Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



terça-feira, 28 de março de 2017

Insultos e provocações…quase-impunes!


Parece que não há dia algum em que não se veja noticiado – com maior ou menor destaque, dependendo dos intervenientes – algum insulto, provocação ou ofensa a pessoas e a instituições, num quadro de visibilidade percetível a quem interessa…

Há setores onde têm vindo a crescer os insultos e os casos de intolerância – no desporto, sobretudo no futebol, vemos cada vez mais que dirigentes e claques se comportam quase duma forma arruaceira, desde as palavras até aos atos… incendiando multidões a favor ou contra; na área da política, nem sempre a racionalidade é o melhor substantivo para avaliar seguidores e adversários; no campo da comunicação social surgem cíclica e acintosamente episódios, casos e narrativas onde a honorabilidade para além de ser questionada é ofendida, achincalhada e aviltada…Ontem eram os duelos e as defesas da honra, hoje lança-se a suspeita…mesmo que anónima e pela fechadura do facebook… até que seja ultrapassada por outro caso ou relato real ou virtual!

Cada vez menos está, seja quem for, num patamar não atingível, bastando que se crie algo que lance na lama e com muita dificuldade dela se sairá não-sujo… por muito tempo.

Há, no entanto, uma espécie de figuras a quem (quase) tudo é permitido e a quem nada nem ninguém parece atingir nem de soslaio: esses que podem dizer o que disserem, façam o que desejarem ou que muito bem acharem, critiquem quem lhes der na real-gana e não se passa nada… Nalgumas situações como que vemos hoje inverterem-se os papéis que antes eram de subordinação e de discriminação: coisas ligadas ao género (antes dizia-se sexo) ou ainda as funções tendo em conta a cor da pele…condicionam e exaltam as reações e os (possíveis) pensamentos. Há discriminações ostensivas e promoções coercivas, muito mais do que é noticiado e seria aceitável. 

Recordemos, então, alguns episódios… mais ou menos recentes, que nos referem este panorama de insultos, de suspeitas e de provocações:

– aquilo que disse um tal ministro (por sinal socialista) holandês, a propósito da ajuda que receberam os países do sul da Europa, em tempos de austeridade – usaram a ajuda para copos e mulheres;

– os ‘cânticos’ de fações de apoio à seleção nacional – usaram palavrões contra adeptos de equipas adversárias;

– as invetivas nos estádios de futebol, versando ofensas à honra e à dignidade das mães dos opositores e, sobretudo, do árbitro;

– as diatribes no parlamento entre defensores e oponentes do governo em exercício, resvalando para uma certa linguagem mais soez do que adequada a oradores e adversários…com instrução e alguma educação;

– os argumentos inflamados de comentadores televisivos, onde o basqueiro (isto é, barulho desorganizado ou agitação, típico no linguajar dalgumas regiões) parece querer disfarçar os reais intentos de quem não quer nem deixa que fale quem tenha algo a comunicar;  

– os impropérios com que tantos mentores da cultura vão alfinetando quem não dá cobertura aos seus arremedos intelectuais;

– a indisfarçável indisposição com que certas forças apelidam quem não alinha na sua descrença e agnosticismo – bastará ler e ouvir o que se diz (ou insinua) sobre Fátima, sobretudo neste ano do centenário das aparições;

– umas tantas suspeitas – logo tornadas indiscutíveis e dogmáticas porque afirmadas por certos gurus da maledicência – sobre os dinheiros geridos e cuidados por instituições ligadas à Igreja católica…

Sobre estes e muitos outros aspetos – que ofendem a honra e o bom-nome de tanta gente – é lançado um manto de impunidade, nunca ressarcindo quem foi difamado ou desonrado, antes continua a ser humilhado e a ser vítima das mais torpes malfeitorias…anónimas e difundidas suficientemente.

Porque defendemos, acima de tudo, a dignidade de todos, não podemos continuar a calar tantas injustiças, tendo em conta que muitos dos malfeitores e difamadores se escondem sob a sua capa de liberdade, mas para com os outros não assumem os seus erros, exageros e cumplicidades. Basta de silêncio. Basta de ofensa…

 

António Sílvio Couto



segunda-feira, 27 de março de 2017

A família como rede capilar de difusão do Evangelho


A família é, ou deve ser, como que ‘uma rede capilar de difusão do Evangelho’, fazendo ‘da nossa fé algo integrador e não com alguns momentos para o sagrado’, disse D. José Ornelas, que falava no decorrer da terceira catequese quaresmal, que se realizou numa das casas dos círios no santuário de Nossa Senhora da Atalaia, Montijo, versando o tema – ‘Família: lugar da presença e da revelação de Deus’. 

O Bispo de Setúbal colocou a abrir algumas questões, que foi respondendo ao longo dos cerca de quarenta minutos da sua catequese: Como se vive a fé em família, que lugar tem Deus? Como se vive a fé nas nossas casas? Será que circunscrevemos a expressão da fé ao tempo que passamos na Igreja?

Esta terceira catequese foi desenvolvida em três aspetos: Templo e as casas de Deus; Nazaré – casa da família de Jesus; o casal e a família como sacramento da presença de Deus.

 
= Partindo da explicação das vivências de ‘Templo e de casa’, no sentido bíblico, D. José Ornela percorreu várias figuras (Abraão e Moisés) e situações do povo de Israel (libertação do Egito, instalação na terra prometida e exílio) para tipificar as formas de Deus estar presente com o seu povo, desde a peregrinação pelo deserto até à construção do Templo em Jerusalém e que, após a experiência do exílio, se centra na sinagoga, ‘como a casa da Palavra’, onde se escuta Deus, pois ‘onde se reúnem as pessoas é lá que Deus está’. Para ilustrar as etapas da presença de Deus com o seu povo apresentou, por comparação, os momentos de anúncio de nascimento de João Batista, no templo e o de Jesus, na casa de Maria, em Nazaré.  

= ‘Nazaré é a primeira das casas que acolheu Jesus, aí cresceu Jesus’, considerou o Bispo de Setúbal a abrir a segunda parte da sua catequese. Com efeito, ‘Nazaré é ícone de evolução das nossas famílias’, pois Jesus não centra a sua atenção nos ambientes sagrados, mas ‘entra nas casas’, fazendo com que ‘o encontro com Deus se alargasse aos lugares habituais e da vida de família’. A terminar esta etapa da catequese, D. José salientou que ‘durante quase três séculos a Igreja viveu sem templos’… 

= Na terceira parte da sua catequese o Bispo de Setúbal falou da casa de família como sacramento da presença de Deus. Não podemos permitir que a ‘família seja como que a área do profano por contraste com o sagrado (religioso) na paróquia’, antes têm de ser complementares. Pai e mãe são ‘sacerdotes dentro da casa’, pois são eles que ‘fazem a ponte da vida humana’.

D. José Ornelas realçou também a importância do dever de abençoar, em família, dado que isso ‘transmite o carinho do Pai do Céu em família’, salientando ainda que ‘é importante que a família tenha momentos quotidianos da presença da Palavra de Deus’. Com efeito, ‘ninguém melhor do que os pais podem ensinar a rezar’, pois ‘família onde Cristo está presente, abre-se à dimensão da paróquia e da diocese’. 

Atendendo às anteriores catequeses, percebendo a importância do tema, tentando compreender o significado destas iniciativas para a etapa da vida da nossa diocese, cremos que há aspetos da vida católica que precisam de ser melhor cuidados. Com efeito, se o tema da família é tão essencial, porque faltam tantos responsáveis nestas ocasiões de aprendizagem seja nas linguagens ou das propostas? Não andaremos entretidos com o urgente, esquecendo o fundamental? Até onde irá a humildade capaz de alegrar-se com os dons, qualidades e carismas dos outros? Não teremos olhos menos límpidos uns para com os outros?

Apesar de sermos uma diocese com um número de praticantes reduzido, parece que o leque de abertura aos outros – de dentro e de fora da Igreja – está ainda um tanto afunilado, mesmo entre os casais e outros participantes nas iniciativas…diocesanas. Será que é preciso pertencer a algum grupo específico para ser visto, acolhido e atendido como irmão na mesma fé? Será que, estando no mesmo barco, remamos todos (ou o mais possível) na mesma direção? Não andaremos a confundir os sentidos por onde e para onde queremos ir…em comum?

Lamento que nos falte mais espírito de comunhão entre todos e para com todos e que nem as intempéries sejam capazes de nos desmotivar… ontem como hoje.    

 

António Sílvio Couto



terça-feira, 21 de março de 2017

Quando a maledicência parece compensar…


Desde há alguns dias que vimos andar na trituradora das notícias referências a ‘problemas’ relacionados – bem diferente seria se fossem só relativos – com a Caritas, uma organização da Igreja católica por onde passa muita da ajuda – assistência, prevenção ou solidariedade – a pessoas em dificuldade…económica, familiar, psicológica, moral ou espiritual.

A ‘notícia’ mais bombástica surgiu nas labaredas da (dita) opinião pública cerca de uma semana antes da designação ‘semana Caritas’ – envolvendo, sobretudo, a sua expressão em Lisboa – e, consequentemente, colidindo com o peditório de rua em todas as dioceses. A emersão do assunto naquela data não foi nem inocente e tão pouco inconsequente. Pelos valores envolvidos e outras questões apensadas deu para perceber que os danos na recolha de donativos estava, desde logo, prejudicada, fossem quais fossem as pessoas que viessem para a rua e onde quer que isso se visualizasse.  

= Um breve aparte: sabemos como certas entidades não conseguem fazer com idênticos meios e valores, algo que se assemelhe àquilo que a Igreja vai conseguindo. Um dia alguém referiu que a Igreja é capaz de fazer com um terço dos valores o que outros tentam com três vezes mais… Ora tais ‘milagres’ não são fruto da sorte nem mera proteção divina – diga-se que se sente e se exercita…fielmente –, mas antes registam-se devido uma boa gestão de proximidade, aliando ao razoável conhecimento das causas em ordem a vencer as consequências. 

= Feita esta ressalva poderemos tentar descortinar alguns dos motivos que terão levado a que certas forças se assanhassem contra a Caritas e um tanto para com a Igreja católica naquilo que ela tem de presença no mundo dos desfavorecidos, marginalizados e até malqueridos no resto do tempo, à exceção da época de eleições… Porque é que uma tal jornalista se abespinhou tanto sobre o assunto – debitando juízos do seu pedestal televisivo – e não fez antes uma reflexão sobre alguém da sua família, que fugiu do país após ter sido acusada de gerir um tal ‘saco-azul’? Será que certas figuras pensam que somos todos desmemoriados e não conseguimos unir as pontas de episódios e situações duvidosas, ontem como hoje? Até onde irá a cumplicidade de argumentos, quando estão em causa assuntos mais sérios do que fait-divers encomendados? Todos precisamos de cultivar a transparência, mas com isso não andemos a gerar momentos translúcidos ao serviço de razões (mais ou menos) subterrâneas… 

= Tentemos enquadrar a obra da Caritas e de tantos outros serviços e movimentos na Igreja católica que concretizam a ‘ação sacerdotal’ de cada cristão pela caridade organizada e vivida como testemunho da Palavra escutada e da liturgia celebrada.

* Assistência – mais que um certo assistencialismo que não dignifica quem o recebe, a capacidade de assistência pode e deve criar sinergias para fazer sair das dificuldades quem pede ajuda e a recebe gratuitamente… Por vezes um pequeno empurrão pode fazer toda a diferença. Quantos casos temos visto, assistido e compartilhado. 

* Prevenção – será pela educação e a valorização dos fatores de tribulação que muitos dos que se aproximam dos serviços sócio-caritativos da Igreja católica, que têm de se distinguir das ações de segurança social ou das redes de ministérios da área do trabalho, que muitos casos poderão e deverão ser resolvidos de forma responsável e não meramente subsidio-dependente… Basta de ter presos pela boca os que precisam de ajuda! * Solidariedade – há quem considere esta como o novo nome da caridade, mas nem sempre isso será tão linear. Com efeito, já os padres da Igreja diziam: não dês aos outros por caridade, aquilo que merecem por justiça! A solidariedade cria novas oportunidades, mas estas não podem ser prolongamento das pretensões de quem o executa. A dignidade das pessoas merece ser respeitada sempre e sem intenções menos claras ou capciosas.

Cremos que não será esta onda de maledicência que fará desmotivar quem serve os outros, porque eles são presença e sinal de Cristo para nós. A recompensa será dada sempre e essencialmente por Deus!

 

António Sílvio Couto



Família é escola viva e da vida


D. José Ornelas, na catequese que proferiu, no passado domingo, dia dezanove, na Sé Catedral de Setúbal, falou sobre ‘família – escola do amor e da reconciliação’, abordando as vertentes de ‘formar-se em família e como família’, de ‘acompanhar o crescimento dos filhos’ e tendo como modelo e testemunho São José.

O Bispo de Setúbal fez a sua intervenção perante uma Sé repleta de cristãos, entre os quais algumas dezenas de catecúmenos, que fizeram o rito do primeiro escrutínio momentos antes de se iniciar esta segunda catequese quaresmal. 

= Partindo da pergunta – como se realiza na família o crescer juntos? D. José respondeu que esta dimensão familiar se concretiza em dois aspetos: crescer, formar e formar-se em família, sendo que educar-se é importante em todas as idades.

O Bispo de Setúbal salientou que devemos ‘dar graças a Deus pelas nossas famílias’, apesar das dificuldades exteriores e interiores, que eles têm de enfrentar. Com efeito, quando vemos ‘proliferar fracassos de tantos projetos de família’, temos de ‘acolhê-las com especial atenção na comunidade cristã’.

Referindo-se à dimensão da educação na família, D. José Ornelas, referiu que ‘o caminho da educação tem de ser iniciado nas famílias de origem’. Ora para que a família tenha tempo para si própria, ‘temos de criar espaço na nossa família e não só o que sobre doutras atividades’, mesmo no que se refere àquelas que estão adstritas às coisas da paróquia ou naquilo que se refere ao trabalho ou a questões que fazem com que se esteja fora da família.

Dando algumas sugestões no que concerne à família no contexto da Igreja católica, o Bispo de Setúbal realçou que é preciso ‘repensar a pastoral familiar, tendo em conta as etapas dos mais frágeis, isto é, as crianças e os anciãos’. 

= Na segunda parte do tema, D. José Ornelas centrou a sua atenção no acompanhamento, em família, da educação dos filhos, tendo considerado que é ‘imprescindível a família na educação dos filhos’, pois será ‘a partir do amor e do carinho da família que se há de desenvolver a educação duma criança ou de um jovem’. Neste sentido, o Bispo de Setúbal acentua que ‘a perceção do afeto dos pais é fundamental para os filhos, mesmo nas coisas mais simples’, pois a família é referência até quando cuida na fragilidade.

A finalizar D. José apresentou breves incisos sobre a figura de São José – dado que nesse dia se celebrava o ‘dia do pai’ – na medida em que ‘José é aquele que recebe e passa tradição’, tal como o pai é ‘aquele que explica e é garante da promessa de Deus’.  

= Tal como na primeira catequese quaresmal sentimos algumas perguntas e inquietações, que, mesmo de forma simples (sem pretender ser simplista), ousamos aqui colocar:

* Numa grande maioria os participantes nestas catequeses são já pessoas que fizeram o seu caminho humano e histórico, por isso, não será de investir mais na prevenção de questões de âmbito familiar do que lançarmos sementes em terreno onde os frutos não serão tão profícuos e com futuro?

* Mais uma vez consideramos que se nota a ausência de bastantes clérigos, que têm a função de conduzir as orientações pastorais neste setor da família, não será, ao menos, de acertar a linguagem mais do que os (meros) conceitos?

* Como se poderá fazer crer e dinamizar mais pessoas – com tempo, recursos e estratégias – para que a família seja a curto e a médio prazo o que há de mais importante social, cultural e eclesialmente…dado que se ela falhar ou implodir que nos restará?

Afetiva e efetivamente, a família é e continuará a ser escola viva e da vida…   

 

António Sílvio Couto



domingo, 19 de março de 2017

Sons do gato…em tempo de cio!


De alguns dias a esta parte, a qualquer hora, incluindo a noite, ouço, na zona onde resido, uma espécie de gritos lancinantes dum gato, ao que parece em tempo de cio… Às vezes os ‘lamentos’ do bichano são confrangedores, noutros momentos como que se sente que o animal está fora do lugar…ao menos nesta época.

Desde já acho que poderei colocar algumas questões, que não têm nada de julgamento e tão pouco de acusação: Será correto condicionar os animais – ditos de companhia – domésticos, sobretudo em fases da sua vida normal? Poderemos considerar que se gosta dum animal, constrangendo os seus ritmos de vida natural? Até onde irá a conciliação entre as necessidades dos humanos e os direitos dos animais, particularmente os de companhia doméstica?  

= Quem ande minimamente atento verá, nas ruas e noutros espaços da vida pública, imensas pessoas trazendo animais – sobretudo cães e, por vezes, gatos – em companhia, numa espécie de compensação emocional/afetiva, nem sempre fácil de interpretar, pois, nalgumas circunstâncias, mais parecem bibelôs animados do que criaturas a quem se dedica tempo e afetividade, mesmo que de forma menos equilibrada. Com efeito, a dedicação aos animais nunca por nunca poderá ser uma espécie de rebuscado psicológico que, por medo ou constrangimento, em não ter, não poder ou não quer filhos/as, possa servir de recurso ou de disfarce a tais objetivos naturais à condição humana…normal.

Neste tempo do ‘descartável’ – como tantas vezes no-lo tem dito o Papa Francisco – os gastos para com os animais não podem servir de desculpa para que não se atenda, essencial e preferencialmente, aos humanos, esses que são mais do que criaturas de Deus, são ‘sua imagem e semelhança’… De facto, enquanto virmos, nos espaços de compras mais espaços para comida dedicada aos animais do que para artigos de cuidado para com as crianças, diremos que somos uma sociedade doente ou, pelo menos, em disfunção de atributos e de propriedades… 

= Nos tempos mais recentes temos vindo a assistir à crescente dignificação dos animais, em muitos casos com a depreciação dos direitos e deveres dos humanos. Nalgumas circunstâncias vive-se quase uma maior propaganda em favor dos animais – atendendo à luta de certas associações e segundo critérios mais ou menos suscetíveis de criar dúvida e confusão – do que de tantos outros aspetos que envolvem a condição humana, segundo a vida não-nascida e até à morte não-provocada. Em quantos casos esta segunda faceta – a dos humanos – é mais desvalorizada em relação à da defesa dos animais…Equiparada uma e outra condição é, desde logo, criar ruturas e possibilidades de desvalorização da vida humana… Assim só estamos a perder dignidade e a nossa correta condição!  

= Quando de tantas formas vimos a ver crescer a salvaguarda dos animais em detrimento dos valores que afetam os humanos, poderemos considerar que algo vai mal no reino da condução humana, pois, segundo a visão judaico-cristã da criação, a pessoa humana é o que de mais solene há no espetro da conduta entre todos os seres, sob os quais os humanos têm autoridade e poder na ordem da mesma criação. A qual dos seres disse Deus que tenha sido criado ‘à sua imagem e semelhança’, se não ao homem e à mulher? Talvez certas visões um tanto panteístas/materialistas tenham muito a considerar sobre esta nossa hierarquia de seres. Dada esta visão personalista da vida e dos seres, poderemos e deveremos questionar a quase adoração dos animais, incluindo as hipóteses vegetalistas e de outros adereços vegetarianos…  

= Urge questionar, então, alguns dos comportamentos de culto aos animais, inquirindo sobre quem está posicionado na escala de valores e de critérios. Ter animais para que sejam ofendidos na sua vida normal e natural, será de aceitar e de não-denunciar? Até porque sentimos que muitos dos animais se exprimem com sentimentos bem elevados e significativos, não aceitamos que sejam tirados do seu habitat para serem utilizados pelos humanos!     

 

António Sílvio Couto



quarta-feira, 15 de março de 2017

Raposas no galinheiro…





A recente designação dum economista para o conselho consultivo do banco nacional, trouxe à liça esta expressão de ‘raposa no galinheiro’, pois sendo o dito nomeado duma certa visão económica, como poderá ele lidar com a instituição mais representativa da ‘economia de mercado’, isto é, o capitalismo de estado ou estado do capitalismo atual?
Deixando as diatribes sobre o assunto para os entendidos na matéria económica, parece-me que há muitas mais raposas infiltradas noutros galinheiros e estes mais indefesos do que aquele a que nos referimos.
Desde logo a expressão ‘raposa no galinheiro’ precisa de ser enquadrada e um tanto explicada. A ‘raposa’ é um animal selvagem, atacando, sorrateiramente, as suas presas e sendo uma predadora solitária… Falar de colocar a ‘raposa a guardar o galinheiro’ – uma outra expressão irónica – é como que colocar as vítimas ao cuidado dos réus…
Tentemos, então, encontrar situações e momentos, do nosso quadro coletivo ou pessoal, em que a raposa pode rondar ou atacar o galinheiro… esse reduto onde estão as ‘galinhas’, aqui entendidas como aqueles/aquelas que podem estar mais vulneráveis, indefesos ou expostos aos ataques das ‘raposas’, neste aspeto considerados, no todo ou em parte, como os habilidosos, os tacticistas, os espertos… que se infiltram ou a quem se dá a oportunidade de vencer sem (nem sempre) convencer.   
* Quando se convida alguém, ao qual se pode reconhecer um certo conhecimento em questões de fé – porque se disse cristão, se afirmou nalgum evento ou se faz passar por estar próximo nalgum desempenho prático – para que possa discursar para cristãos, mas de cujas outras formas de estar – na vida social ou económica, nas posições políticas ou partidárias – se pode melhor perceber que nem sempre comunga da fé católica… Não será isso meter a raposa no galinheiro, rapinando os mais incautos cristãos e menos bem ilustrados na fé? Nos tempos mais recentes temos visto bastantes raposas a rondar o galinheiro…
* Quando se abrem as portas – físicas e espirituais – das igrejas (paróquias, comunidades ou pequenos grupos) a uns certos devotos, que mais parecem pretender parar do que se comprometerem, seja a fé celebrada, seja a fé aprendida… mas, por vezes, pouco empenhada na vida. Com efeito, a proliferação de grupos e de expressões religiosas mais ou menos de teor tradicionalista podem fazer perigar o essencial do cristianismo, mais parecendo repositórios de crenças do que espaços de fé adulta e séria. Será preciso vigiar para que com a raposa não venham mais outros perigos…
* Quando vemos surgir mentores e mentalidades que preferem a religião devocional à visibilidade e compromisso na vida pública – podendo ter (mesmo) implicações nos aspetos políticos – poderemos estar a retroceder mais de meio século naquilo que o segundo Concílio do Vaticano nos trouxe e fez com que vivamos nessa onda de vivência de cristãos neste mundo. Quase de forma cíclica o regresso à sacristia tem vindo a ser difundido por alguns setores da Igreja católica. Nalgumas situações isso conquista mais adeptos do que o seu contrário. Não serão esses pretensos vigilantes da ortodoxia uma espécie de raposas que rondam o galinheiro para ninguém saia (ou entre) dos seus parâmetros de mediocridade?
* Quando na vida empresarial – privada ou de economia social, seja qual for o âmbito de produção – vemos uns tantos a lutarem por melhores salários – onde o mínimo se considera justo, mas aferindo a outros se torna (quase) insuportável – para os outros, mas não pagam àqueles/as sobre os quais têm responsabilidade, poderemos considerar que a raposa ataca o galinheiro alheio, salvaguardando – sabe-se lá a que preço e até quando – o seu reduto de forma desonesta e desleal. Assim não é possível construir uma sociedade mais justa e solidária, se aquilo que se pensa e se defende não condiz com a prática para com os outros!
* Quando se combate o ensino que não seja o público e se tenta passar, nalguns graus de escolarização, para as autarquias a responsabilidade de certas tarefas e ações, não será isso colocar a raposa a defender o galinheiro, afinando os dentes para atacar novos campos de atividade? Porque se tem estado a tratar este assunto em surdina e por trás do palco das notícias? A quem interessa esticar a corda da estatização, camuflando gastos e simulando promessas?
As raposas andam por aí: cuidemo-nos. As raposas atacam sorrateiramente: vigiemos. As raposas sabem mudar de roupagem e, em breve, poderão tornar-se hienas esfomeadas e tenebrosas!   
 
António Sílvio Couto

segunda-feira, 13 de março de 2017

É tempo de ser mais família


Na catequese quaresmal que proferiu, no passado domingo, doze de março, D. José Ornelas acentuou que ‘de cada um de nós depende a qualidade da nossa família’, conferindo tempo e espaço a todos, dado que ‘é tempo de ser mais família’…nesta época algo conturbada em que vivemos.

O Bispo de Setúbal intervinha na primeira das catequeses quaresmais, que este ano são dedicadas ao tema da família. Nesta primeira catequese o prelado quis dar-nos ‘Um olhar sobre a família’ e aconteceu na Igreja de Santa Maria, Barreiro.

Partindo da centralidade e posição determinante da família para a pessoa humana – ‘o ser humano é de todos os seres o que menos consegue viver sozinho’ – D. José Ornelas salientou que a família se sente pressionada, hoje mais até do que no passado, por mudanças e ideologias fraturantes, devendo estar em busca de novos caminhos, por entre a complexidade do nosso mundo. 

= O Bispo de Setúbal partiu da conceção bíblica de família para referir que, criados à imagem e semelhança de Deus, homem e mulher são, por isso mesmo, imagem do carinho divino e transparência do próprio Deus.

‘À imagem de Deus, os dois – homem e mulher – tornam-se participantes na obra criadora de Deus’. Com efeito, ‘a família é laboratório da vida’. Neste sentido, D. José Ornelas considerou que é preciso ‘pugnar por políticas que sejam mais favoráveis às famílias que optam por ter mais filhos’.

Nesta época que caraterizou ‘do utilitário’, o Bispo de Setúbal referiu que é precisa ‘uma radical mudança da mentalidade’, que começa por ‘querer amar’ e se repercute ‘no amor refeito pelo perdão, no amor fiel à imagem da fidelidade de Deus’. Este amor fiel ‘tem de tornar presente a presença de Deus’, rezando juntos e colocando-se juntos na escuta de Deus.

D. José Ornelas apontou algumas pistas para que a família se possa tornar mais cristã: é tempo de retomar a vivência de que ‘a nossa família conta no projeto de Deus, pois foi Ele que nos chamou, olha com carinho por nós e conta connosco’. Também é preciso ‘encontrar espaço para escutar Deus’, rezando juntos, pois ‘de cada um de nós depende a qualidade da nossa família’… 

= Atendendo à importância do tema e à sua dimensão diocesana talvez fosse necessário que esta iniciativa fosse (ou tivesse sido) melhor entendida e participada por leigos e eclesiásticos, pois duma formação comum poderá ser alimentada melhor a família humana, paroquial e eclesial. Se há campo onde todos temos muito a aprender uns com os outros é este da família, pois, em cada momento somos chamados a recomeçar e não a viver num certo requentado que não muda nem traz novidade… Nisto as lições aprendessem, estando em conjunto uns com os outros, acertando a linguagem e aferindo os conceitos.

A distribuição das catequeses por vários lugares da diocese não pode – ou não devia – servir de desculpa para ir só àquela que está mais ao pé-da-porta, pois as várias vertentes do tema estão encadeadas – como se viu na experiência do ano passado – e todos os aspetos constituem uma formação sequente, ministrada pelo nosso Bispo. E nem mesmo a transmissão das catequeses via-internet ou a sua colocação na página da diocese podem servir de menor empenhamento, pois a graça de estarmos juntos cria comunidade e faz crescer na comunhão…pela presença fraterna e comunitária.

 = Nesta etapa da nossa caminhada diocesana, há certas perguntas que me afloram à mente e ao coração:

* Como podemos defender a família dos ataques – sociais e culturais, políticos e económicos – que vivemos?

* Até onde irá a capacidade de resposta cristã, que não seja meramente saudosista e um tanto antiquada?

* Como se poderá ajudar as gerações mais novas a crerem na família e a serem educadas nos valores do evangelho? 

* Teremos ainda fogo capaz de apresentar a família como algo com futuro ou já perdemos a sensibilidade aos erros, confundindo-os com certas modas…materialistas?  

Efetiva e afetivamente, é tempo de sermos mais família onde Deus está e conta!         

 

António Sílvio Couto



quinta-feira, 9 de março de 2017

Tiques ‘novos’ à moda antiga


Por estes dias e nos tempos mais recentes temos vindo a assistir – nos vários campos de atividade e de ação pública e política, mas também social e até no âmbito religioso – ao ressurgimento de tiques mais ou menos já vistos e que tantos estragos fizeram no nosso país…nesta era da (dita) democracia.

O cancelamento duma conferência sobre ‘populismo ou democracia? O brexit, Trump e Le Pen em debate’, numa (pretensamente progressista) universidade, em Lisboa, tem sido como que o rastilho para percebermos que uns tantos podem silenciar quem não pensa como eles, aduzindo a isso epítetos e argumentos de colonialistas, racistas e xenófobos com que foram classificados, por uma tal associação de estudantes, os promotores e talvez os que pudessem interessar-se pela dita palestra…  

Outrossim se poderá dizer das posições de certas forças ideológicas que, quando não são favorecidas nas posições por algum organismo oficial – económico, de regulação, social ou cultural – logo atiram para a fogueira os visados e ameaçam com a modificação dos parâmetros ou com a extinção…libertando, deste modo, o campo para que seja feito segundo os seus critérios e vontades…

Mal vai uma Nação na qual seja preciso argumentar com a credibilidade da comunicação social, quando esta se faz, sobretudo, eco da voz do dono…seja ele estatal ou privado. Só alguém muito inocente acredita que haja independência total neste ‘quarto poder’, que por querer afirmar-se no espectro geral tem de lutar com as armas que pode e talvez nem sempre ser tão anódino como uns tantos queriam… Há, de facto, coincidências em noticiar temas que só ‘por acaso’ surgem quando é preciso desviar as atenções de algo que se deseja distrair. Talvez só por razões ético-profissionais não se diga tanto quanto é preciso e possível dizer. Só quem nunca tenha andado por certos círculos – ou circos – é que se admirará da criação de diversões e da ampliação doutros episódios…  

= Fazendo-nos eco duma passagem bíblica poderemos considerar: nada há de novo debaixo do Céu, pois o que antes se viu, agora – duma forma diferente, mas não totalmente nova – surge. Será preciso, então, saber um pouco da filosofia da história para sermos capazes de interpretar o que agora acontece, sem ficarmos aterrados ou admirados com o que se está a passar.

Falta a muita gente visão abrangente e capacidade de discernimento, pois quem se defende, por vezes, usa armas que denotam mais fragilidade do que superioridade. Com efeito, ter medo daquilo que os outros pensam e, sobretudo, se o fazem de forma diversa da sua, será, no mínimo, insegurança e pouca tolerância, respeito e aceitação da diferença…na prática.

Recorrer a estereótipos e acusações do passado será, muitas das vezes, mais arrogância do que inteligência, embora possa representar alguma esperteza. Com efeito, há quem conte mais com a sua esperteza sem atender à inteligência dos outros ou ainda sonegue esta sem atender àquela.

Entrincheirar-se nas suas certezas, normalmente, não costuma ser bom princípio para o diálogo, seja com quem for, pois este gera-se no confronto de posições, com respeito e dignidade, sem pretender vencer só porque se acha que tem mais cotação… De facto, certas atitudes que vemos por aí mais parecem as posições duns certos animais que enfincando os meios de locomoção no chão não andam nem deixam andar…na sua convicção.

O recurso à recuperação de certos adereços – mesmo de classe ou de afirmação pública duma vocação – tem vindo a ser outro aspeto de tique ‘novo’ à moda antiga. Para quem precisa de se afirmar pela distinção talvez isso possa ser razoável, pior será se isso servir para se defender ou tentar colher frutos dum posicionamento (dito) superior. Em certas circunstâncias dá a sensação de que, quem assim se apresenta, pode considerar-se melhor do que outros que, podendo ou circunstancialmente usando, não o fazem de forma habitual… Este tique corre o risco de se difundir mais do que parece em certos meios mais fundamentalistas ou anticristãos. 

= Perante certos tiques podemos concluir que já não apresentam nada de novo, antes dão a impressão que denunciam uma recauchutagem de má qualidade! Verdade a quanto obrigas!  

 

António Sílvio Couto



terça-feira, 7 de março de 2017

Tr(i)unfos comprometedores…


Soube-se, por estes dias, que os dados sobre a execução orçamental do ano passado e a leitura dos mesmos foi criticada pelo ‘conselho de finanças públicas’ (CFP), cuja presidente do conselho superior considerou ‘um milagre’ o défice alcançado com ‘medidas que não são sustentáveis’ a longo prazo.

As reações foram tanto de espanto quanto de espantar: uns porque se quis inclui a nota do divino, onde o que foi feito saiu do pelo dos portugueses… outros porém, não contentes com as farpas dos técnicos do CFP, sugeriram ora a sua remodelação, ora a sua extinção… porque ao que parece por não se dizer – ou confirmar – aquilo de quem ocupa o poder deseja ou, sabe-se lá, por agora já não convirem as correções aos triunfos, que mais não parecem do que trunfos escondidos na hora de clamar vitória.  

= O que é e para que serve o CFP? O ‘conselho de finanças públicas’ é um organismo independente que fiscaliza o cumprimento das regras orçamentais em Portugal e a sustentabilidade das finanças públicas. Criado em 2011 e em exercício desde fevereiro de 2012 tem a missão de proceder à avaliação independente sobre a consistência, cumprimento e sustentabilidade da política orçamental, promovendo a sua transparência, de modo a contribuir para a qualidade da democracia e das decisões de política económica e para reforço da credibilidade financeira do estado. 

= Quem tem medo da verdade e parece que se esconde sob a capa do sucesso ainda não confirmado? Porque agora se teme que se diga que nem tudo correu bem, quando antes se fazia apanágio do ‘quanto pior melhor’? Não será possível que os atores da ação política tenham mais tento na língua, sem esquecerem o que disseram antes sobre os outros?

Até quando pensarão tratar os cidadãos como desprovidos de capacidade crítica, quando querem confundir a árvore com a floresta, isto é, acusar quem agora não lhes convém, quando antes aplaudiam porque lhes era favorável? Ainda creem que serão adulados nas suas pretensões, quando vão condicionando o apuramento dos números…mesmo que estes lhes possam – realmente – ser adversos? 

= Bastará trazer à colação o título – ‘triunfo dos porcos’, de George Orwell, de 1945, para intentarmos ler muitos dos episódios da nossa vida coletiva, seja quem for que ocupe o poder…em Portugal ou noutro país… indo embater na célebre frase: ‘todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros’.

Efetivamente, mesmo quem conhece a alegoria, tantas vezes se esquece de que está sob suspeita de toda e mais alguma vulnerabilidade de tentar proteger quem concorda consigo e de nem sempre aceitar quem discorda daquilo que diz-e-faz, mesmo que possa ter razão e alguma razoabilidade… sobretudo no futuro.

Nas tentativas de recauchutagem que fizeram surgir ‘o triunfo dos porcos’, vamos vendo que há muita gente que ainda não aprendeu as lições do passado – seja ela estalinista ou com outra coloração – pois correm o risco de continuar a tratar os outros com esses tiques de displicência e de sobranceria, que já deviam ter sido corrigidos com humildade e verdade… 

= Agora que estamos, catolicamente, em tempo de quaresma não deixa de ser fundamental que nos confrontemos com propostas da Palavra de Deus e do magistério da Igreja em ordem a tentarmos fazer cair a máscara – adereço essencial do teatro para ampliar a voz e fazer cumprir um papel de representação – diante de nós mesmos, dos outros e até para com Deus… Será preciso cada um conhecer-se para poder ser capaz de aceitar os seus erros e disfarces…mais ou menos aceites, legitimados ou tolerados. Se há uns que tiveram lições de teatro, outros há que não passam de fracos/as amadores, porque não amam nada nem ninguém… a não ser ao seu umbigo!

 

António Sílvio Couto



segunda-feira, 6 de março de 2017

Donald – entre o pato e o outro…


 

Faz parte dum certo imaginário infantil – pelo menos de muitos quinquagenários – a figura do ‘pato donald’, essa espécie de ícone dos desenhos animados que, em vários momentos, encarna uma espécie de personagem antipática, mal-humorada e mutante, em luta aguerrida com Mickey Mouse e sobrinhos… A finalizar cada episódio lá surge a voz grasnada… numa ‘leitura’ dos acontecimentos mais ou menos desagradáveis… Desde a década de trinta do século passado que o ‘pato donald’, os sobrinhos, adversários e afins têm preenchido imensas rábulas nas várias línguas e latitudes…entretendo e questionando.

Nos últimos tempos surgiu, entretanto, um outro ‘donald’ – donald joseph trump – que tem vindo a assombrar muitas mentes e a lançar imenso grasnar de reprovação a partir do seu novo ofício, o de presidente dos EUA. Diante da figura do ‘pato’, este novo ‘donald’ como que fica – ou tem vindo a ficar – cada vez mais como alguém que ensoberbe o tal ‘pato’, na medida em que as tropelias deste não passam de ironias perante as altissonâncias do (agora) investido em poder pelos americanos… 

= Há, no entanto, tantos sinais de seguidores do ‘donaldismo’ – mais o do pato do que o do político – que precisaremos de estar em contínua observância de factos e de ideias. Com efeito, vamos vendo serem tolhidas as energias de tantos que procuram dar um novo sentido à vida e aquilo que veem é a difusão da cultura da morte, seja relatada, seja no culto do direito à autonomia… essa nova forma de designar a possibilidade de promover a ‘morte doce’ (eutanásia) a pedido ou camuflada de legislação aceite…em (má) consciência…invencivelmente errónea!

O grasnar do ‘pato donald’ poderá tornar-se o refrão de assentimento de muitos dos desejos e projetos dos mentores da cultura da morte. De facto, ninguém pediu que se venha a soltar a ‘caixa de pandora’ dos movimentos fraturantes com que certos setores da ‘esquerda social travestida de política’ nos querem brindar nos tempos mais próximos. Enquanto nos desenhos de animação podíamos controlar o enredo, agora, desencadeadas as investidas, pouco restará para que seja possível aglutinar os cacos estilhaçados na nossa sociedade um tanto permissiva e bastante irracional. 

= Se estivemos atentos poderemos encontrar na textura dos combatentes do ‘donald trump’ que muitos daqueles que têm vindo a servir a luta contra certos valores que o ‘donald’ político tem estado a fazer reverter do seu antecessor, sobretudo em matérias éticas e sociais mais ou menos dos lóbis internacionais razoavelmente combativos e sobretudo anticristãos. Por vezes, o gato não escondeu bem o rabo e podem, então, ver-se os tentáculos aveludados em matéria de assunto e de notícias.

As questões relacionadas com a família, que tão maltratadas foram pela administração americana anterior, podem sofrer de novo posicionamento no contexto de toda a sociedade ocidental. Urge, por isso, saber distinguir o essencial daquilo que é secundário. Torna-se fundamental que pensemos pela nossa cabeça e que sigamos os valores evangélicos e não as meras diretrizes das lojas do avental e afins. Acrescente-se ainda que seria de gosto duvidoso que houvesse tantos ignorantes e desfasados mentais que elegeram quem os possa governar…mesmo que nem sempre acerte nos critérios mais adequados. Reduzir os eleitores à condição de quasi-mentecaptos será um tanto abusivo e preocupante para a democracia deles e a nossa!   

= Cuidemos, então, do nosso futuro, refletindo sobre o presente. Este será tanto mais assegurado na confiança quanto se souber para onde queremos caminhar, com quem desejamos ir e quais os desafios a concretizar. A ver pelos ‘patos’ que grasnam, algo vai mal no reino da fantasia… se desta se trata, pois para tal acontecer – haver fantasia – será preciso ser adulto nos valores e sério nos métodos, pois os fins nem sempre justificam os meios usados ou a promover. Quando vemos mulheres – portadoras, por excelência, do dom da maternidade – serem as primeiras promotoras da cultura da morte, algo vai mal no reino da realidade… funesta e fatalista! Quando vemos certas forças trocarem a ideologia por minudências de grupos de influência, teremos de suspeitar que a (dita) democracia corre muito sério risco…agora e no futuro!

 

António Sílvio Couto