Sem dramatismos, mas de forma clara e direta: o dia 29 de janeiro de 2021 há de constar nos anais do Parlamento português como uma data de vergonha, de falta de senso e, sobretudo, de luto pela decisão de aprovar a lei que, duma forma prática, legaliza a eutanásia, nem para isso lhe chame de ‘morte medicamente assistida’ ou de ‘antecipação do fim da vida, de forma digna’…
Reagindo
de uma forma séria, serena e incisiva, menos duas horas após a façanha, a
Conferência Episcopal Portuguesa escreveu e disse: «Os bispos portugueses
exprimem a sua tristeza e indignação diante da aprovação parlamentar da lei que
autoriza a eutanásia e o suicídio assistido.
Essa tristeza e indignação são acrescidas pelo facto de se legalizar uma forma
de morte provocada no momento do maior agravamento de uma pandemia mortífera,
em que todos queremos empenhar-nos em salvar o maior número de vidas, para tal
aceitando restrições da liberdade e sacrifícios económicos sem paralelo. É um
contrassenso legalizar a morte provocada neste contexto, recusando as lições
que esta pandemia nos tem dado sobre o valor precioso da vida humana, que a
comunidade em geral e nomeadamente os profissionais de saúde tentam salvar de
modo sobrehumano».
Vejamos ainda
duas citações do comunicado da CEP, sobre o ‘entendimento do sofrimento’ e a compreensão
antropológica que configura estas decisões políticas sobre questões éticas: «Não
podemos aceitar que a morte provocada seja resposta à doença e ao sofrimento (...) Para
além da política legislativa lesiva da dignidade de toda a vida humana, somos
confrontados com um retrocesso cultural sem precedentes, caraterizado pela
absolutização da autonomia e autodeterminação da pessoa».
Daqui
podemos deduzir algumas perguntas, primeiramente para os crentes e, se
oportuno, para os demais:
*
Teremos sabido falar do sofrimento e da doença, hoje, com critérios evangélicos
ou antes andámos ao sabor da compreensão hedonista-epicurista reinante?
* Uma
certa repulsa pela resignação não nos colocou na banalidade das provações, em
vez de nos conferir uma leitura daquilo que Deus quer purificar em nós?
* Onde
está a espiritualidade do sacrifício – mesmo na eucaristia – que informou
tantos dos nossos santos e que deveria fazer-nos celebrá-la, hoje, unindo os
nossos sofrimentos à paixão de Cristo?
* Mesmo
por entre toda esta pandemia, ainda não nos apercebemos que não somos donos da vida,
mas meros administradores?
Desgraçado
país que tem, em boa parte, tão inúteis deputados e interesseiros políticos de
tão baixa ética!
António Sílvio Couto
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