Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



terça-feira, 31 de maio de 2016

Correr com a bicicleta ao lado…


Um atleta alemão do triatlo, sofreu um furo na bicicleta, enquanto participava numa prova em Lisboa, recentemente. O atleta tinha duas soluções: ou desistia ou, como fez, corria descalço durante dez quilómetros que faltavam com a bicicleta ao lado… e as sapatilhas da prova de ciclismo (adequadas só à bicicleta) penduradas… Enquanto corria referiu: ‘nunca te desvies do caminho só porque algo não correu como planeaste. Tens de te manter forte, concentrar-te nas razões pelas quais corres. E fazer o melhor que puderes. Só me restam oito quilómetros e aí sim, poderei calçar as minhas sapatilhas’.

Não sabemos em que lugar ficou, no final, da prova, mas o acontecimento está a percorrer mundo e as palavras/imagens – como agora se diz – tornaram-se virais… 

= Como poderemos interpretar o que foi dito, inserido, particularmente, no contexto em que foi feito? Que lições comportam esta atitude deste atleta? Como foi possível dizer com tanta nitidez o que foi citado, estando em prova e sob pressão?

Desde logo se nota uma presença de espírito e de reflexão que espanta, pois uma parte significativa de nós ficaria transtornado com um episódio inesperado e pouco diria com nexo e racionalidade. Isto que foi feito denota uma preparação psicológica excecional e de superior qualidade, tanto na forma como no conteúdo. Dir-se-á que mais do que o valor atlético, podemos encontrar uma fibra de valor humano muito grande e acrisolada no treino e nas provas já prestadas. 

= Num tempo tão ávido de protagonistas – numa maior parte são-no pelo facilitismo e pela vulgaridade – podemos ver neste atleta alemão algo dum espírito, seja daquela nação, seja da complexidade com que vivemos, por agora, na Europa. Por vezes, nota-se – sobretudo nos países latinos e do sul do continente – uma certa superficialidade em compreendermos as atitudes e vivências do norte da Europa. É um facto, que somos diferentes e que muito daquilo que estamos a colher – nos vários âmbitos humanos sociais, económicos, políticos e até morais – são resultado duma mentalidade que se foi aprimorando com a capacidade de sabermos enfrentar as dificuldades pessoais e coletivas. Na maior parte dos países do sul da Europa não tivemos de unir-nos para recuperarmos dos estilhaços da segunda guerra mundial, enquanto os do norte lutaram para terem o nível humano que se lhes reconhece… Ainda hoje continuamos a viver numa espécie de preguiça social, mais ou menos lânguida do sol e da pacatez das nossas terras, que até vão produzindo sem termos de trabalhar muito…

Somos, efetivamente, herdeiros do epicurismo – ‘carpe die, sape vinem’ (vive o dia a dia e saboreia o vinho) – dos romanos e com alguma tolerância de vida queremos ter sucesso, se possível, sem muito trabalho… que implica esforço, persistência e sacrifício. Isso mesmo é revelado na pretensão em termos um (dito) Estado-social, onde este cuida das nossas carências, mas nós pouco ou nada contribuímos para que se enriqueça o bem comum. Tentemos olhar para a catrefada de feriados com que vivemos – ainda mais se aliados às pretensas ‘pontes’ – e como até os desvirtuamos na origem para que foram instituídos. Viu-se isso no mais recente do ‘Corpo de Deus’, que muito poucos usaram para a marca que lhe está adstrita, a de ‘dia santo’ católico.

Dizem que, nalguns países do norte da Europa, também foram retirados – em momentos de maior contenção económica – alguns feriados, mas que não foram logo repostos, quando essa razão mudou. Lá continuam a trabalhar e nós, por cá, bastou um leve aceno de recuperação – que brevemente será contrariada com factos e medidas de nova e acentuada crise – para entrarmos nessa distribuição de favores e prebendas. Veremos até quando!  

Temos de mudar de mentalidade: não se enriquece de forma honesta sem trabalho. Não podemos continuar a querer viver como ricos, quando não passamos duns tesos perfumados e vaidosos endividados. Basta de tentarem enganar-nos com pão e jogos…fornecidos ao desbarato e sem mérito. Os romanos caíram com essa presunção e petulância! E nós teremos idêntico futuro…brevemente. Sejamos realistas!

 

António Sílvio Couto




sábado, 28 de maio de 2016

Com o abrunhosa não vou…nem à bola


Por estes dias surgiu um apelidado hino para a seleção portuguesa de futebol em vias do europeu em França, durante o mês de junho.

Escolheram como canta-autor um certo de pedro abrunhosa – a quem parece que disseram, um dia, a brincar, que tinha jeito para cantarolar e ele levou a sério a brincadeira e agora vai-se entretendo (à mistura de explorar os mais ou menos incautos) a cançonetar… dentro e fora do país…com a cobertura de interesses regionalistas, caldeando amplitudes corporativas de classe e/ou de partido… O lóbi tem funcionado!

Detesto quem se esconde. Abomino quem tenta ludibriar a boa-fé alheia. Abjuro quem usa de máscara para se promover. Arrenego quem faz das suas limitações – reais ou capciosas… com menos boa visão – um estilo de figura… Aquele misantropo que se vai camuflando sob uns óculos revivalistas não merece que lhe demos crédito, pois se tenta arvorar em intelectual – um anterior selecionador nacional (estrangeiro) diria que era da ‘bosta’ – amealhando proventos à custa de causas que, por serem nacionais, não deviam ser atribuídas nem assumidas por gente quem não tem nível nem qualidade…mínima, suficiente ou razoável. 

= Plágio musical…tristeza nacional

Intitulado: ‘tudo o que eu te dou. Somos Portugal’, o refrão do (dito) hino para o campeonato europeu, em França 2016, por parte de Portugal diz: ‘Que tudo o que te dou, tu me dás a mim. Tudo o que sonhei, tu farás por mim. Tudo o que me dás, nós damos-te a ti. Somos Portugal’.

Dizem que querem fazer de cada português 1 de 11 milhões de adeptos pela seleção… Mas com esta mobilização musical já parece que perdemos os jogos… todos, ainda sem entramos em campo!

Não basta querem vender uma imagem retocada em fotoshop, pois bem depressa se percebe que não corresponde à realidade. Os jogadores vêm para servir-se da seleção, quais estrangeirados em comissão de serviço, não sentem as dores da mãe-pátria nem tão pouco dos que aqui sofrem para conseguirem sobreviver às dificuldades. Uma parte significativa vem pavonear-se nos seus carrões, sem cuidarem de não ofenderem os mais pobres. Tratados como ídolos, esquecem-se quem têm pés de barro… sim a sua arte de pés – foot ball (bola com os pés) – pode claudicar à mais pequena lesão e tudo se esboroa… 

= Alienação coletiva…desgraça sebastianista

Como povo/nação quase sempre nos tentamos unir em volta de projetos mais ou menos ilusórios. A mística sebastianista como que reverdece em maré de intenções do nosso ‘eu coletivo’. Por agora têm sido as façanhas desportivas – sobretudo na área do futebol… dos mais novos ao sénior – que têm servido de catarse aos sonhos de vitória no contexto europeu e até mundial. O herói da Madeira tem servido de engodo para alguns intentos, mas os anos passam e de pouco tem valido em momentos decisivos. Mais uma vez – possivelmente a derradeira – estão colocadas nele as esperanças coletivas…mas se falhar, adeus!

Fique claro: não acreditava na boa prestação da seleção portuguesa de futebol, no europeu de França… Mas agora com um promotor que canta a falar e tenta falar a cantar, só poderemos acreditar que o insucesso está garantido… E nem a Nossa Senhora de Fátima – a quem nunca vimos os nossos jogadores e/ou dirigentes referirem-se antes, durante ou depois dos jogos – nos poderá salvar, pois a maioria dos intervenientes lusos parece que se envergonha de a ela recorrem… 

Queira Deus que, ao menos, saibam e cantem o hino nacional – a portuguesa – pois na sua letra nos deixamos inflamar na luta contra os bretões – os canhões seria sadismo – teremos de marchar, marchar!

 

António Sílvio Couto



quarta-feira, 25 de maio de 2016

A vaca que ri, já voa?


Teve tanto de inesperado quanto de caricato o final da apresentação dum programa do atual governo, onde o chefe deste deu à responsável do projeto um artefacto a querer fazer lembrar uma vaca com asas…de borboleta.

Depois do queijo da ‘vaca que ri’ e de tantas outras alusões à vaca, este trouxe à liça uma comunicação a roçar quase o ridículo… agora que precisamos de tratar as coisas sérias a sério.

- Sabemos que nalgumas culturas e religiões há as ‘vacas são sagradas’, isto é, intocáveis e grandemente veneradas…passeando-se incólumes nas ruas. Aquele sinal queria dizer que, no atual contexto político, temos de ter cuidado com as vacas sagradas: intocáveis, veneráveis e incontestadas? Querem-nos fazer mudar de cultura, tendo de aceitar o que eles fazem de forma imutável? Sentir-se-ão eles mesmos tais ‘vacas sagradas’?

- Veja-se as reações com que certos sindicatos – e sindicalistas ‘sagrados’ – se acham na condução dos assuntos de ensino, de transportes, de outros setores da vida produtiva nacional… Se alguém ousa caricaturar seja o que for, logo fazem reverter as suas ações em queixa em tribunal ou com mais contestação… Até quando teremos de ser massacrados com atitudes de gente democrata só para si mesma?

- Repare-se nas palavras dogmáticas de certas figuras da comunicação social – como por exemplo uma tal de constância, cujo nome desmente as suas posições ou dessoutro jornalista que escreve livros porque não lê o que gostava – quase conjugando a expressão ‘nem que a vaca tussa’, terão, em seu entendimento, sempre razão seja qual for a mudança do mundo em que vivem…em desfasamento com aquilo que fazem… Talvez, um dia, ‘o boi espirre’ e, nessa ocasião, hão de perceber os seus tiques de arrogância e malcriadez. 

= Dizem que o símbolo da vaca com asas de borboleta queria significar que não há impossíveis para quem usou aquele adereço de brincar. Com efeito, temos vindo a certificar-nos que, neste país, onde tudo pode ser o seu contrário em breve, bastando que mude quem o pretenda executar, vai-se afundando em muitas ideias e poucas obras dignas de tal epítetos.

Dir-se-á que se pretende governar e falar para entreter quem não entenda o que querem vender-nos como sonho e alguma irrealidade. Isto se pode verificar nas intervenções – diárias, constantes e insistentes – com que o atual inquilino do palácio de Belém anda na roda-viva do seu (nosso) dia-a-dia. Até já consegue estipular para quando vai intervir: só depois das autárquicas, no terceiro trimestre do próximo ano… E, se até lá, algo acontecer que o obrigue a tomar posição? Entraremos no pântano que fez outros demitirem-se? E se as contas do país não corresponderem ao desejado por quem nos observa e controla, iremos andar a patinar na incongruência de quem não consegue dar conta do recado?

Conta-se que São Tomás de Aquino foi sobressaltado por um confrade que lhe foi dizer: irmão Tomás, vem depressa, olha um boi a voar… Ao que o bom do estudioso respondeu: é mais fácil ver um boi a voar do que um frade a mentir!

Também agora e aqui parece ser (mais) possível colocar vacas a voar com asas de borboleta do que serem resolvidos os problemas do país com intenções e jogos de poder, sob um certo controlo ideológico… mais ou menos subtil e suficientemente enganador. 

= No contexto europeu tem vindo a crescer uma nova vaga de contestação – para já nalguns países, mas em breve poderá ser mais abrangente – com especial destaque para a breve decisão britânica de continuar ou sair da UE. Uns preocupam-se com a (dita) extrema-direita, outros lançam suspeita sobre o futuro, uns tantos (eurodeputados e afins) querem os benefícios da integração e não tanto as exigências da participação, mas poucos atendem às movimentações de certas esquerdas mais ou menos sub-reptícias e internacionalistas… Temos de ter em conta que já há mais de seis décadas a Europa tem vivido mais ou menos em paz… à exceção do conflito regional dos Balcãs. Ora isso tem custos e precisa de ser alimentado. Mereceremos esta paz? Até quando?    

 

António Sílvio Couto 




segunda-feira, 23 de maio de 2016

Estado…anónimo, totalitário e amoral


Nos tempos mais recentes parece que voltou à discussão pública – senão clara ao menos tácita – a questão do Estado e dos seus poderes e afazeres… desde as questões de ensino até à economia, passando pelos direitos à saúde, à segurança (social, da ordem ou nacional), ao trabalho e impostos, às questões de transportes e aos problemas éticos/morais… Em tudo isto o Estado – anónimo, totalitário e amoral – pretende ter algo a dizer ou a decidir… mesmo que seja de forma mais ou menos ideológica.

Por outro lado, vemos a ser relegado para plano secundário ou insignificante quem tente tomar as rédeas do investimento – seja em que área for – nesse grande setor da iniciativa privada, que para alguns dos servidores do Estado – desde políticos até autarcas, sem esquecer a longa legião de assalariados do regime – não passam de atentados ao bem público, quando deveria ser entendido como ações em favor do bem comum. Deste modo parece confundir-se ‘bem comum’ com ‘bem público’, sendo este como que o chapéu onde se escondem e ‘labutam’ muitos preguiçosos e beneficiados dos subsídios e prebendas… do Estado!

Só que há uma grande diferença: quem paga os impostos e alimenta os servidores do Estado são esses que têm iniciativas de âmbito privado e que produzem para que o país possa viver acima do nível de estagnação… Isso mesmo temos vindo a ver nos primeiros meses deste ano, quando o governo – ariete ideológico de certos interesses do Estado – fez reverter muitas das medidas que faziam acontecer as exportações e gerar (ainda) algum emprego… Aqui pode estar o ‘segredo’ do sucesso das medidas do Estado/governo com seus sequazes a reclamar até – pasme-se! – a renacionalização da banca e de outros serviços, sobretudo onde os sindicatos têm poder e capacidade de paralisação do país, que são os transportes...

Não fosse a nossa integração no plano europeu da UE e estaríamos quase ao nível da Venezuela, com a agravante de não termos petróleo, como fonte de rendimento… As exigências que nos vão fazendo para termos equilíbrio nas contas – que alguns reclamam com sendo interferência do exterior nas nossas decisões mais nacionais e patrióticas – tornam-nos um tanto menos vulneráveis aos caprichos de certas forças (ditas) defensoras do ‘Estado social’, mas que, por viverem à custa dele, não conseguem criar mais do que ilusões nas pessoas que ainda julgam que temos total capacidade de nos sabermos governar… 

= Estado anónimo – sem rosto e quase sem identidade assumida, vemos que, quando algo é menos benéfico, não é fácil de chamar à responsabilidade quem possa ter prevaricado. Em certas matérias este anonimato serve para esconder alguma incompetência, o que se torna ainda mais grave quando há prejuízos irreparáveis como na saúde, na justiça ou mesmo no desgoverno de dinheiros (ditos) públicos, com as derrapagens e os custos acrescidos em tantas obras do Estado…patrão distante e mesmo distraído!  

= Estado totalitário – só quem pensa e faz como a maioria quer e decreta é que pode ter sucesso. Foi-se criando uma tal dependência do Estado, que há situações quase ridículas, onde senão foi quem governa a pensar – como se nota isto nas autarquias! – não tem capacidade de ser concretizado. Nota-se um forte monopólio do ‘pensamento’, sendo muitas vezes as ideias compradas com subsídios… em vez de serem dadas ajudas à iniciativa privada! Pior ainda quando é a cor do cartão partidário que faz toda a diferença, tanto para ser empregado, como ser escutado social e civicamente! 

= Estado amoral – embora se diga sem religião, a neutralidade não pode ser simplesmente agnóstico, pois isto já seria tomar posição, dando mais cobertura a quem se deseja afirmar como sem religião ou talvez numa atitude mais anticristã… Embora pretenda dizer-se sem privilegiar ninguém, quando se legisla sobre matérias de índole ética – sobretudo nas questões ligadas ao tema da vida – já se está a querer influenciar ao menos os que não pensam como certos proponentes em matérias a serem estudadas e não a fazerem disso bandeira de temas fraturantes…como é nítido neste monopólio reinante.

Disse-se, em tempos, que é preciso menos Estado e melhor Estado. Não é isso que temos visto, por agora!   

 

António Sílvio Couto




segunda-feira, 16 de maio de 2016

À volta da paixão do futebol


Há coisas que não são fáceis de explicar. De entre elas é a de ser adepto de um clube desportivo… onde o futebol tenha a sua maior expressão. Isso mesmo se pode ver por estes dias, tanto nas palavras como nos atos das pessoas, seja dos intervenientes diretos (dirigentes, jogadores ou treinadores) ou dos adeptos… mesmo dos mas conhecidos até aos mais anónimos.

De facto, o futebol – o jogado ou o falado – tem vindo a entrar na área da paixão, deixando de ser entendido, sentido e vivido com a inteligência, onde a racionalidade deixa um pouco a desejar, tanto na forma como no conteúdo.

A emotividade foi, assim criando e nalguns casos crispando, uma atmosfera onde muito daquilo que se diz poderá levar as pessoas a não serem totalmente responsabilizadas pelo que falam e fazem.

Quantas vezes é, nestas ocasiões, que podemos saber, verdadeira e sinceramente, quem são as pessoas, nós ou os outros… Quantos egos se elevam em maré de vitória e outros se assumem com humildade colocando o acento no conjunto de todos – o ‘coletivo’, como agora se diz… Quantos sinais de orgulho – que se agravam muito mais quando a educação humana e cívica deixa um tanto desejar – emergem em situações de vitória ou no rescaldo das derrotas… Quantas ofensas e agravos surgem, só porque não ganhou quem se gostaria ou se goraram as expetativas em razão dos investimentos económicos ou de outros interesses… em jogo, sobretudo fora do campo da disputa. 

= Agora que acabou o campeonato principal de futebol, em Portugal, podemos referir certos episódios que, por serem algo significativos, nos deveriam levar a refletir… muito para além do que a paixão é capaz de interpretar.

. Quem ganhou: foi quem chegou em primeiro ou quem melhor jogou? A ver pelas festas, o segundo – que perdeu em todas as competições (dentro e fora do país) em que teve intervenção – fez o seu papel ou alguém usou de manipulação?

. Tal como noutros campeonatos, houve quem descesse e quem subisse, à mistura com outros que se salvaram nos últimos momentos…Um destes até sentiu a obrigação de cumprir a promessa de ir a Fátima a pé, como agradecimento. Que tem a fé a ver com o futebol? É só para os momentos de aflição ou deveria também aparecer nas horas de conquista?

. Mais uma vez há negócios de compra e de venda de jogadores – alguns rendem fortunas, apesar de serem novos em idade – daqui para fora e de fora para cá. Não nos faz impressão esta vendagem de pessoas, como se fossem escravos? Agora que se vai ganhando mais sensibilidade aos ‘direitos dos animais’, não estaremos a ser tolerantes com os ‘artistas da bola’, embora mais pareçam coisas e objetos descartáveis?

. A indústria do futebol faz correr muito dinheiro antes e depois do campo de jogo. Até quando se vai ignorar o submundo em que tantos interesses se desenvolvem? Já terão sido limpas as teias do poder – local e autárquico, económico e social – das artimanhas com que nos têm distraído ou mesmo intoxicado?

. Somos um país a precisar de estudo, pois temos três jornais diários, que vendem coisas sobre o negócio do desporto e do futebol em particular, acrescentando ainda os canais televisivos e as respetivas tabelas de ligação específica, para além dos outros quem fazem notícia com os comentários e as intrigas… Até onde irá esta intoxicação informativa e (dita) noticiosa? A quem interessa dar continuidade ao entretenimento? O poder político não ganha com estas distrações? 

= ‘The show mast go on!’ (o espetáculo tem de continuar) e em breve viveremos a competição europeia de seleções, os jogos olímpicos, as corridas de automóveis (em pista ou na estrada), as deambulações do ténis, as corridas de cavalos, as apostas e tantos outros adereços dum mundo onde o dinheiro é mais importante do que o desporto e em que os interesses pessoais como que se sobrepõem ao bem comum…

Neste circo da vida, vamos vivendo mais de ‘pão e jogos’ do que os romanos em final de civilização. Também este sistema de vida terá um termo… Importa está preparado para a nova etapa que virá!   

 

António Sílvio Couto



quarta-feira, 11 de maio de 2016

Monopólio de ensino?


Eis que surge – e ainda bem, para sabermos, de verdade, quem nos governa e quais os princípios que professa e os meios que usa… bem como ao contrário, quem nos manipula ou tenta ludibriar – a discussão sobre o sistema de ensino, que temos em Portugal. Uns querem-no todo e só estatal, outros incluem a possibilidade de haver escolha no privado e outros ainda tentam ganhar dinheiro com os lucros que certos regimes permitem ou dissimulam…

Talvez a questão ainda esteja no princípio, mas já vimos defensores e detratores de qualquer destes hipotéticos regimes, podendo virem a extremar-se posições, pois pode-se perceber que há, de facto, alguns ou bastantes ‘interesses alheios’ ao ensino enquanto tal… Não vale a pena regatear! 

= Desengane-se quem pense que se vai ‘poupar dinheiro’ com a redefinição (ou será que não é isso?) dos contratos de associação das escolas…até agora abrangidas. Isto pode ter criado uma espécie de aferição do atual governo e seus apoiantes de esquerda para saber – pela reação ou não, pela luta ou pela aceitação, pelo silêncio aceite ou comprado – se podem interferir noutros setores onde colidem os (ditos) interesses estatais com o desenvolvimento de iniciativas privadas, tais como nas instituições particulares de solidariedade social, abrangendo a infância e a velhice, ou mesmo noutras intenções – já acenadas – da renacionalização à medida e na semelhança do abrilismo por agora recauchutado… 

= Diga-se em abono da verdade que, quem tem filhos nas ditas escolas com contrato de associação, é fortemente prejudicado, pois paga os impostos e não tem os filhos no ensino estatal, tendo ainda de suportar os custos de os colocarem em escolas que são mais caras… embora de inegável melhor qualidade! Bastará ver os rankings das escolas e teremos algo a concluir. Com efeito, as garras de monopólio são muitas e diversificadas… bastará está, minimamente, atento! Efetivamente, há gente que não sabe conviver com a diversidade nem tão pouco com a capacidade que tantos outros cidadãos – de cor partidária diferente e com valores para além da vulgaridade – conseguem realizar sem precisarem dos proventos estatais…para serem alguém na vida! 

= A liberdade de ensino e de aprendizagem é muito mais do que um mero direito da constituição, é uma inerência da condição humana e dos seus direitos mais básicos. Os primeiros educadores são os pais e estes nunca devem ser substituídos pelo Estado, seja ele qual. Já o jacobinismo da primeira república usou de idênticos truques, tentando criar a nacionalização do ensino e da educação dos filhos da classe proletária e não só. Dessa época temos nomes que pontificam nas indicações de ruas e avenidas na maior parte das vilas e cidades do nosso país… Talvez agora se não deva esquecer quanto vale a força do povo que pensa e que não se deixa comprar, ontem como hoje!

Mesmo sem nos darmos conta – clara e distintamente – estão a pretender atingir a Igreja católica nas suas realizações mais básicas e com bons índices de popularidade: o ensino e os cuidados prestados às pessoas em fragilidade, seja na saúde, seja na segurança (dita) social ou até mesmo na suplência das necessidades mais básicas de alimentação, de vestuário e de habitação… 

= Talvez quem se quis imiscuir no tema do ensino/educação não se tenha advertido de que há uma razoável população escolarizada e instruída que não precisa dos unguentos estatais para sobreviver… o mesmo não se poderá dizer de quem vive da militância político-partidária, pois muitos deles e delas nunca souberam o que era trabalhar senão para o dono que cobra impostos aos outros e a eles/elas lhes dá proveitos em maré de estarem no poder. Dizem que fazem ‘serviço público’, mas deste tentam recolher os proventos que alimentarão as suas aspirações mais ou menos consentâneas com o ritmo de trabalho… De facto, não somos um país onde a meritocracia é quem faz sucesso, mas antes quem se sabe posicionar na grelha de partida dos que adulam e discursam até que se descubra que não passam de marionetes de pouco mais do que uma feira de vaidades e dalgumas boas intenções… seja qual for a área e/ou a competência!

 

António Sílvio Couto 




segunda-feira, 9 de maio de 2016

Sobre o túnel…do Marão


 


A recente inauguração e, posterior colocação em funcionamento, do túnel do Marão trouxe à luz das notícias muitas e diversas observações: extensão – 5,6 Km; faz a ligação entre Amarante e Vila Real, na A4; quase oito anos de obras (com algumas interrupções de permeio); portagem – entre 1,95 euros (classe 1) e 4,90 (classe 4); custos globais da obra – 398 milhões de euros… numa comparticipação de 90 milhões de euros por fundos comunitários; abreviando em trinta e cinco minutos a viagem entre Porto e Bragança… com um tempo de travessia do túnel em vinte minutos…

Ao ato de inauguração estiveram os governantes que lançaram o projeto e o atual chefe do governo…por sinal do mesmo partido político…tendo-se recusado a estar outro (de partido diferente) que preencheu o espaço entre ambos…

Só nas primeiras vinte e quatro horas de abertura à circulação passaram – na maioria dos casos, disseram alguns dos escutados, por curiosidade – mais de dezoito mil veículos, pagando as respetivas portagens…

Houve quem considerasse esta obra pública como a mais importante dos últimos cinquenta anos em Portugal… só comparável com a travessia do Tejo entre Lisboa e Almada. Por entre avanços e recuos – no conjunto o tempo de paragem na construção perfaz quase metade (quatro anos) da execução – se tentou desfazer o adágio transmontano: para lá do Marão mandam os que lá estão! Tal como noutras ocasiões houve chavões que pretendiam qualificar esta obra… mas o grande beneficiado é o público utilizador, que deverá pagar pela sua utilização! 

= Esta obra, para além de significativa pelo investimento e pela nova etapa de desenvolvimento que traz à região, pode tornar-se algo de simbólico, pois o maior túnel rodoviário da Península Ibérica como que representa uma opção dos gastos públicos em Portugal: inserido nas parcerias público-privadas foi engordando com o passar do tempo e com repercussões nas contas públicas, que tantos custos têm dado aos contribuintes. De facto, à política do betão-armado tem-se seguido o prolongamento de projetos que se arrastam no tempo e fazem malbaratar os impostos de todos… uns pagam e outros usufruem, desejando não pagar o uso dos benefícios!

É contra este estado de coisas que sentimos que o túnel do Marão não pode ser engalanado com discursos de circunstância nem com desfiles de ‘lixos tóxicos’ – um dos participantes na festa foi assim considerado por outro agora no poder – que fazem com que possam parecer benfeitores dos negócios alheios. Temos de fazer um maior escrutínio das decisões dos governantes, fazendo-os assumir as consequências das suas decisões e não permitindo que sejam ilibados de culpas quando nos fazem pagar por cada quilómetro do túnel mais de setenta milhões de euros… 

= Esta obra (quase) faraónica não pode continuar a ser considerada uma pérola do investimento público, quando outros setores da nossa vida social precisam de ser atendidos e não relegados para as periferias das decisões governativas. Incluímos nesta leitura as áreas da educação (ensino e emprego), da saúde (cuidados e hospitais) e da própria segurança social. E nem a tentativa de fazer coincidir com os feriados de final de abril ou do princípio de maio, podem encobrir as más decisões – há quem lhes chame ‘interesseiras’ ou até ideologizadas – nestes setores com as vistosas festas de autarcas beneficiários ou as regalias dos que mais contestam ou exigem.

A luz que já brilhou ao fundo do túnel do Marão não poderá encandear os mais incautos, que podem ser tentados a ficarem-se nas danças do presidente em viagem de Estado ou nas declarações ‘ofendidas’ daqueles que não gostam quem lhes apontem os erros e facilmente se lamuriam por não serem compreendidos nos pretensos bons propósitos de serviço público… até ver!

O túnel do Marão continuará a ser uma boa fonte de inspiração para aqueles que querem ultrapassar as dificuldades, unindo esforços e capacitando todos quantos estão ao serviço dos outros…agora e no futuro!     

 

António Sílvio Couto




terça-feira, 3 de maio de 2016

Fuinha na engrenagem…




Foi notícia por estes dias que uma fuinha morreu eletrocutada no maior acelerador de partículas do mundo – designado: large hadron collider (LHC), do conselho europeu para a pesquisa nuclear, na sigla francesa CERN – nos arredores de Genebra, Suíça.

O ‘acidente’ ocorreu quando o infausto animal mordeu os cabos ligados a um transformador de mais de 60 mil volts, causando um curto-circuito no sistema… Os danos causados pela intrusa levarão, pelo menos uma semana, a serem reparados, causando grandes prejuízos ao projeto científico em desenvolvimento e que envolve custos superiores a 7 mil milhões de euros…

Faça-se o que se desejar para descobrir ‘a partícula de Deus’ – outros dizem de ‘bosão de Higgs’ – como uma espécie de princípio essencial de tudo quanto conhecemos até agora… poderemos ir esbarrando com obstáculos nem sempre previsíveis ou presumíveis…

Então, como é que uma simples e (quase) inofensiva fuinha pode transtornar o maior e mais caro projeto científico em curso? Que significado terá mais este percalço nas investigações? Até onde poderá ir a leitura deste episódio em matéria científica? Não será que, muitas vezes, pretendemos andar depressa e, por momentos, temos saber aceitar os insucessos não-previstos? 

= Mais ou menos a nossa sabedoria popular vai gerando a necessidade de sabermos interpretar os erros, os percalços e os insucessos como modos de sermos (mais ou menos) corrigidos. Quem não terá já tentado compreender o significado daquilo que nos faz arrepiar caminho no itinerário que tínhamos traçado? Quem não teve de recuar – de forma estratégica ou mesmo ocasional – em ordem a conseguir os seus objetivos honestos e racionais? Quantas vezes uma derrota hoje nos faz aprender a saber lidar com os erros e as más decisões de ontem e para uma nova e melhor aprendizagem amanhã?

Digamos que há (ou pode haver) muitas ‘fuinhas’ – mais psicológicas do que físicas – na nossa engrenagem de vida, não como dificuldades intransponíveis mas como degraus a serem percorridos com mais segurança e acerto… depois das barreiras colocadas. 

= Na convivência social há quem possa considerar que tem de ‘engolir sapos’ – isto é, comer aquilo de que se não aprecia – quando a contragosto tem de se enfrentar com algo que, anteriormente, contestou. Há quem faça disso uma espécie de derrota do seu ego e se sinta incomodado por ter de não conseguir levar a sua pretensão ao termo que pretendia. Isso como que carateriza uma espécie de orgulho um tanto disfarçado de humildade, senão mesmo de humilhação. Não é fácil para quem tenha um culto da ‘sua’ personalidade mais ou menos exaltada, pois ser-lhe-á um tanto difícil ter de ceder, quando isso pode ser a melhor forma de ‘conquistar’ a consideração dos outros. Os egocêntricos não conseguem lidar bem com tais derrotas, embora elas sejam o melhor para si mesmo e, sobretudo, para os outros… pois terão de aprender a saber perder a bem ou pelo menos não tão bem! 

= Na vida político-social mais recente – que alguns até apelidam de estar em ‘paz social – temos podido ver certos indícios de que bastará a intromissão dalguma fuinha no sistema para bem depressa algo começar a correr menos bem… A luta sindical, as reivindicações laborais, as propostas de novos salários, certos temas fraturantes (éticos ou não), poderão vir a ser as tais fuinhas que podem fazer colapsar o que tem vindo a construir na descrispação, num certo azedume ideológico ou noutros assuntos mais profundos, que por agora não interessa trazer à ribalta…

Em determinados momentos fica-nos a sensação de algo anda a flutuar e não conseguimos entender com nitidez o que se pretende que aconteça. Dá a impressão que certas forças sociais, económicas e político-partidárias escondem qualquer coisa que lhe poderá ser mais útil em momentos posteriores de crise… Será este discurso assim encriptado que interessa ao país… cá dentro ou lá fora? Será que uns certos arranjos de circunstância são favoráveis ou nocivos para a nosso futuro? Quem fala verdade: as promessas ou os factos?

Precisamos de estar atentos e vigilantes, pois com facilidade tudo se pode agravar… rapidamente!

 

António Sílvio Couto