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sábado, 30 de janeiro de 2021

Deputados anacrónicos ou mais servidores de ideologias?

 


Sem dramatismos, mas de forma clara e direta: o dia 29 de janeiro de 2021 há de constar nos anais do Parlamento português como uma data de vergonha, de falta de senso e, sobretudo, de luto pela decisão de aprovar a lei que, duma forma prática, legaliza a eutanásia, nem para isso lhe chame de ‘morte medicamente assistida’ ou de ‘antecipação do fim da vida, de forma digna’…

Reagindo de uma forma séria, serena e incisiva, menos duas horas após a façanha, a Conferência Episcopal Portuguesa escreveu e disse: «Os bispos portugueses exprimem a sua tristeza e indignação diante da aprovação parlamentar da lei que autoriza a eutanásia e o suicídio assistido.
Essa tristeza e indignação são acrescidas pelo facto de se legalizar uma forma de morte provocada no momento do maior agravamento de uma pandemia mortífera, em que todos queremos empenhar-nos em salvar o maior número de vidas, para tal aceitando restrições da liberdade e sacrifícios económicos sem paralelo. É um contrassenso legalizar a morte provocada neste contexto, recusando as lições que esta pandemia nos tem dado sobre o valor precioso da vida humana, que a comunidade em geral e nomeadamente os profissionais de saúde tentam salvar de modo sobrehumano
».

 – Se bem que o assunto tenha andado a ser cozinhado nos tempos mais recentes – em fevereiro do ano passado foram aprovados os vários projetos (cinco), em outubro último foi recusada uma petição que solicitava a consulta em referendo – agora foram fundidos os pedaços de arranjo num só, copulativamente dando a aberração legislativa agora saída daquele ninho de lacraus…

 – Se poderia haver uma circunstância mais agravante para não trazer este assunto à liça era esta – como referem os bispos: ‘no momento do maior agravamento de uma pandemia mortífera’ – deixando a perceber que, mais uma vez, o tema serve de fumo de palco para gerar engano aos perdedores da refrega das recentes eleições presidenciais, pois os proponentes dos projetos todos perderam nos seus candidatos… Isto será, minimamente, sério e credível? Ou deveria, antes, ser levado pelo jocoso, se não estivesse tanto em causa para o futuro!

 = De verdade temos de questionar, se os parlamentares são pessoas que sabem interpretar cada tempo ou se não andarão antes ao ritmo de uma tal agenda subterrânea, que emerge conforme lhes dá jeito. De facto, temas que envolvem as questões da vida – aborto, técnicas de reprodução e de consonância com alguma moralidade assente em valores cristãos, relacionamento entre pessoas, processos no final do existir – como que fazem, hoje, a barreira psicológico-emocional para distinguir – sem rotular – quem se fundamenta em critérios do Evangelho ou está contra ele, de forma tácita ou mais explícita.

Vejamos ainda duas citações do comunicado da CEP, sobre o ‘entendimento do sofrimento’ e a compreensão antropológica que configura estas decisões políticas sobre questões éticas: «Não podemos aceitar que a morte provocada seja resposta à doença e ao sofrimento (...) Para além da política legislativa lesiva da dignidade de toda a vida humana, somos confrontados com um retrocesso cultural sem precedentes, caraterizado pela absolutização da autonomia e autodeterminação da pessoa».

Daqui podemos deduzir algumas perguntas, primeiramente para os crentes e, se oportuno, para os demais:  

* Teremos sabido falar do sofrimento e da doença, hoje, com critérios evangélicos ou antes andámos ao sabor da compreensão hedonista-epicurista reinante?

* Uma certa repulsa pela resignação não nos colocou na banalidade das provações, em vez de nos conferir uma leitura daquilo que Deus quer purificar em nós?

* Onde está a espiritualidade do sacrifício – mesmo na eucaristia – que informou tantos dos nossos santos e que deveria fazer-nos celebrá-la, hoje, unindo os nossos sofrimentos à paixão de Cristo?

* Mesmo por entre toda esta pandemia, ainda não nos apercebemos que não somos donos da vida, mas meros administradores?

Desgraçado país que tem, em boa parte, tão inúteis deputados e interesseiros políticos de tão baixa ética!

 

António Sílvio Couto

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