Acabado que foi o espetáculo – nalguns casos mais triste do que alegre – das ‘eleições presidenciais 2021’ há que recolher as lições, expressadas de variadas formas, com diversos sentidos e, sobretudo, com múltiplas implicações no presente e para o futuro.
Desde já
uma nota: mesmo que sufragado com maioria, o presidente não é ‘de todos’ os
portugueses, pois uma boa parte – dizem as cifras um tanto erróneas com mais de
sessenta por cento – nem votou, e os que se dignaram pronunciar-se, cerca de
quarenta por cento, escolheram outros pretendentes. O presidente tem de ser,
sim, ‘para todos’ os portugueses, tenham-no ou não plebiscitado…este termo quer
ainda dizer que o reeleito foi avaliado sobre os cinco anteriores anos de
mandato, logo bem acolhido, aceite e com condições para continuar mais outros cinco
anos, assim tenha vida e saúde.
Dos
resultados da noite de 24 de janeiro, em que o sábio povo português falou,
podemos/devemos tirar as seguintes lições:
* A
maioria dos eleitores não se considera extremista nem de esquerda e tão pouco
de direita… sejam estes antagónicos aquilo que deles quisermos atribuir-lhes;
* Alguns
dos competidores – com largos orçamentos – porque não atingiram cinco por cento
dos votos expressos, não recebem comparticipação nos gastos, tendo-os de
suportar a expensas próprias ou do partido;
* O chip
ideológico parece estar a mudar nalgumas regiões, particularmente no Alentejo,
considerado, abusivamente, reduto de certas forças, pois os conotados com a
barreira contrária, foram os segundos em todos os distritos…para confusão de
certos analistas sócio culturais do sistema;
* Alguém
acredita que há, em Portugal, quase meio milhão de xenófobos, de racistas, de
populistas ou de extremistas da (dita) direita? De facto, parece ser mais fácil
rotular do que combater as ideias; parece mais cómodo ilegalizar do que
reconhecer os erros; parece dar jeito ser mais rápido em ver os efeitos do que
em encontrar as causas desse fenómeno, que pode ter tanto de emergente quanto
de inconsequente;
* Mais
do que arietes de regime (republicano, laico e rotulado com fés de antanho), os
candidatos deveriam ter sido proponentes de ideias, de valores e de critérios
na conduta da política. Com efeito, foi pensoso e quase-desagradável ver um
‘vencedor’ andar às voltas solitário, nas ruas de Lisboa, podendo isso retratar
o que não temos visto noutras horas de vitória, onde uns tantos se colam a quem
ganha ou se esgueiram quando os seus apaniguados perdem…
= Os próximos tempos – dias, meses e anos – são de uma grande incerteza, dada a configuração da pandemia. Por isso, não podemos descrer da nossa capacidade pessoal e comunitária. As sombrias nuvens que pairam sobre as nossas cabeças precisam de ser aliviadas com serenidade, determinação e unidade. Aos ‘velhos do restelo’ – e são tantos e tão espalhados por aí – talvez lhes reste ficarem nas bordas da praia a lamentarem-se sobre os sucessos alheios. Cuidemos de que possa haver mais justiça com verdade, honestidade com trabalho, competência sem resignação.
À boa
maneira do cowboy do far-west do nosso imaginário infantil, que haja um John
Wayne – civil, político, religioso ou eclesial – que nos aponte o caminho e
diga: ‘let’s go’! Vamos, para a frente é que o caminho!...
António Sílvio Couto
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