Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Uma certa insegurança... social

No ano passado verificaram-se, nas cidades de Lisboa e do Porto, todos os dias, noventa assaltos a casas e a carros. No conjunto foram denunciados duzentos mil crimes nas duas cidades, tendo sido roubados vinte e dois mil veículos. Os furtos em casas (onze mil) e o roubo de carteiras (nove mil) continuam o role de irregularidades... só naquelas duas cidades cidades/metrópoles.
Vivemos, infelizmente, sob uma espécie de suspeita contínua, preparando-nos para podermos vir a ser as próximas vítimas. Esta atitude/sensação pode criar em nós e à nossa volta um ambiente menos saudável, gerando desconfiança e até pode colocar-nos à defesa para com os nossos interlocutores ou mesmo aqueles/as com quem nos cruzamos... na rua!
Vai crescendo, com efeito, uma certa cultura de medo, no trato entre as pessoas e naquilo que se refere às coisas e bens. Sem descurarmos as diferentes situações de vulnerabilidade em que nos encontramos, pois não sabemos com certeza diante de quem estamos, podendo ser um dos nossos atacantes ou até um possível disfarçado para tirar proveito da nossa condição de menos previnidos... Cada vez mais podemos estar à mercê de alguém que se pode pretender fazer-se ‘nosso próximo’, mas que poderá dar-nos algum golpe... físico, psicológico ou moral.

= Crise: mãe da criminalidade?
Temos vindo a ouvir que a vaga de assaltos a pessoas e bens se ‘deve’ à crise. Talvez seja devida, antes, à crise moral, muito mais do que à crise material... embora uma e outra estejam conexas e interdependentes. Temos vindo a assistir, por outro lado, ao crescimento de ações em favor dos mais desfavorecidos – sobretudo – na dimensão dos cuidados do bem-estar/mal-estar económico. Há quem pretenda vincular essas anomalias sociais numa visão redutiva e redutora do trabalho, em vez de inserir esses fatores de perturbação num âmbito mais alargado na área da economia. Esta é muito mais do que mero trabalho – numa visão marxista de ‘força de produção’ – pois abrange saber governar a casa – o significado etimológico da palavra ‘economia’ é esse mesmo de ‘governo da casa’! – e só depois pretender estar no governo de outras coisas...
Ora, se alguém não aprendeu a governar a sua casa, também não será capaz de saber gerir o fruto do seu trabalho – vulgarmente dito ‘salário’ – na medida em que poderá ser tentado a viver na psicologia do ‘chapa ganha, chapa gasta’...
É urgente aprendermos a gerir as nossas economias, pois, como diz o povo: ‘quem não tem dinheiro não tem vícios... nem alimenta modas’. É isto que está em causa, neste momento, tanto em Portugal como no resto da Europa. De pouco servirá que certos figurões – políticos, militares, professores, sindicalistas, etc. – venham dizer que lhes parece ofensivo dizer que ‘Portugal não é a Grécia’, pois, não será adiando o cumprimento das obrigações para com certas caloteirices, que seremos dignos na nossa vida e neste país endividado.

= Honrar compromissos... hoje e no futuro
Diante de certos fenómenos de facilitismo com que nos foram (des)governando, temos agora de reunir forças para sermos capazes de levantar o país da fase de prostração em que certos irresponsáveis nos colocaram.
- É preciso dizer a verdade e só a verdade,  não tentando assobiar para o lado e pensando que outros virão fazer por nós aquilo que nos compete.
- É preciso deixar de alimentar uns tantos preguiçosos com subsídios, sejam da segurança social ou de direitos adquiridos por regalias de injustiça... em setores, que têm levado o país à desgraça.
- É preciso educar para a esperança, sem enganos nem subtilezas de uma certa baixa moral ou de duvidosa formação...humana e inteletual, mesmo à sombra de rituais religiosos e sociais de auto-idolatria.
- É preciso darmos as mãos em vez de cerrarmos os punhos – como vemos em certas manifestações e linguagens de comícios cíclicos e organizados – pois, quando temos as mãos abertas, damos e recebemos e, de punhos fechados, poderemos cair na tentação da violência e da agressividade... assumida ou tácita.

Da insegurança social, livrai-nos, Senhor! Dos parasitas da sociedade, defendei-nos, Senhor! Da lavagem do crime, acudei-nos, Senhor!
António Sílvio Couto

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Reuniões menorizam os participantes?

Segundo um estudo feito numa escola superior americana, citado pelo jornal ‘Daily mail’, chegou-se à conclusão de que as reuniões de trabalho – assim denominadas, mas talvez nem sempre eficazes, de fato – têm um impacto negativo no coeficiente de inteligência (QI) dos trabalhadores. Com efeito, o (dito) trabalho em equipa faz com que as pessoas tenham piores resultados em testes de inteligência, dado que o cérebro está mais preocupado com a imagem, isto é, em fazer boa figura perante o grupo... do que em manifestar quem é realmente. Do mesmo estudo se pode ainda concluir que as reuniões tornam como que os cérebros inertes, manifestando, nalguns dos participantes nesta amostra de trabalho, dificuldade em revelarem as suas capacidades em contexto social.
É atribuída a um ex-governante português a frase: ‘se quiser resolver, eu decido; se quiser adiar nomeio uma comissão’!
Partindo da análise um tanto negativa do citado estudo, queremos, no entanto, tentar abordar aspetos que reportamos de importantes a partir da vivência da reunião... detetando o que há de positivo e denunciando aquilo que pode ser (mais) negativo.

= Reunir – uma graça de comunhão?
Se atendermos à composição da palavra ‘reunião’ podemos encontrar o prefixo ‘re’ e o termo ‘união’, podendo significar: voltar à união, criar laços... As razões para a reunião podem ser: debater questões, tomar decisões, trocar impressões, gerar consensos, celebrar algum acontecimento, seja humano, seja cultural ou mesmo religioso... As consequências da reunião podem ser: gerar novo espírito entre os participantes, fortalecer os laços da amizade e de comunhão, envolver todos nos projetos comuns...
Partindo cada qual da sua experiência – tendo em conta os vários tipos de reuniões – qual é a nossa avaliação das reuniões em que participamos? Será que aprendemos algo com as reuniões e nas reuniões? Haverá sinceridade nas reuniões? Saberemos conduzir e deixar-nos conduzir nas reuniões? Acreditamos que as reuniões são perda ou ganho de tempo no presente e para o futuro? Cristamente: acreditamos que as reuniões são momentos da revelação de Deus para nós e de uns para com os outros?
Estas e outras questões podem fazer do tempo de uma reunião como que um espaço de aprendizagem com utilidade para todos os participantes ou simplesmente uma escola de cinismo e mesmo de maledicência...

= Força da reunião: processo e etapas
Por que acreditamos que uma reunião – com os necessários efeitos psicológicos e espirituais – tem de ter critérios e modos de ser feita corretamente, apresentamos breves propostas para o desenrolar de uma reunião, como algo de divino em condição humana.
- Traçar objetivos precisos, concisos e exequíveis;
- Marcar hora de começo e de termo, podendo e/ou devendo haver um relógio bem visível para todos;
- Convocar as pessoas – as necessárias e suficientes – que podem fazer da reunião algo mais do que mero passatempo;
- Quem conduz a reunião deve explicar, com clareza, os objetivos a atingir;
- Acolher as opiniões de todos, sabendo distinguir entre quem propõe e é capaz de fazer (se tal lhe for proposto) e quem propõe para que outros façam... ficando-se pelas palavras;
- Registar a reunião para memória, através de acta ou de outro registo;
- Avaliar o processo desenvolvido e quais as consequências... após esse momento de reunião.
Certamente teremos sempre de distinguir o que é uma reunião e um tempo de convívio ou de simples confraternização, bem como um ato religioso, tanto celebrativo como sacramental... Com efeito, nada que envolve situações humanas pode ser desperdiçado... sem deixar marca em quem nele participa, ou será futilidade sem nexo nem interesse!
 
António Sílvio Couto

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O Carnaval ‘possível’... deste ano

Habituados como estamos a ‘brincar’ ao (dito) Carnaval como que soou a brincadeira a não-tolerância de ponto – nunca foi declaradamente feriado, embora seja vivido como tal! – com que o governo português brindou os funcionários públicos e, por arrastamento, o setor privado.
Houve impropérios e reclamações, tanto de autarcas como de comerciantes, ofendidos e detratores, locais e nacionais... e, (repare-se!) poucos apoiantes – convictos, assumidos e esclarecidos – da iniciativa governamental.
Com efeito, ouvimos ou fomos captando, mesmo que em surdina, certas questões: então, o povo não pode divertir-se? Como se vai recuperar o investimento – autárquico e simbólico – já feito? Querem prejudicar o (já) debilitado setor turístico? Os direitos adquiridos não se sobrepõem à crise? Não será preciso um certo descanso, diante das (atuais) agruras da vida?

= Cultura, tradição ou alienação... de Carnaval
Reconheço que não fui educado – sobretudo na idade das influências mais inconscientes – na cultura do Carnaval. Vivi, no entanto, por razões exclusivamente de ordem pastoral, numa zona onde o Carnaval começa(va) em Novembro e termina(va) já depois da entrada na Quaresma. Com efeito, em Sesimbra, o rufar dos tambores começava pelos ‘Santos’ (celebração de Todos-os-Santos, a 1 de Novembro) e durava, pelo menos, três meses... com todas as condicionantes que implicavam tolerância, ritmo e até desculpas... nas coisas da Igreja, senão queríamos ter problemas!
Para quem não se identificava com essa ‘cultura’, algo estava em confronto. Para quem saía em contra-golpe, quando os foliões entravam, algo motivava. Para quem pouco lhe dizia essa época... Fui percebendo que nem tudo era tão malicioso, como parecia. Fui entendendo que havia muito trabalho, suor e arte nas preocupações de tanta gente... mais ou menos assumida e identificada com a festa popular.
Foi com alguma ousadia que, em 2003, até tivemos a transmissão em direto de uma missa, pela televisão, apresentando motivos do Carnaval. De fato, nem tudo correu como era expectável, isto é, com os intervenientes, as decorações e até as músicas mais cuidadas... No entanto, quisemos servir à difusão, ao vivo, dessa manifestação cultural numa pretensão em ir muito para além das barreiras da concha mental e psicológica... daquela povoação. Cremos – apesar de tudo! – ter aprendido muito com os ritmos daquele carnaval...Talvez nem sempre todos tenham aproveitado as oportunidades oferecidas.

= Que fazer por si sem esperar (só) dos outros?
É diante deste panorama que as decisões governamentais, que fazem do Carnaval um tempo de trabalho e não tanto uma ocasião de lazer, que ousamos sugerir algumas linhas de conduta... em tempo de contenção e inseridos na (dita) crise:
- Às autarquias, que promovem, patrocinam ou usufruem do Carnaval, criem condições sociais para continuarem a viver a vossa festa e não se refugiem na mera contestação... só porque não vos deram a boleia da tolerância de ponto. Porque têm muito a ganhar, criem o vosso espaço cultural e social. Por isso, decretem feriado encapotado de tolerância de ponto e tudo correrá bem... para o vosso lado.
- Às entidades promotoras do Carnaval não tentem ludibriar certos incautos com acusações de pouco rendimento, pois, muitas vezes, nem prestam contas dos lucros auferidos... sabe lá para que fins. Por isso, não tentem encontrar desculpa para a vossa administração... sem lucros.
- Aos participantes nos enredos carnavalescos – mais parece que serão enrosquedos! – que seria para a  vossa ‘imaginação’ senão fossem as fífias de certos políticos e/ou os erros dos adversários... Por isso, continuem na linha do escárnio e do maldizer tão portuguesa, corrigindo os costumes, alfinetando os adversários e tentando ‘moralizar’ alguns dos comportamentos... coletivos.
Tanto, quanto possível, vivamos o Carnaval a sério... e a Quaresma terá nova vivência na fé!

António Sílvio Couto

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

‘Famílias com esperança’ – projeto e desafio

Atendendo às circunstâncias dos nossos dias e, sobretudo, aos momentos de debilidade em que muitas das famílias se encontram, surgiu, em consonância com a auscultação daqueles problemas, um projeto de resposta, intitulado: ‘famílias com esperança’.
Tem este projeto um espaço concreto: a Moita (paróquia, concelho e, talvez, a sua envolvência sócio-cultural)... embora aberto e, tanto quanto exequivelmente, atento à realidade  expectante...
Embora possa não trazer grandes inovações, poderá, no entanto, colocar lembranças noutros grupos – sobretudo relacionados com as questões da família, tanto movimentos como iniciativas esporadicamente organizadas – em ordem a sabermos interpretar o mais ousadamente possível os sinais de cada tempo e a necessidades de cada lugar.

= Linhas do projeto
Partindo do diagnóstico feito às questões relacionadas com a família, o projeto ‘Famílias com esperança’ pretende apoiar famílias carenciadas com crianças até aos cinco anos, envolvendo ainda mães jovens e/ou adolescentes, através da oferta ou empréstimo de bens materiais para bebé e criança, bem como apoio jurídico, moral e espiritual.
Constituem ‘Famílias com esperança’ aquelas pessoas que sentiram a necessidade de dar resposta às carências de determinadas famílias com crianças e com problemas de solução mais adequada.
Bens que podem/devem ser entregues, doados ou emprestados: cama de bebé/criança, alcofa de bebé, banco de automóvel, calçado, roupa, carrinho de bebé/criança, material escolar, descartáveis, etc. Em geral, aqueles bens que ainda se encontram em bom estado e que sobram dos mais pequenos, que, entretanto, crescem...
A forma de participar neste projeto de ‘Famílias com esperança’ pode acontecer através da entrega e doação de bens, empréstimo, com donativos em dinheiro ou disponibilizando algum do seu tempo.

= Caridade inventiva e interventiva
Na linha dos ensinamentos do magistério da Igreja católica, este e outros projetos podem inserir-se na perspetiva da caridade inventiva, pois se os problemas são, cada vez mais, diversificados, também as respostas podem e devem ser melhoradas, tendo em conta os desafios de cada tempo, de cada terra e, mesmo, de cada sensibilização aos problemas próprios e alheios.
Temos – urgente, serena e habilmente – de criar novos espaços em que a linguagem da proximidade seja capaz de fazer milagres, pois, do coração atento, surgirão sempre novos sinais de caridade à maneira dos primeiros cristãos... tinham tudo em comum e não havia necessitados entre eles.
- Em cada rua temos de estar mais atentos uns aos outros, respeitando a vida de cada, mas interessando-nos muito para além do mero egoísmo bisbilhoteiro.
- Em cada prédio precisamos de viver mais em consonância – muito para além dos interesses do condomínio ou do controlo do barulho fora de horas – com as pequenas proximidades de vizinhança, dando e recebendo sem nada esperar em troca.
- Se tentarmos resolver os problemas à nossa porta, toda a aldeia, vila ou cidade poderá ser mais harmoniosa, pois do bem-estar de todos também nós colhemos os frutos e do sucesso alheio pode beneficiar cada um.

Não resistimos a citar, mesmo que de cor, esse pensamento lapidar do Padre Américo, da obra da rua: cuide cada terra dos seus pobres... e teremos menos empobrecidos!
Basta de fazer do Estado o pai – mal-amado, defunto e enterrado – coletivo e social, pois com tal padrasto continuaremos a ser mal-tratados e andaremos em resmungice permamente.
 
António Sílvio Couto