Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



segunda-feira, 28 de abril de 2014

Quando aprender pode ser ensinar

 
Recordei-me, por estes dias, de uma observação escutada há muito tempo: um padre foi mudado de paróquia; era relativamente novo; quando chegou ficou impressionado com um grande pedra que estava no meio da igreja; logo iniciou formas de a remover; aproximou-se um velho lá da terra que o aconselhou, dizendo: antes de tirar a pedra de onde está talvez seja conveniente perguntar porque é que a pedra está ainda ali!

De fato, há pessoas que querem, onde chegam, por tudo a seu gosto… e bem depressa. Têm ideias e planos, que devem ser executados com o máximo da rapidez. Por vezes, nem perguntam ou se aferem ao estado das questões e dos lugares… desde que se execute o que pretendem.

Nos tempos que correm há muita coisa que está parada. Há muitas instituições que estagnaram no tempo. Há muitas estruturas anquilosadas e, nalguns casos, sem alma. Há pessoas que estagnaram no já feito, no antes aprendido… numa espécie de segurança sem risco porque (quase) defunta ou morta.

Há ainda demasiados salvadores que mais parecem não ser do que apressados sem consistência. Há projetos que têm de ser renovados e ainda vivências sociais e mesmo eclesiais, que estão a precisar de novas energias e de outros executantes. Há, por vezes, pormenores que podem fazer a diferença para que as coisas mudem… desde as atitudes até à disposição… Mas não se pode fazer como se nada tivesse sido feito, até então!

= Quando aprender…

Na história de cada um de nós fomos aprendendo através de ensinamentos que nos foram ministrados por mais velhos, com mais sabedoria, com mais experiência de vida e até com mais instrução Cada um de nós é resultado de muitas aprendizagens, umas sistemáticas e organizadas para a nossa formação humana e cultural, mas tantas outras que fomos recebendo nos ‘livros’ da vida com boas e más decisões, com lições e erros, com avanços e recuos na estruturação da nossa personalidade.

Manter a capacidade de aprender poderá e deverá ser uma boa atitude de vida, pois com todos temos algo que nos fará crescer e amadurecer… ao longo de toda a vida.

O mesmo se pode dizer da nossa capacidade de adaptação a novas situações, sejam elas de natureza humana, sejam ainda de compreensão das culturas que nos envolvem… O tempo da fixação – nascer, crescer e morrer – no mesmo local já não tem mais lugar. E, quando vamos para um novo lugar, temos de aprender outros hábitos, outras formas de estar com novas pessoas, com quem temos de saber interagir com educação, respeito e, sobretudo, humildade.

Será de toda a inteligência quer aprender antes de querer ensinar… mesmo que se tenha instrução e cultura mais elaborada em relação àqueles/as que nos acolhem. Certas vivacidades fazem o contrário…e os resultados não serão muito benéficos, tanto no presente como no futuro.


… Pode ser ensinar

Será partindo do estado (humano, cultural ou sociológico) em que cada um de nós está que poderemos dialogar na aprendizagem/ensino com os outros. Se alguém quer ser respeitado, terá de saber respeitar os seus interlocutores. Normalmente cultura é muito mais do que instrução e esta deverá enquadrar-se nas possibilidades e oportunidades que são dadas a cada um.     

Quem não terá já aprendido assuntos importantes pelo simples exemplo (ou testemunho) de uma pessoa aparentemente sem grande instrução, mas que adquiriu valores e critérios na escola da vida, seja na família, seja noutra qualquer instância educativa onde se permeiam as grandes questões da vida e da ética.

Se fossemos todos mais humildes aprenderíamos com tudo e com todos, pois será na intercomunhão de ideias, de partilhas e mesmo de culturas que saberemos construir uma sociedade onde a tolerância deixa de ser ideal para se tornar projeto de vida e de conduta.

Como gostaria de saber aprender para que, sem grandes lições, pudesse ensinar! Fica o desejo. Assim o consiga viver e partilhar, onde quer que me encontre!
 

António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)


terça-feira, 22 de abril de 2014

Exorcizar o medo e a resignação… pela força pascal


Em conversa pessoal e telefónica com várias pessoas, de diferente estrato cultural e mesmo de sensibilidade diversa sobre questões da vida – onde a fé também ocupa espaço – e da relação das pessoas umas com as outras, tirei uma breve conclusão: parece que anda tudo a desistir, o medo possui o relacionamento e nota-se uma espécie de resignação negativa que só traz maior tristeza e angústia.

Ora, estando nós a celebrar a Ressurreição de Jesus Cristo, pode ser oportuno delinear alguns pontos de partilha/reflexão em ordem a exorcizarmos esse medo, que não é de Deus, e tão nefasta resignação, que não é virtude, mas só nos traz aflição.

= Quando o medo faz fugir de nós mesmos!

Não deixa de ser significativo, que havendo tantas lamúrias da falta de dinheiro, os dados referem que este tempo de (ditas) férias da Páscoa foram o melhor da ocupação hoteleira dos últimos anos. É um fato que as nossas assembleias celebrantes nas paróquias se esvaziaram de muitos dos pretensos praticantes… e não terão ido – presumo eu – às celebrações nos locais de descanso…

Não sabemos com certeza o que leva as pessoas a trocar um tempo mais intenso de fé por um tempo de férias. Não sabemos as razões, mas podemos adivinhar as explicações. Não conhecemos todos os motivos, mas poderemos conjeturar a não-motivação. Não julgamos ninguém, mas deveremos interrogar-nos a nós mesmos.

Com efeito, a mobilidade humana é uma das grandes caraterísticas dos nossos dias. Sabemos ainda que as pessoas procuram – até mesmo na linguagem da fé... e na sua expressão católica – os lugares e sítios onde são melhor atendidas, onde encontram respostas para as suas questões, onde podem aliar procura com resposta… Hoje não nos reduzimos à oferta do pé da porta… seja qual for o produto, mesmo em questões de religião. Por isso, o afastamento da prática da fé – dizemo-lo do contexto católico, que é o que parece que conhecemos melhor! – pode ter muitas explicações, mas também pode e deve questionar os comunicadores e os celebrantes… porque o público tem – no seu entendimento, sobretudo, emocional – quase sempre razão!

Uma nota de possível ‘provocação’ – veja-se a realização do jogo principal de um clube, na área do futebol, que não teve pejo de colocá-lo na tarde do domingo de Páscoa…quase tudo parou para se associar ao evento. Será esta assumidamente uma nova forma de religião e de mística? Nada nos move contra ninguém, mas a inovação do episódio dever-nos-ia fazer refletir… a todos!

Poderemos, então, deduzir que o medo como que se exorciza na força da união e esta se exprime em celebrações rituais nem sempre tão consentâneas com a tradição pessoal ou grupal.

= Resignação ou reivindicação?

Já vai longe o tempo em que a resposta: ‘tem que ser, resigne-se’, calava os impropérios de nem tudo decorrer como era desejável. Desde há umas décadas a esta parte, sobretudo na nossa cultura portuguesa, ouvimos mais: ‘tenho direito… exijo’, resumindo, deste modo, a capacidade de não ter de se submeter mesmo às condicionantes da vida com suas agruras e sacrifícios.

Parece que até o sacrifício com valor religioso e espiritual caiu em desuso. Com alguma dificuldade se faz apelo à penitência e aos exercícios de abstinência e de jejum. Temos estado a viver mais ao sabor do hedonismo do que ao ritmo do estoicismo. A vivência do cristianismo tem tido dificuldade em aferir-se ao bom proveito das coisas que dão prazer na vida e nem sempre se tem feito um enquadramento correto da entrega do que custa como processo de purificação espiritual e mesmo religiosa.

Quantas vezes há alegria sem se ter percorrido o caminho do Calvário. Quantas vezes os aleluias de festa não correspondem às genuflexões diante da Cruz. Quantas vezes os foguetes de contentamento não tiveram o correspondente bater no peito de arrependimento.
 

Que a Cruz vazia de Cristo signifique um revigoramento da paz sem medo de um maior acolhimento de Jesus na vida e cuidado aos outros!        

 

António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

quinta-feira, 17 de abril de 2014

’25 de abril’ sempre?


Estamos prestes a completar quatro décadas sobre a designada ‘revolução dos cravos’, ocorrida a 25 de abril de 1974.

É costume perguntar-se: ‘onde estava quando aconteceu o 25 de abril’.

Pela minha parte estava no seminário de N.ª S.ª da Conceição, em Braga, a frequentar o quarto ano, hoje designado de oitavo ano de escolaridade. O reitor do tempo, cónego António Macedo quis dar-nos algumas informações sobre o que estava a acontecer em Lisboa. Recordo-me muito pouco do que ele disse… só com o passar do tempo me apercebi do significado daquela data… mais a sério.

Lá nos confins do norte de Portugal iam-nos chegando notícias de alguma convulsão na capital, mas éramos olhados de soslaio, como reacionários aos fervores vindos doutras paragens…

Não queremos nem podemos fazer juízos de valor sobre certas propagandas desse tempo, embora pareça que, ainda hoje, haja pessoas que pararam naquela época e que tentem recolher como louros o que já nessa ocasião pareciam erros e exageros.

Não podemos cometer esse erro histórico de querer ler os acontecimentos do passado à luz das circunstâncias do presente, nem podemos incorrer na falácia de pretendermos dar lições a quem não as aceitar nem tão pouco aceitar correções de quem cometer erros mas deles nunca se arrependeu nem fez ‘mea culpa’.

Porque o património histórico e social do ’25 de abril’ ultrapassa as fronteiras de classes de ideologias como que ousamos apontar alguns aspetos – que bem poderiam ser outros – que nos ocorrem nesta exame de consciência pessoal e coletivo.

Porque o assunto é um tanto delicado, propomos mais perguntas do que afirmações:

- Os militares mais politizados já despiram a farda das honrarias ou ainda vivem nestas como se fossem donos da verdade e das consciências?

- Certas forças partidárias já perceberam que a sua boa organização – que tão bons frutos lhes conquistou – já foi ultrapassada e melhorada na forma e no conteúdo?

- As conquistas de abril foram de verdadeira justiça social ou antes tornaram-se suporte de algumas habilidades de grupos e de setores reivindicativos fortes, mas entretanto enfraquecidos e/ou esvaziados?

- Alguma da cultura imposta já percebeu que as pessoas evoluíram na instrução e não se deixam conduzir só pela emoção… mais ou menos circunstancial?

- A liberdade de expressão – tão marcante e simbólica – já foi percebida como vivência de todos e não só de alguns, mesmo que maioritários por fases eleitorais?

- Sobretudo as gerações mais novas (nascidas e criadas) após o ’25 de abril’ – já cognominadas de ‘rasca’, ‘à rasca’, ‘canguru’ ou ‘nem/nem’ – já perceberam que o sucesso se conquista com trabalho e competência?

- A ligação – política, económica e social – à Europa comunitária só serve para benefícios ou também nos coloca exigências?

- Para quem defende – pretensamente por patriotismo – a rutura com a Europa por há de colher os benefícios se não quer aceitar as condições dessa pertença?

- Dizem alguns ‘inteligentes’ de que é (era) preciso um novo ’25 de abril’, mas será que já assimilamos o que o primeiro nos trouxe, efetivamente?

Porque acreditamos no bom senso do povo português – que fez uma revolução sem derramar sangue – consideramos que será um exagero reduzir a revolução do ’25 de abril’ a uma panóplia de recordações ou mesmo de acusações, mas, antes, terá de tornar-se uma nova ocasião para rever projetos e de construir pontes, pois o passado não volta, o futuro será possível, se hoje, formos capazes de nos unirmos na reconstrução da nossa Pátria e do espírito de Nação… muito para além do mundo do futebol… da seleção!

 

António Sílvio Couto

terça-feira, 15 de abril de 2014

Queira Deus consumar o bem que em ti começou!


É claro que, quando passamos a escrito o que nos vai na alma e no espírito, deixamos transparecer muito mais do que aquilo que possa (vir a) ser interpretado… mais ou menos corretamente. ‘Palavras leva-as o vento’, enquanto aquilo que se escreve pode revelar-nos aos outros que nos leem… e, de fato, muito é dito até nas entrelinhas...

No momento da ordenação – tanto do diácono, como do presbítero (padre) ou do bispo – é proferida a expressão que titula o que motiva esta nossa reflexão. Aí se dá graças a Deus pelo futuro, tendo em conta as provas do passado e a confiança do presente. O até então candidato vê confirmada publicamente a decisão amadurecida no mais íntimo de si mesmo… servir a Deus, na Igreja e para o mundo.

= Observações de linguagem

Tendo em conta a crise – termo esgotado para dizer quase só negatividade, mas necessário para avaliar, ponderar e discernir – das vocações à vida sacerdotal, torna-se essencial definir critérios de eclesialidade para que não possa haver leituras onde cada um se serve do que lhe é útil e, por seu turno, negligencia o que pode ser fundamental.

Antes de tudo o padre (presbítero ou pastor) é um fiel cristão, unido a outros irmãos pela unção batismal e não um funcionário de coisas sagradas, que usufrui de estatuto e não de serviço. Será, por isso, marcante – no passado, no presente e para o futuro – a caminhada familiar, paroquial e de experiência de vida de cada chamado à vida ministerial… Com efeito, já lá vai o tempo duma certa promoção social, familiar e grupal do padre e afins! Hoje, em certos círculos, pode (até) parecer uma espécie de despromoção… intelectual, cultural e humana! Urge, então, preparar os candidatos para essa capacidade de saber servir, sendo menosprezado ou, mesmo, ostracizado. Digo com toda a verdade: nunca por nunca quis ser privilegiado… por ser padre, mas também já tive de lutar para não ser depreciado… por sê-lo!

Sinto-me, graças a Deus, cidadão cristão, chamado a ser ministro – houve gente da minha família que o foi na política e que acabou por cair no desprezo! – do Evangelho em Igreja católica…

= Situações de mensagem

Atendendo às mais díspares interpretações dos comportamentos (pessoais ou alheios), é como que uma marca de opção fundamental a frase – ‘queira Deus consuma o bem que em ti começou’ – levando-nos a propor alguns aspetos de conduta num tempo dessacralizado ou mesmo laicizado.

- Vida de conversão contínua – o bem iniciado por Deus está submetido a múltiplas provações dos foros interior e exterior, isto é, na maturidade de cada pessoa e na prossecução das finalidades da Igreja. Nada está acabado, mas em construção, que, em linguagem cristã, se diz: ‘conversão’! Hoje tenho de melhor me aferir do que ontem à Palavra e mensagem de Jesus.

- Processo de maturidade inacabada – em cada idade temos de saber viver novos desafios, aferindo sempre os objetivos primeiros, com humildade e em verdade. Só quem traça metas poderá entender as etapas percorridas ou a realizar. Quem se conforma, depressa desiste e cairá na valeta dos excluídos, senão por opção ao menos por circunstância! Somos eternos pecadores santificados. Reconhecê-lo é graça divina em nós… e para com os outros.

- Em dinâmica de fidelidade – efetiva e afetivamente podemos e devemos crescer na profundidade do nosso mistério pessoal e comunitário… onde os outros nos ajudam a (re)conhecer quem somos e no modo como nos relacionamos: com os outros e pelos outros somos mais capazes de caminhar de olhos postos na meta, que é Jesus, nosso mestre, guia, pastor e senhor. N’Ele, por Ele e com Ele conseguiremos consumar o bem que que nos fascinou, ontem como hoje e amanhã! 

 

António Sílvio Couto

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Olhando os outros com Maria por Jesus


Numa espécie de resumo da tentativa de viver o ‘domingo de ramos’ com a procissão do Senhor dos Passos, ocorrida no dia 13 de abril, deixamos uma sugestão de oração…

 
Onde temos andado, todos e cada um?

Longe talvez da presença de Deus.

Hoje queremos deixar-nos olhar

Atentamente e com serenidade,

Neste mundo dalguma maldade e de rudeza,

Dando sinais de confiança e de serenidade,

Oferecendo, em Deus, nova vida e certeza.
 

Ontem não vimos os outros em compaixão,

Subtraímos quanto precisavam de receber,
 

O mais importante que lhes podemos dar é:

Uma presença fraterna, um olhar de paz,

Tempo de escuta e de diálogo sincero.

Recebemos tanto uns dos outros,

O que nos ajuda a crescer em comunhão

Seja na linguagem mais simples,

 

Como nos momentos mais complicados,

Onde tentamos melhor descobrir Deus,

Mesmo que não seja sempre fácil.


Muitas vezes precisamos de ver melhor

As dimensões positivas da vida,

Refletindo sobre o que é essencial,

Interpretando novos sinais da nossa caminhada

Antes, durante e depois da cada jornada.
 

Por entre tantas dúvidas e muitos medos,

Observamos quem nos ajuda a crescer

Rumo à meta, percorrendo as etapas,

 
Juntos com outros nossos/as irmãos/as,

Enfrentamos novos desafios e provocações,

Serenamente envolvemos muitos outros,

Unidos no mesmo projeto de fé e de esperança,

Servimos com ternura nossa caridade atenta.

 

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Presbítero-padre-pastor…


Estamos a aproximar-nos da celebração da Quinta-feira santa, na qual vivemos, como Igreja católica, a instituição da eucaristia e do sacerdócio.

Também é recorrente, sobretudo por ocasião do Natal e da Páscoa, surgirem notícias que envergonham a Igreja católica e os seus membros, particularmente os seus ministros… Mais uma vez este ano já surgem as tais sombras no horizonte! Não está em causa a veracidade dos fatos, mas a coincidência do fenómeno…

Deixamos, por isso, uma breve partilha sobre algo que poderá ser útil refletir, meditar e até rezar… Longe de mim pretender dar lições, seja a quem for, e muito menos a tão doutas mentes eclesiásticas e muito menos clericais.

- “Presbítero” significa etimologicamente: pessoa de idade, ancião. Nas igrejas primitivas ‘ancião’/’presbítero’ era alguém mais velho a quem era confiado o governo da comunidade cristã.

- “Padre”, significando pai, é uma forma de tratamento que recebe o presbítero nas Igrejas católica e ortodoxa e até nalgumas correntes protestantes um tanto próximas da expressão católica.

- Por seu turno, na maioria das igrejas protestantes os presbíteros ordenados são chamados de “pastores” e, nalguns casos, os pastores são os responsáveis pela comunidade cristã, fazendo os presbíteros parte do governo da congregação ou conjunto das comunidades.

- Em meados do século segundo deu-se a distinção entre bispo e presbítero, na medida em que aquele tinha a responsabilidade de várias comunidades (que mais tarde teve a denominação de diocese, tirada da configuração administrativa romana) e este era o líder da comunidade local.

- De referir ainda que, nas igrejas católicas de rito oriental, os homens já casados podem tornar-se padres, enquanto, na igreja católica de rito latino (ou romano), os padres têm de ser homens celibatários.
 

= Presbítero-padre

Se não tivéssemos o sacramento da Ordem não teríamos Nosso Senhor. Quem o colocou no tabernáculo? O padre. Quem foi que recebeu nossa alma à entrada na vida? O padre. Quem a alimenta para lhe dar força de fazer a sua peregrinação? O padre’ (Cura d’Ars).


Diante desta aceção terminológica poderemos como que refletir sobre a dimensão de paternidade do presbítero, seja ele mais novo ou mais velho… na idade e mesmo na sabedoria. Ser ‘padre’ exige maturidade afetiva e psicológica muito mais do que uma natural capacidade de geração biológica. Daí se deve inferir que a maturidade de um presbítero-padre se forja na formação intelectual, moral e espiritual, que é ministrada no seminário, mas capacitando a formação adquirida na família e mesmo no contexto comunitário, seja paroquial ou de caminhada nalgum grupo ou movimento eclesial…

Embora a designação habitual da nossa cultura seja a de ‘padre’ para se referir a um sacerdote ministerial que presta serviço religioso a alguma comunidade de fiéis – normalmente na circunscrição da paróquia – é-lhe exigido, na maior parte dos casos, maturidade presbiteral, que só a experiência da vida lhe dará com propriedade e mais pleno assentimento.

Perguntamos, então: será descabido a um padre reconhecer as suas limitações se, em humildade, as tiver de aceitar diante dos outros, sejam seus irmãos no ministério (presbitério) ou na vida pastoral? Teremos comunidades – paroquiais ou outras – que saibam ajudar a fazer a caminhada presbiteral a um padre ainda novo, sem disso se aproveitarem nem se escandalizarem? Será fácil a um padre reconhecer-se, humana e culturalmente, a precisar de amadurecimento presbiteral sem o julgarem em crise humana e/ou vocacional?


= Presbítero-pastor

O sacerdote só será bem compreendido no Céu… Se o compreendêssemos na terra, morreríamos, não de pavor, mas de amor’ (Cura d’Ars).

Atendendo às condições de pastor, isto é, de guia e de condutor de outros, não será que temos estado, na terminologia mais recente da Igreja católica, a pedir ao presbítero que conduza pastoralmente, desde que seja próximo e ‘cheire às ovelhas’, mesmo que podendo vir a perder as qualidades de mestre e de guia… bem como de profeta e de doutor (com o carisma do ensino)?

Ser pastor tem de enquadrar a caminhada de um padre, mas não se pode reduzir o ministério deste à mera formalidade de pastoreio… tão irmanado com os seus que possa (até) ter dificuldade em apontar metas, pois poderá estar excessivamente empenhado nas etapas… E nem o ‘cuidado pastoral’ poderá ofuscar a sua caminhada pessoal e comunitária como presbítero, fazendo-o padre e capacitando-o para ser, cada vez mais e melhor, pastor, que conhece, ama e cuida daqueles/as que lhe foram confiados/as pela Igreja. Não há nem pode haver preferências, mas antes discernimento do modo como deve ser esse pastor como Jesus, atento aos mais frágeis e necessitados dele.


Um padre precisa de ser presbítero na mente e pastor na afetividade, numa crescente maturidade e equilíbrio humano, espiritual, cristão e sacerdotal. Tudo tem o seu tempo e o seu ritmo… ontem como hoje e mesmo amanhã!

 

António Sílvio Couto

terça-feira, 1 de abril de 2014

Mensagem a um padre… em pré-desânimo


Mui estimado amigo e companheiro… de quem não digo o nome, embora seja real e concreto!

Há dias falavas em que já cruzaste os braços, em jeito de desistência. Tal como te disse, também eu estou prestes a fazer o mesmo. Tu replicaste que não era de meu timbre desistir, mas, como te referi, pouco falta para chegar à desilusão… tais são as dificuldades interiores e exteriores.

Quem me lê não suspeite qualquer crise… Com efeito, há mentes (laicais ou eclesiásticas) nem sempre saudáveis que, bem depressa, procuram descortinar problemas, quando alguém questiona! Colocar problemas como que faz parte da nossa condição humana e cristã...com humildade e espírito de serviço!

Ambos já passamos a barreira etária, psicológica e espiritual dos cinquenta anos. Embora não seja idade por demais, no entanto, as coisas e as pessoas deixam em nós marcas nem sempre boas e benéficas… sobretudo se não nos acomodarmos nem quisermos fazer carreira… dentro ou fora do espaço eclesial!


- É verdade que o Papa Francisco, num só ano, conseguiu reerguer duns tantos escombros uma certa Igreja (quase) em vias de extinção… pelo desânimo e no conformismo. Todos nós como que estamos a usufruir deste ambiente salutar para com a Igreja – instituição e comunidade – católica. Porém, parece que nos falta pedalada para acompanhar o ritmo do nosso Pontífice: vamos como que a reboque do que ele diz, faz e propõe, seja nas palavras, seja nas iniciativas e até nos desafios. No entanto, custa-nos acertar com o ritmo do nosso Papa. Será porque temos o Espírito adormecido ou porque ele [Papa e Espírito Santo] nos empurra e não temos chispa para incendiar o motor de arranque? Lemos e atendemos aos documentos papais e dos nossos bispos? Tentamos interpretar o que nos dizem ou limitamo-nos a reproduzir frases e chavões, que depressa cansam e estiolam?

- É verdade, não é fácil questionar-se, pois o nosso ministério assenta, muitas vezes, mais numa configuração de penumbra do que de aurora. Vivemos nalguns casos mais ao sabor da manutenção do que da inovação, isto é, servimos mais o já feito do que recriamos com amor o essencial… sem requentar ritos nem rebuscar nas gavetas do passado aquilo que já resultou, mas que teria (terá) de ser adaptado, aqui e agora, com inteligência e criatividade…

- Na medida em que o tempo passa como que somos assaltados por pensamentos e atitudes de desistência. Como recordo com emoção um padre (cónego) – com mais de setenta anos, num diocese do norte do país e prestes a deitar a toalha ao chão, isto é, a pedir a resignação – que partilhava como se deixou entusiasmar – no mais correto sentido do termo: envolver por Deus – e se lançou em novos projetos, envolvendo leigos e a cidade, criando sinergias e ideias, provocando pacatezes e derrotados… por mais quinze anos, como se fosse um jovem padre. Afinal, tinha encontrado – dizia ele – um modelo de Igreja que sempre ansiou, mas só descobriu (ainda a tempo) ao final da sua vida terrena.

Agora, como nesse passado, tenho para comigo que podemos ver padres em desistência ou desanimados por desilusão e/ou por acomodação, mas também por faltar de quem os compreenda e que com eles pretenda construir uma Igreja mais participada e participativa, simples e comunitária, serena e comprometida… Creio que é essa Igreja católica que tu queres ainda…e eu também!

Estimados irmãos/ãs, leigos e religiosos, padres e casados, não julguem os padres que podem estar em pré-desânimo, antes aproximem-se deles e não os deixem sós e abandonados; tentem colocar-se à disposição e procurem fazer parte da solução e não (só) do problema; cuidem e deixem-se cuidar pelos vossos pastores!
 

Caro amigo, estou contigo. Conta comigo, que eu quero contar também contigo e com tantos outros que servem Deus na nossa Igreja católica. Queira Deus consolidar o bem que em nós iniciou!

 

António Sílvio Couto