Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



domingo, 31 de maio de 2015

63 anos depois...haverá futuro?




O Centro Paroquial de Acção Social da Moita nasceu a 1 de Abril de 1952 e foi a 3 de Junho desse mesmo ano que se deu a publicação em ‘Diário da República’. Uma longevidade cheia de dificuldades e de vitórias, de bons e de exigentes momentos...uns mais visíveis e outros só percetíveis na fé, pela esperança e com caridade.
Certamente que, em todo este tempo, Deus cuidou desta Sua instituição e seguramente continuará a cuidar, foi este cuidado divino que encorajou a vencer através de tantos homens e mulheres com capacidade de fé, por entre tantos momentos de esperança e em inúmeras situações para viverem o exercício da caridade...

= Ao longo destes 63 anos de história, o Centro Paroquial foi gerido sob a responsabilidade dos párocos da Moita -- P. e João Evangelista, P. e Fernando Belo, P. e João Tavares e atual pároco -- numa união entre as tarefas pastorais e atividades de índole social...o que, por vezes, nem sempre é fácil de compreender e de ser compreendido.
A revisão dos Estatutos, que está em curso, segundo a lei geral, poderá ajudar a enquadrar melhor estas funções e talvez a duração das mesmas.

= Porque o Centro Paroquial de Acção Social da Moita tem uma razoável história, queremos, em cada ano ter um dia para agradecer, renovar e promover um lema: ‘as pessoas são o nosso melhor património’... Assim, o saibamos viver de forma comprometida com a qualidade de vida humana e espiritual que todos merecemos!

= Tal como noutras iniciativas temos dois princípios simples e básicos: quem não criar dificuldades já estar a ajudar e se esta iniciativa é de Deus não será possível fazê-la perigar.
Sobre este segundo aspeto tenho a certeza -- confirmada pelos 63 anos de luta, de ajuda e reconhecimento -- de que o Centro Paroquial de Acção Social da Moita é uma obra de Deus...em favor dos homens e mulheres de cada tempo...na Moita e arredores, envolvendo tanta generosidade e dedicação...até escondida da visibilidade humana e social. Que Deus recompense a todos e a cada um/uma!

= Ora, têm surgido, nos tempos mais recentes, várias nuvens no céu do Centro Paroquial, umas provenientes das dificuldades económico-financeiras das famílias e do estado geral do país, outras semeadas por algumas pessoas de quem dispensávamos que tivessem feito tal papel, nalguns casos de forma explícita, noutras situações de modo camuflado e até na sombra.
Gostaríamos de exprimir o nosso profundo e razoável desagrado por tanto mal que têm feito ao Centro Paroquial, pois se não nos unirmos, como cristãos, católicos e como verdadeiros irmãos e irmãs em Jesus, em particular, estaremos a dar sinais aos que não querem que a Igreja prossiga na sua tarefa evangelizadora através da educação desde a mais tenra idade e pelo acolhimento aos mais velhos, abandonados e esquecidos em momento finais da vida.

= Urge, por isso, fazer todo o esforço para que Paróquia e Centro Paroquial remem para o mesmo lado e com movimentos concertados. Não podemos permitir que possa haver um só que seja dos cristãos que vão à missa (e não só) que não sinta o Centro Paroquial como ação da caridade da Igreja em favor dos mais desfavorecidos...
Ninguém é ‘dono’ da ajuda a ninguém. Pois, só numa articulação humilde e de serviço é que podemos prosseguir o que nos últimos 63 anos foi semeado...com algum sangue, muito suor e bastantes lágrimas.
Queira Deus que sejamos dignos de continuar, segundo a nossa capacidade, a viver no bem a fazer de forma gratuita... sem preconceitos, sem julgamentos  ou promoções escusadas!

António Sílvio Couto

terça-feira, 26 de maio de 2015

Cidadãos, podemos?



As recentes eleições municipais e regionais, em Espanha, tiveram, na possibilidade de escolha, dois ‘novos’ partidos – Ciudadanos e Podemos – que retiraram mais de dois milhões de votos aos partidos ‘antigos’, criando nalgumas circunscrições eleitorais novos desafios, particularmente, na governabilidade de municípios e regiões.

Embora sejam dois ‘partidos’ à maneira do Syrisa grego – isto é, muitas sensibilidades culturais e ideológicas, aglutinadas à volta da contestação, sobretudo, à austeridade – os ‘fenómenos’ espanhóis revelam-nos uma nova forma de intervir na política nacional, europeia e transnacional.

Deixamos ao interesse de quem se quiser informar sobre aqueles dois partidos ‘novos’ espanhóis, mas queremos servir-nos das duas palavras (com os conceitos que contém) – Cidadãos e Podemos – para tecer algumas considerações sobre a situação político-ideológica dos nossos dias e neste tempo algo fugaz, nebuloso e desafiante.  

1. Cidadãos

Desde logo ‘cidadão’ é aquele que vive na cidade, que foi e é civilizado, que constrói e se compromete com a cidade onde vive e a ajuda a engrandecer...ativa e civicamente.

Cidade contrasta com ‘pagus’ (campo), seja na ruralidade que apresenta, seja na (possível) não-civilização em que pode viver. É dos aspetos cristãos mais básicos esse duma certa oposição de ‘pagão – não batizado nem cristianizado – ao de ‘cidadão’ – aquele que vive na cidade, civilizado e, tendencialmente, batizado, isto é, cristão. Assim, durante muitos séculos, ser cidadão como que equivaleria a ser cristão e pagão seria alguém a civilizar, atraindo às regras da cidade...numa cristandade mais ou menos difusa e difundida.

Ora, particularmente, após a Idade Média, o renascimento, a reforma, o iluminismo, a revolução francesa... foi sendo introduzida uma certa civilização humanista, tendencialmente, não-cristã – senão mesmo anticristã – relegando a cidadania para uma dimensão mais individualista, racionalista e egoísta.

No entanto, cidadania é muito mais do que aquilo que cada um deseja, pois os cidadãos são pessoas em relação com os outros e não meras ilhas justapostas onde os interesses de grupo se impõem ao coletivo, mas também este não poderá ser a soma das simples ideias de contestatários mais altissonantes...como agora podemos perceber. Por seu turno, a cidadania não pode ser intentada contra Deus ou como se Ele não existisse, pois, será, na abertura ao divino, que o humano se valoriza e faz com que os cidadãos se respeitem e cuidem altruística, fraterna e solidariamente.   

2. Podemos

Este termo ‘podemos’ como que nos confere a todos e a cada um a possibilidade de sermos construtores da nossa sociedade, onde cada qual vê os outros olhos-nos-olhos e não em deferência de subalternidade ou em paternalismo de inferiorização. Com efeito, há circunstâncias que nos fazem lutar pela dignificação dos outros e com isso podemos servir num humanismo verdadeiro e sincero nessa linguagem de promoção dos valores humanos e culturais do bem comum, da subsidiariedade, da justiça, da paz, etc.

Numa Europa que vive em paz – em relação ao todo do continente, embora com exceção nalgumas partes (Balcãs e antiga URSS) – há mais de sessenta anos, temos de saber construir uma civilização onde não tenhamos de viver só ao sabor do materialismo pessoal, familiar, de critérios...no coletivo ou no particular.

Não podemos permitir que, depois da cristandade profana, se difunda uma cidadania somente agnóstica, ateia e anticristã. Não podemos deixar que reduzam as Igrejas a interfaces de socorro sem a comunicação de valores espirituais e cristãos. Não podemos continuar a viver numa sociedade anónima sem direito a poder comunicar livremente a razão da nossa esperança e do nosso compromisso político em favor de todos...sem esquecer nem explorar os mais desfavorecidos.

Está na hora de os cidadãos saberem dizer: junto e unidos podemos fazer melhor com a ajuda de Deus e uns dos outros.

 

António Sílvio Couto

quarta-feira, 20 de maio de 2015

No funeral de um ‘ateu’...religiosamente


Nos quase trinta e dois anos de ministério de padre, já estive – mesmo certamente sem o saber de forma explícita – em funerais de pessoas sem fé, sem religião, sem crença e talvez – em razão das opções ideológicas – sem Deus... No entanto, como vamos sempre aprendendo com as nuances da vida, não terei estado – clara, distinta e assumidamente – nas exéquias (no sentido lato e confuso) dum ateu... (dito) confesso e mais ou menos assumido. Por isso, a razão da presença num funeral como este só poderá sem entendida em relação à família...tenuemente cristã.

= Não está em causa a situação em presença, mas antes uma tentativa de interpretar como devemos estar, numa oportunidade onde as diversas intervenções de oração não têm em conta quem morreu – como na maior parte dos outros casos normais e corretos – mas quem está ferido, magoado ou confuso sobre a situação da morte de um familiar, amigo ou meramente conhecido.

= Embora esta situação seja mais explícita, tem havido tantos outros momentos e vivências em que a não-fé percorre a atitude da maioria dos presentes aos atos duma certa religião funerária... Isso se percebe desde a convivência social – muitos só se encontram nessas ocasiões – até à recorrência de simbologias, umas ainda com teor cristão e outras mais anódinas e laicistas.

= Reparemos como, num espaço relativamente rápido – duas no máximo três décadas – se vulgarizou a situação de velório fora da casa de habitação normal, recorrendo aos serviços públicos – muitos deles ligados às paróquias católicas – embora em espaços de incidência particular... Com efeito, crentes ou não crentes – cristãos, católicos ou agnósticos – ocupam os mesmos espaços, sem que o caixilho da foto condiga com a paisagem onde está inserido!...

= Em localidades mais ou menos envelhecidas é normal passarem pela casa mortuária – espaço de velório, capela da ressurreição ou com qualquer outra denominação menos fúnebre – mais de duas centenas de pessoas por ano. A percentagem dos ‘católicos praticantes’ – defuntos ou familiares – é muito reduzida. Numa grande parte dos casos este momento de vida está confiado às ‘empresas’ funerárias, onde até o (dito) serviço religioso está incluído no mesmo pacote à mistura com as flores, o caixão, os documentos civis e os adereços mais ou menos sociais.

= Quanta minudência se desenrola em volta do ‘negócio’ da morte. Não dizemos isto por razões negativas, mas como tentativa de encontrar mais soluções do que acusações. De facto, a nossa vida desenrola-se por entre tantos parâmetros que quase nos podemos perder se não tivermos referências de fé, de família e de fraternidade. Referências de fé, pois esta, embora não valha, normalmente, nada, em momentos como a morte pode dar sentido à nossa vida. Referências de família na medida em que à volta de circunstâncias da morte como que se reúne toda a família de sangue e mesmo com sentido lato de Igreja. Referências de fraternidade, dado que será à luz da comunhão de irmãos na mesma fé que podemos e devemos amparar-nos, de cuidar-nos uns dos outros, por ocasião do falecimento de alguém a quem nos unem simples laços de fé em Cristo na Igreja católica.   

= Mesmo que de forma simples, poderemos considerar que a morte pode ser – como o foi para tantos e inúmeros santos e santas – uma oportunidade de conversão, assim nós o permitíssemos com humildade, com verdade e com abertura à dimensão do divino em nós e à nossa volta.

Deixamos uma breve citação do evangelho, como sugestão, para as ocasiões de morte de alguém: «Vinde a Mim todos vós que andais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei. Aprendei de Mim porque sou manso e humilde de coração» (Mt 11,28-29).

 

António Sílvio Couto

terça-feira, 19 de maio de 2015

Combate à pobreza


A ‘rede europeia antipobreza’ na componente portuguesa quer colocar, mais claramente, o tema da pobreza na agenda dos partidos políticos...desde a mentalização até à legislação, passando por medidas concretas de combate ao flagelo da pobreza no nosso país.

A partir do manifesto «compromisso para uma estratégia nacional de erradicação da pobreza» preconiza-se uma espécie dum pacto em ordem a fazer da erradicação da pobreza ‘a primeira e a mais urgente prioridade nacional’.

A taxa de pobreza no nosso país teve uma evolução negativa: de 19,9% em 2009 para 19,5% em 2013, tendo a expressão em euros de 434 para 411 neste mesmo período de tempo...tão somente em quatro anos.

Políticas sociais, económicas e financeiras podem e devem esmerar-se no combate à pobreza, sendo mesmo proposto pela rede europeia antipobreza – Portugal a que, nada que possa aumentar a pobreza, saía do Parlamento, querendo com isso significar que se passaria da prática à teoria, isto é, que a erradicação da pobreza estaria, desde logo, na mente do legislador, criando um observatório no âmbito legislativo e na prossecução de iniciativas de saída do espaço social e psicológico da pobreza e da marginalização.

1. Pobreza alimenta muita gente

Parece um contrassenso, mas o estado de pobreza vai alimentando muita gente, desde o nível político até à dimensão sindical, sem esquecer imensas associações e iniciativas (ditas) socio-solidárias...mesmo no âmbito das igrejas.

Que seria dos partidos políticos, se lhes retirassem os pobres, como público-alvo? Efetivamente, os partidos políticos – seja lá a cor ou ideologia que for – perderiam a possibilidade de venderem ilusões e de intentarem promessas mais ou menos exequíveis...na verborreia de campanha eleitoral.

Idêntica necessidade têm os sindicalistas, pois, sem a contestação às condições menos boas dos seus filiados, perderiam a capacidade de mobilização, que, às vezes, se nivela mais pela riqueza do que pela insuficiência de meios e de proventos... Valeria a pena intentar saber as fortunas de certos sindicalistas para percebermos melhor a rotina com que fazem greve, o modo como condicionam a vida dos que trabalham e até os meios que mobilizam nas contestações...onde eles quase nunca perdem, pois são pagos pela estrutura sindical!

Não será ainda de menosprezar que sejam conhecidas as faturas de certas entidades que trabalham com os mais pobres. Com efeito, há situações para quem a miséria alheia é um certo fator de promoção social e mesmo profissional. Hoje, já não se discute quem são ‘os meus pobres’ – como faziam as senhoras de caridade em tempos mais recuados – mas em quantos gabinetes parece que se equacionam como os pobres são instrumentalizados para que estejam à nossa porta nos dias de avio e em circunstâncias de atendimento... Nem tudo muda, à exceção dos figurantes mais ou menos cadavéricos ou obesos!

2. Pobreza: circuito poderá ser corrigido?

Há uma pergunta que nos deveria inquietar, a todos, seja qual for a nossa condição económica, profissional, etária ou social: como poderemos corrigir o percurso de tantos dos pobres do nosso tempo? Efetivamente, há pessoas que nasceram na pobreza e, como que de forma irremediável, reproduzirão pobreza...seja ela psicológica, económica ou até em condições espirituais. Imensas situações são de tal forma graves que só uma revolução estrutural e/ou civilizacional poderá modificar as causas e atenuar as consequências de certas situações de pobreza...manifesta ou envergonhada.  

Como referem alguns peritos – sociólogos, antropólogos e pensadores – mesmo ligados à Igreja católica, temos de tentar modificar a matriz de onde parte esta onda de pobreza, que, atendendo às dificuldades mais recentes, continuam a pulverizar a nossa sociedade...atingindo, segundo alguns números disponíveis, um em cada cinco portugueses...num total de dois milhões de pessoas em dificuldade explícita ou intentada.

Temos de ser honestos e verdadeiros: não serão certas propostas eleitorais, que irão vencer esta tendência...até porque em momentos idênticos no passado só criaram ilusões e mais tarde fraude e bancarrota, que ainda estamos a pagar. Haja verdade em todos e para todos, já!

 

António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Que fé se manifesta em Fátima?


Partamos de factos simples e (quase) inocentes. Ao meio da tarde da véspera do dia 13 de maio partiram da moita cerca de duas centenas de excursionistas/peregrinos para Fátima...rumo à noite de vigília (vulgo procissão das velas)... Mais de dois terços dos integrantes dos quatro autocarros não são praticantes da fé católica na paróquia de onde saem...

Desde logo me surgiram várias questões – umas mais rebuscadas e outras mais recorrentes; umas um tanto desagradáveis e outras mais ou menos inofensivas; umas mais do plano eclesiástico e outras tendo em conta a dimensão eclesial – deixamos, por isso, breves exemplos: Que leva esta gente a ir a um ato que só se entende numa fé cristã/católica minimamente esclarecida? Que motiva estas pessoas irem a Fátima – mesmo regressando por alta madrugada – algo de divino ou qualquer coisa mais tradicional? Por que razão estas pessoas ‘fogem’ da fé próxima e vão praticá-la à distância? Que ligação tem esta experiência religiosa se não tem raízes (visíveis) nos espaços em que vivem?

Fique claro que em nada deste questionamento está juízo algum sobre nenhuma pessoa em concreto, mas tão- somente uma tentativa de tentar enquadrar tudo isto na relativa multidão dos ‘peregrinos de Fátima’, sejam eles centenas ou milhares...fossem até milhões.

Fique ainda mais esclarecido que raramente me enquadro em peregrinações de grande multidão – das ditas ‘aniversárias’ (de maio a outubro) sou mesmo pouco frequentador – se bem quem tenha estado nalgumas suficientemente significativas da vinda dos papas ao santuário...

As observações que pretendo apresentar são somente de índole de reflexão, em ordem a fazermos do ‘altar do mundo’ – como lhe chamou Paulo VI – uma experiência de fé sincera, esclarecida e comprometida...agora e para o futuro.

1. Muito daquilo que acontece em Fátima está eivado mais de religiosidade popular e, em certas circunstâncias, vive dum razoável mimetismo cristão, de onde culturalmente temos evoluído muito pouco. Na maior parte dos casos as pessoas rezam particularmente por si mesmas e pelas suas intenções, deixando-se pouco envolver pela dimensão comunitária, embora a multidão circunstancial possa (até) ofuscar os sinais mais significativos...de sermos muitos juntos, embora não unidos. Quantas vezes as pessoas deambulam cumprindo as suas promessas por entre as celebrações (pretensamente) comunitárias... Quantas vezes os ritos pessoais têm dificuldade em serem inseridos nos aspetos com os outros... Até as esmolas – boa fonte de receita do santuário – são vividas mais num quadro de cumprimento de promessas do que na vivência mais coletiva... Quem viu alguma vez ser feito um peditório nas missas do santuário? E mesmo o ofertório nas missas oficiais só tem maior expressão na recolha do trigo na peregrinação de agosto...e mesmo assim reduzido quase à diocese de Leiria...

2. Possivelmente o que há de mais grave na ritualização da fé – se de tal se tratar corretamente – em Fátima é uma vertente de descompromisso com os outros...depois de ali terem estado. Velas e rezas, ‘avé-marias’ e lenços a dizer ‘adeus’, flores e jaculatórias...podem dar consolo a muitas almas, mas talvez não criem uma onda de fraternidade, de solidariedade e de compromisso político após as celebrações na Cova de Iria.

Nossa Senhora salvou Portugal do perigo da ditadura do materialismo (comunismo), mas só poderá ser novamente um baluarte da nova evangelização – que é muito mais do que uma recristianização – se mergulhar e fizer aprofundar a mensagem de Fátima no seu sentido mais genuíno e teológico...

3. Agora que caminhamos para a celebração do primeiro centenário das aparições de Nossa Senhora não deixa de ser significativo que tenha sido lançado o símbolo do coração como elemento representativo e propulsor duma nova dinâmica de Fátima para o mundo...enquadrada no jubileu da misericórdia e na visita da «imagem peregrina» às várias dioceses... Que seja Ela a visitar-nos e não nós a fazermos atos de religião tradicionais de visitação à imagem quando nos tocar em sorte tê-la por perto... Inovação na fé, precisa-se!

 

António Sílvio Couto

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Numa certa pilantropia


É isso mesmo. Não é erro ortográfico...embora o dicionário não reconheça, imediatamente, a palavra... A intenção é lançar dados sobre uma certa cultura dos pilantras...ocupem eles os lugares em que estejam ou se insinuam, não deixarão de ser isso mesmo, pilantras!

Se consultarmos a internet lemos que definição de pilantra significa pessoa desonesta ou vigarista, sendo usado, ao nível popular, para designar alguém com comportamento enganador, que pratica ações em que colocam em causa a sua própria honestidade. Usa-se ainda o termo ‘pilantra’ para referir-se a alguém que aparenta ser diferente daquilo que é na realidade... associando-se, neste aspeto, a alguém que pode viver ou fomentar a corrupção, a mentira, a vigarice ou até o roubo...onde ele é, normalmente, o mais beneficiado.

Embora este termo tenha uma conotação um tanto de telenovela à brasileira, esta cultura vai ganhando foros de cidadania no nosso mundo à portuguesa.

= Digamos que a pilantropia pode ser vista como uma mentalidade em que se promove – de forma ativa ou passiva, por si ou por outrem – quem menos vale, mas que se faz valer, usando o espaço de intervenção como nova oportunidade de capitalizar algo em seu benefício, proveito e beneficiação. Quantas vezes vemos uns tantos colocarem-se em ‘bicos de pés’ – pois a estatura mais moral do que física – não os deixa verem e serem vistos, tanto nos seus ambientes como nas suas razoáveis pretensões.

= Esta pilantropia perpassa quase todos os setores da nossa vida pública, desde o ambiente sindical até ao espaço das empresas (mesmo nas privadas), da comunicação social até ao mundo artístico, das associações e coletividades até à política (partidária ou dita independente), nas autarquias ou no governo central (agora ou no futuro), nas agremiações civis ou nos organismos religiosos...vemos tantos pilantras, que só uma boa capacidade de auto-observação poderá atenuar o que nos infesta e contagia.

= Temos a sensação de que algo está podre na nossa cultura (dita) ocidental, pois muitos dos que emergem para assumir lugares de decisão e de poder começam a ser os que têm menos qualidades, enquanto os que poderiam estar nesses lugares de autoridade afastam-se ou fogem, pois não querem ver as suas vidas devassadas por certos pilantras de serviço... Não será preciso ir à casa dos vizinhos para vermos o que lá se passa, bastará estarmos atentos ao que acontece na nossa casa e veremos imensos pilantras pavoneando-se nas redes sociais, nos espaços da vida pública, fazendo-se ver e sendo vistos...mais do que era necessário ou suficiente.

= O nível cultural do nosso tempo tem vindo a ser nivelado mais pelos pés em vez de vivermos no incentivo a que se promova o que eleva e faça crescer humana, intelectual e até civicamente. Com alguma regularidade podemos ver certas figuras a conseguirem carreira à custa da ignorância dos outros, iludindo e sendo ludibriados. Bastará ver o que aconteceu no setor da banca, seja nos banqueiros, seja nos depositantes: quanta gente pretendia ser vendedor de ilusões de riqueza (mais ou menos) fácil e agora fazem carpir as mágoas de tudo ter perdido. Não será isto um sinal dessa pilantropia reinante e afundada?

= Na dimensão social – talvez se possa designar de solidariedade de substituição – vemos uns tantos a sobreporem-se aos necessitados, fazendo-os novos famintos e agradecidos por receberem em esmola o que lhes é devido por justiça. Há muita gente presa pela boca!... Não será isto uma espécie de tentáculo dessa pilantropia mais ou menos camuflada de subsídio ou de rendimento não trabalhado?

De facto, gostaríamos de viver numa sociedade mais filantrópica do que pilantrópica, pois aquela faz-nos sentir irmanados – mesmo nas dificuldades – e esta acentua mais o que divide, isto é, promovendo a habilidade e esperteza e não tanto a inteligência pela competência pessoal e coletiva.

Pilantropia, não, obrigado!
 

António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

terça-feira, 5 de maio de 2015

Emprego ou pensões...onde crescer/cortar?


A segurança social só se reequilibra, criando emprego ou cortando nas pensões... E para criar emprego é vital pôr a economia a mexer... Não há milagres, se se baixar a taxa social única e a economia não pegar, a segurança social fica péssima...

Quem disse isto, por estes dias, foi o mentor económico do programa socialista a apresentar às próximas eleições legislativas, Mário Centeno, consultor ainda do Banco de Portugal.

= Torna-se um tanto claro que quem quiser ser levado a sério nas próximas eleições legislativas terá de ser honesto naquilo que diz e, sobretudo, na forma como pretende conseguir aquilo que propõe... Será mesmo de evitar a palavra ‘promessas’, pois que está tão desgastada que poucos a acreditarão, tanto na forma como no conteúdo. Basta de malabarismos de fim de feira, pois outros (mais cedo do que tarde) terão de pagar a fatura mesmo sem disso ser responsáveis.

= Poderá soar a demagogia – agora usa-se mais o termo populismo – contrapor austeridade a crescimento... seja económico, seja na estabilidade social e de emprego. Com efeito, quiseram-nos vender a ideia de austeridade era só um regime temporário e que, passado esse tempo de dificuldades, voltaríamos (ou voltaremos) a poder gastar sem olhar a meios, pois alguém pagará a conta... Nada de mais errado e mentiroso. A austeridade tem de ser (por mais tempo) um sistema de vivência das pessoas, das famílias, das empresas e mesmo do Estado... Não podemos viver num despesismo que não tenha controlo nem podemos pensar e, sobretudo, viver como se as nossas opções, atos e comportamentos não tenham de ser equilibrados com os meios de que dispomos... O resto será mentir ou iludir incautos e/ou preguiçosos.
 
= Já não volta mais o tempo dum emprego estável e muito menos para toda a vida. A capacidade de adaptação a novas realidades torna-nos muito mais vulneráveis, pois podemos deitar-nos com um posto de trabalho e na manhã seguinte sermos dos dispensados ou mesmo despedidos...por maior ou menor duração. E isto não é só no campo das atividades produtivas, também nas de dimensão humana e social estamos em permanente indecisão sobre o futuro. Aqui se adequa a expressão bíblica: a cada dia as suas preocupações! E nem o setor da função pública estará defendido desta incerteza, pois o empregador também tem de gerir os custos e gastos.

= Há, no entanto, quadros de leitura que nos fazem ser realistas, pois o emprego não cresce por decreto – como alguns parecem fazer crer – nem a disponibilidade de investimento surge sem garantias de estabilidade social, económica e até política. A natalidade é, por isso, um dos itens mais sensíveis para o crescimento... no próximo futuro. Quando no nosso país se preferiu investir no aborto – até como método anticoncetivo – do que em políticas de natalidade!... Teremos de pagar as consequências de tais desvarios. Somos dos países da Europa onde o ‘inverno demográfico’ mais consequências tem provocado. Se isto aconteceu em duas décadas, para recuperarmos o perdido levaremos pelo menos três décadas, isto é, só por volta de 2040 é que poderemos voltar ao ponto de partida, recompondo o que foi estragado com tanto egoísmo e insensatez...

= Atendamos ainda à fase da velhice. Cresce a longevidade – ainda bem – mas criaram-se novos problemas para os quais não estávamos preparados. Continuou-se a viver num estilo de família que perdeu o respeito pelos mais velhos. O afã do emprego de todos para conquistar melhores condições de vida não foi avaliado nem cuidado. Surgiram novos desafios à família em ordem a atender aos mais velhos, vulgarizando os ‘lares’ de velhos e potenciando problemas de relacionamento entre gerações... É preciso ter meios para sustentar as pensões de velhice – bem como outras regalias sociais mínimas – e os meios escasseiam. Por isso, as propostas feitas pelos agentes partidários podem ser boas ao ouvido, mas serão amargas na vida se não se modificarem as ideias em ebulição... Sejamos sérios, serenos e sábios no tratamento destes problemas, já!

 

António Sílvio Couto