Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Duques & cenas tristes


«Só me saem duques e cenas tristes». Eis uma frase que se ouve com alguma frequência nas conversas de rua e nos grupos de amigos, tentando exprimir que algo não está a correr em conformidade com o desejado... deixando-nos um tanto na expetativa e/ou na deceção.

Os ‘duques’ são as pintas menos valiosas do baralho das cartas de jogar, que, quando saem em sorte, de pouco adiantam para conseguir vencer. Por seu turno, as ‘cenas tristes’ podem ser os episódios menos significativos da vida ou que, por serem insignificantes, podem trazer-nos motivos de tristeza... atual e no futuro.

‘Duques e cenas tristes’ poderão ser, assim, momentos e factos, pessoas e episódios, vivências e situações que manifestam na nossa vida algo que pouco ou nada acrescentam àquilo que já vivemos, mas que fazem parte do nosso existir, podendo ser considerados, se sobre eles repararmos, oportunidades para sairmos da banalidade em que tantas vezes nos envolvemos e/ou nos deixamos envolver no nosso dia-a-dia. 

= Casos e confusões

Na nossa vida política e social temos sido confrontados – nos tempos mais recentes e em situações várias – com casos que por serem tão inverossimeis mais pareceria que podem entrar na classificação de ‘cenas tristes’ sem razão de ser e muito menos de compreender.

Haver pessoas que dizem ter cursos mas que mal os frequentaram e isso ser aduzido como curriculum público para lhes dar credibilidade... no mínimo é de rejeitar seja qual for a cor ou a instância em que tais pessoas se possam apresentar... Mas o que temos visto é que certas forças partidárias ‘moralistas’ se fosse noutras situações não deixariam de clamar pela demissão do titular da pasta, por agora o que têm dito é que basta que os prevaricadores saiam para que tudo possa ficar resolvido...e na mesma.

Estes duques fazem cenas tristes, mas são facilmente desculpados porque que os ‘moralistas caviar’ estão nas franjas do poder e isso poderia emperrar a máquina de fazer crer que cometem erros!

Se outros tivessem sonegado elementos do orçamento de estado – dizem que mais de trinta páginas com dados relevantes para a avaliação da execução do ano em curso – logo seriam apelidados de incompetentes e de estarem a esconder algo que seria trágico para o futuro do país. Agora foram os construtores da máquina e nada se passou... à exceção dum razoável puxão de orelhas dos organismos europeus, mas mesmo estes foram considerados intrometidos na soberania dos prevaricadores.

Estas cenas não deixam muito bem classificados os ‘duques’ do teatro da nossa praça, que, ou são maus atores com um papel de marionetas ou com dificuldade conseguem disfarçar a incompetência, que tem de ser escortinada contínua e seriamente. 

= Perspetivas e soluções

Nesta época um tanto revisionista de coletivismo, torna-se importante perceber como havemos de relançar a visão personalista onde cada um valha pelo que é e não pela filiação partidária e muito menos pela fidelização às promessas estomacais com que os ocupantes do poder vão tendo presos pela boca os seus eleitores. Sim, a liberdade é mais do que essa capacidade de dizer e fazer o que se quer, mas deve alicerçar-se num pensamento de responsabilidade sobre o seu presente e o futuro.

Certos fantasmas do ‘verão quente’ não podem ser ressuscitados com o risco de estarem desfasados no tempo e na história e de poderem servir para cercear a iniciativa privada, que é o motor de qualquer sociedade, dado que ninguém reparte o que não é produzido e muito menos se faz favores com cofres vazios e com os credores à porta.

É chegada a hora de pensarmos se queremos viver na fúria do presente ou se saberemos acautelar o futuro. É hora de sabermos quem nos usa como duques de cenas tristes ou quem nos ajuda a construir o nosso futuro coletivo alicerçado em valores, onde a pessoa seja um sujeito e não um adjetivo descartável. Estes duques com estas cenas tristes, não, obrigado!

 

 

António Sílvio Couto


quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Generosidade no mundo


Segundo uma lista elaborada por um organismo americano e publicada por uma revista de grande tiragem também naquela origem, Portugal ocupa o lugar 90.º dos países mais generosos do mundo. O primeiro lugar é ocupado pela Birmânia… e dos cento quarenta países analisados a China está em último lugar.

Que significa ser considerado ‘generoso’? Os critérios para este conceito de generoso tem a ver com a prática de doações para obras de caridade, o participar em voluntariado e em ajudar pessoas estranhas…

Como explicação de a Birmânia estar à testa desta lista tem a ver com uma espécie de cultura e de práticas religiosas onde uma larga percentagem de pessoas (quase cem por cento) doa algo em favor dos outros… sobretudo dos monges budistas.

A lista dos dez países do mundo mais generosos é a seguinte: Birmânia, EUA, Austrália, Nova Zelândia, Sri Lanka, Canadá, Indonésia, Reino Unido, Irlanda e Emirados Árabes Unidos… Moçambique (67.º), Brasil (68.º)… 

= Num tempo em que, nitidamente, as pessoas pensam mais em si mesmas e na ‘sua’ felicidade do que naquilo que podem realizar em favor dos outros, torna-se útil e essencial fazermos uma espécie de exame de consciência sobre o nosso trato com os outros e sobre a forma como vivemos a doação em favor deles.

Não é novidade para ninguém o modo que, de tantas e tão variadas formas, podemos fazer dos outros algo (muito menos do que alguém) que nos serve e enquanto nos serve. A isto vem chamando o Papa Francisco a ‘cultura do descartável’, isto é, quando os outros já não nos são úteis deitámos-lhos fora ou colocámo-los numa espécie de reduto em que já não nos incomodam nem perturbam…

Se isto acontece com as pessoas o mesmo fazem os países uns para com os outros, criando novos excluídos e emergentes pobres… ora por ação, ora por inação e até por omissão. Com efeito, os países do hemisfério norte não são dos mais generosos – na lista supracitada mais de metade dos ‘dez mais’ são do hemisfério sul, incluindo mesmo a confrangedora 90.ª posição portuguesa… por contraste com países de língua portuguesa bem melhor posicionados! 

= Se atendermos aos itens – doação em caridade, voluntariado, ajuda a estranhos – poderemos um tanto melhor aferir dalgumas das razões que nos podem levar a encontrar as causas desta não-generosidade e as não nos deixarmos confundir pelas consequências mais ou menos percetíveis.

A retração da generosidade revela, antes de mais, uma certa desconfiança de cada um sobre si mesmo o que se repercute no comportamento para com os outros. Por vezes deixamos que se crie em nós mesmos uma tendência a fechar-nos à doação – seja em caridade, seja em solidariedade ou mesmo em fraternidade – com a desculpa de não sabemos o que será amanhã, sem pensarmos antes na partilha e nessa outra forma de dar hoje aos outros, pois amanhã poderemos ser nós a precisar e gostaríamos de receber…

Tudo isto é grave quando se estende à psicologia dos povos e influência o comportamento coletivo… mais ou menos assumido ou até tolerado.

Por outro lado, tem vindo a crescer a sensação de que o voluntariado está em decrescendo, gerando-se quase a perceção de que o voluntariado se tem vindo a tornar numa ‘profissão’ ou numa ocupação de tempo para quem não tem nada para fazer, em vez de ser purificado e vivido nesse serviço aos outros mais por eles do que por nós mesmos. Também aqui parece que o centro não são os outros e as suas necessidades… 

= Neste imenso mundo de interdependências – mesmo na vulnerabilidade – torna-se urgente que nós, portugueses, nos questionemos sobre tão baixa participação em matéria de generosidade, até porque nós, como povo e nação, sempre recebemos muito da generosidade doutros povos e nações, sobretudo nas horas de menos boa condução dos nossos destinos políticos e económicos. Que seria de nós, hoje, sem a generosidade da União Europeia nestes trinta anos de adesão formal à CEE? Queria seria de nós, como povo emigrado, se outros povos e nações não tivessem aberto as fronteiras às vagas de saídos daqui em busca de melhores condições de vida? Talvez nos vá faltando memória e gratidão!...      

 

António Sílvio Couto 

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Memória dos mortos: culto ou desprezo?


Por decisão do atual governo, foi revertida a suspensão do feriado do 1 de novembro – à semelhança de outros três (1) – criando novamente a regalia de, por ocasião de uma vivência católica, todos usufruem de um dia sem trabalho, mesmo que não o usem para a finalidade com que foi criado…

Embora não seja diretamente voltado para a veneração dos mortos – isso acontece na liturgia católica no dia seguinte (dia 2) em que se recordam os fiéis defuntos – o feriado do primeiro dia de novembro é usado em muitas circunstâncias – sociais e religiosas, mas também afetivas e económicas – para cuidar dos espaços de relação com os mortos/defuntos.

Embora tenha sido reposto o feriado, este pode continuar a ser mais um dia de não-trabalho do que um dia feriado para ser santificado com a veneração de Todos os Santos. Atendendo às circunstâncias humanas e históricas, este feriado é vivido nalgumas localidades à borda do rio Tejo e não só como momento celebrativo comunitário para agradecer a Deus, a Nossa Senhora e aos Santos a proteção recebida por ocasião do terramoto de 1755… 

= Se atendermos a esta data poderemos interrogar-nos sobre a razão para que tenhamos vindo a assistir à conexão entre este feriado e a promoção do Halloween. Também aqui teremos de recorrer à história dos povos e do cristianismo em particular para encontramos razões e enquadramento desta ligação.

Há, no entanto, questões que se podem colocar: estaremos a viver um processo de neopaganismo, relegando para plano secundário o que antes era motivo de fé cristã mais ou menos sociológica? Ao entrarmos na promoção e na vivência – como acontece em tantas jardins-de-infância e escolas, coletividades, etc. – do Halloween não estaremos a entrar numa lógica do mal, prestando-lhe culto e fazendo-o presente na sociedade? Não estaremos a viver mais uma paganização em contraste com a desacreditação do cristianismo e do catolicismo em particular? Como se pode conciliar o ‘pão por Deus’ com as travessuras do Halloween? Não será que estas coisas do Halloween são menos infantis do que nos querem fazer entender? 

= Surgida no contexto da religião celta, a vivência – para alguns já quase se torna uma celebração – do Halloween pretendia prestar culto ao deus dos mortos, fazendo rituais de fogo e de memória para com os que já morreram, invocando-os e até deixando-se guiar por eles.

Nesta como noutras festas de índole religiosa não-cristã, a Igreja católica tentou, já nos séculos VII e VIII, ‘batizar’ primeiro o panteão romano, tornando-o um templo cristão e depois dedicando a capela de Todos os santos, na Basílica de São Pedro, em Roma, no dia 1 de novembro… Mais tarde, século IX, esta festa de Todos os Santos foi estendida a toda a Igreja. 

= Atendendo à conexão entre a veneração de Todos os Santos, com os resquícios do culto dos mortos na cultura celta, entretanto cristianizada, vemos que a comemoração dos Fiéis Defuntos se tornou fácil de conjugar: num dia celebrámos os Santos e no outro os que já morreram ‘marcados com o sinal da fé e dormem agora o sono da paz’, como se reza no cânone romano da missa.

Se tivermos em conta a evolução da privatização da morte e de quanto a ela está ligado, tornou-se um tanto razoável ver que, em muitos lugares e contextos sociais do nosso país, vamos assistindo a um certo desprezo pelos que morreram… mesmo quando os falecidos eram ainda praticantes da fé cristã. Por contraste com certos meios onde a civilização do cemitério ganha foro de afirmação social – veja-se a cultura das sepulturas bem arranjadas e cuidadas… com mausoléus e jazigos – vemos crescer algum afastamento da atenção aos defuntos/mortos… nem sendo lembrados nas datas de falecimento ou com o recurso ao sufrágio religioso/católico.

Talvez precisemos de refletir cobre o sentido da nossa vida e o feriado (dia santo) de 1 de novembro pode e deve ser aproveitado para sermos gratos para com quem partiu e de termos um tempo de reflexão sobre nós mesmos e quanto ao sentido da nossa vida… tão rápida, apressada e talvez um tanto fútil! 

 

(1). Se repararmos no que se refere ao dito feriado de 1 de novembro – Todos os santos – só incluiu, desde 2013, um dia em tempo de trabalho efetivo…

 

António Sílvio Couto



quarta-feira, 19 de outubro de 2016

A (nossa) cultura ketchup


Quem tiver estado (mais ou menos) atento ao desenrolar da nossa vida política – mas também económica, financeira, social, etc. – como que poderá ser tentado a caraterizar o ambiente por cá vivido com um ingrediente culinário bastante popular: o ketchup, esse molho à base de cogumelo de origem chinesa, que, transferido para os EUA, foi modificado para conter tomate e é usado, principalmente, para temperar pratos de fast-food… Ora, atendendo à coloração e ao seu sabor agridoce, ele como que tipifica, por agora, a esquerda (socialistas, comunistas e trotskistas) portuguesa circulante, reinando e ruminadora.

Não somos consumidores de tal condimento e, por isso, também não temos preferência por qualquer marca… nem mesmo pela mais comum e rendosa, onde pontifica uma gestora/proprietária de origem lusa. 

= Atendendo à combinação com que nos últimos meses temos sido governados, a (nossa) esquerda ketchup tem estado a ultrapassar as várias dificuldades, tendo em conta as exigências de cada formação partidária e o espartilho que tem sido imposto pela UE. Até agora o incenso do poder tem ludibriado uns e outros, dando cobertura a razões razoáveis e alimentando as tentativas de prolongar no tempo a capacidade de angariar novos adeptos e talvez alguns votos.

No arrojado cozinhado de interesses temos visto que questões antes contestadas – como na área da educação/ensino, na política laboral/sindical, no setor da saúde, nos ordenados ou nos impostos – são levadas com tal leveza que ninguém se aventura a reclamar ou a publicitar problemas… se bem que os haja nas escolas, nos hospitais, nas empresas de transportes… Uma longa e opaca penumbra faz parece que tudo está bem… doseado com uns golpes de ketchup ou maionese… Não se passa nada! 

= Atendendo à opípara refeição de fast-food em que tornaram o nosso país, sentimos que o sentimento ketchupiano vai fazendo com que as mentes fiquem narcotizadas com uns míseros trocos e uns tantos engodos de que somos todos, pessoas que se deixam comprar/vender pela boca e que quem pensa não faz sucesso. Como é possível ficar cantando e rindo, quando há quem ganhe eleições – o mais recente dos episódios aconteceu nos Açores – com uma abstenção de três quartos dos inscritos e que aceite governar com menos de um quinto dos votos expressos? Este parece ser o infausto presságio para as próximas eleições autárquicas, onde já há quatro anos houve eleitos que o foram com o voto de dez por cento dos recenseados. Qual a legitimidade? Ainda querem ser respeitados? Então, deem-se ao respeito.

O ketchup parece estar à mão para continuar a simular que a onda vermelha/encarnada percorre o país, mas só acontece pela desmobilização dessa tal imensa ‘maioria silenciosa’ – doutras opções e fora do quadro dos que agora reinam – que um dia acordará! Basta de fazer de conta pelo modo como temos visto!  

= Porque temos uma grande estima pelo nosso país/nação ainda acreditamos que havemos de ser capazes de construir algo que nos faça passar desse complexo de contínuos pedintes da Europa, pois, se noutros locais os portugueses são bons e benquistos trabalhadores porque haveríamos de ser menos eficientes quando temos nas nossas mãos a capacidade de decidir e de fazer melhor. Com metade do país emigrado quem duvida que seremos capazes?

Acreditamos que não há de ser uma espécie de cultura do ketchup da nossa esquerda política que poderá lançar o labéu sobre todo um país, que tem tanto valor histórico e cultural, mas que não se deixará submeter aos interesses ideológicos de uns tantos, que noutras paragens já foram avaliados e vencidos. Deixemo-nos de lutas estéreis e sem nexo, pois não basta enfeitar o que menos vale e façamos desta crise uma nova alavanca para vencermos todos unidos e não uns contra os outros. Desse ketchup, não obrigado!

 

António Sílvio Couto



segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Não viajar em jejum



‘Por favor, não apanhe o comboio em jejum’.
Eis um novo slogan com que uma empresa de transporte de passageiros na zona de Lisboa quer ‘educar’ os seus utentes em ordem a tentar diminuir as situações de doença súbita que, por vezes, atinge os que viajam sem tomar o pequeno-almoço.
Um cartaz difundido diz: ‘viajar sem tomar o pequeno-almoço pode afetar a viagem de todos’. De referir que, em caso de indisposição dalgum passageiro, dá-se a imobilização da composição até que seja prestada, na estação seguinte, a assistência, fazendo com que esse e outros comboios fiquem atrasados.
Segundo dados conhecidos, só no primeiro semestre deste ano houve quase meia centena de casos de indisposição por doença súbita o que provocou o incumprimento da pontualidade a cinquenta e um comboios… com a repercussão na vida de tantos outros passageiros.
Em ordem a sensibilizar e a tentar resolver alguns dos casos de doença súbita a empresa de transportes de passageiros vai, por estes dias, oferecer gratuitamente iogurtes e fruta… sobretudo no período da manhã… a etapa do dia em que mais casos se têm verificado.
= Quais as causas desta situação de ‘doença súbita’? Ao que parece não será fácil de encontrá-las. No entanto, há uma coincidência de a maior parte ocorrer – nos casos da empresa em causa – no período das 7 às 10 horas… Poder-se-ão apontar as causas de natureza económica, mas também outras podem ser tentadas…
Talvez a falta de hábitos de tomar o pequeno-almoço em casa possa estar na origem destes casos, bem como de situações de desfalecimento entre os estudantes… nas escolas.
= Dá a impressão que temos de enfrentar as questões como elas são e não andarmos a arranjar desculpas ou a criarmos acusações aos outros, quando os culpados podemos ser nós mesmos. Com efeito, nota-se nalguns setores da população portuguesa uma razoável deseducação social, onde os aspetos de natureza alimentar também entram. Quem não se terá já interrogado com a afluência (um tanto desmedida) de pessoas que vão tomar o pequeno-almoço ao café ou à pastelaria? Quem não se interrogará sobre os custos – muitas vezes diários – para essas pessoas? E, se forem vários os elementos da família que têm tal hábito, quanto custa no orçamento – se é que existe – familiar?
Pelos dados disponíveis um litro de leite (ao preço de sessenta cêntimos cada) poderá servir para alimentar uma família – por pequeno-almoço – de três ou quatro pessoas. E quanto pagam no café ou na pastelaria? Isto não é segregação dos mais desfavorecidos, talvez deve-se ser, antes, um processo de educação das economias disponíveis e suficientes!
= Um outro aspeto que podemos colher da medida posta em marcha pela empresa de transportes em comboio é a de interdependência entre todos os que viajam, pois da indisposição dum passageiro poderá estar o bem-estar e cumprimento das obrigações (de horário ou profissionais) de todos os outros. Esta forma de civismo precisa de ser cultivada por um maior número de pessoas, na medida em que bastará um desleixo dalgum para que muitos sejam prejudicados.
Se fossemos capazes de pensar mais nos outros do que em nós mesmos – isto é o mais simples da cidadania cristã – o nosso meio ambiente (social e climático) seria mais agradável e saudável. Será quando vivermos esta ecologia social que estaremos a contribuir para uma melhor harmonia entre todos. Quem só pensa em si, para além de ser egoísta, é mau cidadão e, em vez de gerar bom ambiente, torna-se fator de instabilidade pessoal, familiar e social.
= Deste modo poderemos concluir como um simples pequeno-almoço tomado na hora própria pode e deve ser um gesto e uma atitude de cidadania adulta e responsável. Queira Deus que sejamos capazes de aprender e de viver com mais simplicidade e fraternidade, já.           


 


António Sílvio Couto

domingo, 16 de outubro de 2016

Moralismos do OE 2017


Quem tentar ler as diversas cláusulas do orçamento de estado (OE) para 2017 com um certo olhar ético-moralizante poderá encontrar algumas vertentes, que irão taxar os contribuintes, numa espécie de combate a certos ‘vícios’ mais ou menos prejudiciais à saúde (física e económica) e, atendendo ao caso, ao bolso e ganhos financeiros… com ou sem acumulação de poupança.

Eis alguns dos campos já conhecidos: combustíveis (acrescentando ainda o ‘combate’ ao veículo privado e o agravamento do imposto de circulação), tabaco, bebidas alcoólicas e açucaradas, fortunas acima de 600 mil euros… numa tentativa de maior justiça pela perspetiva duma esquerda moralista de estado e que está tendencialmente contra os privados.

Há certas taxações que têm tanto de inesperado quanto de bizarro, como essa de vir a ser pago um imposto (0,02 euros) para quem fizer um disparo com arma de caça… Será para proteger o ambiente ou para discriminar a classe dos caçadores… como potencial vício burguês e capitalista? Pelo andar das argumentações não sabemos em que parâmetro se inclui o quê e o resto! 

= Atendendo às múltiplas e quase enviesadas interpretações do OE 2017, queremos deter-nos nesses tais aspetos moralistas…mesmo que os seus proponentes nem disso se tenham apercebido… pois, a liturgia do avental (e outro rituais menos sacros) não se guia por tais referências, embora se diga defensora da fraternidade humana… mas, ao que parece, só se verifica entre os seus sequazes.

Se tivermos em conta que, em Portugal, há um automóvel para cada duas pessoas, a proposta de agravamento dos impostos onde o carro é tido como item de avaliação (combustível, imposto e penalização), faz com que se possa abrir um grande campo de contribuição para o OE… atual e futuros.

Por seu turno, o tabaco é um dos maiores contribuintes para as contas do estado, tanto no custo das embalagens (maços), como nas incidências sociais, onde o contrabando do produto se tem vindo a tornar um dos fatores de maior criminalidade. Também aqui tem faltado capacidade de educação no uso do tabaco, pois vemos aumentar o número de fumadores, tendo o sexo (género) feminino a salientar-se pelo consumo e exibição… aviltando as campanhas fotográficas abjetas.

Quanto ao sector das bebidas – colocando o vinho no patamar da exceção – nota-se um crescimento de fundamentalismo, podendo vir a gerar novos focos de prevaricação, tanto na venda como no consumo… sobretudo nas idades mais novas.  

= Há, no entanto, um ambiente de caraterísticas muito próprias que é aquele que tem envolvido a feitura, a difusão e o possível incremento deste OE 2017: nota-se um crescente movimento de endeusamento de tudo quanto é coletivismo e, por outro lado, algo muito detrator do que possa cheirar a iniciativa privada, tanto na forma como no conteúdo. Para algumas mentes pensantes – coisa que não abunda no espetro partidário! – a coletivização voltou a fazer-se doutrina. Quem escapar à tutela do estado (e seus tentáculos) quase parece ser inimigo público e que é preciso derrubar… nem que seja à força de impostos ou de outros artefactos mais subtis.  

Parece que estamos a viver sob a forma do ‘grande educador’ – à luz do que aconteceu com a revolução chinesa… o PM andou por lá recentemente – que tenta dirimir as gorduras dos cidadãos à custa de impostos e de taxas, nem que para isso seja necessário recorrer a promessas de angariação de fundos para cumprir as metas estipuladas do endividamento e do défice permitido pela UE.  

= Sem pretendermos evocar moralismos de qualquer feição, parece que o OE 2017 está construído para fazer crer que somos bons a cumprir as obrigações para com quem nos empresta o dinheiro e controla as nossas contas e que vamos dando um ar de democratas – ao serviço do povo até que este descubra que está a ser usado – satisfazendo as pretensões dos mais aguerridos defensores das liberdades, mas que quase só reconhecem quem se identifica com a sua visão… Deste moralismo já se viram os resultados em Cuba, na Venezuela, no Brasil e até noutras paragens da Ásia. Assim não, obrigado!  

     

António Sílvio Couto

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Sem capacidade de cobrir as despesas


Mais de um terço (35%) dos portugueses não tem rendimento suficiente para satisfazer as despesas que têm correntemente e 16% recorre ao crédito para as conseguir cobrir.

Este é o resultado dum inquérito da OCDE (organização para a cooperação e desenvolvimento económico) que incidiu sobre a literacia financeira dos cerca de trinta países que compõem a organização. No conjunto dos seus membros os dados são um tanto diferentes, pois 27% consideram que não têm condições suficientes para suportar as suas necessidades, enquanto 14% recorre ao crédito para ter alguma autonomia.  

= Quando os critérios de condução das perspetivas económicas são mais conduzidos pelo consumo do que pela poupança, esta tendência de haver dificuldade em cobrir as despesas, irá crescer com natural facilidade. De facto, quem vem conduzindo a política económica – ou será ideológico-política? – parece que é regido mais pelo imediatismo do que pela previsão em relação ao futuro… a curto ou a médio prazo. Por outro lado, se as apetências de taxação for pela linha de castigar quem aforra e não quem se endivida, em breve, poderemos ficar sem capacidade de investimento e, consequentemente, de quem possa dar trabalho e/ou pagar ordenados… impostos e outras correções ao orçamento.

Talvez muitos dos proponentes de tais orientações sociopolíticas possam ser, preferentemente, ‘funcionários estatais’ (onde se incluem os trabalhadores autárquicos, a classe dos professores, os executores dos transportes públicos, os políticos… e tantos outros até ao número de oitocentos mil… beneficiários) com as regalias adquiridas e os ordenados a serem pagos com regularidade… à custa do erário público. No entanto, a longa maioria não está nesse escalão económico nem possuem esse estatuto com valor de superclasse social… Com efeito, as subtilezas vão colhendo frutos por entre tantos interessados em conservarem os favores e regalias adquiridas!

Alguém – sobretudo tendo em conta os privados e trabalhadores por conta de outrem…não-estatais – terá de sustentar, pagar e descontar nos seus impostos… pois, apesar de tudo, essa longa lista se vai mantendo com subterfúgios, onde se banqueteiam os mais favorecidos (do público) e se lamentam os excluídos (do privado). 

= Pasme-se pelo escândalo: a maior parte dos intervenientes legislativos e governativos intervêm em causa própria e, por isso, tendencialmente, irão defendendo os seus direitos… mesmo que se disfarcem numa espécie de ventríloquos (em mais do que mero número de feira), que ora falam pelos que pagam, ora reivindicam pelos que recebem.

Há factos e situações em que os maiores ‘moralistas’ rapidamente se convertem em mais graves prevaricadores. Tenha-se em conta a prosápia dalguns dos patrocinadores da geringonça, que antes tinham posição aguerrida contra os que se aproveitavam dos favores do poder e agora estão tão silenciados que o rumor da suspeita – da sua honestidade intelectual – invade as nossas mentes… Se outros tivessem praticado idênticas façanhas teriam pedido a demissão deles, mas agora estão mudos e quedos como penedos! Quase somos tentados a considerar que o melhor açaime para certas posições estridentes e arrogantes é andar pelas franjas do poder, aspirar a ele ou estar em posição de mando… nem que seja fictício!   

= O pior de todo este ‘espetáculo’ é vermos uma certa manipulação aceite, sistemática e (quase) despudorada com que querem enganar – se ainda for possível – o povo que, vendo-se com mais uns trocos no bolso (o cantor dizia para café e bilhar), se vai deixando iludir, mas que os dados mais independentes não deixam espaço para enganar: um em cada três portugueses não consegue gerir os seus compromissos económicos… mesmo que lhe coloquem mais dinheiro no bolso. 

Recordo um ato de gestão dum tesoureiro duma instituição, que até podia pagar os ordenados antes do natal, mas protelou a entrega dos vencimentos para mais próximo do novo ano, pois, se o fizesse corria-se o risco de gastarem o dinheiro em compras natalícias e ficariam em dificuldade no mês seguinte… Justificação: não sabem dosear o que têm em conta e gastam de forma menos cuidada. Aprendi – com vergonha – que nem todos sabem o que é de gastar e o que é de poupar! Os ‘sem dentes’ irão pagar a próxima crise?

 

António Sílvio Couto

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Género ‘novo’ com conceitos velhos?


Por estes dias esteve cá pela terrinha lusitana uma atriz americana, que se fez acompanhar com a sua ‘mulher’ – sim foi esse o termo usado – com que alguns órgãos da comunicação social se referiram à companheira pintora da dita – com exposição badalada, concorrida e apoiada pela autarquia onde tem estado a ser exibida – e que terá sido realizadora cinéfila e mediana representadora…

Mas se as ditas ‘senhoras’ (no feminino ou no masculino) têm igualdade de género, porque se há de referir a uma delas como se fosse ‘mulher’, podendo inferir que a outra será como que o ‘homem’? Dá a impressão que a legislação (apropriada ou não) andou à frente dos conceitos e que as referências sociais ainda não conseguiram encontrar outra designação que não tenha por modelo a mais clássica dicotomia masculino/feminino!

Se bem repararmos poderemos, nessa intencionada difusão da ideologia de género, que algum dos membros do par – tanto no masculino como no feminino – tenta assumir o ‘papel’ duma das partes que o outro ‘elemento’ não é nem com o qual se identifica. Dir-se-á que um faz daquilo que outro/a não quer ou que um outro/a tenta assumir a complementaridade – forjada ou virtual – da outra parte que se faz passiva ou menos (claramente) assumida! 

= Coisas da natureza ou resquícios de educação?

Se há situações que são sérias e de difícil gestão, outras há que quase roçam uma espécie de folclore mais ou menos mediatizado. Com efeito, há problemas de pessoas que, por razões endógenas, podem viver problemas de desadequação à sua personalidade… isso faz sofrer e cria uma certa complexidade para a sua resolução psicológica. Mas não serão umas tantas ‘paradas… do orgulho’ nem outros desfiles com bandeiras multicolores que irão solucionar o que há de mais profundo nos conflitos psicossomáticos e (até) espirituais.

Sem queremos de forma alguma não levar a sério esta questão, poderemos considerar que não é gay ou lésbica quem quer, mas quem pode, seja em razão da força moral, seja pela forma económica que reveste, tácita ou mesmo assumida.

Parece que, dum modo mais ou menos tolerado, alguns dos sinais de desconformidade com a linguagem sexual corpórea têm vindo a ser menosprezados, quando se trata de deixar revelar outras facetas que possam estar menos adequadas com a vertente inicial da pessoa. Em certos meios isso deixou de constituir motivo de exclusão… como em tempos não muito recuados ainda se podia verificar. Mas daí a tudo ser válido e (quase) incentivado terá de ir uma longa caminhada humana e cultural.

Talvez valha a pena citar o que sobre esta matéria diz o Catecismo da Igreja Católica (n.º 2358): «Um número não desprezível de homens e mulheres apresenta tendências homossexuais profundas. Eles não escolhem a sua condição de homossexuais; essa condição constitui, para a maior parte deles, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta. Essas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e, se cristãos, a unir o sacrifício da Cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar devido à sua condição». 

= Questões à procura de resposta

Atendendo à problemática que envolve este tema da homossexualidade poderemos elencar algumas questões, sem talvez encontrarmos desde já resposta:

- Como vive a família este assunto? Será que é de fácil resolução ou terá implicações no comportamento das várias pessoas?

- Embora menos contestada socialmente, como podemos ajudar as pessoas sem fazermos disso uma anormalidade ou um problema não abordado?

- Já teremos encontrado uma forma humana e cultural que faça da diferença um assunto de liberdade ou seremos capazes de tratar o assunto com responsabilidade e respeito?

- No campo da fé – que é muito mais do que religioso – temos sabido aceitar com serenidade as opções ou estaremos antes a viver em tolerância descartável e ainda de suspeita?

   

António Sílvio Couto


quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Sargeta ou corneta?


Nós, portugueses, somos um povo muito típico e temos uma posição muito própria na configuração das nações da Europa: quando os outros voltam, nós ainda vamos… e tão airosos que nem percebemos o ridículo da (nossa) situação! Isto tem implicações nos mais díspares campos de intervenção… mas é na ação política que tal se nota mais, sem podermos esquecer a vertente da economia.

Quando noutros países já estão noutra onda política, nós ainda vamos na recuperação – revertendo em leis e na mentalidade – de clichés latino-americanos de caudilhos (falidos e ressabiados) de esquerda radical, entendendo a mão aos dinheiros emprestados pela Europa, mas dando a entender que se pode nivelar a sociedade acabando com os ricos e não (como seria desejável) com os pobres…

A corneta dos mais defensores do igualitarismo tem vindo a ser altissonante por estes dias, dando a entender que quem mais grita maior razão parece (querer) ter. É nesta algazarra de interesses que temos visto surgirem uns tantos travestidos de ‘zé-do-telhado’ da era informática, que tentam assaltar quem tem, mas não sabemos a quem o vão dar… Em simultâneo emergem novos conquistadores de regalias – esses mesmos que antes eram protestantes da classe sindical, mas agora estão tão simbolicamente calados – fazendo com que tudo pareça em paz, mas não se sabendo qual foi o real custo desse silêncio e a matéria para tanta pacificação. 

= De quando em vez lá surge, por outro lado, a faceta mais tenebrosa da luta contra a justiça das leis, ora incluindo os (possíveis) réus, ora aparecendo na liça uns tais juízes. Se uns se consideram legitimados para intervir e até atacar, os outros logo são trucidados porque poderão estar a exorbitar as funções. Não deixa de ter um certo cheiro a sargeta esta dicotomia de critérios para com os diversos cidadãos… bastando descobrir a coloração partidária/ideológica. Há quem até, à revelia da formação partidária em que (ainda) milita, se dê à ousadia de se voltar contra quem não concorda com ele, pois divergir pode parecer crime… sabe-se lá com que gravidade! 

= Sem pretendermos fazer paralelo com um filme e as suas conjeturas, poderemos considerar que todos os animais são iguais, mas há uns que são mais iguais – ou será diferentes? – do que os outros. Vem-se tornando um tanto mais explícito que certas figuras podem cometer – dizer, não fazer, afirmar ou contradizer – as atrocidades que quiserem que uma certa comunicação social há de encontrar (quase) sempre justificação para ser como é e não como se pode interpretar. Nesta como noutras situações o que importa não é ser engraçado, é essencial é cair em graça! Disso temos várias provas e com determinadas simpatias e esboços de sorriso nos vão enganando – a quem quer ou se deixa ir na onda – até ao colapso total.   

= Nota-se uma razoável desconstrução dos valores – diga-se de incidência ética ou de narrativa moral – na nossa sociedade… sobretudo se alicerçados na formação cristã. Valores e critérios como a verdade, o trabalho, a paz, a lealdade, a confiança, o amor, a fraternidade/solidariedade, a liberdade… vão tendo para cada um dos intervenientes um sentido que cada qual lhe quiser dar. Quase será preciso que façamos a definição dos termos com que nos relacionamos e tentamos dialogar, pois o subjetivismo cria condições para que se esteja a usar as mesmas palavras, mas cada um dá-lhe o significado que lhe convém.

Será a partir do reconhecimento que algo precisa de ser modificado que poderemos encontrar melhores condições para que contribuamos na construção duma sociedade mais justa, mais fraterna e mais humana. De facto, será a partir da dimensão interior da pessoa humana que estaremos a ser mais cidadãos. Ora, a desconstrução referida dos valores está a acontecer porque se pretende impor um modelo de sociedade onde as razões para agir são mais de natureza exterior – por vezes mudando conforme as circunstâncias e interesses – e isso favorece os ditadores – grandes ou anões – que pululam no nosso tempo…Pior será, quando perdendo a razão, começarem a lutar com emoção, que sem razões mínimas farão vítimas e cobardes.

Já soa a corneta vinda da sargeta. Até quando?   

 

António Sílvio Couto

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

No taxar estará o ganho?


Numa apropriação indevida dum adágio popular – ‘no poupar é que está o ganho’ – temos vindo a assistir à difusão e incremento dum outro aforisma: no taxar está o ganho… Sendo dado a entender uma espécie de combate estatizante de tudo quanto possa ser iniciativa privada ou que inclua aforramento económico-financeiro de pessoas e famílias… portuguesas.

De facto, é clamorosa a feroz impetuosidade com que temos vindo a ver crescer uma radicalização – não se sabe muito bem por quem é idealizada, se dos radicais de esquerda, se dos socialistas mais extremistas – a tudo o que possa cheirar a dinheiro poupado ou acumulado, pois parece que isso se tornou quase um crime à luz da mentalidade de certas forças político-partidárias de índole marxista, trotskista ou (quase) anarquista. Tais mentores como que se pretendem zeladores/as da moralidade e/ou fautores do combate ‘à fraude e evasão fiscal’, colocando – acintosa e ridiculamente – no mesmo patamar poupança e roubo, dinheiro acumulado e fuga aos impostos, pessoas honestas e pantomineiros, promotores de emprego e habilidosos para captarem subsídios e falcatruas…e a lista poderá continuar… 

= Temos visto, por estes dias como não era costume, ser citado o episódio do capitão-político, que no auge da revolução abrilina, terá dito, numa deslocação à Suécia, que, por aqui estávamos a tentar acabar com os ricos ao que eles, responderam, que, por lá, a intenção era acabar, antes, com os pobres!

As fúrias anti-riqueza, nos tempos mais recentes, mais parecem saídas dessas catacumbas da ideologia trotskista de antanho e não das posições sérias sobre as questões sociais e económicas… em contexto europeu mais ou menos civilizado. As ditas difusoras de tais posições parece que estão a rever a matéria na cartilha dos progenitores como assaltantes de bancos e de fabricantes de artefactos terroristas. Agora usam a verborreia para iludirem as culpas daqueles que antes nos sobressaltaram com atentados e tropelias de adolescência. Nota-se que não cresceram na evolução histórica e cultural. Assim como querem ser levados a sério? Retirada a cortina de certa comunicação social serão julgados/as nos próximos atos eleitorais.  

= Acrescentemos a estes fait-divers umas tantas intervenções ‘intelectuais’ de ressabiados contra tudo o que possa soar a religioso e a cristão-católico em particular. Alguns evocam – citando com aspas, mas apresentando-se, eles mesmos, como meras vespas – a laicidade do Estado, como se esta fosse a condição de ter de ser anódina toda e qualquer intervenção que não lhes agrade… Com efeito, têm olhos tão vesgos e os juízos tão encriptados que será muito difícil descobrir sobre o que discordam ou aquilo que defendem… tal é a confusão mental e a leitura preconceituosa com que leem os atos alheios, mas não atendem à lacuna que está tão visível nos próprios.

Em certos casos como que poderíamos considerar que, se a patetice pagasse impostos, a dívida nacional estava já paga há muito tempo e com juros muito baixos, tanto lá fora como cá dentro!   

= Vai sendo cada vez mais preocupante a cultura de consumo com que vão enganando muitos do nosso povo. Em vez de criar riqueza e de a distribuir por todos, vemos ser implantado o regime de ganhar mais para gastar mais. Não se pode pensar em poupar, pois isso até pode ser taxado. Lança-se dinheiro sobre as massas e estas hão de fazer gerar consumo… nem que mais não seja de forma artificial. Sobem os ordenados – e nem se pensa na sustentabilidade das entidades empregadoras – e com isso, pensa-se, que pode haver mais poder de compra… o que é puro engano! Uma coisa é aumentar os ordenados nas empresas do setor primário e secundário, algo bem diferente é esse aumento vir a acontecer no setor do trabalho social, que vive das comparticipações estatais e nem sempre gera riqueza própria e muito menos acumulada. Aqui uns mísero dez euros tornam-se milhares em salários e que não são recuperáveis a curto e médio prazo…

Já sabemos que os taxadores sobre a poupança acumulada estarão de dente bem afiado para combaterem muitas das instituições particulares de solidariedade social. Podem ganhar várias batalhas, mas terão de se preparar para muitas outras guerras, pois a luta pelos direitos dos mais desfavorecidos é feita por esses que eles combatem… E, como sói dizer-se: Roma não paga a traidores… e tão pouco a oportunistas!        

 

António Sílvio Couto