrar, no registo da História, estes anos duros de pandemia como tempos de aferição aos valores humanos mais elementares e essenciais!

 = Como servir os homens de hoje, levando-lhes Deus?

Esta é uma preocupação que me parece fundamental para entender o papel, a missão e o compromisso da Igreja católica, particularmente no nosso país. A submissão às diretrizes governamentais, em matéria de gestão da pandemia, quase fez dos cristãos/católicos uns cordeirinhos servidores dos intentos seculares. Em certos momentos fomos mais seguidistas das orientações das autoridades de saúde do que das normas eclesiais: a dispensa da missa dominical, o fechamento (é mais do que encerramento) das atividades pastorais, a suspensão da maioria dos sacramentos, a exclusão de alguns setores sociais das propostas de evangelização… e tantas outras subtilezas cumpridoras das ordens mundanas. Tudo isto se pagará por largo tempo: a ausência das crianças e adolescentes, a acomodação às missas on-line, a desabituação da componente comunitária na prática religiosa… a rutura das finanças das paróquias e dioceses, o excesso de virtualidade das coisas da fé…’à la carte’.

Estaremos a saber servir a mensagem do Evangelho no seu confronto com os problemas que temos e os que nos são colocados? Não teremos descaído na ousadia do anúncio e até esmorecido na dinâmica profética? Não nos inquieta que destes tempos fique um razoável silêncio do nada, como se fosse um vazio? Já começamos a discernir aquilo que Deus nos diz, por entre os seus sinais algo difíceis de compreender?

 = A vida será só economia e finanças?

As medidas propostas, as decisões apresentadas, as regras e os métodos têm privilegiado a ‘economia’, como se ela fosse a resposta para todos os problemas. Desgraçada cultura que se configura pelo material, o materialismo e consumismo. De facto, Deus conta pouco ou quase nada…até para os ditos cristãos!

 

António Sílvio Couto

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