Recordo com vivo interesse um ensinamento apresentado por um norte-americano, há cerca de duas décadas, que dizia: tal como John Wayne, nos seus filmes do far west, de mão em riste, apontado em frente, dizia ‘let’s go’ (vamos), assim João Paulo II, por ocasião do ‘jubileu do ano 2000’ e com a ‘nova evangelização’ estava a dizer à Igreja católica: vamos, em frente, rumo à meta…
Vem isto
a propósito – mais por ausência ou falência do que por realidade – daquilo que
podemos perceber a falta de quem nos aponte o caminho a trilhar, bem como de
uma mensagem mobilizadora de todos.
Nesta
partilha – algo inquieta, mas não-ansiosa – vou percorrer alguns campos de
intervenção, sem perder de vista, essencialmente, o âmbito eclesial.
Sendo
este ato eletivo mais pessoal do que partidário, vimos figuras um tanto
desarticuladas do significado de propaganda, servindo-se da máquina de outras
ocasiões; invetivando mais a faceta da ideologia, no sentido governativo do que
na consonância da presidência; mais ataques de combate à pessoa, numa espécie
de assassínio de personalidade, do que às ideias; recurso a clichés já
abandonados no resto da Europa, mas fomentadores de conflitualidade social em
arquivo de memória; exaltação mais daquilo que divide do que o que une e
congrega…
A
maioria dos candidatos teve a resposta que merecia: mínima, insuficiente,
nalguns casos ridícula…mesmo que tendo pessoas em volta, não passavam de
figuras solitárias e mesmo isoladas. Ficará na memória destas eleições
presidenciais, o vencedor a deambular sozinho nas ruas da capital, fazendo
tempo e ouvindo os discursos dos vencidos. Mas teremos reconhecido nele um guia
das hostes lusitanas para os próximos tempos? Sendo agora ‘presidente’ sê-lo-á
‘para todos’, dado que nem todos nele votaram? Como poderá o reeleito
presidente continuar a ser fiel aos seus valores, critérios e propostas, sem
esquecer a fé católica que sempre assumiu? Continuará a dar cobertura às
tropelias governativas, mesmo as mais esconsas e atentatórias da dignidade das
pessoas, sobretudo das que têm iniciativa não-estatais nem estatizantes?
Gostaria
de lembrar, no registo da História, estes anos duros de pandemia como tempos de
aferição aos valores humanos mais elementares e essenciais!
Esta é
uma preocupação que me parece fundamental para entender o papel, a missão e o
compromisso da Igreja católica, particularmente no nosso país. A submissão às
diretrizes governamentais, em matéria de gestão da pandemia, quase fez dos
cristãos/católicos uns cordeirinhos servidores dos intentos seculares. Em
certos momentos fomos mais seguidistas das orientações das autoridades de saúde
do que das normas eclesiais: a dispensa da missa dominical, o fechamento (é
mais do que encerramento) das atividades pastorais, a suspensão da maioria dos
sacramentos, a exclusão de alguns setores sociais das propostas de evangelização…
e tantas outras subtilezas cumpridoras das ordens mundanas. Tudo isto se pagará
por largo tempo: a ausência das crianças e adolescentes, a acomodação às missas
on-line, a desabituação da componente comunitária na prática religiosa… a
rutura das finanças das paróquias e dioceses, o excesso de virtualidade das
coisas da fé…’à la carte’.
Estaremos
a saber servir a mensagem do Evangelho no seu confronto com os problemas que
temos e os que nos são colocados? Não teremos descaído na ousadia do anúncio e
até esmorecido na dinâmica profética? Não nos inquieta que destes tempos fique
um razoável silêncio do nada, como se fosse um vazio? Já começamos a discernir
aquilo que Deus nos diz, por entre os seus sinais algo difíceis de compreender?
As
medidas propostas, as decisões apresentadas, as regras e os métodos têm
privilegiado a ‘economia’, como se ela fosse a resposta para todos os
problemas. Desgraçada cultura que se configura pelo material, o materialismo e
consumismo. De facto, Deus conta pouco ou quase nada…até para os ditos
cristãos!
António Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário