Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



quinta-feira, 25 de abril de 2013

Leituras políticas... inquietadas


Por estes dias temos vivido sinais preocupantes da nossa vida político/social: avanços e recuos em matéria de constrangimento económico/financeiro; declarações e acusações de intervenientes na esfera partidária; discursos sindicalistas incendiários e quase terceiro-mundistas; comentários e comentadores que nada têm de sérios nem independentes... ideológicos.

Diante deste panorama controverso ficam-nos algumas inquietantes perguntas: serão estes intérpretes capazes de cuidar do país ou estarão, antes, a destruir o que resta da nação? Estarão preparados para as funções ou são, antes, empurrados pelas circunstâncias? Onde é que começa a responsabilidade e acaba o oportunismo? Até onde irá a capacidade de aguentar o menos mau, quando está quase tudo tão péssimo? O nível cultural – embora aparentemente instruído! – ainda poderá descer mais ou o fosso não tem fundo?

Mesmo que, em forma de tópicos, deixamos breves leituras políticas, isto é, de cuidado pela salvaguarda da cidade numa proposta de inquietação cívica e (até) cristã:

- Quando ouvimos e vemos Soares e Seguro – com mais de trinta anos de diferença na idade... mas não na mentalidade! – a usarem os mesmo clichés... numa narrativa dejà vu, não estaremos atrasados no conteúdo e na forma de tratarmos o país e as questões essenciais, que não só as de visão partidária e ideológica? Onde está pressa de chegar ao poder, se não está preparado... minimamente?

- Quando vemos, ouvimos e (quase) não percebemos que há, em Portugal, um tribunal – dito ‘constitucional’ – que fiscaliza as regras/leis/ditames/etc. segundo os parâmetros da Constituição da República, mas ele mesmo é composto por juízes não julgáveis – como se fossem infalíveis – mas indicados pelos partidos que compõem o espectro partidário... e de pois não se julgam pressionados, mas actuam segundo as regras das querelas da partidarite. Quem pode julgar e ser julgador, se as leis lhe estão sempre favoráveis? Porque hão-de os juízes do TC poderem reformar-se aos quarenta anos – só com dez de serviço – se o resto do povo (normal) tem de trabalhar até aos sessenta e cinco/sete?

- Quando governo e oposições usam as mesmas palavras, embora com significados diversos, não estaremos a querer enganar o povo e, por isso, a colocando-o fora da participação política activa?

- Quando vemos aguerridos combatentes aos lucros capitalistas em paraísos fiscais, que tão fervorosamente constestam as regras para o resgate da dívida em Chipre... como que somos levados a desconfiar que têm muito mais de cem mil euros para não serem taxados como parecem defender para os outros... não para eles!

- Quando vemos surgirem certos figurões no écran da opinião – qual noiva ofendida com os agravos dos seus pundunores ofensores! – como que nos sentimos numa espécie de ridicularização sobre a nossa capacidade intelectual e num congestionamento de não-ofensa à raiva, pois quem tanto mal nos fez parou o filme – quase dois anos – e agora surge a proferir tais dislates que mais parecem elogios aos antepassados da vergonha... embora possam surgir como entendidos na solução aos vindouros mais incautos...

- Quando olhamos certas carpideiras da economia estatizada – sob o signo de modelos que já faliram noutras paragens, mas que ainda têm algumas raízes neste país de brandos costumes -- a lançarem lágrimas sobre os Estaleiros de Viana do Castelo como que sentimos que aquele feudo está prestes a escapar ao controle de certas forças – ditas trabalhadoras, progressistas e reivindicativas – que foram afundando na negligência um certo estrato da sociedade e da região... que, embora privilegiado, está falido e quase amorfo.

- Quando vemos serem cerceados alguns temas éticos mais elementares, por parte de uma certa comunicação social – só porque lhes cheira a cristianismo, senão na teoria ao menos na prática – talvez nos pareça ainda estarmos sob a custódia de um tal jacobino bolorento da primeira república, onde quem não pensa(va) como eles... logo se torna(va) inimigo.

- Quando se nos afigura uma tal proclamação do consumismo – embora falido ainda tem muitos seguidores endivididos – como se fosse a solução das questões, quando não passa da causa de muitos problemas, então urge reflectir sobre quais são os valores nos quais estamos a construir a nossa história pessoal e colectiva.

Afinal o civismo – onde também a dimensão política se insere – está a construir-se, hoje como ontem e amanhã!


António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

terça-feira, 16 de abril de 2013

Que família (cristã) para este tempo?


A Conferência Episcopal Portuguesa publicou, no final da última reunião plenária, no dia 11 de abril, uma nota pastoral intitulada: ‘A força da família em tempos de crise’. Neste texto os nossos bispos fazem-nos reflectir sobre alguns aspectos essenciais da família. Respigaremos breves excertos, tentando respeitar os subtítulos do documento, e acrescentaremos umas tantas perguntas... que nos parecem úteis.

1. Família: bem social A família representa um bem público, um bem social. Podemos encará-la na perspetiva do seu relevo privado, como um bem para a realização pessoal, no plano afetivo, espiritual ou outros, de cada um dos seus membros. Mas devemos também encará-la na perspetiva do seu relevo social, do bem que representa para a sociedade no seu todo. (...) A saúde e coesão de uma sociedade dependem, por isso, da saúde e coesão da família.
Só a família concebida a partir do compromisso definitivo entre um homem e uma mulher pode desempenhar esta função social. As alterações legislativas que, entre nós como noutros países, vêm redefinindo o casamento de forma a nele incluir uniões de pessoas do mesmo sexo, esquecem esta verdade fundamental.

(...)
A família é o santuário da vida e do amor, lugar da manifestação de uma grande ternura. - A quem interessa confundir as noções de ‘família’ senão àqueles que sobrevivem nas confusões, sejam elas terminológicas ou sejam morais/éticas ou pseudo-culturais?
- Como poderemos vencer os lóbis anti-família, se a esta não for dado significado e afirmação positiva?
- Porque se escondem, mesmo noticiosamente, tantas tribulações – desde a agressividade até ao crime – das ditas famílias homossexuais?
2. Importância da família Na família respeita-se a dignidade da pessoa humana, esta é encarada como ser único e irrepetível. Nela não há lugar para o anonimato. Nela a pessoa é acolhida e amada pelo que é, não pelo que faz ou pelo que produz. Por isso, o contexto familiar é aquele em que os mais vulneráveis, incluindo os doentes e portadores de deficiência, não deixam de ser valorizados.
A família é a primeira e mais básica escola de sociabilidade. Nela se aprende a convivência com o outro e o diferente; o homem é diferente da mulher, os irmãos nunca são iguais, e os filhos nunca são o reflexo da imagem dos pais.
(...) Na família a autoridade é exercida como serviço e por amor.
A renovação das gerações no seio da família também permite a mais harmoniosa aliança entre a tradição e a novidade.
(...) Num outro aspeto a família representa o contexto mais adequado e harmonioso para o crescimento e educação das novas gerações. A família nasce da unidade e complementaridade das dimensões masculina e feminina, que cooperam, nessa unidade e complementaridade, para a integridade da educação humana.
- Quando vemos proliferar situações de famílias mono-parentais não estará um tanto em risco o equilíbrio das pessoas, sobretudo dos mais frágeis?
- Quando vemos ser questionada – anárquica, abusiva e acintosamente – a autoridade dos pais como poderemos ter cidadãos felizes e saudáveis?
- Quando aos velhos são substraídos os elementos mais básicos como poderemos sobreviver civicamente?
3. Crise económica e social com repercussão na família A crise económica e social que o nosso país atravessa vem evidenciando, precisamente, a riqueza que representa a família. Tem sido a solidariedade familiar, que se traduz em solidariedade entre gerações, em muitos casos, o primeiro e mais seguro apoio de quem se vê a braços com o desemprego, ou a queda abrupta de rendimentos, com a consequente incapacidade de fazer face a compromissos assumidos que se destinam à satisfação de necessidades familiares essenciais, como a da habitação. (...) Na raiz da crise que atravessamos estão fracassos de um modelo económico assente na maximização do lucro e do consumo. (...) A gratuidade típica das relações familiares deve servir de modelo para este novo paradigma de desenvolvimento económico.
- Perante certas (ditas) ajudas -- sociais, políticas e/ou assistenciais -- estaremos a dignificar ou a desvalorizar a família?
- Até onde irá a subsidio-dependência em tantos contextos familiares degradados, que, por vezes, se tornam degradantes?
- Os laços familiares já aprenderam a gerar novas formas de partilha e de inter-comunhão... muito para além da ajuda circunstancial?
4. Abertura à vida na família... com critérios cristãos Talvez o mais eloquente sinal de que a crise da instituição familiar se traduz em malefícios sociais seja o da crise demográfica, que muitos consideram o mais grave dos problemas sociais das sociedades europeias, numa perspetiva do seu futuro mais ou menos próximo. As últimas estatísticas apontam Portugal como um dos países com mais baixa taxa de natalidade em todo o mundo.
A família abre-se, por desígnio natural, à vida.
(...) É claro o bem que representa hoje a maior longevidade, o facto de os idosos viverem mais tempo do que noutras épocas. O que é problemático não é isso; não há idosos “a mais”, porque estes são sempre uma riqueza, e nunca um peso. O que é problemático e causa desequilíbrios é que não nasçam crianças. (...) Ajudam a combater a crise da natalidade medidas fiscais, que promovam o emprego juvenil, ou que facilitem a conciliação entre o trabalho e a vida familiar. Mas o contributo decisivo para vencer a crise demográfica situa-se no plano da cultura e da mentalidade.
- De facto, como poderemos acreditar que o Estado/governo são ‘pessoas de bem’ se protegem quem combate a vida, matando-a ainda antes de nascer?
- Quando se paga, repetidamente, o recurso ao método do aborto e não se ajuda quem quer ter filhos, ainda estaremos a salvaguardar o nosso futuro?
- Como poderemos defender o ‘estado social’ se as comparticipações legais nos fazem pagar métodos anti-vida e não são apoiados gestos de amor responsáveis?
5. Família: projeto duradouro... com percalços
Para vencer a crise demográfica, como em relação a muitos outros aspetos relativos à sua função social, há que acreditar na família como um projeto duradouro, assente num compromisso de doação total e não na volatilidade dos sentimentos. Só nesse contexto é razoável a decisão de ter filhos. Se a saúde e coesão da sociedade dependem da saúde e coesão da família, esta está estritamente ligada à sua estabilidade.
Vai-se generalizando, porém, a opção por formas de convivência marital precária, que recusam esse compromisso; tal como é cada vez mais frequente o recurso ao divórcio, o que a legislação vigente também não deixa de facilitar em extremo.
(...) Não é demais lembrar a responsabilidade que representa a preparação, mais remota e mais próxima, para o casamento. Uma preparação que envolve as famílias, as instâncias educativas e a Igreja. - Quando vemos, sentimos e escutamos um certo descrédito sobre a estabilidade do matrimónio – ou mais vulgarmente na etapa do casamento – ainda poderemos acreditar na sanidade dos aventureiros em fazê-lo... para além da festa e das prendas?
- No contexto da preparação próxima – cursos e reuniões – para o casamento/matrimónio como poderemos refazer a linguagem, quando mais de metade dos candidatos já vive em conjunto e/ou com filhos?
- Depois de certas vivências mal-sucedidas – onde o divórcio se torna ferida – como deve a mãe-Igreja acolher e tratar compassivamente os re-casados e as vítimas da separação não-culpável?
6. A sociedade à imagem da família Os valores que se vivem na família – a pessoa amada e acolhida como ser único e irrepetível, o amor gratuito, a solidariedade espontânea, a autoridade como serviço, o valor do doente e do idoso, a aliança da tradição e da inovação, a unidade e complementaridade das dimensões masculina e feminina, a fidelidade e o compromisso – devem estender-se, por seu intermédio, a toda a sociedade: às empresas, aos serviços públicos, às escolas e hospitais, às comunidades eclesiais, às associações. A família é o modelo, o dever ser de qualquer convivência humana.
- Não será verdade que a sociedade está em colapso porque a família está doente?
- Quando entenderemos que a razão mais funda da nossa crise não se situa em coisas materiais mas em situações culturais?
- Já fez o chec-up da sua família para entender melhor os males da nossa sociedade?



António Sílvio Couto

quarta-feira, 10 de abril de 2013

‘Cantinas sociais’: solução, risco ou desafio?

No desenrolar desta crise – social, económica, política.. financeira, moral ou ética – temos visto variadas sugestões de solução: umas mais simples e correctas, outras a roçar o idealismo ou até a má fé; umas sob o signo da adulação, outras na tentativa da resposta mínima; umas tantas influenciadas por mentores político-partidários, outras numa sensiblidade mais civilista; algumas surgidas de quem conhece o terreno, outras tantas utópicas e sem qualquer exequibilidade...

Houve uma proposta – vinda do actual executivo político nacional – que quis adiantar remédio para certas desgraças anunciadas... na linha de outros projectos – deste como dos governos anteriores – que quiseram dar de comer antes que a fome se tornasse uma reivindicação não controlável. Falamos das cantinas sociais.

Vejamos, então, uma (possível) apresentação, bem como os números da sua execução, para além das razões e (mesmo) dos desafios e (até) dos perigos deste projecto... hoje como amanhã.

= Envolvendo alguns dos fautores portugueses da economia social – CNIS, União das Misericórdias e União das Mutualidades – o governo, em janeiro passado, anunciou um ‘programa alimentar de emergência’, num total de 251 milhões de euros para este ano... envolvendo mais de sete centenas de instituições.

Atendendo à complexidade deste assunto – dar de comer num contexto de crise, embora onde as pessoas recebam a comida já feita – parece-nos urgente ver as implicações desta matéria no tecido social português, onde muitas vezes se dá (ou pode dar) uma certa acomodação, criando, por seu turno, mais um espírito reivindicativo e como que atenuando a procura de soluções porque alguém – Estado/governo, autarquias/associações – já o fez por nós... e um tanto sem o nosso contributo.

= É digno de registo que, se neste momento socio-político, não se verificam mais problemas, conflitos e (até) muita outra fome é porque há uma rede capilar de instituições – muitas delas ligadas à Igreja, tanto católica como de outras denominações – que, no terreno, fazem um diagnóstico de proximidade e cuidam em prevenção e/ou de assistência... gerando e gerindo os recursos e alimentando quem, sem essa atenção, estaria desprotegido e talvez a passar mais mal.

Somos, de facto, um povo de matriz pobre, mas com uma alma de grande comiseração, embora nem sempre de correcta vivência e honesta relação. Explicando: aprendemos, normalmente, a viver com o mínimo e até fomos, durante muito tempo, formatados por alguma acomodação, que, por vezes, nos fez viver sem grandes anseios de riquezas... até ao tempo do regime que nos foi imposto pelas grandezas europeias, onde nos foram dizendo que podíamos viver sem trabalhar ou numa militância preguiçosa... encapotada.

= Que têm, então, as cantinas sociais – no seu traçado actualmente vigente – a ver com o nosso presente e no futuro próximo de país sob resgate de dívida externa colectiva?

Desde logo porque nos dão já feito aquilo que devia ser trabalho com participação nossa. Quem não sente a frieza da casa se nela se não cozinha? Quem não sente uma certa dependência dos outros, esquecendo os seus gostos e sabores? Quem não sente que perde identidade quando lhe dão cozinhado e não lhe fornecem antes os ingredientes para sentir-se útil e participativo?

Pela experiência de ter visitado, na década de noventa do século passado, um campo de refugiados, na guerra dos Balcãs, percebemos que a falta de trabalho – não queremos dizer a preguiça, embora a ausência de ocupação tenha os mesmos efeitos – faz frio e gera dependência psicológica e, tal como diz a moral cristã, a ‘preguiça é mãe de todos os vícios’. Por isso, cremos e ousamos clamar: não façam de quem precisa um necessitado de tudo feito, mas façam-no participar nas condições da sua valorização, tornando as instituições de apoio fomentadoras da capacidade de ensinarem a colaborar, dando, aos agora ajudados, ferramentas de maior empenho no futuro de si mesmos, dos outros e do próprio país.

Quem soube enquadrar e valorizar, na década de oitenta, um milhão de retornados – muitos deles não passavam de deslocados duma guerra que não era a deles – tem a obrigação de fazer melhor do que dar o peixe pescado sem cana nem anzol... Ontem como hoje, o futuro começa agora!


António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

domingo, 7 de abril de 2013

Em quem nunca votaria!


Neste momento complexo da nossa vida social e política como que bailam na minha mente múltiplas razões para que não possa nem deva votar em certas figuras, nuns tantos figurões e noutras diversos personagens... tenham eles a narrativa – idiossincrática e polissémica – com que nos queiram ludibriar ou confundir em tempos de campanha eleitoral e mesmo na hora da votação!

De facto, poderemos elencar algumas das vertentes pelas quais não podemos, em consciência – onde os valores cristãos nos enformam – dar qualquer assentimento a propostas para votação:

- por razões culturais e intelectuais, há forças político-partidárias e (consequentemente) os seus candidatos que não nos merecem o mínimo de confiança, sobretudo os que se encontram no eixo (ou será arco?) marxista, anárquico e populista, pois muito se diz e bastante pouco se faz;

- por razões éticas e cívicas, há propostas que se apresentam a eleição que nunca merecerão o mínimo de concordância e/ou aceitação se defenderem temas contra a vida, a família na perspectiva judaico-cristã ou a moralidade não personalista, na medida em que tendem a reduzir a pessoa a matéria sem alma nem espírito;

- por razões económico-financeiras, há sistemas que não nos merecem qualquer aceitação, sobretudo se tentam fazer da pessoa humana como que uma máquina sem direitos e com responsabilidades limitadas aos interesses materialistas dos proponentes, sejam de esquerda ou de direita, tenham a coloração que lhes quiserem conferir ou inseridos nalgum ’ismo’ – socialismo, comunismo, radicalismo, etc. – mais da moda em cada passo da história;

- por razões de mínima congruência, quando descobrimos que certos ataques aos outros não passam de manobra para disfarçar a incapacidade em fazer melhor ou pelo menos com maior respeito pelos demais... mesmo que sejam de rápido consumo e de efeito mais ou menos imediatista;

- por razões de salubridade mental, quando vemos uns tantos que se vendem às mordomias – tenham ou não a máscara de direitos ou se façam passar por muito democratas com mãos voltadas (quase sempre e só) para si mesmos – de circunstância, tais como regalias de imagem ou em fachada de vitória pírrica;

- por razões de exigência moral não poderemos concordar – e muito menos aceitar de ânimo leve ou com vulgar ligeireza – com quem se apresenta a votos tentando fazer dos outros (quais) fantoches de feira, pensando que se esqueceram das tropelias que armaram nos intervalos das votações, ostentando uma personagem, no mínimo, de dúbia consistência ou de pouco razoável equilíbrio e sanidade.

= Apesar de tudo, somos dos que vivem – moral, cívica e cristamente – a exigência de participar nas eleições, sejam elas de que natureza forem, mas não aceitamos meter no mesmo saco todos os projectos submetidos ao escrutínio popular, nem as figuras e os figurões apresentados... e tão pouco confundimos as forças ideológicas... por muito boazinhas que se pretendam insinuar em maré de serem sufragadas!

= Perante o panorama do país, cremos que não podemos andar a brincar às eleições, na medida em que não seja da nossa concordância quem quer que nos governe. Há tempo para rasgar, tempo para coser, tempo para consertar e tempo para prestar contas... Basta de vivermos nessa tal psicologia da máquina de bebidas – mete a moeda e sai logo a resposta – e neste afã de querermos a todo o custo remendar erros históricos, sociais e económicos, que uns tantos – desgraçadamente são sempre os mesmos de forma cíclica e até contumaz! – são especialistas em fazerem o pior sem participarem na real solução, antes agravando o problema, ontem e hoje!

= Num tempo em que a qualidade dos nossos chefes – poucos são, de facto, líderes – deixa muito a desejar, urge criar condições para que sejamos conduzidos por pessoas com estofo e visão que ultrapassem a conjuntura do seu perímetro físico e psicológico... apresentando, pelo contrário, novos horizontes, cuidando de que tenhamos a curto e médio prazo outros que sejam capazes de interpretarem com sabedoria, inteligência e ousadia o que é mais útil para o nosso futuro colectivo... Os vindouros merecem!

Unidos e com projectos altruístas havemos de conseguir criar uma sociedade portuguesa mais humana porque mais cristã. Podem contar com o nosso humilde contributo, votando em consciência e exigindo em conformidade!


António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Sem medo nem vergonha!


Um destes dias ouvi, numa rádio – posteriormente citada noutros meios de comunicação social – a caracterização de um ex-governante e já anunciado comentador político numa televisão: ‘S. é um homem sem medo nem vergonha’, referindo-se ao seu passado governativo e atendendo às suas futuras ‘novas’ funções... onde se desenham vários cenários e umas outras possíveis complicações no espectro político-partidário, tanto dentro como fora do seu grupo... ideológico, que é mais do que só partidário!

Sem pretendermos considerar aquelas afirmações como (minimamente) juízo de carácter sobre a personagem em causa, parece-nos que a citada frase pode ajudar-nos a perspectivar aspectos positivos e negativos, a ver questões de natureza social e de cidadania... e mesmo dimensões do nosso comportamento religioso/cristão. Com efeito, não ter medo nem vergonha pode (ou deve) ser uma característica de quem celebra a sua fé a partir e com Jesus Ressuscitado, numa dimensão de presença no mundo, em razão da confiança que lhe advém da vitória do Crucificado sobre a morte e o pecado...

= Exigências mais do que meramente políticas

Estamos, desde há dois anos, em Portugal, sob a intervenção de um programa de ajuda externa. Quem nos fez ter de pedir tal ajuda? Não foi o tal senhor sem medo nem vergonha? Foi derrotado nas urnas, mas saiu para um descanso dourado, dizem que foi estudar... E quem o substituiu não tem conseguido fazer melhor do que castigar-nos com medidas duras e empobrecedoras de todos... agora e no futuro próximo.

Quem se pretende apresentar como alternância – é assim há quase quarenta anos: ora uns, ora outros e no intervalo do mesmo – não terá qualquer alternativa senão prosseguir com as medidas aprovadas para podermos sobreviver social, económica e financeiramente... por algumas décadas ainda.

Continuamos a ser enganados, explorados, ofendidos e sem que ninguém seja julgado, responsabilizado e castigado com verdade e sem outros subterfúgios de esperteza mais ou menos habilidosa.

Por muito que nos custe aceitar, há figuras da nossa vida pública – política, social, empresarial, sindical ou mesmo ética – que não têm estofo para dizerem ou proporem seja o que for, pois, se não fizeram nada de melhor noutros tempos, antes estiveram calados à época de outros intervenientes sem idêntica qualidade... porque haveríamos, agora, de lhes confiar as rédeas do poder, se eles nem têm autoridade para serem parte da solução quando foram parcelas do problema?

Não basta fazer figura ou passar por figurante sem memória, pois a história exclui uns certos cobardes, abjura os derrotados por incompetência e bane os oportunistas, ontem como hoje e, por certo, amanhã!

= Libertos do medo e sem vergonha

Se há característica que cativa, no princípio do cristianismo – leia-se atentamente o livro dos Actos dos Apóstolos – é a de vermos pessoas sem medo nem vergonha a falar e a testemunhar Jesus em qualquer circunstância... mesmo colocando a vida em risco.

Neste tempo pascal – é esta sempre a situação da Igreja, embora vivamos os tempos litúrgicos de caminhada pessoal e comunitária – que estamos a viver, somos desafiados a deixarmo-nos libertar do medo e da vergonha, isto é, em sermos investidos na missão de fazermos acontecer Jesus Vivo e Ressuscitado em nós e à nossa volta, com sinais e prodígios do seu amor, na força do Espírito Santo.

É isso que podemos entender com os primeiros tempos do ministério petrino do Papa Francisco: mais do que deixarmo-nos embalar por elogios de encomenda, importa escutá-lo com reverência e obediência. De facto, os mesmos que, por agora tecem sobre ele tantos e tão díspares encómios (só) porque ele se manifesta em favor dos rotulados mais pobres, amanhã hão-de combatê-lo quando ele defender a vida em qualquer das suas etapas... Efectivamente, a dinâmica do cristianismo não se deixa – nem pode deixar – condicionar, quanto mais amedrontar, com certos critérios do mundo, pois, aquilo que por vezes é bem visto pelo mundo, não passa de camuflagem duma falta de vivência dos autênticos valores. Pelo contrário, nós sabemos e procuramos viver em conformidade com os critérios do Evangelho, sem medo nem vergonha, dado que somos discípulos de um Vivo e não de um morto... hoje e para sempre!



António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)