Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Questões de identidade

Por estes dias ouvi: ‘o senhor é sempre assim ou só quando está de farda’! Parece claro que, de quem tal se dizia, talvez não seja suficientemente de bom trato, sobretudo se, através, do exercício da profissão exagera na ‘autoridade’... enfardada.
Neste nosso país vemos com frequência atitudes que revelam excessos, tanto na forma como no conteúdo, podendo nós questionarmos se não estaremos – todos e cada um – a viver uma espécie de crise de identidade, onde cada pessoa não se aceita como é, antes parece querer dar uma ‘certa imagem’, seja pelo que diz (ou cala), seja pelo que ostenta (ou ambiciona), seja ainda pela confusão que pode revelar entre o que é, foi e deseja vir a ser...
Vejamos alguns exemplos a merecer reflexão mais do que acusação:

- Estando nós a viver sob o signo do protesto e tendo em conta mais a superior defesa dos nossos interesses do que estamos, normalmente, a atender ao bem-estar dos outros, como que somos desafiados a perguntar: as greves – gerais, setoriais ou de classe – serão ainda um processo de protesto adequado aos nossos tempos? Não andaremos a ser manipulados e/ou prejudicados e sem qualquer proveito atual e no futuro? Os que são vítimas não são os mais os próprios em vez dos (pretensos) patrões... alguns de quem nem se lhes conhece o rosto? Até quando continuaremos a reproduzir processos de greve ultrapassados (na forma, no conteúdo e na organização) e sem resultados visíveis para o bem comum?

- Perante uma tendência cada vez mais acentuada para o egoísmo, fechando-nos à vida e às consequências de a sabermos servir, como que ousamos perguntar: as profissões no setor da educação – pois sem filhos não há alunos! – já vivem a consciência da falta de natalidade? Com certas teorias anti-natalidade ainda será viável a segurança social a curto prazo? Com a progaramação de certos projetos hedonistas teremos capacidade de cuidar das gerações franja – crianças e velhos – ou não estaremos condenados culturalmente ao colapso social, cultural e económico?

- Questionando-nos na vivência da fé, sobretudo de expressão cristã, onde muito se pode quedar pela exterioridade religiosa, como que sentimos a urgência em perguntar: não estaremos, no âmbito sócio-religioso, a regredir no espírito de fé e de consciência cristã? Com certas posições de teor rubricista e hierático não estaremos a afastar a expressão da fé comunitária celebrativa? Os intérpretes das celebrações terão, verdadeiramente, vida – espiritual e psicológica – que possa ser comunicada com simplicidade e alegria? A quem interessa uma certa posição de númia quando participamos nas celebrações católicas? Será denúncia da falta de vida ou defesa por exageros mal digeridos?

- Atendendo ao crescimento da apelidada ‘economia paralela’ – dizem que envolve um quarto do dinheiro em circulação, em Portugal – como que sentimos que não pode continuar a vingar – à boa maneira latina – a culpabilização dos outros e a auto-absolvição de nós mesmos, então perguntamos: até onde irá este país que se queixa do custo de vida, mas vive em grandes luxos e passeios, férias e devaneios de ricos empobrecidos? Quando se dará a assumpção coletiva, consciente e assumida, dos impostos pessoais e empresariais? Como poderemos recuperar a confiança uns nos outros se desconfiamos da própria sombra?

É urgente que sejamos capazes de viver a nossa identidade – pessoal e familiar, social e nacional – em ordem a sermos um povo com futuro, uma nação com esperança e um país com verdade... onde todos nos empenhamos em construir e nos deixamos envolver por causas comuns... de valor humanitário. Assim sejamos dignos de viver em conformidade com o que dizemos no ‘hino nacional’... onde a luta começa em cada um de nós contra o nosso mais profundo egoísmo!

 António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Acrisolados pela austeridade... ontem e hoje


Queiram desculpar, neste texto, a referência a uma vivência pessoal muito próxima com aquilo que pode parecer um tanto indiscreto... embora o nosso intuito seja de partilha e de reflexão e não de lições.

Faleceu, por estes dias, uma tia materna. Tinha oitenta e cinco anos. São cinco irmãos, quatro raparigas e um rapaz... todos na ordem dos oitenta anos. Nascidos na região de Braga, foram para o concelho de Esposende, após o falecimento de um tio padre, que levara o irmão como companhia para a paróquia onde esteve. Nascidos da relação matrimonial do irmão do padre com uma senhora de uma casa importante da terra... a mãe gostava, afinal, de outro senhor. Logo, após a morte do padre, ela desapareceu, tendo o pai ‘viúvo’ regressado à terra natal com cinco filhos para criar... Estamos no tempo da segunda guerra mundial! A saga de austeridade – como agora se diz com arrepios e uma certa má vontade! – percorreu estas vidas, tendo cada qual passado a servir em casa de lavradores da época. Chegada a hora de casar cada um seguiu a sua vida... embora com a tristeza (talvez seja até trauma!) da ausência da mãe, só descoberta mais de trinta anos depois, na zona de Famalicão.

Esta tia, agora falecida, ficou viúva com a idade de trinta anos, tendo o marido sido trucidado por um comboio em Viana do Castelo. Os quatro filhos (dois e duas) viveram as agruras desse tempo, saindo, mais tarde, uns para a tropa e outras para trabalhos na região de Lisboa. Especialista na arte de cestaria, esta tia, agora falecida, foi vendo as outras irmãs ficarem viúvas também... passando também alguns dos filhos destas, naturalmente, dificuldades de natureza económica. Houve quem estudasse, valorizando-se e quem tenha sido até ministro deste país, enquanto, no meu caso, foi-me concedida a graça do sacerdócio ministerial... quase todos os filhos e filhas destas irmãs conseguiram vingar na vida, embora alguns tenham perecido muito cedo...

Quando ouvimos certas figuras – políticas, sindicais, partidárias ou até eclesiais – reclamarem das condições de vida atual, como que sentimos alguma repulsa, pois esses tais reclamantes talvez nunca tenham passado fome e privações, talvez nunca tenham andado de roupa consertada ou ido a pé e descalço para a escola, talvez não tenham chorado ou visto chorar por não haver mínimas condições de habitação, talvez não tenham sofrido por não poderem dar aos pais melhores momentos de alegria, talvez, numa palavra: não tenham aprendido a serem acrisolados na escola da austeridade, que não nos deixou – tanto quanto é possível ver! – azedos ou contestatários, mas gratos por tantos sacrifícios com que fomos educados! Queira Deus dar a recompensa a todas estas mães que tão varonilmentede de nós cuidaram!

= Desafios pessoais e virtudes sociais

Porque não queremos ficar na vertente meramente fechada do que vivemos, mas, antes, pretendemos alargar os horizontes, ousamos sugerir:

- Pais não deem aos vossos filhos aquilo que não tiveram na idade de serem como eles nem tentem suprir os laços de afeto com coisas não solicitadas;

- Filhos não exijam aos vossos pais aquilo que, nesta hora de dificuldade, não conseguem dar-vos, pois fazem-nos sofrer se vos virem tristes pelo seu menos bom desempenho para convosco;

- Fazedores da comunicação social não excitem as turbas com notícias de perturbação, mas tentem informar sem manipular, pois a técnica pode voltar-se, a curto prazo, contra vós mesmos;

- Promotores das modas – sejam elas de roupa ou de ideias, sejam de modelo de comportamento ou de propostas de reivindicação – ajudem os vossos alvos a tornarem-se conscientes da verdade e não façam da manipulação uma arma de vingança;

- Senhores do dinheiro – banqueiros ou capitalistas, negociadores ou chantagistas – tentem usar a vossa fama e poder de persuassão para dirimir conflitos e não para os agravarem, pois, um dia, pode ser que os vossos intentos revertam contra vós e o veneno que usastes será ainda mais mortífero.

Porque acreditamos na força dos valores do Evangelho, agradecemos a todos quantos no-los ensinaram e esperamos, hoje, sermos bons difusores dos mesmos pelo testemunho de vida! 

 

António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Até onde poderá ir a gritaria?


Nos últimos tempos, Portugal tornou-se uma espécie de reino da gritaria, onde quem mais alto fala – na maioria dos casos é só gritos e barulho ruidoso... mas, na maior parte dos casos, inconsequente! – pensa que ganha razão. Houve até quem dissesse que a participação em manifestações, gritando de forma ostensiva, era uma espécie de terapia socio-psicológica...

Numa tentativa de darmos alguma ajuda de reflexão sobre este clima crispado em que estamos a viver, servir-nos-emos de alguns adágios populares ou frases-chavão... para incluirmos breves referências a situações delicadas do nosso viver coletivo:

 - “Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”.

A austeridade trouxe à luz da consciência muitos problemas, que o recurso ao consumismo foi iludindo, pois enquanto se podia entreter o povo com coisas não se colocaram os verdadeiros problemas das pessoas... muitas delas vazias dos valores mais elementares. ‘Pão e jogos’ foram entretenimento para muitos, deixando a manifesto que não será com coisas meramente materialistas que conseguiremos enganar os mais incautos... por muito tempo. Construiram estádios de futebol, por ocasião do ‘euro 2004’, que agora estão às moscas, farejando o mau cheiro das dívidas... Enquanto houve dinheiro ensinaram-nos – manipulando-nos de forma contundente e sórdida – ter hábitos de gastar e incutindo-nos vícios de pequenos ricos sem cultura nem critérios...

Um fato: num trabalho que temos estado a desenvolver, na paróquia, temos visto imensas situações em que as pessoas trazem para partilhar dezenas e dezenas – não é exagero! – de peças de calçado e  de roupa de crianças que nunca foram usadas... tudo de marca e do melhor. Talvez se tenha verificado, agora, um qualquer arrebato de consciência para que outros possam receber doado o que, antes, foi comprado de forma descontrolada, compulsiva ou mesmo por concorrência para com outros, sejam eles vizinhos, familiares ou até companheiros de trabalho! Havia uma imagem a defender... e as consequências estão à vista!

Questões: Por que será que não nos educaram para saber comprar só o suficiente e necessário? Quando estamos a dar, hoje, a quem nos procura e que precisa de ajuda, temos aproveitado para que as pessoas saibam viver em espírito de pobreza, segundo o Evangelho? Ao atendermos os mais desfavorecidos – hoje eles, amanhã poderemos ser nós – procuramos descobrir as razões, que levaram àquela gravidade do problema ou continuamos a pôr cataplasma sobre as feridas, sem tratarmos as causas mais profundas?
Perante as dúvidas da geração atual como será para as próximas gerações?

- “O bem não faz barulho; o barulho não faz bem”.

É, hoje, recorrente, assistirmos – senão mesmo fazermos o mesmo! – a conversas, que bem depressa redundam em discussões, onde os contendores não se escutam, pois a meio da frase de um já se sobrepõe a conversa do outro... acontecendo, nalguns casos, várias conversas cruzadas e sem qualquer resultado: há muito barulho, mas pouca conversa. Bastará ver as sessões do Parlamento e pouco teremos a aprender, antes veremos o retrato da confusão a que chegamos... rapidamente! A doença tem-se espalhado como epidemia, pois, com normalidade, vemos as pessoas a ‘lançarem bocas’, quando outros falam... e nem o setor eclesiástico tem escapado à moda!

Nesta conjuntura adversa à aceitação da comunicação pela palavra, temos de saber fazer silêncio – mesmo que um telemóvel toque a despropósito! – para respeitarmos quem nos fala, para sermos respeitados quando falamos, pois na medida do que fizermos isso para com os outros talvez sejamos aceites (a bem ou à força) no que tentamos dizer, comunicar e fazer! Também, neste aspeto, se trata de uma questão educacional!

- “Nunca o invejoso medrou nem quem junto dele morou”.

Na medida em que o nosso ambiente é algo mais do aquilo que pretendemos, este ditado popular como que nos condiciona, mesmo que de forma inconsciente. O invejoso pode ser da família, alguém com quem nos cruzamos na escada do prédio ou na rua, na convivência profissional ou social, nos espaços de partilha, seja no convívio, seja até na expressão da fé... sobretudo em Igreja. De fato, a inveja – elevada à categoria mais malévola da ruindade – povoa o nosso mundo muito para além daquilo que somos capazes de dominar. Digamos que a situação calamitosa do nosso país retrata uma conjugação de várias invejas... onde os mais preguiçosos tentam reinar, invejando o trabalho leal, sério e aturado de tantos outros, que por sentirem animosidade alheia desinvestem em favor dos outros. Quantos sindicalistas nada mais fazem do que destruir por inveja camuflada e destruidora! Quantos contestários aos gritos nas ruas, mas que não mexem nem uma palha para minorar o o lixo à porta de casa! Quantos salvadores pelo insulto, cuja memória devia estar mais atenta a quem lhes deu a mão... mesmo nas horas de dificuldade.

A gritaria poderá vingar na contestação, na reivindicação e até  no insulto, mas não construirá laços de compromisso para a recuperação do nosso país a curto e a médio prazo. Ó serenidade, tenta dar-nos doses de sensatez, já! 

António Sílvio Couto

(asilviocouto@gmail.com)

domingo, 14 de outubro de 2012

Quando a higiene é negligenciada!


Diz-se – ao que parece com razoável propriedade! – que o nível cultural e de desenvolvimento de um povo se pode medir pelo lixo que produz e pela água que consome... na medida em que estes dois fatores, estando correlecionados, manifestam os gastos de índole económica e os cuidados que cada pessoa (família ou sociedade) tem para consigo... em tempos de crise.
Ora, temos visto em muitos dos nossos contactos, cabelos sebosos, roupas em desalinho (rotas e sujas... e não é por moda!), mau hálito (quantas vezes à mistura com um certo cheiro a tabaco e/ou a álcool), descuido e negligência... porque o custo da água está caro!
Temos visto, por razões mais ou menos continuadas, nos últimos tempos, que as pessoas/famílias, que estão a passar por dificuldades de natureza económico/financeira, vão cortando nos gastos em artigos de higiene – temo-lo visto nas pessoas, mas talvez isso se verifique na situação dos cuidados da casa – pois o dinheiro não estica para tudo!
Não deixa de ser ainda preocupante que as pessoas se vão desleixando e que cuidem menos corretamente de si mesmas, podendo até degradarem-se no trato com os outros. De facto, quem não terá já sido confrontado com menos bom odor junto de certas pessoas... senão mesmo ainda em determinados lugares! Quem não terá já sentido alguma indisposição – o que não significará menor aceitação e mesmo de inferior compreensão – na proximidade de certos casos ou de situações! Quem não terá já vivido momentos de algum desagrado por falta de limpeza e de menor asseio!
A higiene é uma regra mínima do convívio social e nem a exiguidade dos recursos económicos poderá ser uma desculpa para azedarmos o ambiente em que convivemos.

= Limpeza a quanto obrigas!
Vão surgindo campanhas de ajuda (*) para artigos de higiene – tanto ao nível pessoal como na versão da casa – onde nos devemos comprometer, cuidando de que os mais pobres – quantas vezes roçando alguma displicência e (quase) falta de dignidade! – tenham boas maneiras, gerando boa aceitação e criando ambientes de melhor salubridade.
Há, no entanto, quem tente disfarçar os maus odores com perfumes, mas juntando estes com aqueles o ar quase se torna irrespirável... bastando apenas um pouco de água e dum produto adequado à situação para que se crie uma nova disposição em nós e à nossa volta.
- Nesta época de confusão de prioridades talvez seja de investir na educação para a higiene, dando cada um de nós o seu contributo, por mais singelo que possa parecer, para que as pessoas não se deixem perder nos cuidados de limpeza corporal, ao nível psicológico, na dimensão moral e mesmo na vertente espiritual. Será da boa harmonia entre estes vários aspetos que todos teremos a ganhar.
- Por muito difícil que possa tornar-se a custo de vida nas suas diversas ramificações, precisamos de saber investir – familiar e socialmente – nos cuidados de limpeza das nossas casas, nas nossas ruas, nas mais díspares situações populacionais... pois um ambiente equilibrado também faz bem às pessoas, pacificando-as e elevando-as à categoria de seres humanos dignos e dignificados.
- Na medida em que cada um de nós se sentir comprometido em melhorar o espaço em que vive, assim o país há-de melhorar. Pobreza não tem de rimar com porcaria nem com indecência. Por isso, depende de cada um de nós um salutar equilíbrio... sem desculpa nem acusações sobre a austeridade. Talvez o ditado de outros tempos possa voltar a ter oportunidade de ser vivido: pobrezinhos mas asseados, isto é, limpos e bem lavados!
Porque queremos um país cada vez mais bonito, limpo e asseado, temos a obrigação de cuidar da nossa higiene física, mental, moral e afetiva, já!

 (*) Vimo-lo já em Viana do Castelo com bons resultados e está em marcha uma outra campanha na paróquia da Moita... pelo projeto ‘Famílias com esperança’!

 
António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Sinais proféticos da (nossa) república... laica!


As comemorações oficiais – à mistura com outras oficiosas e ainda as pretensamente insidiosas – do dia da implantação da República (5 de outubro) trouxeram, no passado recente, alguns sinais que deveriam ser mais aprofundados... antes mesmo de serem, conjunturalmente, explorados: a posição da bandeira nacional na hora de ser hasteada, o local escolhido para o evento, as notas de partidocracite, as presenças e as ausências... e tudo o mais que, por ser simbólico, não poderá ser tratado como mero combate de forças obscuras e subterrâneas, mas antes deve ser trazido à luz aquilo que da luz precisa de ser iluminado... urgentemente.
= Desde logo Lisboa foi o palco das comemorações. Tudo o que aconteceu é da autoria exclusiva da edilidade. Ora, não foi isto que se viu nem na forma e muito menos no conteúdo. Valha a referência, posterior nos dias e menormente noticiada, às desculpas do presidente da câmara ao assumir que a bandeira nacional foi hasteada invertida: a culpa é dele! Quando quiseram ler naquele incidente uma profecia sobre o estado do país, quem estava bem intencionado ou quem se tornou oportunista do desgraçadismo? De forma invertida muita coisa pode ser convertida, mas, quando há má fé, de pouco adiantará o barulho produzido.. mesmo que seja mais audível a dos animais da guarda de honra oficial!...
= Empurraram as (ditas) comemorações para um designado ‘pátio da galé’ – será preságio de novos embarcados sem regresso? – mas os múltiplos e luzidios comemorantes eram vistos como convidados... onde não faltou quem quis aparecer ou quem esteve ausente e se quis fazer notado. As intervenções foram de teor simbólico: um pelo lugar que ocupa, outro pelo lugar que almeja; um com discurso anódino, outro com os desejos de protagonismo; um sem chama nem futuro, outro flamejante de aspirações... e outrostantos ódios de estimação; um com provocações (pretensamente) ocasionais, outro com aplausos de conspiração; um de corda ao pescoço, qual Egas Moniz da idade atual, outro com colar jacobino de grande edil e com pétalas de herói foragido; um com ar pesado e cúmplice na desgraça nacional, outro com ar sombranceiro de soslaio como quem vai flutuando sobre uns tantos nenúfares da tortulhocracia reinante... agora e num futuro próximo!
= Dizem que foi, por algum tempo, a derradeira comemoração da efeméride da implantação carbonária da república em Portugal. Há quem concorde, há quem discorde... mas a maioria foi usufruindo (ou gozando) de um feriado que já pouco ou nada diz à maioria da população... Nos campos – onde ainda se trabalhava – cuidava-se das últimas colheitas. Nas cidades – onde uns tantos se dizem mais alfabetizados – descansa-se e pouco diz essa tal de ‘república’, pois parece-lhes, antes, uma matrona decrépita e ao sabor da reforma insuficiente para amparar filhos e enteados... Só ainda alguns mais inteletuais – com denominação laica, republicana e ainda socialista – sentem a obrigação de se pronunciarem com uns tantos dislates de ocasião... nem que seja só entre apaniguados e simpatizantes... de circuito fechado e com amplificação encomendada!
Mesmo que de forma simplista, perguntamos:

- Para quando a implantção da IV república? Pois, a primeira caiu de podre e com inúmeros traidores sacrificados, a segunda foi ultrapassada e fez-se perseguidora de certos combatentes fugitivos, a terceira está prenhe de relapsos, sob as oportunidades perdidas e com benefícios e beneficiados em proveito egoísta...

- A bem da Nação, cuidemos de defender as possibilidades da república em não ser uma ditadura, onde uns tantos – ideológica e socialmente – ganham sempre, pisando quem não pensa como eles... nem que desgastem os adversários com mentiras e suspeitas... até eles sucumbirem pela exaustão!

- A bem da Nação, cuidemos em cercear com veemência os tentáculos desse polvo que tenta impor-se à custa da perseguição e do aviltamento dos mais frágeis e dos continuamente fragilizados... atendidos em maré de eleições e logo esquecidos na esquina mais imediata!

Será, afinal, esta república democrática ou, antes, uma promoção oligárquica dos medíocres?

 

António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Denunciando certos incendiários... sociais


Por estes dias temos ouvido intervenções de certas figuras – da área do governo ou da oposição, dos setores políticos e da comunicação social, nos espaços noticiosos ou na rua, em conversa ou em discussão – que têm servido para acirrar os ânimos (mais ou menos) em tensão entre os cidadãos e também as intituições. Quando se esperava de todos uma certa racionalidade – pelo que se diz e, sobretudo, naquilo que se faz – temos visto, pelo contrário, ser exacerbada uma certa emotividade, criando condições para serem começados conflitos, mas cujas consequências nem sempre poderão ser controladas... quando forem iniciados.
- Há quem cante vitória porque ter conseguido reunir – ou será antes arregimentar? – cem mil manifestantes. Mas que é isso no contexto da área metropolitana de Lisboa: Cerca de dois por cento dos habitantes da região e, no contexto nacional, esse número pouco mais será do que zero vírgula nove por cento da população total! E muitos – segundo dizem – vieram doutras regiões do país... às centenas. Portanto, a capital não aderiu!...
- Há quem invetive os empresários que contestaram as medidas governamentais, classificando-os de ‘ignorantes’... só porque não alinharam acriticamente naquilo que poderia deteriorar as relações laborais a curto e médio prazo. As respostas dos atingidos – particularemnte empresários e patrões – roçaram (quase) o insulto e trouxeram à liça conflitos mal resolvidos noutros campos de intervenção! Não é deste modo insultuoso que serão dados sinais de pacificação aos outros cidadãos e entidades empregadoras nacionais e estrangeiras.
- Sobretudo a cobertura das mais recentes manifestações populares – de 15, 21 e 29 de Setembro – deram-nos a conhecer uma televisão – auto-apelidada de ‘serviço público’ – a RTP, que se exalta e incendeia, que se defende e ataca, que estrebucha e contradiz... pois as intervenções da rua e dos estúdios quase nos fazem crer que estamos em guerra aberta e eles estão dum lado: contra o patrão, que é o governo. Que eles defendam o lugar de trabalho não podemos contestar, agora que o façam duma forma tão acintosa contra quem tem sobre eles a tutela e, indiretamente, lhes paga – pretendendo defenderem o (dito) serviço público – já se torna menos compreensível. Agora podemos ver outros canais menos exaltados. Agora podemos comparar e até escolher. Agora podemos fazer zaping e ir à procura de alguém mais independente e sereno...
- Perante certas posições partidárias e sindicais parece-nos que são apontadas saídas para as condições de austeridade – exgerada e mal explicada – com que temos sido trucidados nos tempos mais recentes. No entanto, quando escutamos melhor não temos visto mais do que algumas intenções sem nexo e propostas a desdizer, embora com razoável cortesia e cobertura... notiociosa. De facto, não podemos continuar a ser enganados nem é aceitável que nos queiram impingir silêncio só porque é assim...e cala. Talvez estejamos a ser governados por gente impreparada e sem conhecimento da vida real. No entanto, não vemos perfilarem-se substitutos com caraterísticas diferentes. Antes vemos imberbes meninos de gabinete e intelectuais de secretária... sem provas dadas em lugar algum! E dos (ditos) batidos nas coisas da contestação – sobretudo duma certa esquerda revolucionária e doutra caviar – o que podemos perceber é que têm experiência no maldizer, mas não se sujam no trabalho da construção do bem comum... de todos. Têm a sua agenda e defendem, particularmente, os seus em clima de protesto!
Digamos com clareza: o país precisa de ideias audazes bem como de protagonistas sensatos. Está na hora de sermos governados pelos mais competentes, sérios e conscientes. Precisamos de comprometer na coisa pública quem tenha vivência dum verdadeiro serviço altruísta e não meramente interesseiro. Basta de vivermos neste regime de partidocracite. Se as ideologias falharam, saibamos criar um clima de solidariedade no bem comum positivo e não só na exaltação da desgraça. Portugal merece melhor!

 

António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)