Estamos a viver mais um tempo de confinamento obrigatório. As causas prendem-se com os números astronómicos de infetados e de mortos, pelo ‘covi-19’, no nosso país, respetivamente, mais de quinze mil e quase trezentos… Números que nos colocam na vanguarda negativa da Europa e do mundo.
Diz-se que ‘morre um português em cada cinco minutos’
devido a este maldito vírus, que, entretanto, tem tomado várias mutações, sendo
cada uma mais fatal do que outra.
Tem sido complicado convencer uma boa parte da
população a conseguir ficar em casa, mesmo que seja essa a forma de controlar
com mais eficácia a propagação do vírus, bem como um meio de tentar suster a
iminente rutura dos hospitais.
– Quedando-nos pelo cumprimento das normas de
confinamento, surge uma questão algo complexa: que fazer em casa, se não há
hábitos de controlo sobre as saídas ou se, usando os meios de comunicação (televisão,
internet ou telefone), não foi adquirida a contenção nos gastos ou mesmo na
moderação do manuseamento?
De muitas e variadas formas os programas televisivos
– sobretudo nos ditos canais abertos – da manhã ou da tarde, diariamente ou ao
fim-de-semana, vão seduzindo os telespetadores a entrarem nos ‘concursos’ ou
auspiciando conquistar prémios. As operadoras de telecomunicações engordam com
tais iniciativas e, pé-ante-pé, as pessoas ‘investem’ aquilo que gastariam nos
jogos-de-sorte-e-de-azar… na rua. Isto já para não falar nos casinos virtuais e
até noutras roletas bem mais viciadoras.
Entretanto, foi-se apurando isso que, em tempos e
com termos mais ruralistas, se chamava ‘espreitar pelo buraco da fechadura’.
Agora são as designadas ‘redes sociais’ que fazem esse indiscreto papel. Com
maior ou menor regularidade e/ou conhecimento as pessoas tentam saber da vida
alheia.
Em círculos mais pequenos sempre houver a
intromissão e a maledicência de uns para com os outros. Espaços havia onde era
propício e quase-fatídico falar ou ser falado: o lavadouro da aldeia; a soleira
da porta, em especial ao sol ou à sombra, conforme a época; a taberna, a tasca
ou o café; o adro da igreja ou mesmo certos espaços acrescentados… onde, quantas
vezes, se desenterravam mortos e se sepultavam vivos, numa cultura de
proximidade, que antes era de conflitualidade…latente ou explícita.
Embora cada pessoa procure vivenciar o que lhe faz
estar bem enquadrado no meio em que vive, torna-se essencial saber o que se
deve dizer ou calar, mostrar ou encobrir, dar a conhecer ou fazer mistério.
Deixo neste sentido uma citação bíblica: «tudo
tem o seu tempo determinado e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há
tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que
se plantou; tempo de matar e tempo de curar; tempo de derrubar e tempo de edificar;
tempo de chorar e tempo de rir; tempo de se lamentar e tempo de dançar; tempo
de atirar pedras e tempo de as ajuntar; tempo de abraçar e tempo de afastar o
abraço; tempo de procurar e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de
lançar fora; tempo de rasgar e tempo de coser; tempo de estar calado e tempo de
falar; tempo de amar e tempo de odiar; tempo para guerra e tempo para a
paz» (Ql 3,1-8). Aprendamos a viver o nosso tempo!
António Sílvio Couto
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