Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Sinais de fé... na vida e nas ruas

Depois de um processo algo titubeante parece estar prestes a concretizar-se um sonho: vai ser erigido um monumento, na rua, a Nossa Senhora da Boa Viagem, na Moita.

Atendendo às circunstâncias sócio-políticas, aos momentos económico-financeiros e até às motivações religioso-cristãs, esta iniciativa poderá ser considerada vulgar – isto é, normal, bem aceite e até patrocinada – noutras paragens, mas quase uma ousadia em certos espaços ao sul do Tejo...

Atendendo às condições do calendário a inauguração deste monumento público a Nossa Senhora da Boa Viagem, deverá acontecer no próximo dia oito de setembro... em vésperas de eleições autárquicas, no contexto do ‘ano da fé – a decorrer na Igreja católica – e com a difusão que for conveniente e a divulgação oportuna... Mesmo em tempos de crise/austeridade parece que os custos não são exorbitantes! Assim haja vontade e ousadia para não envergonhar a padroeira da Moita.
Perante este ‘episódio’ local parece-nos um tanto incisivo abordar a temática dos sinais da fé, na sua expressão pública, tanto na vida pessoal, familiar, social ou eclesial como nas ruas.
= Sinais coerentes de fé?

De muitos modos e por várias formas, a fé se exprime por gestos e sinais, por palavras e silêncios. Nalguns casos estes silêncios suplantam as oportunidades de manifestarmos a nossa fé, que é muito mais do que crença ou até do que mero sentimento... religioso. De facto, num tempo em que se pretende privatizar a fé, em que fomos confrontados com múltiplas sugestões de espiritualidades – muitas delas ‘à la carte’ – e até por expressões que envolvem ignorância do essencial da fé, os cristãos/católicos foram desafiados a viver um ‘ano da fé’. Decorridos três meses de vivência já notamos diferença na nossa fé? Está a nossa fé mais esclarecida e é vivida mais comunitariamente? A fé proclamada tem impacto na nossa vida? Já entendemos as exigências do testemunho da fé, hoje?

Mais do que a rotina de uma proposta vinda do Papa, este ‘ano da fé’ precisa de criar raízes na nossa consciência de vida, tornando-nos sinais coerentes de fé. Precisamos de assumir muito para além dos muros – as paredes, por vezes, esconder barreiras entre os que dizem celebrar a mesma fé! – do templo, as implicações da nossa fé... cristã. Não serão (somente) os ritos que nos farão comprometer, mas antes o sujar as mãos com projectos de fé. Tal como dizia o cardeal Ravasi, em Fátima, em Outubro passado, de pouco adiantará ter as mãos limpas se não as sujarmos com iniciativas de fé ou se isso significar vazio de obras...

= Sinais de fé na rua

Em vários locais do nosso país e mesmo na sociedade ocidental vemos estátuas alusivas a figuras da fé cristã, tanto de santos e santas como de Nossa Senhora (nas mais diferentes invocações e evocações) e de Cristo. Há, na nossa cultura – para inquietação dalguns sectores laicos mais ressabiados! – uma grande diversidade de sinais de fé cristã. No entanto, muitos desses exemplares são de épocas anteriores ao nosso tempo... apesar deste ser pródigo em figurações simbólicas, muitas delas neo-pagãs.

A estatuária reflecte não só a sensibilidade duma época como também revela muita da devoção popular, criando um ambiente fora do templo muito para além dos rituais esteriotipados. Quantas vezes foi em momentos de dificuldade – económica e social – que se ergueram grandes monumentos que perpetuam a memória colectiva. Quantas vezes foi unindo pequenos esforços que surgiram grandes obras de simbologia patriota e mesmo cultural. Quantas vezes gestos de pessoas simples suplantaram a arrogância dos poderosos... políticos ou financeiros.

Neste tempo que nos é dado viver, precisamos de ousadia para que Deus não seja expurgado da memória pública nem que Cristo possa ser varrido dos valores mais elementares e humanos. A rua pode e deve ser, hoje, o púlpito da nossa fé comprometida, professada e testemunhada... com simplicidade e amor!

António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Com a verdade (ainda) me enganas?


Por estes dias temos como que sido levados a reflectir sobre questões do foro político, de âmbito social e até de natureza ético-espiritual. De facto, quando ouvimos certas figuras a falar dos problemas que tentam resolver como que temos de questionar se nos estão a falar verdade ou, se não sendo totalmente verdade o que nos dizem, terão possibilidade dalgum crédito as sugestões que nos apresentam... como novidade ou recauchetadas na ideologia (partidária, religiosa ou humanista) a quem parecem, antes, servir e/ou adular.
 
- Quando vemos serem apresentadas medidas para combater o ‘nosso’ actual regime de pobreza, perseguindo com impostos, preferencialmente, os ricos, como que nos fica a dúvida se pretendem acabar com os pobres ou, antes, com os ricos! Estes poderão – quando evangelizados correcta e ousadamente – combater os focos de pobreza, criando empregos e novas condições de vida. No entanto, com a proliferação da cultura dos pobres não sairemos do fosso para onde nos empurarram certos (ditos) combatentes em favor dos tais pobres! Efectivamente, a pobreza dá de comer a muito rico... de orgulho, de ideias feitas e até de pretensões de poder!

Como poderemos crescer se ‘matamos’ quem nos pode ajudar? Como poderemos viver em paz se faltar a justiça? Como poderemos sair da crise se esta nos entristece, amesquinha e envergonha?

 - Muitos contestam – nalguns casos bem e noutros suficientemente mal! – as medidas da (apelidada) austeridade. É verdade que as medidas tocam (quase) sempre aos mesmos, isto é, àqueles que dependem do seu trabalho. Como alguém dizia: hoje já não há operariado, mas precariado... tal é a insegurança dos meios de subsistência. Num caleidescópio de posições vemos que quem governa (normalmente) não tem sabido capaz de explicar as razões e que quem contesta pouco mais tem acescentado do que dizer não e fazer barulho... sem apresentar outras medidas exequíveis no atual estado do país. Até quem pretende eleições não fará – se for mentalmente honesto – diferente do que tem de ser feito, pois assim nos obrigam os credores...

Até onde irá o patriotismo (mais ou menos (inter)nacionalista) se estivermos desacreditados? Se tirarem a contestação alguns (políticos, sindicalistas, comunicação social, etc.) poderão ainda sobreviver social, económica e politicamente?  

- Na proliferação de visões culturais a que estamos, hoje, desafiados a viver temos de ir aprendendo a situar-nos nos diversificados campos de actuação, pois alguns dizem-se inspirados nalguns valores humanistas, mas como que distorcem as metas/objectivos quando têm de servir (mais) a quem os influencia, patrocina ou promove... De facto, há quem reclame reconhecimento das suas ideias, no espaço público e até na comunicação social, mas como que contestam as ideias e os ideais dos outros (só) porque são servidas por valores éticos que nos se coadunam com aqueles mentores. Já todos sabemos como na ‘casa da democracia’ com que classificam (eufemisticamente) o Parlamento se degladiam múltiplos interesses – uns mais visíveis e assumidos e outros mais subterrâneos e quase esotéricos – onde alguns são mestres na contenda e outros – enquanto não aprendem – meros figurantes de manipulações em maré de votação...

Como poderá ser conjugável a liberdade de consciência com a disciplina partidária? A quem servem os deputados: aos que os elegeram ou às forças (do partido, dos interesses ou das ideologias) que os designaram? Para quando a liberdade e o compromisso, ligando os eleitos aos eleitores e vice-versa?

= Nesta etapa da história da humanidade torna-se fundamental criar laços de verdade onde aquilo que se diz condiga com o que se faz e este acto do fazer tenha condições para se concretizar em novas ideias de prossecução da verdade traduzida em projectos de vida, de compromisso e de valorização dos outros, onde cada um de nós é parte e sinal da Verdade total, que é Deus.

Que sejamos dignos de tal viver e testemunhar, aqui e agora!  

 

António Sílvio Couto

(asilviocouto@gmail.com)

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Sinais de (in)coerência... mais ou menos (re)conhecidos


Num tempo eivado de múltiplas notícias – onde umas são factos e tantas outras surgem de meros episódios, há quem lhes chame de ‘não-factos’ – somos continuamente desafiados a ver como é a coerência entre as palavras e o comportamento – tanto do nosso como o dos outros – num quadro de vivência colectiva... mais ou menos (re)conhecida.

Atendendo a que por trás de cada facto está alguém – com perfil aceite e/ou reconhecido – tentaremos – para evitar tocar em melindres e com isso provocar resposta de ‘ofendidos’! – dizer das acções ainda que não descriminando (totalmente) os intervenientes. 

= Quando se fazem campanhas em defesa de um certo cão – provocador da morte de uma criança – com milhares de proponentes... até onde irá caminhar a degradação da nossa condição humana?. Vida de criança e vida cão não têm – assim cremos! – comparação. Mas, se do canídeo todos sabem o nome, como poderemos acreditar na salvaguarda da nossa condição humana, se a criança (já sepultada) se reduz a um simples número! ‘Animal’ vale mais do que humano? Quantas vezes a defesa de redutos animais têm custado o adiamento de obras públicas! Quantas vezes o simples azedar de razões faz com que se cuide mais dos animais do que dos direitos dos humanos! Quantas vezes certos vegetarianos de fachada guerreiam para que os seus pontos de vista se sobreponham aos deveres para com os humanos mais simples e marginalizados!

= Centenas de pessoas vão, diariamente, ao hospital... público ou privado, sob taxas moderadoras ou com taxas já cobradas... em idade mais nova ou na senectude...com problemas habituais ou em momentos ocasionais. Ora, por estes dias, um senhor de provecta idade da nossa praça política teve de recorrer à assistência hospitalar. Politicamente – tanto quanto se sabe da sua ideologia – deveria servir-se do sistema nacional de saúde – que criou, patrocinou e, teoricamente, defendeu – embora – pela capacidade e pelos recursos económicos que deve possuir, tal como as influências que move – possa ir aos serviços do privado. Como se pode classificar quem conteste a solução – do paciente e do seu (anterior!) projecto político – onde aquilo que se diz até parece estar um tanto desfazado do que se faz? Será de cobarde porque se explora o (‘pobre’) necessitado ou de incongruente porque não se segue aquilo que apresenta aos outros? Como se pode viver a exigir aos outros e se é mais tolerante quando isso nos atinge... nem que seja aos mais próximos? Até onde irá a lógica de regime se o regime falha e os seus utentes estão descapitalizados? 

= Repetidamente se diz que o país está em crise e que as pessoas têm dificuldade em prover às suas necessidades essenciais. Há campanhas de ajuda, tendo as mais diversificadas intenções, intervenientes e beneficiários. No entanto, quando se fala de futebol, as coisas mudam de cenário... sobretudo se estão em contendas emblemas rivais – sejam do espectro desportivo, sejam da área sócio-regional ou ainda dos interesses mais ou menos explorados em maré de crise – e se faz dum jogo uma questão de honra... Quem viu a multidão dos especetadores a sair do estádio onde se deu a recente resfrega dos principais competidores do campeonato de futebol terá ficado com dúvidas: mais de sessenta mil – o custo do jogo (viagens, bilhete, comes-e-bebes, etc.) nunca terá andado abaixo dos cem euros – não estão a passar mal, pois ali não se entra sem dinheiro em caixa!... Há imensos interesses em causa, por isso um jogo desta natureza serve de alienação para quem do povo se serve, ao menos, explorando as (suas) paixões clubísticas... Os adversários ainda estão conscientes na hora de dirimirem os lances (mais ou menos) polémicos? Nem sempre a racionalidade tem espaço nas questões desportivas... pois, por muito poucos erros que se cometam, com dificuldade as pessoas os assumem... ontem como hoje!     

Outros tantos sinais de (in)congruência se praticam, embora poucos os assumam, os (re)conheçam e tanto pouco o tentem corrigir! Coerência a quanto obrigas!

 

António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Água como bem comum... essencial e vivificador


Por decisão da ONU, 2013 foi declarado ‘Ano internacional para a cooperação pela água’. Embora já haja um ‘dia mundial da água’ – 22 de Março – neste ano temos uma nova focagem no tema da água, onde a cooperação pela água tem múltiplas dimensões, incluindo os aspectos culturais, educacionais, científicos, religiosos, éticos, sociais, políticos, jurídicos, institucionais e económicos.

Em razão da problemática que envolve o tema da água vamos tentar abordar alguns aspectos (mais ou menos) pertinentes:

= Água é vida!

Sendo um recurso natural, a água é essencial para a vida. Dois terços do planeta Terra é água. Sempre que falta a água – seja da chuva, seja do fornecimento potável, seja ainda para a forma mais comum de higiene e mesmo de via de comunicação – como que periga a nossa condição terrena. As zonas áridas – particularmente por ausência de água – como que significam uma quase morte presente ou anunciada.

Talvez possa ser conveniente vermos números da significação e da utilização da água:

- No corpo humano a água é o principal constituinte (entre 70% a 75%) e sua quantidade depende de vários factores estabelecidos durante a vida da pessoa, tais como a idade, o sexo, a massa muscular, o aumento ou perda de peso, o tecido adiposo, e até mesmo a gravidez ou lactação.

- Cerca de 70% da água doce do mundo é consumida pela agricultura.

- Estima-se que, em 2025, mais de metade da população mundial sofrerá com a falta de água potável.    

= Água: negócio ou poupança?

Perante este elemento de bem essencial, que é a água, como que poderemos entender a sua gestão: vendo-a na perspectiva da poupança e como bem comum gratuito ou podendo-a entregar ao negócio especulativo?

Se atendermos à nossa condição portuguesa, desde há quarenta anos, que o fornecimento de água às populações em geral e não só no tecido urbano tem cada vez mais qualidade, tanto em razão do investimento autárquico bem como das infra-estruturas colectivas.

Hoje é habitual termos em casa água de boa qualidade e, normalmente, a um preço acessível. Também sabemos – infelizmente pelas razões sociais mais recentes – que a água é dos bens em que se corta, quando há dificuldades económicas ou quando outras necessidades se sobrepõem... Por isso, as questões de higiene – onde o uso da água também entra – denotam, hoje, um dos campos mais atribulados e em restrição...

Tem-se falado na hipótese da privatização da água, enquanto outros ripostam contra essa pretensão... mas que isso não sirva para criar conflitos à volta deste bem tão essencial. Que seja feito o melhor possível para termos água de boa qualidade, a preço acessível e com abertura ao cuidado dos outros!...

= Para uma espiritualidade da água

A água é considerada como purificadora na maioria das religiões, no hinduísmo, no cristianismo, no judaísmo, no islamismo e no xintoísmo. O baptismo nas igrejas cristãs é praticado com água, simbolizando o nascimento de um novo ser, purificado pela remissão dos pecados.

No judaísmo e no islamismo, é ministrado aos mortos um banho de água purificada, simbolizando a passagem para a nova vida espiritual eterna. Na Bíblia, o termo ‘água’ é mencionado 442 vezes.

Talvez seja útil, neste ‘ano internacional para a cooperação pela água’, que possamos viver numa nova atitude quer da utilização da água nas nossas tarefas quotidianas, quer na simbologia mais de índole espiritual. Será certamente diferente usar a água como elemento utilitário ou como entidade da natureza que nos foi concedida por Deus, desde a mera lavagem até à envolvência em purificação e como força regeneradora da nossa existência em condição terrena...

Mergulhados na água do baptismo viveremos a força da fé, tanto em dimensão pessoal como comunitária!

 

António Sílvio Couto

(asilviocouto@gmail.com)

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Sacrifícios, facturas e devaneios


Agora, que iniciámos um novo ano civil, talvez seja, no mínimo, de nos aferirmos às realidades, de nos adaptarmos às pessoas e de nos conferirmos com os objectivos mais ou menos congruentes com a nossa vivência pessoal, familiar, social, política, económica e psicológica.

Desde já uma nota: retomaremos a escrever com a grafia de antes do (pretenso) acordo ortográfico, pois, se o Brasil só lhe confere validade, em 2016, porque havemos de reduzir a nossa expressão escrita à maneira deles, se eles (os brasileiros) nos consideram sem valor de igual respeito! 

= Sacrifícios não explicados... valerão a pena?

«São muitos, e cada vez mais, os que se interrogam sobre a razão dos sacrifícios que lhes são exigidos e se esses sacrifícios serão realmente necessários e úteis. Os cidadãos anseiam saber se vale a pena o esforço que estão a fazer e se, no final, o País chegará a bom porto».

Este breve excerto da mensagem de ano novo do Presidente de República portuguesa como que foi entendido na linha de correcção deste ao governo perante as (mais) graves medidas preconizadas para este ano de 2013. Com efeito, temos de concordar que, quem nos governa, não tem sabido explicar aos governados todas as implicações dos sacrifícios exigidos... nem sequer a discrepâncias para com os reformados mais ‘ricos’, obrigando-os a serem taxados de forma um tanto dura e desigual!

Para além das tricas politiqueiras com que certas forças partidárias e seus apaniguados nos têm tentado entreter, vemos com preocupação que nem sempre quem nos governa se mostra adequadamente preparado para exercer os cargos que lhes foram confiados. Tem havido atitudes de responsáves – tanto no governo como nas oposições – de quem ninguém conhece outra ‘profissão’ do que a verborreia do mando, ora contra, ora a favor e quase sempre aspirando a mandar mesmo que sem as qualidades mínimas – humanas, culturais, intelectuais, cívicas, morais e até psicológicas – exigidas... Não basta fazer carreira sob a alçada de algum padrinho influente nem sequer percorrer as etapas do carreirismo, pois, quando se é elevado, logo se percebe o (des)valor!

Temos, entretanto, visto e ouvido que as forças ideológicas valem mais do que as ditas partidárias, sendo que algumas delas são transversais aos vários elencos partidários. Não deixa, no entanto, de ser preocupante que alguns se achem mais patriotas pelo facto de recusarem a União Europeia, apesar de usufruirem dos benefícios que ela lhes tem trazido e até concorram a cargos de representatividade no Parlamento europeu – seria lógico que não se candidatassem e que recusassem os proventos que auferem pagos pelos inimigos capitalistas! – muito embora perdessem o palco para a contestação e um certo enriquecimento social!

De facto, a coerência não é virtude que esteja em boa cotação pelas esferas públicas e políticas deste nosso país. Precisamos de verdade e de sentido de responsabilidade, deixando a quem for mais capaz a possibilidade de servir e não de se servir... dos lugares de governo, seja qual for a instância do seu exercício.

 

= Cultura do bem comum: facturas, sim ou não?

No passado mês de Agosto, foram publicados em Diário da República os Decretos de Lei n.º 197/2012 e n.º 198/2012, que apresentam alterações substanciais ao nível das regras de facturação, com aplicação já a partir de 1 de Janeiro de 2013.
Entre as principais alterações, destaca-se: passa a ser obrigatória a emissão de facturas para todas as entidades, independentemente do valor de emissão; são eliminados todos os tipos de documentos "equivalentes à factura" (tais como vendas a dinheiro, talões de venda, etc.); passa a ser obrigatória a comunicação de todos os documentos de facturação emitidos à Autoridade Tributária (AT), até ao dia 8 do mês seguinte à emissão do documento; os sujeitos passivos são obrigados a comunicar à AT os elementos dos documentos de transporte processados, antes do seu início; a comunicação efectuada à AT pode ser automática, através de um webservice.

- Na factura deve constar: data, número sequencial, nome ou denominação social e número de identificação fiscal do fornecedor dos serviços prestados, quantidade e denominação social dos bens transmitidos ou serviços prestados, preço líquido de imposto, as taxas aplicáveis e o montante do imposto devido ou o preço com a inclusão do imposto e taxas aplicáveis, NIF do adquirente ou destinatário, identificação e domicílio do adquirente ou destinatário, data em que os bens foram colocados à disposição do adquirente ou que os serviços foram realizados, se diferente da data da factura, motivo de isenção do Iva, quando aplicável. 

Desde as primeiras horas deste ano que vemos uma certa aversão a esta medida, pois nem todos estão – consciente ou inconscientemente – preparados para fazer deste comportamento uma atitude cívica e económica normal. Quando ouvimos dizer que, um quarto da economia portuguesa, é paralela de fuga ao fisco, como poderemos sair do atoleiro em que nos fomos enterrando? Para quando criarmos uma consciência cívica que deseje participar no bem comum e em que abandonemos essa propensão – quase congénita – de fuga aos deveres?

De facto, a lealdade, infelizmente, não tem grandes cultivadores neste nosso país. Nunca tivemos – como na maior parte da Europa – de unir forças para recuperarmos da desgraça comum! Temos, urgentemente, de viver numa cultura de combate à mentira e à aldrabice, sem vivermos acima das nossas possibilidades... reais e assumidas. 

Basta de devaneios, mãos ao trabalho honesto, competente e sincero! O futuro merece melhor.

 

António Sílvio Couto