Com data
de meados de novembro, mas só tornada publica no dia um de janeiro, a
Conferência Episcopal Portuguesa exarou uma reflexão sobre os ‘Desafios
pastorais da pandemia à Igreja em Portugal’…num total de 53 pontos.
Eis um
breve sumário do texto:
- Cap. I
– a Igreja e a pandemia; introdução (n. os 1 a 3); uma Terra em
agonia (n. os 4 e 5);
- Cap.
II – desafios pastorais: introdução (n. os 6 a 9); a solidão (n. os
10 a 12); a inclusão e a solidariedade
(n. os
13 a 14); a Igreja doméstica (n. os 15 a 18); sacerdotes, profetas e
reis (n. os 19 a 20); as relações (n. os 21 a 22); a vida
comunitária (n. os 23 a 25);
- Cap.
III – um novo anúncio do Evangelho: introdução (n. os 26 a 28);
construir a fraternidade universal (n. os 29 a 30); comunicar nos
ambientes digitais (n. os 31 a 32); o primado da Palavra (n. os
33 a 34); celebrar é evangelizar (n. os 35 a 36); novos desafios de
serviço e missão (n. os 37 a 40); partir das periferias (n. os
41 a 43);
- Cap.
IV – a paróquia comunidade sinodal: introdução (n.º 44); dois ou mais (n. os
45 a 46); paróquia, célula da ‘Igreja em saída’ (n.º 47); paróquia, ‘casa do
povo de Deus’ (n.º 48);
- Cap. V
– olhar o futuro (n. os 49 a 53).
= Neste
longo tempo de pandemia, a Igreja católica, em Portugal, através da Conferência
Episcopal, foi tentando orientar os seus fiéis (leigos, padres e diáconos e
religiosos) publicando orientações. Depois do cardápio de (72) regras a 8 de
maio, após a reunião plenária de junho, a CEP publicou uma nota sobre
‘Recomeçar e reconstruir – reflexão da CEP sobre a sociedade portuguesa a
reconstruir depois da pandemia covid-19’, temos estes ‘desafios pastorais’.
Respigamos
alguns aspetos deste documento, tentando perscrutar quais as orientações a
serem seguidas…nos sublinhados que colocamos em cada número desta reflexão:
1. A Igreja em Portugal, através dos seus
bispos, sente-se unida a quantos foram diretamente atingidos pela pandemia e
sofrem...Partilha, igualmente, a dor das
famílias que perderam os seus entes queridos.
2. A Igreja quer manifestar reconhecimento
e gratidão a todos os que mais de perto têm tido a missão de conduzir o
país, mesmo com decisões difíceis.
3. O primeiro desafio que se coloca à Igreja e ao mundo é saber “habitar este silêncio”.
4. Olhando a natureza doente,
podemos mesmo perguntar: “onde foi parar o ser humano?
5. Não é possível falar em proteção
ambiental sem que esta envolva também a proteção do ser humano.
6. O cuidado para com a pessoa doente
implica igualmente restaurar e curar a vida espiritual e suscitar esperança.
7. Quais as consequências para a qualidade do serviço de saúde público e privado?
8. As questões levantadas por esta pandemia (...) devem ser ocasião para
provocar uma mudança de mentalidade
e uma reviravolta cultural.
9. Não se pode abandonar na solidão
quem está nos momentos mais exigentes e decisivos da vida.
10. Devemos isolar de nós o vírus e não o
idoso, tornando-o desumanamente solitário.
11, O lugar ideal para vencer a solidão é a família.
12. As comunidades cristãs devem ser estimuladoras de uma cultura de proximidade, organizada e proativa, que anime os sós.
13. Com a pandemia arriscamo-nos a deixar
para trás faixas da população que já eram frágeis e que viram agravar a sua
situação.
14. Só uma sociedade com alma pode
ser inclusiva, solidária e justa.
15. Se na paróquia
é necessário haver um lugar de oração, é também importante valorizar formas
concretas de exercer a diakonia ou o
serviço da evangelização.
16. A primeira catequese [talvez]
seja a que é feita em casa, pelos pais, avós, tios, irmãos. Temos a oração da
Eucaristia, mas há também a oração da manhã, da noite, antes das refeições e o
terço, entre outras.
17. Para viver, a Igreja tem necessidade da Igreja doméstica, pois esta é a chave da transmissão da fé.
18. Precisamos de passar de uma pastoral familiar de eventos para uma pastoral
de processos. (...) Precisamos de uma pastoral “com” as famílias.
19. São inúmeras as circunstâncias da vida em que os leigos podem exercer o sacerdócio comum.
20. É bom voltar à igreja e
redescobrir a preciosidade da Eucaristia, da comunidade cristã, do serviço dos
sacerdotes.
21. O amor vence a tentação do
“confinamento em si mesmo”, pois tem o poder de ensinar como “se vive o outro”.
22. A Igreja é chamada a viver em comunhão com todos.
23. Muitos cristãos tendem a gerir a sua vida espiritual de forma cada vez mais
privada.
24. A comunhão fraterna “atraía a
atenção” por simpatia e não pelo proselitismo.
25. O campo da missão alargou-se,
requer pessoas com paixão comunitária e estilo missionário.
26. O anúncio do
Evangelho pede aos cristãos a coragem de habitar “novos areópagos”.
27. O primeiro anúncio precisa de
uma linguagem simples, compreensível e direta que conte como Deus é Amor e ama
cada um.
28. Evangelizar é [saber] como
anunciar o Evangelho (...) dentro da mesma cultura.
29. Haverá melhor modo de apontar o futuro
[sobre a fraternidade e a amizade social], em tempos de crise planetária?
30. A palavra “todos” começou a
usar-se mais no nosso léxico, como sinónimo de humanidade inteira, sonho de
percursos comuns, de esforços, consensos e soluções globais.
31. Os meios digitais podem tornar o
virtual “quase real” e servir para aproximar, partilhar, construir laços e até
“tocar” o coração do irmão.
32. Os meios digitais são um contributo
pastoral [catequético] subsidiário.
33. Explicar o Evangelho é falar de
Cristo como contínua surpresa que convém suscitar.
34. No primado da Palavra, é
relevante a formação, a comunicação, a linguagem.
35. A liturgia pode e deve ser
evangelizadora, desempenhando um papel de iniciação para muitos que, sem
formação, participam nas celebrações em momentos especiais da existência
humana.
36. A celebração da liturgia comunitária
é uma experiência única numa sociedade onde prevalece o egoísmo e o
individualismo.
37. Todos os serviços e ministérios na Igreja, tanto
os existentes como os que possam ser criados, devem estar impregnados por um
profundo dinamismo missionário.
38. Saber acolher é uma arte que evangeliza (...) Um serviço de acolhimento e integração na comunidade que deve ser
retomado e alargado a outros momentos, para além da Eucaristia.
39. No âmbito do novo anúncio do Evangelho, adquire especial destaque pastoral
o serviço da comunicação....nas
redes sociais e no uso dos meios digitais...pelo diálogo com a sociedade civil
e instituições diversas.
41. Se se trata de recomeçar, que
seja sempre, como no Evangelho, a partir dos últimos.
42. Importa é que as pessoas sejam o
centro e o amor o betume que une a missão comum (...) Como vamos criar uma
cultura de proximidade e de novas vizinhanças?
43. Que se iniciem percursos sinodais
de escuta prolongada, autênticos laboratórios de reflexão em ordem a uma “nova
etapa da evangelização”.
44. Numa paróquia que seja verdadeira
comunidade, não deve entrar a disputa, a discórdia, os interesses pessoais,
os desejos de afirmação ou poder; não deve haver autoritarismos, críticas,
invejas, ciúmes; o que se faz deve ser direcionado a todos, deve haver comunhão
na diversidade.
45. A sinodalidade exige a humildade
de “ir lado a lado”, com o Mestre em companhia. Evangelizar numa paróquia
sinodal passa por “ir dois a dois”!
46. Na sinodalidade, vale mais o
menos perfeito em unidade que o mais perfeito em desunião.
47. Passar de uma pastoral de manutenção a uma pastoral missionária é uma conversão que vai durar o seu tempo.
48. Descrevendo a comunidade como Igreja
“que saiba acolher com sentimentos maternos, mostre ternura com todos, saiba
olhar para o futuro com esperança, cultive a memória de povo de Deus”.
49. A mudança está sempre no ADN do jovem.
50. Sem a escuta atenta dos jovens, sem a sua visão da Igreja e
do mundo, não haverá adequada renovação e conversão pastoral.
51. Jovens, a Igreja entre nós, mais ainda pela preparação da Jornada Mundial da Juventude em
Portugal em 2023, está ciente de quanto podeis ser agentes da evangelização,
trazendo o vosso modo de ser, agir, pensar, servir e amar.
52. Que [Deus] nos conceda a coragem de olhar para além das chagas abertas por
esta pandemia e descortinar uma aurora
de esperança capaz de nos lançar decididamente numa “nova etapa da
evangelização”.
53. Todos irmãos e irmãos de todos.
= Da
leitura desta reflexão da CEP recolhemos como temas mais percetíveis e questões
recorrentes:
*
Família como espaço, realidade e sinal…alvo de evangelização e também ela
evangelizadora;
*
Mudança cultural e de mentalidade – em proximidade, pelo acolhimento, vivendo
em afetividade, opção pelos mais fragilizados, aprendendo um novo silêncio;
* Que
Igreja somos, que queremos ser e de que forma? Uma nova visão e enquadramento
de paróquia
*
Comunicação em ambientes digitais…
António Sílvio Couto