Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Advento 2015 - ‘Dá a mão ao teu irmão, dá a mão’


A caminhada de preparação para o Natal, que é o Advento, tem, na Paróquia da Moita, este ano, por tema: a mão, recorrendo à oração dos dedos do Papa Francisco.

Assim em cada semana do Advento teremos um dos dedos para nos ajudar a consciencializar a nossa vivência - pessoal, familiar e comunitária - rumo ao Natal deste ano.

- Na 1.ª semana - de 29 de novembro a 5 de dezembro - vamos ter em conta o dedo polegar e pensar e rezar por quem nos está mais próximo, lembrar e cuidar das pessoas de quem nos recordamos mais facilmente... os nossos entes queridos, por quem temos obrigação de rezar cada dia...

- Na 2.ª semana - de 6 a 12 de dezembro - temos em conta o dedo indicador e vamos rezar por aqueles que ensinam, educam e tratam, inserindo-se nesta lista os mestres, professores, médicos e sacerdotes... e todos quantos têm a função de conduzir e de decidir até sobre os outros...

- Na 3.ª semana - de 13 a 19 de dezembro - temos em conta o dedo médio e rezamos pelos governantes, isto é, os que gerem os destinos da nossa pátria e orientam a opinião pública, pois eles precisam também da orientação de Deus...

- Na 4.ª semana do Advento - de 20 a 24 de dezembro - temos em conta o dedo anelar: é o dedo mais fraco, recorda-nos que devemos rezar pelos mais fracos, por quem tem de enfrentar desafios,

os doentes, os esposos...

- No Natal: dedo mindinho é o dedo mais pequeno, convida-nos a rezar por nós mesmos, procurando cada um compreender as suas fragilidades e necessidades...
 

Diante de tantos sinais de egoísmo e individualismo, parece-nos útil e oportuno que, neste Advento, demos a mão a quem Deus coloca na nossa vida, cada dia ou ocasionalmente... Nada há de excecional, mas podemos fazer de modo novo cada momento do nosso dia a dia!

 
António Sílvio Couto


sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Os 3 ‘tês’


Por estes dias, de visita a vários países de África, o Papa Francisco serviu-se da visão dos três ‘tês’ – terra, teto e trabalho’ – para denunciar, esclarecer e anunciar ao mundo que ainda se sofre, nalgumas partes da Terra, da insuficiência quanto ao acesso ao bens da terra, para conseguir um teto condigno e para usufruir de trabalho.

Enquanto isso cá pelas terras lusas vamos assistindo aos mais díspares extremismos – mesmo que usando a termo ‘radicalismo’ como arma de arremesso contra os adversários/inimigos – das diversas forças partidárias e ideológicas. Estamos a viver um certo neossebastianismo dalguma esquerda, que, tendo chegado ao poder, vai inverter tudo e o seu contrário, pois a fatura de regalias não contém limites nem encolhe nas benesses…pelo menos para já!

= Não está em causa a aritmética dos eleitos, mas antes a possibilidade de, num futuro num próximo (mais rápido do que muitos pensam), termos de começar nova etapa de rigor. Com efeito, o termo ‘austeridade’ soa a sacrifícios – esses que muitos abjuram para si para, mas que, em breve, serão impostos novamente a todos – e tais comportamentos vão sendo conotados com ‘direita, capitalismo, neoliberalismo económico, despedimentos, salários em atraso’, etc.

= Ora o que precisamos é mesmo de mais rigor nas contas públicas e privadas, contrastando com um certo despesismo só possível porque alguém soube fazer as contas e amealhou para o tempo das ‘vacas magras’… Como seria útil a tantos mentores da nossa política ir ao texto bíblico para entender a expressão para não falarem de cor e sem conceitos esclarecidos!

= De facto, vivemos num país onde as posições políticas enfermam duma razoável ignorância e onde certos clichés vão proliferando ao sabor das modas – de certa comunicação social…pública ou privada – e dos interesses de grupos mais ou menos subterrâneos. Com muita facilidade se faz reverter uma derrota em vitória de secretária e onde quem ganha tem de submeter-se à provação de ser governado por velhos fantasmas e ou por ‘intelectuais’ sem provas dadas no ofício para que são investidos.

= Pelo que temos visto e observado tememos que as feridas vão continuar a sangrar e que os extremismos se vão radicalizar…e até quem não tinha posição tão exacerbada para com os adversários poderá assumir algum papel de menos boa insensatez. 

= Vemos, assim, crescer uma maioria (ainda) silenciosa que observa estas jogadas e provocações. Vemos que anda um certo descontentamento no ar e nem as notícias de atentados noutras paragens fazem suprir alguma angústia para com o nosso futuro coletivo próximo…e a curto prazo.

= Vejamos, então, como os três ‘tês’ estão a ser vividos entre nós:

. Terra – esta foi abandonada e já não produzimos o que comemos…Deu-se uma fuga da terra e, quando certas alianças (EU ou outras) falharem, entraremos em colapso, pois não sabemos, minimamente, amanhar a terra;

. Teto – a habitação vai sendo assegurada, mas as famílias endividadas não conseguem aguentar as prestações… Conhecemos casos de vida bem duros e dramáticos!

. Trabalho – este bem escasso para realização pessoal e o sustento familiar tem de ser mais cuidado e favorecido…sem a corja de promotores (políticos sem qualificação) da subsidiodependência…Os que precisam nem sempre são bem tratados e ajudados.


Algo tem de mudar pela justiça social e humana!         
 

António Sílvio Couto


 

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Do singular à comunidade


Os mais recentes acontecimentos na Europa e no mundo – atentados e terrorismo, medos e cataclismos – trouxeram à luz do dia uma espécie de pantanal em que temos vivido e em que estamos a afundar-nos: o acentuar da visão singular (individualista) de cada pessoa perante os constantes desafios à força comunitária de todos.

Vivemos, com efeito, num ambiente onde cada um quer ver valorizada cada vez mais a sua pessoa nem que para isso tenha de molestar/ofender os outros…da forma que lhe for mais ou menos conveniente. Vivemos numa (quase) irremediável tentação de nos apegarmos a nós mesmos, impondo aos outros os nossos gostos, feitios e modos de ser…egoístas, egocêntricos e melindrosos!

Nos mais variados campos de presença da pessoa humana, vemos serem impostos a todo o custo os direitos individuais, criando uma atmosfera de imensos egos em conflito e com ânsias de protagonismo… desmedido e intolerante à oposição. As mais recentes leis de teor fraturante, aprovadas no Parlamento, não passam, nesta perspetiva, de tentáculos duma certa ‘ditadura do eu’, onde os interesses minoritários mais agressivos e contestatários se sobrepõem ao todo mais sensato, de bom-senso e culturalmente humanista.

= Misericórdia: da assunção das falhas à vitória…com Jesus

Estando a preparar, no Advento, a celebração do Natal, sentimos que temos de descobrir nos outros aqueles/as a quem estendemos a mão e que nos acolhem e suportam em suas mãos. Daí surgirá uma abertura à cadeia de simplicidade, que nos faz sentir os outros em fraternidade e a vivenciar o que há de mais genuíno: apesar de limitados temos uma história comum, iniciada, mais radicalmente, em Jesus Cristo e continuada em Igreja pela comunhão na fé, pela esperança e na caridade.

A vivência do ‘ano jubilar da misericórdia’ – que tem início no próximo dia 8 de dezembro – será, então, uma oportunidade para descobrirmos nas nossas falhas, erros e até pecados, a imensa possibilidade de construirmos, onde quer que nos possamos encontrar, uma vitória das marcas divinas mais profundas: no rosto de cada homem/mulher havemos de descortinar a beleza da compaixão, do perdão e da paz. Com efeito, há sinais que temos de fazer brilhar, valorizando mais aquilo que nos une do que aquilo que nos possa separar. Somos mendigos da misericórdia, mas somos enviados a testemunhá-la, se a tivermos experimentando em nós mesmos.

Será quando nos sentirmos amados que poderemos difundir, ao longe e ao largo ou ao perto e muito próximo, a misericórdia divina nas relações humanas…mais básicas e essenciais.

= Compaixão: abertura à diferença…

A ‘invasão’ de refugiados com que a Europa tem estado lidar, deveria levar-nos a refletir sobre múltiplas dimensões de abertura à diferença. Com efeito, muitos daqueles que conseguiram chegar ao espaço europeu não passam de uns tantos beneficiados com as possibilidades em porem-se a caminho, fugindo às agruras – que vamos conhecendo, noticiosamente, muito mal! – económicas e sociais, às perseguições políticas e religiosas…à confusão que certos interesses europeus criaram ao depor ‘ditadores’ e opositores ao expansionismo ocidental, abandonando, posteriormente, as populações aos destinos mais incertos e inseguros.

Sobretudo, nós portugueses, com mais de cinco milhões de emigrantes, temos de saber acolher quem nos possa procurar. Há razões de teor humanista que nos devem fazer estar nesta abertura. Há razões até de âmbito demográfico, pois o envelhecimento ultrapassa os nascimentos. Há razões de natureza económica, pois o futuro da segurança social corre risco de colapso à falta de novos descontantes. Há situações de justiça, pois, se antes fomos recebidos, agora temos de retribuir a outros o que nos fizeram…

Só quando formos capazes de sair do nosso casulo egocêntrico é que perceberemos as necessidades dos outros. Só quando passarmos do singular – individualista, materialista e hedonista – para a dimensão do outro/a em convivência comunitária é que seremos pessoas livres e responsáveis, atentas e solidárias…capazes de dar e de receber. Estendamos a mão aos outros! 

António Sílvio Couto


sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Quem tem medo do ’25 de novembro’?


Dentro de dias completam-se quarenta anos sobre os acontecimentos do ’25 de novembro de 1975’, essa data que trouxe alguma serenidade ao nosso país… pelo menos a uma porção de portugueses que não se revia nos exageros duma outra fação mais revolucionária… Nessa data foi posto termo, como que duma forma mais organizada, ao processo-revolucionário-em-curso, que, sobretudo, nos arredores da capital – com a (dita) margem sul associada – foi criando condições de instabilidade… internas e exteriores.

= Atendendo ao momento político, que estamos a viver com incidências de alguma crispação à mistura com uma certa jactância de forças àquela data (mais ou menos) reinantes, houve uma proposta, no Parlamento, para que fosse comemorada, de forma evocativa, a data do ’25 de novembro’ mais explicitamente.

Uns consideraram que isso permitiria trazer à liça os perigos do tempo presente ou no próximo futuro, lembrando façanhas daquele passado. Outros, temendo a repercussão na (pretensa) opinião pública, vão-se refugiando na ausência e escusa às reuniões para que o assunto seja tratado. Houve até – pasme-se a linguagem e o conteúdo – quem considera-se que tal evocação poderia ser uma espécie de jogatana política…

= Quarenta anos depois ainda há muitas feridas por sarar. Tantos anos e acontecimentos passados ainda se nota um certo ressabiamento de certas ideologias…no espectro partidário atual. Decorrido tanto tempo fervilha ainda um tal espírito de revanchismo para com os adversários, seja qual for a trincheira em que se coloque cada qual. Percebe-se que certos fantasmas ressuscitam com muita facilidade e fazem com que os ataques e diatribes se convertam em atoardas de mau gosto, senão mesmo de má educação.

= Será que estas pessoas, que ainda andam nesta política, não perceberam que o povo português tem memória e não vai mais continuar a ser guiado por mentores e fautores cujo principal interesse parece ser a sua autopromoção. As lições desse passado podem e devem servir-nos para compreendermos que as vitórias – mesmo que pírricas – depressa se convertem em derrotas e que os vencedores de ontem serão os vencidos e enxovalhados de amanhã. Já era tempo de aprendermos todos a sermos pessoas que respeitam os outros e que não é preciso ofender para ter razão, pois esta bem depressa se converterá em desilusão e conflito.

= Possivelmente o ’25 de novembro’ até conseguiu recompor alguns (ou muitos) exageros dos espertos do ’25 de abril’. Hoje como ontem não podemos continuar a fazer da capital (e arredores) o monopólio da politização. Ontem como hoje os valores mais simples vencem as arrogâncias e os intentos dalguns ‘democratas’. Hoje como ontem não podemos pactuar com subterfúgios de interesses de grupo ou de ideologia…

Porque acreditamos que não há – nem pode haver – donos da democracia, perguntamos: quem tem medo de comemorar o ’25 de novembro’? Também o ’25 de abril’ não é posse de ninguém. Quem se quiser apossar dele vai perceber que se comporta como uma espécie de ditador encapotado…mesmo que não o queira assumir.

Portugal merece melhor. Portugal precisa de muito melhor!
 

António Sílvio Couto


segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Oh, mon Dieu, porquoi?


Ó meu Deus, porquê? – é a pergunta que surge diante dos atentados de 6.ª feira, 13 de novembro, em Paris e arredores. Tal como noutros momentos trágicos da história da Humanidade, poderemos sentir que algo de grave temos contra Deus para que Ele assim nos queira, desta forma, corrigir, avisar e fazer refletir.

Se nos atentados ao ‘Charlie Hbdo’ considerei que, apesar da condenação dos atos praticados não me sentia na obrigação ‘de ser Charlie’ – pois muito do que aconteceu, embora abjeto e condenável, era como que o colher dos frutos dalguma irreverência acintosa – agora sinto repugnância pela forma cobarde e indiscriminada com que se tentou atingir muitos inocentes…fazendo o maior número de estragos, sem olhar a meios nem à destruição.

Se usarmos o tríptico da revolução francesa – liberdade, igualdade e fraternidade – poderemos encontrar matéria para questionarmos a nossa cultura ocidental, tanto em aspetos benéficos como em dimensões mais subtis… que nos exigem uma profunda reflexão pessoal e coletiva.

= Liberdade

Há quem cultive a liberdade e a viva com responsabilidade, mas muitos outros fazem dela um pretexto para cada um fazer o que lhe apetece, tornando-a, nalguns casos, mais uma matéria de libertinagem do que de valor de autonomia e de ética. Ora, quando a liberdade ‘só’ permite fazer o que eu quero, sem me fazer respeitar a liberdade dos outros, já não estaremos a viver em liberdade, mas antes numa espécie de ditadura do egoísmo de uns sobre os outros, usando-os e criando para com eles comportamentos de duvidosa liberdade filosófica ou social.

Não terá sido isto que temos andado a semear na nossa sociedade ocidental: sou livre se faço o que me apetece ou de resto entro em conflito com quem me obstaculiza tais razões e vivências? Não se tem dado excesso de informação – noticiosa, intelectual, cívica ou moral – para que os mais fanáticos nas suas ideias possam conquistar as nossas sem custo ou usando a violência com as armas que lhes fornecemos? Será que a liberdade tem cor e distingue antes de unir?

No atribulado caminho da democracia, a liberdade é essencial, mas a segurança não pode ser questionada, quando está em causa o bem comum…

= Igualdade

Também este valor intrínseco da nossa convivência coletiva tem andado a ser um tanto maltratado, pois, se quisermos usar a analogia dos ‘porcos’ dum autor do século passado, temos de concordar que há uns que são mais iguais do que outros. Sabemos como todos – teoricamente – somos iguais perante a lei, mas nem sempre a lei trata de forma igual todos os cidadãos. Mesmo na França republicana – quanto mais em Portugal! – não é difícil de encontrar discrepâncias, atendendo às ideologias de cada interveniente… e as ideologias já não são só políticas e filosóficas, mas também ‘de género’ ou até de delito de opinião. Com efeito, bastará atender à divulgação de iniciativas de certas forças para percebermos que nem tudo é tão igual como se pretende insinuar…

= Fraternidade

Neste item da fraternidade temos uma longa e sinuosa história de atropelos aos sinais da conquista e da vivência da fraternidade, seja ao nível das culturas, seja dos povos e mesmo das línguas. Veja-se o alinhamento de fações e de grupos na cena internacional. Reparemos na promoção de umas certas modas de pensamento e de critérios de moralidade. Observemos quem manda no mundo e quais os valores que promove, difunde e vive. Hoje, temos uma espécie de propensão para a rejeição da dimensão espiritual – sobretudo se for de índole cristã – enquanto se vai tentando criar a consciência do ´sem-Deus’… numa espécie de diatribe ao serviço do consumo, do prazer e do hedonismo.

Os atentados de 13 de novembro devem-nos fazer pensar e exigem seriedade de questionamento à nossa liberdade, igualdade e fraternidade como temos estado a viver…até gora!      


António Sílvio Couto
 
 

domingo, 8 de novembro de 2015

Fanfarronice…dos vencidos

Temos assistido, após as eleições legislativas mais recentes, a um espetáculo digno dum país terceiro-mundista: quem perde no campo de jogo pode ganhar na secretaria, desde que consiga coligir todos os vencidos e declarem-se vencedores!
Diante destas manobras cai por terra a (aparente) convicção de que ‘por um voto se ganha ou por um voto se perde’, pois quem for vencido poderá acalentar a esperança de suplantar os vencedores, desde que se unam, em coligação negativa, para aceder ao poder a todo o custo e a qualquer preço.
Este é Portugal no seu melhor!

- A partir de agora – seja qual for a instância de votação – poderemos suspeitar que, quem vence não ganha, pois os vencidos podem unir-se e autodeclararem-se vencedores à revelia dos resultados alcançados.
- Cuide-se quem se submeter a sufrágio de votação, pois a mentira e o seu contrário podem ser o melhor antídoto para flutuar sobre quem possa sentir-se derrotado, dado que as armas de combate podem estar viciadas, senão no conteúdo ao menos na forma.

- Já sabíamos que não nos podíamos fiar nas ‘promessas’ eleitorais, pois podiam ser trocadas por medidas não apresentadas…claramente. Agora teremos de desconfiar das juras de aversão aos concorrentes, pois os inimigos de ontem podem ser amanhã os aliados de acesso ao poder nem que para isso se meta a ideologia na gaveta… ou será na reciclagem a prazo?
- Parece que há quem troque um pouco de fama – nem que seja confundindo a sua (nossa) história – por algo que permita sobreviver a todo o custo ou tenha de ‘engolir’ contradições e contrassensos mais primários…

- Estamos num tempo em que a mais elementar verdade é posta à prova com tantos e tão diversificados sinais de mentira, em que (até) os verdadeiro mentirosos sentirão vergonha de terem nas suas fileiras estes novos companheiros…A constatação daquilo que se dizia – ‘o que hoje é mentira, amanhã pode ser verdade’… e vice-versa – noutros campos de atividade, como era no mundo do futebol, tem vindo a alargar-se a quase todas as atividades humanas. Com efeito, os mais recentes episódios da nossa vida política fazem-nos questionar sobre a consistência mental e psíquica de muitos dos seus intervenientes, pois alguns deles começam a sofrer de doença precoce, dando o dito pelo não-dito e obrigando os que neles confiavam a suspeitar sobre a veracidade e (quase) idoneidade das suas personalidades… se mais não seja pelo ziguezaguear titubeante em ordem a aparecerem no pedestal do poder. Parece que vai valendo essa inglória tentativa de atingir certos fins sem olhar a meios…
- Os próximos tempos vão ser muito difíceis e controversos… No horizonte já se vislumbra aquilo que fará de nós – novamente – um povo submisso, agrilhoado e em resgate… pois não se pode gastar o que não se tem nem mesmo favorecer o desgoverno e de todo o modo querer contentar quem faz da preguiça a melhor arma – ativa, circunstancial ou sindicalista – para vencer… O abismo está a chegar… bastará um ténue empurrão e todos teremos de recomeçar o caminho do rigor!


António Sílvio Couto

terça-feira, 3 de novembro de 2015

O pecado do ministro ‘a prazo’


Pareceu soar a heresia aos laicistas do Estado – sobretudo numa certa comunicação social – que um ministro, de visita às enxurradas, no Algarve, tenha dito: ‘Deus nem sempre é amigo’… ‘a força demoníaca da natureza’… que Deus receba junto de si o senhor que faleceu…

À boa maneira de fazer notícia condicionando a interpretação, houve reportagens que até classificaram as palavras do ministro – que se assumiu como vindo duma família e região pobre – como uma espécie de sermão…pouco harmonizado com a ação de politiquês… entendível, circunstancial ou razoável.

= Não está em causa questionar as razões das enxurradas – não foi naquela localidade que houve um (dito) ‘programa polis’ dispendioso e muito publicitado? – mas antes tentar colocar alguma ordem nos apartes de certas fontes jornalísticas para quem – ao que parece – é perigoso incluir a referência a Deus sobre as coisas do nosso dia a dia. E mais: parece incomodar que, alguém investido em poder ou talvez em autoridade, possa ousar trazer para a vida pública a (possível) fé que professa.

= É verdade que, neste tempo que nos é dado viver, se torna muito complicado assumir a sua fé…desde que seja cristã, pois uns tantos lóbis logo emergem confundindo liberdade com obstinação na descrença. Talvez se o tal senhor ministro – que não conheço nem precisará que o defenda, pois tem reputação suficiente no meio intelectual em que desenvolve a sua atividade – falasse uma linguagem estereotipada de politiquês mais ou menos encriptado, seria mais entendido, mas como deixou transparecer uma fé que vê Deus nas coisas que acontecem, logo poderá cair na desgraça dos entendidos na bitola do Estado laico e republicano.

= Sabemos que se torna cada vez mais exigente ser cristão em qualquer campo de atividade. Sabemos que muitos se envergonham da fé que parecem ter. Sabemos que nem sempre são bem entendidas as posições daqueles que ousam testemunhar a sua fé nos locais de emprego ou nas atividades culturais mais diversificadas. Sabemos que outras confissões preparam os seus crentes – que facilmente são rotulados de fanáticos! – para que tenham força e capacidade de incómodo… ao anódino de tantas fés.
 
= Por estes dias foi de ver várias localidades a revestirem de vestes sinistras, em ordem a ‘celebrarem’ o halloween. Houve mesmo uma das povoações atingidas pelas enxurradas no Algarve em que se fez uma corrida noturna alusiva à data. Que haverá de nexo entre tais ‘celebrações’ e as chuvas impiedosas, que fustigaram a região e o país? Quando o ministro deu a entender que ‘Deus nem sempre é amigo’, não estaria a querer dar interpretação para além da banalidade destes festejos neopagãos?
 
= Parece ir ganhando consistência que, um certo afastamento de Deus, não obstaculiza a dimensão do espiritual. Ora, pelo que vamos vendo, nem sempre esta índole espiritual tem estado a ser alimentada de forma correta, deixando alguns o culto de Deus para se emaranharem em exoterismos mais ou menos complexos e perigosos. Talvez seja porque muitos dos cristãos se envergonham da sua fé ou porque vão misturando crenças com desvios emocionais e morais, que se abrem campos de intervenção mais ou menos capazes de confundir e de escandalizarem… até os mais incautos.

= Talvez o ministro ‘a prazo’ possa ter de enfrentar ironias e jocosidades de maior ou menor nível, mas esta sua breve intervenção pode-nos fazer refletir a todos sobre coisas simples, onde teremos de confrontar a nossa fé com a vida e de colocarmos esta ao serviço da glorificação de Deus, mesmo que possa haver provações como estas que aconteceram com as enxurradas. Urge, por isso, elevar o nível das intervenções dos políticos com religião e de tornar a religião uma força de intervenção política… não-partidária. A construção da cidade terrena faz-se com valores e princípios e os cristãos não podem ficar à margem nem serem marginalizados.

Fé cristã, a quanto obrigas!   

 
António Sílvio Couto