Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



terça-feira, 29 de outubro de 2013

Viciada em jogo… processa entidade promotora


Por estes dias foi notícia que uma mulher, viciada no jogo da ‘raspadinha’, vai processar a entidade promotora por publicidade enganosa, pois, segundo ela, dizem que se ganha sempre e ela, mesmo apostando um euro de cada vez, nunca lhe saiu o que era prometido.

O caso é ainda mais grave se atendermos a que a senhora em causa vive da prostituição e quando ganha algum dinheiro dessa atividade logo vai investir no dito jogo… sem resultado nenhum!

Mais do que um episódio a roçar um certo caricato esta situação é muito mais habitual do que parece, pois muita gente pretende ser rico sem trabalhar e ainda o recurso ao jogo poderá tornar-se um vício com dimensões quase incalculáveis.   

- Quando vemos agravarem-se as condições económicas do país e das pessoas, é comum proliferar a tentativa de esgravatar modos de sobrevivência. Repare-se nas apostas em frenesi, quando soa que há jackpot de algum dos jogos mais populares…

- Muitas vezes sob a capa de ajudar causas sociais, a entidade promotora – que até ostenta um nome de bem-fazer – procura ludibriar os mais aflitos, pois com pouco se tenta conseguir o muito de forma fácil, barata e sem trabalho… jogando, por vezes, os derradeiros recursos!

- Mais uma vez parece que somos levados a crer que o fascínio da riqueza – sobretudo se for rápida – seduz muito mais do que o correto esforço e o salutar merecimento pelo trabalho daquilo que se tem e do que se ambiciona ter.

- Em tempos de abaixamento moral vão surgindo salvadores com promessas de sucesso – de facto, só no dicionário é que ‘sucesso’ está antes de ‘trabalho’ – e de fortuna, criando novas ilusões sem que se faça o diagnóstico do que valemos, pois se pensa, ilusoriamente, que o dinheiro compra a felicidade em vez de, tantas vezes, a condicionar.

- Quantos expedientes de fuga se procuram engendrar para iludirmos a nossa incapacidade de nos aceitarmos com os dons e as capacidades, os erros e os insucessos, as vitórias e as conquistas, os conflitos e as reivindicações… Neste tempo que nos é dado viver não podemos continuar a ignorar quem nos tenta manipular ou nos quer comprar como novos escravos de uma nova etapa de consumismo.

= Sugestões para nova conduta

Perante estas incidências de busca de bem-estar com tonalidades de egoísmo ousamos propor breves sugestões ou desafios para a nossa conduta pessoal, de grupo, social ou coletiva:

. Cultivar a partilha fraterna – quando tantos tentam impor-se aos outros, mesmo que isso implique pisá-los sem olhar a meios, importa gerar critérios onde a partilha para com os outros os dignifique e os levante em vez de os maltratar com subtilezas mais ou menos materialistas.

. Promover a solidariedade – quando muitos se fecham às necessidades dos outros por defesa ou por desinteresse, urge criar sinergias de valores, desde a linguagem até aos gestos, por forma a estarmos atentos a quem vive ao pé de nós… sem nos fecharmos aos mais amplos desafios ao longe e ao largo.

. Desenvolver espaços de convívio – quando tantas e tão diversas iniciativas tentam fazer com que as pessoas saiam (ou procurem sair) de casa, não podemos desprezar quem queira desenvolver oportunidades de confraternização, seja nos espaços convencionais (associações, igrejas, cafés ou tertúlias), seja pensando noutros mais inovadores, como vivências de oração, de apoio a outros ainda mais necessitados ou até cultivando a mente e cuidando a cultura em ‘universidades seniores’ ou salas de animação… inter-geracional.

. Investir no património das pessoas – quando tantos investem na recuperação do património edificado – nesse espetáculo de degradação de muitos centros históricos de vilas e cidades! – é urgente lançar mão de todas as energias para que não sucumbam verdadeiras enciclopédias de vida, que são tantos dos nossos mais velhos, nem sejam enterrados aqueles/as que são a memória viva do nosso passado coletivo. Temos de recolher os seus depoimentos e de guardar o que nos possa ajudar a ter sentido de futuro… neste presente.

 

António Sílvio Couto

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

A quem interessa espicaçar o (nosso) povo?


Num destes dias tive – em razão da função eclesial que exerço – de ir a uma festa de aniversário de uma associação de reformados, pensionistas e idosos, onde a maior parte das intervenções incluíram palavras como: luta e revolução, direitos e combate, crise e austeridade, manifestações e reivindicações… em discursos e linguagens tão repetitivos que mais pareciam cassetes, pois os cd’s precisariam de auto repetição!

O contexto sócio/político situa-se ao sul do rio Tejo e, por isso, tais expressões são muito comuns nesta zona, embora haja outras formas de pensamento e se usem também modelos ideológicos que não privilegiam tais acirramentos do povo para se fazerem notar. No entanto, dado o contexto social e económico em que vamos vivendo, parece-nos oportuno questionar quais serão os (reais ou virtuais) interesses em espicaçar deste modo sistemático o povo… simples, manipulado e, infelizmente, empobrecido.

= Perguntas e interrogações… no presente

Diante das manifestações – ditas (algumas) sindicais – será de perguntar: o número é de trabalhadores (atuais, reformados ou desempregados) ou será, antes, estratégia partidária? A ser esta não houve mais votos autárquicos do que participantes… na mais recente manifestação/desfile de autocarros?

Diante da linguagem inflamada de alguns – pretensos dirigentes – será de questionar: onde pensam encontrar dinheiro para continuarmos a viver sem sobressaltos? Vive-se hoje pior do que há quarenta anos ou somos nós que desequilibramos a balança com hábitos mal adequados à (não) nossa criação de riqueza?

Perante certas críticas – muitas daqueles que nos fizeram cair no fosso – será de perguntar: agora têm respostas, mas quando governaram só criaram problemas… sobretudo aos vindouros? Estes – de tão envelhecidos que estão – serão parte da solução ou vão agravar mais o problema?

Perante uma contestação sistemática – quase parece um sistema de ocupação do tempo de não trabalho – de certas forças e meios será de questionar: querem que o poder caia na rua ou querem que a rua seja o palco do poder? Este é de serviço ou antes de imposição… nem que seja pela exaustação ou será pela ambição desenfreada dos mais barulhentos?

 = Sugestões e propostas… para o futuro

Porque ainda acreditamos em que a democracia tem potencialidades de ser aprofundada, amadurecida e até, se preciso for, refundada, sugerimos breves propostas:

- Façam com que o voto seja obrigatório, deixando de haver que quem vota ou quem não vota tenha a mesma razão, mas nunca se comprometa na solução.

- Tornem os lugares de decisão espaços de educação, tanto pela forma, como pelo conteúdo, pois, no presente, a Assembleia da República mais parece uma arena de malcriadez do que a (dita) casa da democracia… pelo menos diante das câmaras televisivas.

- Obriguem a que só seja aceite na ‘sublime arte da política’ quem se preparou e não quem é empurrado pelas ideologias e/ou para pagarem favores de interesses de grupos e lóbis.

- Fomente-se a cultura da verdade e não se tente difundir o manto da mentira para que se crie o descrédito de tudo e de todos… menos do seus apaniguados.

- Faça-se com que os melhores (cultural, intelectual e humanamente) tenham gosto e honra em estarem ao serviço do bem comum e não com que, quem não presta, seja promovido, votado e empossado em lugares de responsabilidades… tanto na dimensão política como social e económica ou outras.

Nesta época de viragem não podemos continuar a usar as mesmas armas para enfrentar os atuais problemas, pois estes, além de criarem novos e urgentes desafios, trazem-nos a certeza de que os métodos anteriores – muitos deles totalitários – já faliram noutras paragens, por isso, será de precaver-se para com os mentores de coisas que perderam atualidade, tanto na forma como no conteúdo e até nos intérpretes. É preciso abrir os olhos e ser mais inteligente, descobrindo quem nos tenta enganar!

 

António Sílvio Couto

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Da cultura bimbo… ao ambiente digital


Não há muito tempo passava na publicidade televisionada uma referência a uma espécie de marca de pão, que tinha algumas caraterísticas idênticas às da (nossa) cultura mais hodierna: mole, saboroso e relativamente barato… Até havia uma razoável frota de veículos que rolavam pelas estradas, entupindo os mais apressados, que, exasperados, chamavam-lhe uma espécie de alcunha mais ou menos regionalista – ‘bimbo’ – a que um dos visados respondia: ‘com muito gosto!’…

Vem isto a propósito duma espécie de comportamento – até de muitos cristãos – que pretende que lhe forneçam – mesmo ao nível doutrinário – algo que não seja muito exigente, sem grande dificuldade e, sobretudo, apetecível a uma maioria com idênticas caraterísticas… Nalguns casos vemos responsáveis – mesmo no interior da Igreja católica – a alinhar nesta boa dose de fatias à bimbo!

= Na era do digital, como ser cristão?

Num tempo – designado por ‘era digital’ – em que se vive mais a interação do que a comunicação, torna-se difícil apresentar a doutrina cristã que não seja por uma vivência pessoal com Cristo, pois, muitas vezes, as pessoas se ficam pelas regras e não entendem as disposições, tanto as interiores, como as exteriores.

Com facilidade encontramos pessoas muito versadas em coisas da área da técnica e pouco no contato e no diálogo de uns com os outros. Há quem domine as mais atualizadas formas da linguagem e do ambiente da internet e se tornaram como que bichos uns para com os outros. Sabe-se muito do que está longe e capta-se pouco daquilo que está ao pé de nós… ou mesmo dentro da nossa própria casa!

Por muito que se pretenda dominar as ‘artes digitais’ bem como os espaços para interagir, isso nunca poderá invalidar a presença das pessoas umas às outras. Podem dar-se dicas para fazer bem essa interação, mas corremos o risco de cercear a ‘arte do acolhimento’ e da presença olhos-nos-olhos!

Apesar do que se tem feito na diversidade da mundividência ‘das redes digitais e /ou sociais’, não podemos esquecer que o calor dos outros em nós e para connosco é que faz a comunicação e não ‘essa’ mera experiência da tocabilidade num écran ou noutra forma do (dito) mundo virtual…

Embora haja quem pretenda reduzir a pessoa e a mensagem de Jesus ao quadro de leitura – na linguagem de Gutenberg dizia-se ‘gramática’ ou narrativa – do digital, mesmo que codificando ideias e propostas, nada nem ninguém será capaz de substituir o encontro pessoal com Cristo à mera suposição simplista de que tudo é fácil, imediato e sem consequências.

Nem São Paulo teve qualquer conta ou página no facebook e tão pouco Jesus participou nalgum arremedo de twitter…embora certos peritos queiram inovar em matéria de interpretação do tão rico material do Novo Testamento, onde muito do que lemos ainda não entendemos e daquilo que estudamos e escapa-nos o mais singular dessa comunicação: a dimensão comunitária denuncia o egoísmo de tantos dos projetos em análise, pois a força da Igreja não se reduz a devoções, mas à vivências com os outros na força do Espírito Santo…  

= Que cristãos queremos ser e viver?

Diante das imensas potencialidades da ‘era do digital’ queremos que haja cristãos bem formados e melhores executores da mensagem do Evangelho em todos os meios e ambientes.

Bem apetrechados das ferramentas do ambiente da internet queremos lançar mão de novos processos de comunicação onde Cristo e a sua mensagem sejam veiculados com verdade, simplicidade e ousadia.

Apreciando os mais diversos materiais em uso na ‘era do digital’ poderemos estar em rede de comunicação da mais sublime mensagem que ainda hoje é nova: a experiência da ressurreição de Jesus faz-se em ambiente comunitário de forma pessoal e amiga, fraterna e solidária, hoje como ontem e no futuro.

Inseridos num certo tempo do bimbo, queremos continuar a servir Deus e os outros com humildade e exigência, com simplicidade e carinho, em ternura e em compreensão… começando pelos que nos são mais próximos e em círculos alargados de diálogo e paz.

 

António Sílvio Couto

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Sínodo sobre a família


O Papa Francisco convocou o próximo extraordinário Sínodo dos Bispos, a realizar em Outubro de 2014, para debater «os desafios pastorais da família no contexto da evangelização».

Este anúncio, tornado público, no início desta semana, dá bem entender o que o Papa quer que sejam as respostas ‘a consultas reais, não formais’, foi referido pelos serviços de informação do Vaticano.

É com grande contentamento que escuto esta iniciativa papal, pois, sentia que era precisa da parte da Igreja católica – universal e diocesana – uma abordagem sobre um assunto que pode ser ainda a salvaguarda da nossa história humana e cultural… tais têm sido os ataques nos tempos mais recentes. Por vários modos, nas instâncias eclesiais onde posso intervir, tinha manifestado esta urgente necessidade. Por isso, agradeço a Deus que o Papa Francisco tenha tomado esta iniciativa… a médio prazo.
Pela complexidade do tema ouso apresentar algumas das vertentes – sem qualquer pretensão de hierarquizar as questões – que gostaria de ver respondidas na preparação, seja diocesana, seja paroquial e superiormente respondidas no Sínodo e, claro, na sua execução… colocando ainda perguntas mais ou menos simples.

1. A família é célula da sociedade. Como poderemos pensá-lo, senti-lo e vivê-lo, hoje?

2. A família constitui-se pela estabilidade de relação entre um homem e uma mulher. Como poderemos enquadrar outros sistemas com respeito e dignidade, mas com firmeza de valores?

3. A família é santuário da vida. Como pode ser vivida a opção em ter filhos quando o hedonismo e uma certa sexualidade desenfreada se sobrepõe ao amor responsável?

4. A família precisa de estabilidade. Como poderão ser educados os filhos num enquadramento onde nem sempre são valorizados como a melhor fortuna e herança, agora e no futuro?

5. A família é escola de fraternidade. Será possível gerar diálogo de gerações, quando não há tempo nem espaço para a partilha de vida séria, serena e saudável… nem para os mais velhos e frágeis?

6. A família é o espaço privilegiado da educação. Como se poderá coordenar esta tarefa com tantos outros intervenientes, tais como a escola, a Igreja e a sociedade em geral?

7. Na família se cuida e se é cuidado. Que estratégias terão de ser criadas para que todos sem sintam amados e capazes de amar atenta e gratuitamente?

8. Na família se transmitem valores, sobretudo de índole altruísta. Como se poderá valorizar a intercomunhão se as pessoas não fazem da casa senão uma espécie de hotel e/ou pensão?

9. Na família se aprende o valor do trabalho, do dinheiro e mesmo do bem comum. Como se poderá educar para a responsabilidade mesmo no tocante às coisas de natureza material e não na versão de consumo?

10. Na família se aprende a rezar e a colocar Deus na vida e nos critérios de conduta pessoal e moral. Teremos sabido transmitir a experiência de Deus e o conhecimento pessoal de Jesus Cristo na vida mais do que com lições mas com convicções?

Feita esta espécie de divagação, gostaríamos que o Sínodo sobre a família não fosse uma oportunidade perdida nem sequer uma ocasião para acusações, mas antes um momento de criar sinergias, onde todos queremos aprender e pouco ensinar, para além de interagir e de comunicar. Com efeito, a nossa marca de vivência em família será sempre o que mais (consciente ou inconscientemente) levaremos como código de toda a nossa vida… Há, no entanto, grandes linhas que ainda podem reger a nossa conduta pessoal, de grupo, de sensibilidade ou mesmo de dimensão espiritual. Porque acreditamos na família cristã – isto é, com raízes judaico-cristãs na história da nossa cultura – saudamos esta proposta do Papa e, queira Deus, que sejamos dignos da tarefa que nos é confiada.

Parafraseando, dizemos: cristãos de todo o mundo, uni-vos em defesa da família!

 

 António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Economia paralela: recurso ou má-fé?

A economia paralela já supera, em Portugal, os 44 mil milhões de euros, significando cerca de 26% da riqueza produzida no país e que foge aos impostos. Segundo um estudo da faculdade de economia do Porto, as razões para este fenómeno são o aumento da carga fiscal e o desemprego.

A economia paralela manifesta-se nos seguintes setores e campos de atividade: produção ilegal, produção oculta (subdeclarada ou subterrânea), produção informal, produção para autoconsumo e produção encoberta...atingindo comércio e serviços, indústria e agricultura…

Bastará referir que a economia paralela, em Portugal, era de 9,3% em 1970 e atingiu 26,74%, em 2012. A média da OCDE, em 2010, era de 16,5%!...

Segundo ainda o estudo que citamos são apontadas algumas propostas de combate à economia paralela nos seguintes aspetos: necessidade de maior transparência na gestão de recursos públicos, educação da sociedade civil, justiça rápida e eficaz, combate à fraude empresarial, incentivo à utilização de meios eletrónicos e combate ao branqueamento de capitais…
- Mesmo que de forma inconsciente todos nós somos ou podemos ser fautores de alguma economia paralela, bastará não pedirmos fatura, recolhendo benesses para pagar (ilusoriamente) menos, irmos na conversa de alguém que nos ilude com descontos mais ou menos falsos… Por certo cado um de nós já colaborou nesta grande empresa de fuga aos impostos nem que não seja de forma indireta ou tácita.
- Como poderemos, então, combater este cancro da nossa cultura e, sobretudo, da nossa economia? Quais são ou devem ser as etapas de luta contra este inimigo comum subterrâneo do nosso eu coletivo? Não podemos assobiar para o lado como se não tivéssemos nada a ver com isto, pois, em cada um de nós, portuguesmente falando, há como que uma espécie de aldabrão disfarçado!...

- Atendendo à complexidade deste ‘nosso’ fenómeno da economia paralela, temos de propor medidas que façam com que sintamos a vida comum do país e com que sejamos educados para a construção do bem comum, onde cada um de nós procura estar ao serviço dos outros e em que todos vivamos numa intercomunhão de interesses e não subjugados às mesquinhezes pessoais, ideológicas ou de grupo.
- Para mal do nosso presente e como que hipotecando ainda o futuro coletivo, não tivemos de nos unir para reconstruirmos o nosso país como a maior da parte dos países da Europa no após-segunda guerra mundial, onde os impostos e a força de trabalho foram colocados ao serviço dos outros. A psicologia de minifúndio – mais mental e cultural do que simplesmente económica e territorial – tem minado a nossa atenção uns para com os outros, pois vivemos acentuadamente num egoísmo demasiado estrutural e cultural.
- Embora tentemos fazer do Estado uma espécie de ‘pai previdente’, a sistemática fuga aos impostos é algo revelador da nossa cultura e mentalidade, manifestando-se em múltiplas consequências… Com efeito, criou-se, em Portugal, uma certa tendência de que o Estado – sobretudo na concretização executiva do governo – deve fazer quase tudo, levando, muitas vezes, pessoas e instituições, coletividades e empresas, indivíduos e associações… a serem mais reclamantes do que contribuintes para o bem-estar de todos, escondendo-se, porventura, sob a capa de uma maior ou menor consciência das tarefas que lhes são acometidas… desde que recebam muito e paguem o mínimo ou nada.

-Se dissermos que o ‘nosso’ montante da fuga aos impostos na economia paralela corresponde a metade da verba com que temos estado a ser ajudados pelas entidades estrangeiras, que nos emprestaram dinheiro para sobrevivermos com alguma dignidade e pagarmos as nossas despesas públicas, então, teremos de compreender que nos exijam o pagamento com juros altos, pois quem não sabe cuidar do que é seu como poderá ser de confiança no tocante aos bens alheios?

 

António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)