Não será difícil de resumir a nossa vida política nacional – depois da revolução de 25 de abril – à configuração das décadas na Presidência da República e dos contraciclos governamentais na relação entre os ocupantes do Palácio de Belém e a residência de São Bento.
Em quase cinquenta anos de
‘democracia’ tivemos quatro presidentes eleitos, em dois mandatos cada um, e o
quinto parece estar prestes a iniciar o segundo mandato, após reeleição. Tirado
o primeiro dos eleitos que veio da via militar, os outros têm saído dos dois
maiores partidos da nossa (dita) ‘democracia’: dez anos com dois procedentes da
área socialista e depois outros dois conotados com a social-democracia…à nossa
maneira.
Numa análise mais ou menos
objetiva poderemos considerar que o eleitorado português tem sabido conciliar
um ditado basicamente correto: ‘não colocar os ovos todos no mesmo cesto’, isto
é, a cor ideológica não ser a mesma na presidência e no governo…com breves
exceções assim tem acontecido.
Vejamos o quadro, excluindo o
tempo de presidência do militar (1976, eleição, 1980, reeleição), os dados
indicam-nos (sobretudo tendo em conta o início do mandato):
* Mário Soares, eleito a
primeira vez em 1986, era primeiro-ministro Cavaco Silva, que ocupava o posto
também à data da reeleição, em 1991;
* Jorge Sampaio, escolhido a
primeira vez em 1996, tinha, em São Bento, António Guterres, que continuava no
lugar à data da reeleição, em 2001;
* Aníbal Cavaco Silva, eleito
em 2006, era primeiro-ministro José Sócrates, que continuava em São Bento em
2011, na reeleição;
* Marcelo Rebelo de Sousa,
eleito em 2016, encontrou como primeiro-ministro, António Costa e, se for
reeleito no final deste mês de janeiro, continuará a tê-lo em São Bento.
Em resumo: à exceção do tempo
de Jorge Sampaio-António Guterres, os presidentes eleitos tiveram como
interlocutores no governo, à data das eleições, figuras de cor diversa da sua,
se bem que, tanto Sampaio como Cavaco pouco tempo depois de chegarem a Belém tiveram
mudanças: Sampaio com Durão Barroso, em 2002 e Cavaco com Passos Coelho, em
2011…mas sempre em tempo de segundo mandato.
Seremos, como dizia o tal
general romano sobre este povo nas franjas da Europa: um povo que não sabe nem
se deixa governar? Não teremos sabido menos valorizar o que somos e mais o que
de nos dizemos de mal? Depois das grandes figuras da política nacional – de que
os Presidentes da República e os primeiros-ministros podem ser exemplo pela
positiva – haverá, nas gerações mais jovens, quem deseje servir e não meramente
servir-se da vida politica? A avaliarmos pelos cinco presidentes e os vinte e
dois governos constitucionais, em democracia, não teremos vitalidade suficiente
para termos futuro? Os derrotistas e os cobardes terão ainda lugar?
António Sílvio Couto
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