Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



quarta-feira, 27 de julho de 2016

Censura às notícias…de atentados, já!


Dá a impressão que a proliferação de notícias sobre os mais recentes atentados – terroristas ou de atos de doentes psíquicos, sobretudo na França e na Alemanha – têm de ter uma outra forma de serem encarados, pois apresentá-los quase em direto permanente já deu para perceber que não é a melhor forma de precaver outros… casos e situações.

Num dos episódios – o de Munique, na Alemanha – houve mesmo uma filtragem das informações e alguma contensão nas imagens, sendo quase tudo controlado pelas forças policiais. Noutros casos foi aconselhado a que houvesse o mínimo de imagens… de tão agressivas que eram.

Poder-se-á dizer que está instalado o medo – essa arma tão feroz e contundente com que é fácil vencer os mais afoitos e/ou temerosos – entre as populações e nem a (pretensa) distância dos acontecimentos nos deixa alguma serenidade ou consolação.

Não podemos continuar a viver nesta intoxicação de alguns órgãos de comunicação ou atos individuais de ‘cidadãos mais atrevidos’ em que por tudo e por nada se está a difundir o que há de mais macabro ou funesto. Não podemos permitir que nos queiram vender uma certa exploração dos sentimentos mais suscetíveis da nossa contingência humana e social. Não podemos querer saber tudo como se vivêssemos num varandim – de casa ou do écran (televisivo, do computador ou do tlm) – por onde desfilam as misérias dos outros e nós as vemos como meros espetadores da sua desgraça! 

= As armas de fogo têm vindo a ser substituídas pelo fogo da perceção de que ninguém está, à partida, imune a que possa ser notícia – seja qual for a razão ou o local – pelas mais abjetas razões. Com efeito, a invasão da privacidade deixou de estar reduzida à periferia da vizinhança para se estender aonde alguém possa ter acesso à informação, particularmente àquela que possa melindrar ou até ofender os outros.

Cada vez mais são precisos critérios éticos para que nos possamos conduzir neste tempo do ‘vale tudo’. Se à comunicação social se pode e deve exigir que cumpra o código deontológico, aos muitos particulares que se armam em noticiadores não parece que se possa ter idêntica capacidade de conduta… senão a de haver regras, punições e valores, tanto dos intervenientes como das autoridades, se é que as há, de verdade. 

= No quadro da União Europeia temos urgência em que se criem e ponham a funcionar apertados critérios de difusão de notícias e imagens que possam não dar de vencida armas para aqueles que têm vindo a semear o medo, usando as mais díspares armas: de guerra, de atemorização, de condicionamento… feitas por grupos organizados ou por atos individuais… com motivações assumidas ou por gestos esporádicos… atingindo setores da sociedade, organizações públicas ou pessoas indefesas e sem relação com os objetivos presumidos… sejam quais forem as fronteiras ou até mesmo as culturas.

Estamos, hoje, mais do que no passado, todos indistintamente sob a mira de tantas forças que nos podem condicionar a vida e a sua expressão normal. Será, por isso, importante saber equilibrar a liberdade com a segurança, deixando que uma e outra não se excluam, mas antes se equilibrem para o bem-estar de todos. 

= Há uma censura que todos podemos exercer: a de não visionamento ou a de não-tomada de conhecimento das notícias que nos fazem estar em maior insegurança… interior e exterior. Isto não significa abstrair-se das coisas, mas antes tentar ainda viver nalgum equilíbrio para que não sejamos todos engolidos pela ferocidade do medo e da desconfiança uns nos outros e, possivelmente, de nós mesmos.

Parece ter chegado a hora de abandonarmos a acusação de que muitos destes acontecimentos de morte e de terror são só marca da religião, pois em muitos deles a religião é meramente um fait-divers e não uma razão essencial. Aos que ainda estão nessa leitura ideológica talvez devam refletir sobre as suas razões de vida e não tentem encontrar fantasmas do passado para exorcizarem seus paradigmas já ultrapassados na História e na Cultura.

Cuidemos do nosso futuro com atitudes de verdade no presente!

 

António Sílvio Couto



segunda-feira, 25 de julho de 2016

Num certo terrorismo à la carte!


Por estes dias – digamos nas duas últimas semanas – vivemos uma espécie de terrorismo à la carte, isto é, conforme cada um quer e deseja, prevê ou interpreta, vê e consente…

O facto mais revelador desta intentona terrorista foi servido na noite da passada sexta-feira, dia 22 de julho, com as arrojadas leituras sobre um tal ato tresloucado dum rapaz com dezoito anos e com vítimas – ainda não se sabe qual o verdadeiro enquadramento – ocasionais ou escolhidas.

Foi, no entanto, patético muito daquilo que foi dito e insinuado nos canais de televisão nacionais e estrangeiros, umas vezes tentando colar o acontecimento a fações terroristas internacionais e noutras vezes alinhando pela conspiração dos nacionalismos, sobretudo, xenófobos e de extrema-direita… excluindo outras colorações partidárias e ideológicas bem mais abespinhadas e contundentes nas palavras e nas ações… A quem tentam iludir: a eles mesmos ou a nós? A quem servem nas leituras pretensamente feitas: aos donos dos órgãos de informação ou ao público em geral? A quem estão ligados os noticiadores: aos que lhes pagam ou a quem precisa de ser informado com isenção e com maior independência?

Dá a impressão que, em muitos dos relatos e reportagens sobre os acontecimentos mais recentes, se nota uma capciosa intenção de quererem que, quem ouve, quem vê e quem lê, fique com o filtro distorcido de fações noticiosas e manipuladoras… ao perto e ao longe.

Ora, nem sequer a mortandade resultante do abalroamento em Nice (França) escapa à tentativa de nos quererem dizer que o autor estaria conotado com forças mais ou menos subterrâneas… Com efeito, a exploração doentia de tais acidentes revela que ainda vivemos numa fase insípida de evolução da humanidade, a qual parece que se compraz em ver sangue e em ser explorada nos sentimentos mais básicos da nossa condição de fragilidade e de contingência… Nem nas corridas de toiros se enfatiza tanto esse filão sanguinário e sádico! 

= Desde 11 de setembro de 2001, com o ataque às ‘torres gémeas’, em Nova Iorque, que temos vindo a assistir à radicalização de muitos atentados, desde Inglaterra a Espanha, em países africanos com proximidade ao Ocidente – tanto na bacia do Mediterrâneo como na África sul-sariana – ou passando por França – vários nos últimos dois anos – e Bélgica, no próximo e no médio Oriente, acrescentando na Turquia e nos países de influência do autodenominado Daesh, sem esquecermos os múltiplos atentados evitados ou sem publicidade… temos estado a viver numa cada vez maior insegurança de pessoas e de nações, de culturas e de religiões, de povos e de condutas em pretensa democracia ou roçando as ditaduras.

Efetivamente há quem tenha excluído Deus da vida de pessoas e de comunidades, mas que foram introduzindo cada vez mais medos, que manipulam e que servem a gosto, pois assim sabem que podem controlar os mais vulneráveis e suscetíveis de serem aliciados pela causa da ‘nova era’… numa pseudolibertação da religião, mas criando outros tentáculos mais aliciantes e aliciadores… no conteúdo e na forma. 

= Este terrorismo à la carte serve bem os intentos dos mais poderosos económica e financeiramente, pois sabem que as pessoas podem ser conquistadas pela boca, isto é, por aquilo que se lhes dá de comer ou que favorecem os prazeres epicuristas reinantes. Veja-se a forma subtil com que os festivais de comida e de bebida, de música e de recursos aos desejos mais libidinosos, de musicalidade e de danceteria, de religiosidades e de festivais… vão pululando país afora. Reparemos com que (aparente) normalidade é mais fácil conquistar pessoas para programas de diversão do que de religião… nalguns casos mais tradicional do que vivencial.

Nem tudo é uniforme ao longo do país, mas, em muitos casos, parece ser mais fácil cativar público para iniciativas onde os prazeres da carne – e não estamos a falar no conceito mais moralista do termo – são servidos e exercitados do que para momentos psicológicos e espirituais onde a dignidade humana possa acrescentar algo à condição terrena da nossa vivência mais normal e natural. Tal como noutras épocas parece que nem tudo o que se diz/faz corresponde à verdade… 

 

António Sílvio Couto 



quinta-feira, 21 de julho de 2016

Crispações Entre Sensibilidades


Os mais recentes episódios da nossa vida comum – política e social, desportiva e económica, interna e exterior, declarada ou presumida – têm vindo a manifestar mais acentuadamente crispações entre sensibilidades (as letras iniciais desta expressão são: CES, que por estes dias também queria dizer: conselho económico e social… cuja pretenso presidente substituto falhou a votação!).

Olhemos, então, para este ‘fato político’ para tentarmos penetrar nos meandros daquilo que são essas crispações… ainda não resolvidas desde as eleições legislativas anteriores.

Com que veemência vimos um responsável partidário, nas funções de tal e no local do seu reinado, a assumir uma tal atitude trauliteira – tinha tanto de azedume, quanto de indisfarçável incómodo – disparando contra tudo e contra todos, suspeitando da ética daqueles com quem tinham (pretensamente) feito acordo e, sobretudo, deixando cair uma certa máscara de ditadorzito provindo doutras latitudes e governanças…

Por outras façanhas temos de perceber que tal senhor não gosta de ser contrariado ou está tão falho da convicção e/ou razão que precisa de ofender, mesmo os eleitores e cidadãos mais desatentos! Se a ameaça for levada a sério, outras eleições para órgãos de designação do parlamento parecem comprometidas ao falhanço, pois o tal senhor não gostou de ser derrotado…mesmo que as votações sejam secretas e não se saiba quem votou em quem!

Já agora como é que uma pessoa sobretudo ligada ao setor da saúde – desde a formação geral e específica até às lides governativas – aparece agora a ser designada para dirigir um conselho que tem por tarefas nas áreas da economia e da concertação social? Bastará ser quem se propõe para que se torne capaz de exercer a função? Ou bastará a sigla partidária para adquirir competência em matérias tão exigentes e específicas?

A ver pelas reações dos não-vencedores parece que algo foi obstruído com não ter sido este o eleito. Dá a impressão que não é deste modo que conseguimos ter, de verdade, uma sociedade onde sejamos governados mais em razão da meritocracia e menos pela dependência partidária… Assim, continuaremos num subdesenvolvimento cultural e social cada vez mais a atrasarmos do resto da Europa! 

= Outro setor onde temos visto crispações entre sensibilidades é no desporto… e no futebol em particular. Não dizemos da clubite, mas tão simplesmente na escolha dos jogadores para representarem a seleção nacional nos jogos olímpicos, a decorrerem dentro de dias no Rio de Janeiro. Ao que parece foram precisos cinquenta e sete (57) telefonemas para conseguir o selecionador recolher o assentimento de vinte e dois jogadores disponíveis para irem com tudo pago ao Brasil.

Dá impressão que o sentimento de nacionalidade só atinge os grandes – dizem-se seniores… nos ganhos e nos proventos – e não cativa os que ainda não têm nome nem curriculum nas lides das vitórias. Agora que a ‘onda do ganhar’ estava voltada para o nosso lado, parece que vamos perder nova oportunidade porque uns tantos dirigentes e outros intervenientes subterrâneos não querem nem aceitam colaborar.   

= Que dizer ainda das crispações entre sensibilidades quando um português foi escolhido para ocupar um cargo – dizem que não executivo – numa instância económica de âmbito mundial? As turquesas ideológicas logo saíram para o combate… e nem as diferenças de nacionalidade deram tréguas ao dito. Até na torturada França com atentados e quezílias socioeconómicas os dirigentes políticos fizeram mais força nessa luta do que na prevenção e dissuasão do terrorismo… Bastará também ouvir certos deputados no parlamento (dito) europeu – onde pontificam certas aguerridas do nosso pobre e insignificante país – para percebermos que lá como cá são as tricas ideológicas que valem e não as razões de qualidade e competência. 

Vivemos num tempo onde se procura mais o que desune e menos o que faz conciliação. Neste ambiente encontramos figuras que só aceitam o que lhe dá interesse e menos aquilo que deve contribuir para a paz e a harmonia entre povos, culturas e sensibilidades.

Já há empecilhos na engrenagem da geringonça. Não o veem ou não o querem ver? Antes cedo que tarde teremos novos factos e episódios… até ao desconchavo total… O povo é que vai sofrer, outra vez! 

 

António Sílvio Couto


segunda-feira, 18 de julho de 2016

Batizámos… e depois?


Eis um episódio da vida de quem está nas tribulações de pároco… Sobretudo tendo em conta trinta e três anos de padre – quase dezanove ao sul do Tejo – e com muito a aprender… mesmo nas coisas mais simples e aparentemente insignificantes!

Por estes dias tive quatro batizados – todos de crianças (mais novas ou mais velhas) do sexo feminino! – onde a maioria dos pais – três mães e um pai – não eram batizados e metade dos apresentados para padrinhos/madrinhas também não tinham recebido o batismo… todas estavam na dupla função: de mãe e de (pretensa) madrinha… uma até era mãe de gémeas!

Talvez nem tudo tenha estado em conformidade com os cânones… em vigor. No entanto, houve e há razões mais ou menos razoáveis para que tenham acontecido aqueles batizados. Desde logo temos de atender à pequena luzinha que ainda bruxuleia – como tal belamente diz o profeta Isaías – no coração e na vontade daqueles pais, que, não tendo recebido o batismo, o querem oferecer a seus filhos e filhas… Quem somos nós – na nossa pretensa autoridade e saber – para recusarmos o dom da graça divina aquelas crianças apresentadas à mãe-Igreja? Teremos de as tratar com maternidade ou com trejeitos de madrasta?  

= Por estes dias vimos a celebração do batismo de um adulto – por sinal jogador de futebol, campeão europeu e figura muito popular – em conjunto com os seus filhos ainda crianças a ser batizado, tanto quanto era percetível à maneira da celebração das crianças. Não deveria ter sido segundo o ritual de adultos, podendo as crianças viver a celebração no ritmo equiparado aos dos adultos? Tanto quanto se pode ver foi o contrário: o adulto teve uma celebração na incidência das crianças! Também aqui podemos e devemos tentar ver o que é mais adequado, dada a significação e o possível caminho de fé e a sua vivência na Igreja católica. Não será que aquelas imagens podem ser mais evangelizadoras do que tantas das nossas reuniões e preparações? Quem será capaz de proferir um juízo – acertado e assertivo – sobre a forma e o conteúdo dessas imagens, vendo aquele jogador de futebol a ser batizado?  

= Dá a impressão que muitas das nossas teorias sobre os sacramentos – sobretudo esses de repercussão social – parecem que vivem num mundo aparte da caminhada humana e sociológica hodierna. Claro que não interessa um certo facilitismo de que tudo vale e pouco se pede. Também não podemos entrar na onda de que tudo está bem porque não há problemas. Nem sequer estaremos isentos de sermos (mais ou menos) usados por quem se aproxima para solicitar os serviços da Igreja. Mas se as pessoas querem algo – no caso o batismo – que só a Igreja pode dar, não deveremos ser mais abertos à resposta sem fecharmos – duma forma tão intransigente – a porta a qualquer solução que não seja só a nossa?

Por vezes é assustador a certeza com que são dadas algumas respostas, pois parece que estamos mais a defender a nossa autoridade – na maior parte das vezes dá a impressão que é mais poder – do que o bem das pessoas, seja ele um bem pessoal e familiar, seja um bem social e religioso.

Embora haja e tenha de haver regras e diretrizes não nos podemos entrincheirar nas nossas categorias teológicas, pois Deus escapa tantas outras vezes desses pedestais e circula pela vida das pessoas na simplicidade e na procura do mesmo Deus… embora envolto em ténues acenos de fé. 

= Porque acreditamos que podemos atrair à comunhão da Igreja tantos que dela se afastaram por ignorância e ressentimento, cremos que temos um longo caminho a fazer com quem ainda nos procura… Porque acreditamos que há tanta gente de boa vontade que quer mais do que só os serviços religiosos da Igreja, temos de ir tentando propostas que possam ser adequadas às condicionantes da vida do nosso tempo… conjugando as possibilidades com as necessidades do crescimento do compromisso na fé e pela fé. Porque acreditamos que Cristo está presente muito para além dos parâmetros em que O pretendemos enquadrar, podemos e devemos estar mais ao serviço do anúncio d’Ele e menos das regras que excluem quem pretenda encontrá-Lo na Igreja e pela Igreja católica… sinceramente.       

   

António Sílvio Couto



quinta-feira, 14 de julho de 2016

Inverter o reverter, quando?


Depois da euforia provocada pelas vitórias no futebol. Digeridas algumas vitórias pírricas das forças (partidárias e sindicais) que apoiam o atual governo. Intoxicados pela desinformação sobre as penalizações da União Europeia à superação da taxa de não-cumprimento do défice das contas públicas. Embalados pelos (pretensos) sucessos dalgumas medidas sociais. Desassustados das consequências da saída do Reino Unido da UE… Vivemos na expetativa dos jogos olímpicos. Perguntamo-nos sobre as causas/acontecimentos que irão preencher a silly season, que se aproxima. Como vão ser decretadas e quais as sanções da UE. Como irá o governo dar conta das medidas altissonantemente apregoadas…

Há, no entanto, uma questão de fundo que não aparece nos mais recentes fait-divers à portuguesa: não teremos de inverter o reverter para termos futuro a curto e médio prazo? Quando assumirá quem ocupa a cadeira – às vezes parece mais poltrona ou varanda de espetáculo – do poder as medidas corretas para que Portugal seja um país credível, seja quem for que exerça o poder?

De facto, os nossos políticos falam grosso nos palanques internos onde intervêm, mas jogam pianinho quando estão lá fora. Vemo-los cheios de razão na comunicação social que lhes dá cobertura – sabe-se lá que favores estão a receber ou a pagar! – mas parecem gatinhos amestrados quando enfrentam quem os avalia e escortina… a eles e como a nós, como Nação e Pátria. 

= Já sabemos por experiências anteriores que certos setores ideológicos quando atingem o poder – desde autárquico até regional ou nacional – abrem os cordões à bolsa, que não ajudaram a encher. Também já sabemos, por experiências dos últimos trinta anos, que, após passarem pela governação, é preciso solicitar a intervenção e ajuda de entidades estrangeiras, que capitalizam a economia, mas nos fazem sofrer agruras e sacrifícios. Vimo-lo nos anos mais recentes e nem assim conseguimos aprender a lição…  

= Mesmo que distraídos pelas façanhas do futebol, não perdemos a noção daquilo que tem estado em causa na nossa vida pública e social. Com efeito, podem tentar reverter números e estatísticas. Podem branquear insucessos e erros. Podem fazer retrospetivas mais ou menos acutilantes para com quem governou anteriormente… Devem assumir que, se assaltaram o poder, têm de aguentar com as consequências de agora terem de ser menos agradáveis ou até cúmplices daquilo que antes combatiam. Não foi a assunção – rápida, sem diálogo e à medida dalguém mais subtil – das dívidas de um banco nos últimos dias do ano passado que fez disparar a dívida pública? Não quiseram dar tudo de forma rápida e sem medir o que viria? Então, têm de ter a coragem de arcar com as consequências de serem menos adultos nas decisões que tomam… 

= Como é paciente o nosso povo. Tem uma capacidade de resistência – agora dizem de resiliência – a quase tudo…até daqueles que o engana vezes sem conta.

Por muito que se pretenda por agora louvar os emigrantes, temos de aprender com eles. Perguntem-lhes como interpretam esta bagunça em território nacional. Alguns daqueles que agora os engrandecem foram os mesmos que lhes criaram condições para saírem do torrão-natal. O país tem uma dívida para com esses homens e mulheres que criaram riqueza lá como cá. Muitos vingaram em território estrangeiro e são explorados quando nos visitam.

Os políticos profissionais pouco têm feito pelos emigrantes, embora se banqueteiem nas festas que por cá são feitas e por lá os agregam. Não foram as ideologias reinantes em Portugal que melhor têm compreendido as iniciativas dos nossos emigrantes. A muitos dos nossos políticos falta-lhes ter vivido a experiência de sofrerem para subir na vida, como aconteceu (e acontece) com os cinco milhões de portugueses na diáspora. A sua vivência é digna de ser tomada como exemplo da nossa identidade lusitana. Como temos já citado essa frase dum avô a um neto que reclamava junto do avô que nós fomos aventureiros e fomos capazes de dar novos mundos ao mundo e agora somos tão pobres, ao que o avô respondeu: neto, nós somos descendentes dos que por cá ficaram!   

 

António Sílvio Couto 

terça-feira, 12 de julho de 2016

Com a soberania me enganas!


Tem vindo a crescer, no contexto da União Europeia, a discussão sobre a soberania dos povos integrantes desta mesma UE… dando voz e contestação a certos extremismos, de grupo ou de figuras emergentes e outras mais inconscientes no conteúdo e pela forma. 

Uns já referendaram a sua presença no projeto europeu a 28: o Reino Unido desuniu-se da UE e criou mais cisões num reino cada vez menos unido… na forma dos diversos povos e culturas. 

= Saída duma necessidade histórica, a União Europeia – já apelidada de CEE, de CE – precisa de refundar-se nos conceitos e nas estratégias, mas não será com certos figurões mais vistos e ouvidos pelos tempos mais recentes, que sairemos do atoleiro ético e moral – mais do que económico-financeiro – em que temos vindo a mergulhar… para o descalabro.

Não será com a intervenção ‘poética’ – mais ou menos politizada, mas desconexa da realidade – dalguns mentores da soberania – em tempos a sua coragem foi a de fugirem para o norte de África ou França e voltarem como heróis cobardes! – que conseguiremos suplantar aquilo que nos divide e reforçar aquilo que nos une, de verdade.

Mais de sessenta anos de paz no continente europeu não merecem mais respeito e esforço para que possamos viver tempos de harmonia e concórdia? Certas mentalidades belicistas irão sobreporem-se ao bem comum de paz e dalguma prosperidade?

Parece que a certos meninos bem-falantes e reivindicativos lhes faltam as dificuldades e as agruras que fizeram desta Europa unida algo mais do que um mercado de vaidades e de imoralidade. Parece que o sentido não-militar dalguns dos cidadãos europeus está narcotizado pela lascívia duma prosperidade que não foi ganha com trabalho e suor. O exemplo mais marcante tem sido a forma como (não) recebemos os refugiados: acomodados com as lentilhas mais baratas esquecemo-nos da dureza e da perseguição de tantos seres humanos à nossa porta… do outro lado do mar Mediterrâneo! 

= Certas forças esquerdistas dizem-se agora defensoras da soberania, mas na sua génese têm projetos internacionalistas que foram impostos aos povos que subjugaram à força… Ainda hoje os vemos a defenderem – e quase nunca a condenarem nem nas questões mais sensíveis de direitos humanos básicos – regimes em vigor cuja coloração envergonha os mais incautos e que eles mesmos não rejeitam, sabe-se lá com que interesse no sistema que ainda defendem.

Pior: servem-se das estruturas da UE onde se colocam e ganham bons proveitos – senão pessoais ao menos para o partido que os elegem – para contestarem as linhas que lhes permitem ter vez e voz. Não deviam ser coerentes e deixarem de serem exploradores daquilo que tão veemente discordam? Se não se demarcam dos regimes de Cuba e Venezuela ou da Coreia do Norte como poderão ser compreendidos nas lutas soberanistas que ainda cultivam? Talvez só a lógica da ideologia os faça viver em tal incongruência… até que, um dia, vejam a miopia em que ainda laboram! 

= A soberania é um bem indiscutível, mas não podemos fechar-nos ao projeto da UE que tantos frutos tem dado em favor dos mais desfavorecidos e que nem sempre se sabem governar. Muitos dos contestatários da soberania são mais beneficiários da livre circulação de pessoas, de bens e de serviços na UE do que intervenientes na construção de mais riqueza trabalhada e partilhada. Dir-se-á que podem contestar porque têm asseguradas benesses que recebem sem terem de fazer nada (ou muito pouco) pelo seu recebimento.

Como se costuma dizer: ‘o sucesso só aparece antes do trabalho no dicionário’. Pois, o pretenso sucesso da UE está em grande parte ligado a povos e culturas para quem o trabalho é um culto, enquanto para outros se verifica o contrário. Precisamos de saber se a soberania nos vai valer mais qualidade de vida ou se nos trará dificuldades e perda de bem-estar pessoal e coletivo.

Soberania, sim… mas com solidariedade de todos, com todos e para todos!   

 

António Sílvio Couto

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Graças a Deus, ganhámos!



A vitória de Portugal no campeonato europeu de futebol, em França, foi repetidas vezes referida com essa expressão tão portuguesa: ‘graças a Deus’… Disseram-na desde o selecionador até ao capitão, referiu-o o autor do golo vitorioso e tantos outros intervenientes neste feito histórico das conquistas futebolísticas…

Deste modo como que foram exorcizados certos medos de alguns para os quais parecia haver receio em incluir Deus nos sucessos, envolvendo-O nas façanhas mais simples ou mais complicadas. 

= A crença de que haveria vitória no final deixou algum azedume em tantos ‘profetas da desgraça’ e ‘velhos do Restelo’, tendo criado uma certa leitura negativista nalguma comunicação social – nacional e estrangeira – tendo sido ditas coisas que poderão e deverão envergonhar os dislates proferidos. Notou-se que uns tantos só conseguem desenvolver o seu trabalho na maledicência e atulhando quem tenha um rumo traçado. Ao longo do último mês foi um corrupio de conjeturas e de suspeitas sobre as capacidades dos nossos jogadores e responsáveis. No mínimo esses tais deviam retratarem-se, mas talvez na conquista lhe sirva de maior penitência, pois os atos falam por si… 

= A euforia coletiva – onde os mais altos dignitários foram uma espécie de corifeus de serviço – pode servir de alívio às dificuldades pessoais, familiares e nacionais. Não podemos ficar insensíveis à onda de boa vontade que se criou no território nacional e na diáspora. Essa espécie de unidade em volta da seleção poderá ser ainda um incentivo a que haja uma valorização do nosso ‘eu coletivo’, sendo necessário criar condições de maior prestígio daquilo que é nosso. Precisamos de ver mais o que nos une do que aquilo que nos possa separar. Será, no entanto, útil que se separem as águas e não surjam – como noutros momentos – os que se aproveitam das vitórias, mas nada fizeram para que elas pudessem acontecer. Aproveitadores do esforço alheio, não obrigado! 

= É digno de registo que neste sucesso houve quem traçasse um rumo e não tenha temido ser menos considerado, quando referia a data e as condições em voltaria ao seu país: o selecionador. Também nunca escondeu a sua condição de crente e de alguém que confiava em Deus. Para certos noticiadores – ser jornalista é muito mais do que isso que quiseram fazer! – via-se uma ponta de desdém para com Fernando Santos. Talvez mesmo alguns jogadores e dirigentes não estivessem sintonizados com esta sua esperança… que foi crescendo com o desenrolar do torneio.

Parece que falta a quem nos dirige que se seja honesto e convicto. Uns vão confundindo otimismo com teimosa e obstinação… Outros preferem esconder-se sob a capa do agnóstico e assim deambularem pela penumbra do oportunismo… Outros ainda dão a impressão de confiarem em excesso nos seus atributos e com facilidade se comportam como ateus práticos ou descrentes nas capacidades alheias… 

= Num tempo tão ávido de cenas negativas, este sucesso da seleção portuguesa de futebol, em França, deverá ser estudado com humildade e serenidade. Deu para perceber que somos um povo com grandes possibilidades, desde que seja bem conduzido e que possa interpretar a abertura ao divino com trabalho e dedicação. Queira Deus que não fiquemos na espuma deste episódio, mas sejamos capazes de ir mais ao fundo do nosso valor como Nação, povo e cultura. Que a letra do hino nacional tenta mais repercussão no nosso comportamento coletivo… Somos mesmo uma ‘nação valente e imortal’!... Assim o sejamos sempre mais e, sobretudo, melhor, com a ajuda de Deus e a participação comprometida de todos.   

 

António Sílvio Couto



segunda-feira, 4 de julho de 2016

Degradação (possível) das tatuagens


Numa espécie de fuga à vulgaridade da apresentação/exposição do corpo humano vamos vendo uma certa proliferação das tatuagens…nessa outra tentativa de fazer alguma ‘arte’ com sinais e interpretações que têm tanto de simbólico como de exotérico… ou até provocador e acintoso… ridículo e quase nojento.

Embora se pretenda ‘vender’ o recurso à tatuagem como algo ‘evoluído’ dentro duma tal cultura urbana, ela já tem mais de 3500 anos de aspiração a ser afirmação entre tribos e clãs e como fator distintivo de grupo…ontem como hoje!

Envolvendo e sendo envolvida na linguagem iniciática de certos setores em idade de puberdade e de juventude, o recurso às tatuagens foi sendo disseminado entre grupos de marinheiros (e mais amplificada nas hostes militares), entre presidiários e noutros sectores de regime fechado e grupal… não devendo ser esquecidas as marcas tatuadas nos prisioneiros nazis com tantas distinções aberrantes e racistas… Quem pensará nisto na hora de ir à loja tattoo mais próxima?

Digamos que certas modas e seus apetrechos têm tanto de fácil quanto de manipulado e incoerente com as implicações que tais iniciativas e gestos comportam!

São às dezenas as hipóteses de recurso às tatuagens – águia e âncora, aves e borboletas, bruxas e coroas, corações e corujas, cruzes e estrelas, diamantes e flores, gatos e leões, orquídeas e rosas, sois e tigres, religiosas e de dragões – e em cada uma e para todas há uma leitura que deve ser entendida e, sobretudo, explicada. 

= Já repararam que Cristiano Ronaldo – essa espécie de Adónis do século XXI – não ostenta qualquer tatuagem no (esbelto) corpo de atleta e de (quase) culturista? Será coincidência ou foi uma nítida opção… dele ou de quem conduz a sua ‘imagem’? O dito rapaz das favelas madeirenses é mais esperto do que os outros jogadores e ‘celebridades’ do mundo do futebol? Como terá ele aprendido a resguardar-se da moda das tatuagens? Será coincidência que seja dos corpos mais limpos das tatuagens… numa aprendizagem amadurecida e mais sensata?

Porque será que certos ‘atores’ – de ação cinematográfica ou de âmbito mais público – recorrem a este subterfúgio da tatuagem para se apresentarem nas lides de exposição publicitada? Foram induzidos no engano ou deixaram-se ir na onda… irreversível e (quase) inestética pela exposição do corpo humano? 

= Porque para um cristão nada pode ou deve escapar ao discernimento do significado daquilo que faz e de como se comporta, devemos enquadrar mais este fenómeno do recurso às tatuagens na linguagem bíblica e da sua interpretação. A marcação do número de pertença aos que são dos servidores da ‘besta’ faz a diferença dos assinalados com o sinal do Cordeiro… estes serão designados para a vitória no Reino final, enquanto aqueles que receberam o impacto do ferrete do inimigo, irão sofrer a derrota pela força do Santo sem marca nem distinção.

Quantos dos símbolos por agora difundidos – mesmo nas tatuagens mais vulgares – são uma espécie de culto ao ‘dragão’ (= inimigo do Cordeiro imolado) e seus adoradores.

Não temos dúvida que, uma grande parte dos tattoos da moda, são tendencialmente anticristãos. Muitos deles, de forma capciosa ou mais explícita, pretendem difundir uma cultura de neopaganismo, com muitos dos recursos numa luta sem quartel nem exército explícito contra a cultura cristã mais ou menos difusa… 

= Embora respeitemos essa ‘arte’ das tatuagens, não gostamos de ver uma razoável exploração da ignorância de tantos/as dos que recorrem a este expediente de neopaganismo camuflado e insidioso para com alguns mais novos e incautos… A quem serve esta difusão em degradação das tatuagens, muitas delas em sociedades (quase) ignorantes, mas cultivadoras duma certa moda popular e atraente?

Cuidemos com respeito da presença de Deus no nosso corpo… de batizados, agora e sempre!       

   

António Sílvio Couto 



sexta-feira, 1 de julho de 2016

Futebol, ópio do povo. Claro!


Após nova vitória sofrida da seleção nacional de futebol, no europeu da modalidade em França, dizia alguém ao lado: ‘é mais um ben-u-ron para o povo’! Querendo dizer que, por mais uns tempos (horas ou dias), o povo fica – teórica e momentaneamente – um pouco aliviado nas agruras da vida… até que volte a cair na realidade: dura, sofrida e continuada.

De facto, o futebol tem servido para atenuar a visão concreta dos problemas da vida, tais como a falta ou a redução do emprego, o custo de vida, as nuvens de castigo que se adivinham vindas das instâncias europeias, a competição entre economias, as dificuldades das famílias, as mazelas do serviço nacional de saúde, as magras reformas, os custos da segurança social, etc.

Sobretudo desde o início de junho passado, temos estado a viver uma espécie de narcotização coletiva – mais acentuada na proximidade aos jogos da equipa nacional – onde quase tudo gira em volta do futebol, com maior ou menor capacidade de vencer, mas sempre polarizados pela bola que corre e, sobretudo, que entra na baliza…

Mal ou bem o futebol tem servido os intentos coletivos de estarmos, por momentos, unidos por algo que faz uma imensa maioria acreditar que os sucessos dos nossos representantes poderão ser a solução para os problemas pessoais e familiares… Se bem que as multidões vibrem com os resultados, não faltam – como sempre – os ‘velhos do Restelo’ que vaticinam desgraças, mesmo que possa haver alguma coisa que contradiga tal posição. 

Efetiva e afetivamente o futebol é um jogo de massas, com muitas paixões e emoções, que tem funcionado quase sempre como alienador para tempos mais difíceis e conturbados. Isto mesmo tem sido, por estes dias, uma espécie de bolha flutuante para os nossos governantes – bastará ver o entusiasmo com que participam – dando-lhes algum alívio e distração para terem de enfrentar o que está prestes a desabar sobre o nosso futuro próximo.

Num tempo de rápida difusão noticiosa, cada vitória ou derrota pode converter-se numa onda positiva ou negativa de toda uma Nação – tanto no retângulo à beira-mar plantado como nos da diáspora – unidos por um hino, uma bandeira e uma seleção. Parece que o futebol – cíclica e rapidamente – tem feito mais pelos sinais coletivos de identificação do que todas as aulas de cidadania e o ensino do respeito pela nossa identidade nacional. Os ‘professores’ desta façanha não estudaram muito, mas são artistas da bola, ganhadores de fortunas e embaixadores pelo mundo fora da nossa portugalidade… Honra lhes seja prestada, mas não façamos como noutras ocasiões, tornando-os de bestiais em bestas demasiado depressa!

Mesmo que forma simples gostaria de perguntar: por onde pára a tal campanha do cantautor de óculos escuros? Foi um erro de casting a escolha e o estilo ou as pessoas perceberam que essa manobra era só ideológica? Duma coisa parece que não há dúvidas: o tema está esquecido e o famigerado promotor enterrado… mesmo com os sucessos da equipa!  

Em resumo: o futebol é uma arma que qualquer governante – em democracia como em ditadura – gosta de usar para distrair os seus concidadãos… instruídos ou não. Umas vezes é feita de forma explícita, noutras tacitamente é aceite e tolerado… Até quando?  

 

António Sílvio Couto