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segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Conferência Episcopal apresenta ‘guia’ com 53 orientações


 Com data de meados de novembro, mas só tornada publica no dia um de janeiro, a Conferência Episcopal Portuguesa exarou uma reflexão sobre os ‘Desafios pastorais da pandemia à Igreja em Portugal’…num total de 53 pontos.

Eis um breve sumário do texto:

- Cap. I – a Igreja e a pandemia; introdução (n. os 1 a 3); uma Terra em agonia (n. os 4 e 5);

- Cap. II – desafios pastorais: introdução (n. os 6 a 9); a solidão (n. os 10 a 12); a inclusão e a solidariedade

(n. os 13 a 14); a Igreja doméstica (n. os 15 a 18); sacerdotes, profetas e reis (n. os 19 a 20); as relações (n. os 21 a 22); a vida comunitária (n. os 23 a 25);

- Cap. III – um novo anúncio do Evangelho: introdução (n. os 26 a 28); construir a fraternidade universal (n. os 29 a 30); comunicar nos ambientes digitais (n. os 31 a 32); o primado da Palavra (n. os 33 a 34); celebrar é evangelizar (n. os 35 a 36); novos desafios de serviço e missão (n. os 37 a 40); partir das periferias (n. os 41 a 43);

- Cap. IV – a paróquia comunidade sinodal: introdução (n.º 44); dois ou mais (n. os 45 a 46); paróquia, célula da ‘Igreja em saída’ (n.º 47); paróquia, ‘casa do povo de Deus’ (n.º 48);

- Cap. V – olhar o futuro (n. os 49 a 53).

 = Neste longo tempo de pandemia, a Igreja católica, em Portugal, através da Conferência Episcopal, foi tentando orientar os seus fiéis (leigos, padres e diáconos e religiosos) publicando orientações. Depois do cardápio de (72) regras a 8 de maio, após a reunião plenária de junho, a CEP publicou uma nota sobre ‘Recomeçar e reconstruir – reflexão da CEP sobre a sociedade portuguesa a reconstruir depois da pandemia covid-19’, temos estes ‘desafios pastorais’.

Respigamos alguns aspetos deste documento, tentando perscrutar quais as orientações a serem seguidas…nos sublinhados que colocamos em cada número desta reflexão:

1. A Igreja em Portugal, através dos seus bispos, sente-se unida a quantos foram diretamente atingidos pela pandemia e sofrem...Partilha, igualmente, a dor das famílias que perderam os seus entes queridos.
2. A Igreja quer manifestar reconhecimento e gratidão a todos os que mais de perto têm tido a missão de conduzir o país, mesmo com decisões difíceis.
3. O primeiro desafio que se coloca à Igreja e ao mundo é saber “habitar este silêncio”.
4. Olhando a natureza doente, podemos mesmo perguntar: “onde foi parar o ser humano?
5. Não é possível falar em proteção ambiental sem que esta envolva também a proteção do ser humano.
6. O cuidado para com a pessoa doente implica igualmente restaurar e curar a vida espiritual e suscitar esperança.
7. Quais as consequências para a qualidade do serviço de saúde público e privado?
8. As questões levantadas por esta pandemia (...) devem ser ocasião para provocar uma mudança de mentalidade e uma reviravolta cultural.
9. Não se pode abandonar na solidão quem está nos momentos mais exigentes e decisivos da vida.
10. Devemos isolar de nós o vírus e não o idoso, tornando-o desumanamente solitário.
11, O lugar ideal para vencer a solidão é a família.
12. As comunidades cristãs devem ser estimuladoras de uma cultura de proximidade, organizada e proativa, que anime os sós.
13. Com a pandemia arriscamo-nos a deixar para trás faixas da população que já eram frágeis e que viram agravar a sua situação.
14. Só uma sociedade com alma pode ser inclusiva, solidária e justa.

15. Se na paróquia é necessário haver um lugar de oração, é também importante valorizar formas concretas de exercer a diakonia ou o serviço da evangelização.
16. A primeira catequese [talvez] seja a que é feita em casa, pelos pais, avós, tios, irmãos. Temos a oração da Eucaristia, mas há também a oração da manhã, da noite, antes das refeições e o terço, entre outras.
17. Para viver, a Igreja tem necessidade da Igreja doméstica, pois esta é a chave da transmissão da fé.
18. Precisamos de passar de uma pastoral familiar de eventos para uma pastoral de processos. (...) Precisamos de uma pastoral “com” as famílias.
19. São inúmeras as circunstâncias da vida em que os leigos podem exercer o sacerdócio comum.
20. É bom voltar à igreja e redescobrir a preciosidade da Eucaristia, da comunidade cristã, do serviço dos sacerdotes.
21. O amor vence a tentação do “confinamento em si mesmo”, pois tem o poder de ensinar como “se vive o outro”.
22. A Igreja é chamada a viver em comunhão com todos.
23. Muitos cristãos tendem a gerir a sua vida espiritual de forma cada vez mais privada.
24. A comunhão fraterna “atraía a atenção” por simpatia e não pelo proselitismo.
25. O campo da missão alargou-se, requer pessoas com paixão comunitária e estilo missionário.

26. O anúncio do Evangelho pede aos cristãos a coragem de habitar “novos areópagos”.
27. O primeiro anúncio precisa de uma linguagem simples, compreensível e direta que conte como Deus é Amor e ama cada um.
28. Evangelizar é [saber] como anunciar o Evangelho (...) dentro da mesma cultura.
29. Haverá melhor modo de apontar o futuro [sobre a fraternidade e a amizade social], em tempos de crise planetária?
30. A palavra “todos” começou a usar-se mais no nosso léxico, como sinónimo de humanidade inteira, sonho de percursos comuns, de esforços, consensos e soluções globais.
31. Os meios digitais podem tornar o virtual “quase real” e servir para aproximar, partilhar, construir laços e até “tocar” o coração do irmão.
32. Os meios digitais são um contributo pastoral [catequético] subsidiário.
33. Explicar o Evangelho é falar de Cristo como contínua surpresa que convém suscitar.
34. No primado da Palavra, é relevante a formação, a comunicação, a linguagem.
35. A liturgia pode e deve ser evangelizadora, desempenhando um papel de iniciação para muitos que, sem formação, participam nas celebrações em momentos especiais da existência humana.
36. A celebração da liturgia comunitária é uma experiência única numa sociedade onde prevalece o egoísmo e o individualismo.

37. Todos os serviços e ministérios na Igreja, tanto os existentes como os que possam ser criados, devem estar impregnados por um profundo dinamismo missionário.
38. Saber acolher é uma arte que evangeliza (...) Um serviço de acolhimento e integração na comunidade que deve ser retomado e alargado a outros momentos, para além da Eucaristia.
39. No âmbito do novo anúncio do Evangelho, adquire especial destaque pastoral o serviço da comunicação....nas redes sociais e no uso dos meios digitais...pelo diálogo com a sociedade civil e instituições diversas.
41. Se se trata de recomeçar, que seja sempre, como no Evangelho, a partir dos últimos.
42. Importa é que as pessoas sejam o centro e o amor o betume que une a missão comum (...) Como vamos criar uma cultura de proximidade e de novas vizinhanças?
43. Que se iniciem percursos sinodais de escuta prolongada, autênticos laboratórios de reflexão em ordem a uma “nova etapa da evangelização”.
44. Numa paróquia que seja verdadeira comunidade, não deve entrar a disputa, a discórdia, os interesses pessoais, os desejos de afirmação ou poder; não deve haver autoritarismos, críticas, invejas, ciúmes; o que se faz deve ser direcionado a todos, deve haver comunhão na diversidade.
45. A sinodalidade exige a humildade de “ir lado a lado”, com o Mestre em companhia. Evangelizar numa paróquia sinodal passa por “ir dois a dois”!
46. Na sinodalidade, vale mais o menos perfeito em unidade que o mais perfeito em desunião.
47. Passar de uma pastoral de manutenção a uma pastoral missionária é uma conversão que vai durar o seu tempo.
48. Descrevendo a comunidade como Igreja “que saiba acolher com sentimentos maternos, mostre ternura com todos, saiba olhar para o futuro com esperança, cultive a memória de povo de Deus”.
49. A mudança está sempre no ADN do jovem.
50. Sem a escuta atenta dos jovens, sem a sua visão da Igreja e do mundo, não haverá adequada renovação e conversão pastoral.
51. Jovens, a Igreja entre nós, mais ainda pela preparação da Jornada Mundial da Juventude em Portugal em 2023, está ciente de quanto podeis ser agentes da evangelização, trazendo o vosso modo de ser, agir, pensar, servir e amar.
52. Que [Deus] nos conceda a coragem de olhar para além das chagas abertas por esta pandemia e descortinar uma aurora de esperança capaz de nos lançar decididamente numa “nova etapa da evangelização”.

53. Todos irmãos e irmãos de todos.

 = Da leitura desta reflexão da CEP recolhemos como temas mais percetíveis e questões recorrentes:

* Família como espaço, realidade e sinal…alvo de evangelização e também ela evangelizadora;

* Mudança cultural e de mentalidade – em proximidade, pelo acolhimento, vivendo em afetividade, opção pelos mais fragilizados, aprendendo um novo silêncio;  

* Que Igreja somos, que queremos ser e de que forma? Uma nova visão e enquadramento de paróquia

* Comunicação em ambientes digitais…

 

António Sílvio Couto

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