Segundo dados disponíveis da Direção geral de saúde e do Instituto nacional de estatística, desde a entrada da nova lei do aborto, de 2007, com cobertura (ou discriminalização) até às dez semanas, podemos encontrar que:
- Desde 2005, terá havido – nos números de uma associação pró-vida – 80 mil ‘interrupções da gravidez’ em espaços legalizados, sendo 13.500 repetições;
- No entanto, outros números ‘oficiais’ apontam para outros dados: em 2008 verificaram-se 15 mil casos; em 2009 são reportados 34 mil situações; em 2010 houve 54 mil ‘interrupções’, sendo 4651 repetições, das quais 978 são dois ou mais abortos.
- Embora se tenha verificado – ou assim se diz, mas porque não há dados oficiais credíveis, tudo poderá não passar de conjetura! – uma diminuição do (dito) aborto clandestinado, estes números teem de nos fazer refletir, bem como àqueles que tanto lutaram pela salvaguarda da vida e da (pretensa) saúde da mulher...
Se olharmos esta questão pelo lado económico, quanto pode custar uma (dita) ‘interrupção voluntária da gravidez’ de forma legal e num espaço legalizado? Segundo dados, que fomos recolhendo, pode custar, em média, mil euros cada ato... Agora é só fazer as contas sobre os gastos suportados – normalmente – pelo erário público, nestes anos, por esta (pretensa) descriminalização do aborto!
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Tendo na devida conta estas informações podemos/devemos – sem qualquer intuito fundamentalista nem sequer acusatório – questionar quem defende tanto a vida e a sua qualidade, quem diz defender a mulher e a sua promoção, quem, de forma capciosa, se diz progressista (só) porque defende a morte... mesmo que com ‘qualidade’.
= O aborto não terá passado a ser uma espécie de controle da natalidade em vez de ser um processo de educação para a responsabilidade dos mais novos e, sobretudo, dos mais velhos?
= Para onde caminha este país que mata mais do que defende os indefesos?
= Como poderemos ter uma segurança social sustentável se gastamos milhares de euros em espaços de não-vida em vez de incentivarmos a correta sexualidade e a sua sustentação?
= Mesmo sem decreto não estaremos já sob a ditadura do filho único, que muitas vezes, não passa de um problema intolerável?
= Com certos projetos de ‘família’ – sobretudo no (pretenso) aparelhamento de pessoas do mesmo género – não estaremos a engrossar ainda mais os números abortivos?
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Pelo que conhecemos dalgumas situações, parece que, nesta questão do aborto, se tem falado em excesso a partir da perspetiva da mulher, relegando o homem para uma instância de somenos importância. Por isso, seria útil que fossem trazidos à luz da memória – com todos os confrontos psicológicos atinentes – os traumas de homens que foram usados – direta ou inconscientemente – em situações abortivas.
Conhecemos, pelo menos dois casos, já falecidos, em que a vida desses homens se tornou insuportável depois de as (ditas) namoradas terem abortados sem o seu consentimento. Quer num quer noutro dos casos, esses homens deixaram degradar a sua personalidade... até ao ponto da morte precoce.
Torna-se, por isso, urgente exorcizar uns tantos fantasmas feministas ou até de outros falsos defensores da mulher, quando não a escutam da referência à dor da perda e da mágoa... para consigo mesma e para sempre.
Afinal, abortar ainda é matar... mesmo que tenha sido discriminalizado!
António Sílvio Couto