Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



terça-feira, 26 de abril de 2016

Abrilismo voltou?


Nas reações aos vários discursos, mas sobretudo ao que foi preferido pelo presidente da república, no parlamento, dizem que voltou um certo abrilismo. Isso mesmo dizem que se refletia no habitual desfile nas ruas de Lisboa… Para além do dia de sol, que uma boa parte aproveitou para passear, ir até à praia, descontrair… viver o feriado da liberdade!

Uns dizem que se notava uma certa descrispação. Outros olharam para trás – quarenta e dois anos – e tentaram ver o caminho percorrido. Alguns lançaram questões sobre o presente e vêem-no mais sorridente. Outros tantos tentam descortinar no futuro algo que, por ser ainda nebuloso, os faz temer o que virá. Uma boa parte do país viveu o feriado ao ritmo do ‘nada fazer’…para além da exibição do cravo vermelho, enquanto outros – dizem que é um quinto da população geral – preferiam o tempo do antes do de 25 A… talvez estes tenham andado a trabalhar nas lides agrícolas, aproveitando para fazer umas coisas no campo e nas hortas, mas como não apareceram na televisão não contam para esse dito espírito de abrilismo! 

= Eis algumas questões que tento elencar, sem preferir ordem, mas tão-somente apresentar aspetos duma certa complexidade à portuguesa:               

- Que é, então, esse abrilismo de que falam?

- Haverá donos, senhores e administradores desse espírito?

- A democracia só funciona se for a minha e não quando é a dos outros?

- Onde começa a mudança no entendimento do abrilismo: no conteúdo, na forma ou na prosápia?

- Ainda viveremos (ou até quando) sob a tutela das forças militares? Eles não terão contas a prestar pelos desvarios permitidos e fomentados, tanto na Europa como nos outros continentes?

- Haverá um 25A de esquerda – e só esse vale – e outro de direita, que tem de se envergonhar daquilo que pensa e faz?

- 42 anos depois só houve abrilismo quando a (dita) esquerda governou?

- Este abrilismo que tem de utópico ou pode ser realista com as dificuldades atuais e futuras do país?

- Foi pedido, no discurso do PR, realismo ao governo e humildade à oposição… Não poderão (ou deverão) ser invertidos os pedidos aos mesmos sujeitos? 

= Colocadas estas perguntas não podemos deixar de considerar que a revolução de há quarenta e dois anos foi importante para a recuperação de valores essenciais de toda a convivência humana, tais como: liberdade, democracia, saúde, trabalho, educação, segurança, participação, etc.

Mas será que estes valores terão ainda lugar neste neo-abrilismo? Com efeito, a liberdade exige responsabilidade e dessa vemos falar muito pouco e talvez ainda menos vivenciar no trato das pessoas umas com as outras. Liberdade não é só fazer o que me apetece, é, sobretudo, assumir aquilo que devo, tanto pessoal como socialmente. Com que facilidade se condiciona a liberdade dos outros, bastará que só tenham emprego ou sejam promovidos os que são da mesma cor partidária, seja no governo em geral, seja nas autarquias. Será que não temos nada a corrigir? Nota-se uma razoável falta de humildade em quem governa (tenha a cor que tiver), pois a ditadura do poder tem tentáculos muito subtis… Quem não os sentiu ainda?

Fala-se de saúde, de trabalho, de segurança, de educação… como se fossem os pilares do ‘estado social’, mas depois não se dá condições para que não haja subterfúgios para que os afilhados sejam protegidos e os enteados preteridos! Tentam-se criar mecanismos de compensação para com os desfavorecidos, mas não vemos a correspondente aposta na formação para o trabalho… O papel dos sindicatos está desfasado no tempo, pois nem sempre a reivindicação é só o melhor caminho para a luta… Enquanto virmos ‘profissionais’ do sindicalismo a reclamar sem não trabalharem no posto de trabalho que tinham há décadas, será pregar sem praticar o que se diz aos outros! 

= Se o abrilismo voltou, gostaríamos que regressasse o encanto da fraternidade e o sonho duma sociedade mais justa, sem discriminações nem protecionismo de grupo ou de partido. Portugal merece melhor!   

 

António Sílvio Couto


sábado, 23 de abril de 2016

Presidente ‘tiririca’?


Sabemos que a função faz o desempenho e o desempenho faz a função. Ora, pelo que temos visto do mais recente presidente da república portuguesa, não sei se será o melhor desempenho para a função ou se está ou não estará a ficar um tanto vulgarizada pelos atos do desempenhado.

Já sabíamos de outras lides que o senhor gosta de tocar muitos instrumentos (tarefas, intervenções e espaços) ao mesmo tempo, de ser rápido naquilo que faz e que, talvez seja competente em tudo isso com a velocidade com que o pretende executar. No entanto, em pouco mais de um mês de funções – desde 9 de março – já andou por tantos lugares e fez tais papéis que quase esgotou a capacidade de seguimento…noticioso diário!

Sobre o recurso ao epíteto de ‘tiririca’, servimo-nos dessa figura de um deputado brasileiro, saído do meio circense – analfabeto e habilidoso, mas popular – que foi aprendendo a ter pose de estado, no desempenho das funções… percebeu-se ‘isso’ até no ato de votação da impugnação à presidenta… 

= Não está em causa a função presidencial, mas o exercício da mesma, que, em meu entendimento, deve ser mais discreta, sensata e, sobretudo, eficiente na forma e no conteúdo… Estas qualidades vimo-las, efetivamente, nos antecessores no cargo, com uma ou outra interpretação mais ou menos eivada de ideológica, particularmente dos que não tinham votado em que exercia o cargo.

Por mim votei – atendendo às alternativas de escolha, que eram de pouca qualidade – em quem agora faz a função de presidente e, por isso mesmo, não me revejo em certas atitudes com algum sabor populista, parecendo-se a roçar o exercício de tais funções em países africanos ou da américa latina. 

= Contrariamente ao epíteto que se quis colocar o presidente da república não ‘é de todos os portugueses’… até porque – como foi o caso – só foi eleito por uma parte dos votantes. Dever-se-ia sim considerar ‘presidente para todos os portugueses’… mesmo para com aqueles que nele não votaram. Mas com as atitudes do atual eleito e empossado parece que se pretende impor aos que nele não votaram, relegando para plano secundário a confiança – cívica, moral e social – dos que nele lhe deram assentimento mais tácito do que conclusivo.  

= Tem havido casos em que os responsáveis das pastas governativas se pronunciam até depois do ‘mais alto magistrado da nação’… dando a entender que há alguma sede de protagonismo do dito e designado ‘inquilino do palácio de belém’. Ora, tal antecipação não nos confere credibilidade nem independência de quem devia ser o fiel da balança e não tomando preferência por uma das partes do prato da pesagem… Se é que ainda se entende esta linguagem de equilíbrio e sensatez!

E quando tiver de não-concordar com a governança, que irá acontecer? Irá dar o dito por não dito – como aconteceu, recentemente, no caso dum decreto-lei sobre um banco – ou desdizer-se, atirando a culpas para fora do país? Quem o acessoria terá capacidade de intervenção?  

= Na sabedoria ancestral do nosso povo, diz-se: depressa e bem, há pouco quem! Entendendo que precisamos de ter nas instituições e em quem as serve alguém que merece credibilidade e bom-senso, parece-nos que não precisamos de tanto barulho e foguetório de vistas e muito menos que tenhamos de desconfiar sobre atos e factos de quem devia ser mais ponderado e criador de verdadeira confiança… Não basta pregar – dizemos no sentido de anúncio e também de crucificar – esperança, criando distrações um tanto de ilusão em desilusão… Já vimos em tempos recentes outros fautores de tais episódios e tivemos de pagar com muito custo os seus malabarismos… O presidente da república deve estar acima de tais tricas e intrigas… Será que ainda está?

Se até o tiririca ganhou pose de estado porque havemos de não acreditar na recuperação de outros?

 

António Sílvio Couto

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Gabarolice…ao desbarato


No quadro da nossa vida pública – política, social, económica, financeira, religiosa ou mesmo comunicacional – vemos surgirem pessoas cujo ego de tão inchado com que se apresenta como que ofusca quem com elas se cruza ou tem de contatar, com quem se trabalha ou tem de conviver.

Por estes dias tive de estar num encontro – por sinal no âmbito religioso – em que as façanhas do interlocutor eram de tal forma imensas – centenas de encontros, ‘retiros’, quilómetros em vários países e continentes, declarações (bem) abonatórias de bispos e outros – que qualquer mísero terráqueo – como eu – se sentiria esmagado… Este acontecimento já tem semanas… por isso, foi-me um tanto difícil de digerir tanta gabarolice… Explicando o termo: ato ou ação, direta ou indireta de se fazer mais importante do que os outros, mesmo que usando-os em seu proveito… podendo se entendido também como fanfarronice… 

= Mutatis mutandis, isto é, por comparação, vemos que, na vida política (parlamentar ou social), certos grupos partidários, que se acham tão imprescindíveis naquilo que dizem ou fazem se podem ir tornando numa espécie de gabarolice ao desbarato… Sabe-se lá com que consequências!

O mais recente dos episódios foi a pretensão em fazer mudar a designação de ‘cidadão’ para ‘cidadania’, tentando criar – segundo dizem – alguma igualdade de género, pois, ao que parece ‘cidadão’ soa demasiado a masculino e ‘cidadania’ seria mais abrangente e (pretensamente) inclusivo… nas suas leituras!

Será que fizeram as contas aos custos de tal mudança? O que traz isso de igualitário e não de discriminatório? Até onde iria a razão dessa pretensão – lojas e espaços de atendimento, cartões emitidos, identidades a acertar?

Esta iniciativa não foi mais uma, de algumas já intentadas, para fazer distrair o povo doutros negócios de bastidores? Até onde irá a paciência para com tais ‘fazedores’ de distrações, quando há assuntos bem mais importantes na vida, realmente dura, das pessoas? Não será que o cheiro do poder chamusca muitos/as dos intrépidos defensores da liberdade, se não for da sua coloração? 

= Vivemos num tempo onde pequenos detalhes podem revestir de significado tanto aquilo que se diz como até o que se deseja fazer. Com que velocidade se difundem menos boas declarações – veja-se o episódio das desejadas bofetadas do ministro demissionário, comentários inconvenientes ou precipitados de figuras com responsabilidade, intervenções quase insignificantes, que facilmente se podem tornar – como agora se diz – virais e corrosivas…

Nisto que referimos e muito mais daquilo que nos passa pela mente há uma razoável superficialidade, onde a falta de tino se pode conjugar com alguma precipitação… tanto ou mais perigosa quando se conjugam interesses de grupo – a favor ou contra – e numa (dita) opinião pública facilmente manipulada…  

= Porque acreditamos acima de tudo na verdade e nas consequências de a servirmos desinteressadamente, parece que o culto da gabarolice denota que estamos numa época de crise acentuada, onde os valores humanos e éticos/morais precisam de ser ensinados, educados e cultivados. Neste sentido acreditamos que só a Verdade nos fará realmente livres: nada de exageros nem por excesso nem por defeito, pois a verdadeira verdade – desculpando esta espécie de redundância – não nos permite vivermos para além daquilo que somos com todos os defeitos, qualidades e dons… em favor dos outros.

Gabarolice, assim, não, obrigado!  

 

António Sílvio Couto 

segunda-feira, 18 de abril de 2016

‘Tchau, querida’!


Antes, durante e depois do processo de impugnação e destituição – lá, no Brasil, dizem à inglesa: ‘impeachment’ – à presidenta local, vimos escrita a expressão: ‘tchau, querida’… querendo significar a tentativa (em breve ou mais tarde) de despedida da dita, usando uma outra frase dum telefonema do seu antecessor no cargo e como pretenso colaborador… numa tentativa de imunidade à justiça.

Quem tenha podido – mesmo por alguns minutos – ver o espetáculo da votação pode ter percebido o ambiente crispado – como se diz cá pela nossa realidade – em que tudo e muito mais estava a ser vivido. De facto, foi uma espécie de ambiente bastante teatral aquele que nos era fornecido lá do outro lado do Atlântico…por horas e horas a fio.

Muito para além do resultado – 367 a favor e 137 contra o processo de impugnação/destituição – feito um a um em alta voz de todos os deputados, podem ser dignas de registo algumas das expressões usadas, evocando e invocando Deus, lembrando e memorizando a família (humana e política), enterrando e ressuscitando fantasmas do coletivo brasileiro, aplaudindo ou apupando os intervenientes a favor ou contra, recriando um ambiente mais de futebol e de carnaval – no interior e no exterior da sala de sessões – e, sobretudo, dramatizando o presente e lançando suspeitas sobre o futuro… próximo ou a médio prazo. 

= Perante tudo isto que vimos e ouvimos, fica-nos a sensação de que algo vai menos bem no reino alicerçado no ‘grito de Ipiranga’. A luta contra a corrupção – que atinge (na investigação e na acusação) mais de 60% dos deputados em exercício – foi uma espécie de labéu para conduzir todo este processo, que está muito longe de estar concluído com algum resultado aceitável e vinculativo… Sobre a visada neste processo diga-se que lhe chamam ‘pedaladas fiscais’ em que eram incluídas nas contas públicas adiantamentos de créditos pelos bancos para o financiamento de programas sociais e com a inserção desses dados no orçamento de estado… e tudo isso feito sem autorização do congresso nacional! 

= Esta nova forma de enredo de telenovela vem prendendo a atenção dos europeus e como que nos coloca, desde já, certas questões que poderão ser integradas na nossa vida político-partidária.

Parece que se acentua, neste lado oriental do Atlântico, uma tendência a descortinar os vários componentes entre a vida política e os negócios económico-financeiros. Repare-se no afã com que os atuais governantes portugueses – trazendo à liça o novel e truculento presidente da república – tentam interferir nas prestações de contas dos bancos – numa semana tecem-se loas à boa prestação dos seus trabalhos e dos seus assessores e dias depois encolhem-se os mesmos perante os retrocessos das ‘vitórias pírricas’ com que se vangloriavam…

Nuns casos dizem-se intrépidos defensores dos incautos cidadãos – escondendo até onde podem as decisões que têm de ser tomadas a gosto ou contra vontade – e, quais cordeirinhos mansos e gatos domesticados, terão de seguir as diretrizes daqueles que sustentam a nossa economia e nos fornecem as receitas para sustentar as despesas do estado e de seus milhentos servidores… a médio prazo. Será que a austeridade foi mal traduzida pelos intérpretes de circunstância? Quem engana quem e até quando? 

= Por certo que não iremos seguir o guião brasileiro para cuidar dos nossos problemas. Por certo que já aprendemos que é com trabalho que se faz o sucesso e se gera riqueza. Por certo que a nossa bandeira é verde/rubra e não se deixa substituir por qualquer símbolo clubístico. Por certo que estamos numa Europa de nações livres e responsáveis pelos seus desígnios mais profundos de séculos de história e de memória. Por certo diremos à querida democracia que ela não vale mais do que ser um método de escolha e de governação, mas onde as minorias têm de saber respeitar as decisões das maiorias…que mudam tão depressa!

‘Tchau, querida’ bem-falante e reivindicativa, mas as tuas seduções não dão segurança com temas fraturantes e diversões de ocasião… ‘Tchau, querida’, mas simplesmente – mesmo que vinda doutras paragens mais bem-pagas – não consegues convencer quem recebe, ilusoriamente, mais no princípio do mês, mas no final fica com menos nas economias e com mais desilusões…

Lá como cá, os servidores de enredos simplistas também caem nas teias que fomentam e tecem…Cuidem-se!           

 

António Sílvio Couto

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Um certo requiem por ‘amélie’



Nos dias mais recentes temos visto e ouvido um certo corrupio de ‘condolências’ pela cadela ‘amélie’ – de cinco anos de raça chihuahua – a grande dedicação duma atriz portuguesa…
Conjetura-se sobre as causas de tão infausto acontecimento – uma destartarização dentária da dita falecida – e o que daí surgiu como grande e enorme dor e a sua expressão nas redes sociais, tendo atingido mais de quinze mil partilhas e comentários… como sempre sensatos e disparatados, quando se trata de assuntos fora do normal.
Talvez não esteja só em causa olhar para este episódio de tristeza ou de alguma melancolia, quando se perde alguém – a ministra da justiça portuguesa veio, por estes dias, reclamar que os ‘animais não podem ser tratados como coisas’ – que era importante para uma pessoa, que fez disso publicidade e se expôs na configuração das reações públicas.
Talvez tenhamos de refletir sobre certos indícios que estão a orientar a nossa condição humana: somos nós, os humanos, para muitos setores públicos e sociais vistos mais como números e estatísticas, mas outros seres vivos vão ocupando o viver afetivo dessa outra conduta mais ou menos razoável…
Talvez estejamos mesmo num tempo de viragem cultural, onde os animais vai ganhando foro de identidade que noutras épocas não foram tidos na devida e correta conta…
Talvez vá crescendo a sensibilidade à humanização dos animais e como que se vá degenerando a desumanidade aos humanos…até legislativamente!
= Se a dedicação substitutiva aos animais vai polarizando muitas afetividades, vemos – desde os nomes dados, como se fossem pessoas, até aos cuidados ministrados – por outro lado, esmorecer o entusiasmo para com as crianças. Nalguns casos estas como que são supletivamente desinvestidas, tanto na forma como no conteúdo. Agora até os custos de veterinário podem ser incluídos nas despesas – pessoais ou familiares – do imposto de rendimento singular…
Já o referimos noutras ocasiões: enquanto virmos, nas grandes ou médias superfícies, a secção de alimentação para animais suplantar a dedicada às crianças, parece-me que estamos a correr riscos muito graves de civilização e de futuro geracional… Com efeito, há sinais que devem ser lidos e interpretados com visão e alcance de futuro… e não como simples moda ocasional!
= Não é que os animais – sobretudo os ditos de companhia – não tenham (ou devam ter) espaço e oportunidade nas nossas casas. Até porque muitos deles são bem mais dedicados e fiéis do que alguns humanos!... Mas será sempre de saber viver a correta presença e dedicação para que não tenhamos uma sociedade desarticulada dos seus valores e das convivências harmoniosas, sensatas e civilizadas…
De igual modo será atroz reduzir a espaços exíguos de apartamentos e a pequenos locais animais que precisam de estar no seu habitat natural… só para satisfazerem os intuitos de certos (ditos) donos ou (pretensos) proprietários…  
Os lamentos pela ‘amélie’ são aceitáveis, desde que isso não nos distraia dos cuidados que as crianças, os mais velhos e os empobrecidos merecem ter sempre, mas sobretudo neste ano jubilar da misericórdia.
O ‘irmão lobo’ merece respeito, mas os bebés precisam de mais cuidados, sempre!  
 
António Sílvio Couto

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Necessidade de um governo-sombra… alternativo



Quem ouviu certas perguntas ao escolhido substituto do ministro da cultura, ficou com a sensação de que, alguém chamado a uma tarefa governativa, poderá ter ‘as suas ideias’ que podem não estar focadas no (pretenso) programa onde se vai inserir… Se tal acontecesse, o tal ‘governo’ seria uma soma de partes que não se cosem umas com as outras… o que seria grave e perigoso… e para não mais poder considerar-se uma espécie de manta-de-trapos sem nexo nem futuro…

Por outro lado, a confeção – sobretudo no atual elenco governativo – foi resultado de múltiplas influências – internas e exteriores – e que poderão funcionar enquanto não houver fricções mais significativas. Com efeito, o ‘poder’ catalisa até os mais desavindos, desde que possam reinar por breves horas, dias ou meses… Mais vale ser ex-governante do que pretendente nunca escolhido. 

= Há, no entanto, na nossa vida política uma urgente necessidade de mudar de comportamentos e de diretrizes, que até agora têm sido mais ou menos reinantes. Bem sabemos que não é tradição na nossa ‘democracia’… embora tenha algum significado nos países do norte da Europa… Não nos servimos sequer desse – modelo nem título – dum tal programa entre o irónico e o anedótico que um canal televisivo tem vindo a servir a certas horas da noite.

Referimo-nos a um projeto que devia ser implementado – para salvaguarda do nosso futuro e dos ténues resquícios de democracia que ainda lampejam – no nosso país como alternativa a quem ocupa as cadeiras ou gabinetes do poder… muitas delas servidas mais por interesses de fação ou de corrente amordaçada pelo partido reinante do que pela competência e boas práticas de preparação para o cargo, que deve ser exercido com mérito e não como mediatização ou pagamento de favores mais ou menos recentes…

= Já lá vai o tempo em que o chefe de governo tinha de saber de tudo e de responder às mais diversas questões com a competência mínima. Nem os tais ‘cem dias’ de estado de graça podem servir para estudar – superficial e rudimentarmente – os dossiers que envolvem desde a economia até às finanças, das situações de âmbito interno até aos problemas de alcance europeu, das tricas e reivindicações de setores até aos conluios entre apaniguados e adversários… na rua ou no parlamento…

Bastará ver o descalabro visto de interferências em matéria de contas – umas arranjadas, outras alouradas e tantas outras corrigidas sem nexo nem acerto… do orçamento e afins – para além das correções às erratas sob o beneplácito do inquilino de Belém, que no seu jeito de criador de ‘bom-humor’ nacional (ou será nacionalista?) tenta evitar ser considerado obstáculo à governação… mesmo que seja, num breve mês de exercício, mais fazedor de palavras e boas intenções do que de ações…efetivas, que não pode por falta de autoridade constitucional. 

= A sugestão é simples: para cada área governativa deve haver um titular bem preparado, conhecedor das matérias – e não como alguns arranjados à pressa e sob anonimato de (bem) pensantes e ignotos executantes – marcando o ritmo e apresentando alternativas… Podem e devem ter já a sua equipa de colaboradores – futuros ou putativos secretários de estado – que os ajudarão a traduzir, na prática, o que acham ser o melhor para tal teoria… se possível e necessário, amanhã!

Temos de saber com quem contamos para conseguirmos escolher entre quem diz e faz ou quem acha que diz, propõe e tenta, mas que não sabe fazer… O país não pode continuar ao sabor das lamúrias de uns tantos, que se calam, quando os seus adeptos atingem o poder. O país não pode viver amarrado à ideologia de há quarenta anos e, entretanto, caíram muros e foram derrubadas peias de coletivismo atávico e rançoso…noutras latitudes.

Nem as loas sobre vitórias que se esboroam com as promessas em ‘economias (ditas) emergentes’ podem servir para que não tentemos uma nova forma de cuidar do nosso país…sempre atrasado no contexto europeu, mas pedinte de favores quando os governantes se mostram incompetentes e fogem na hora da verdade…embora com sinais evidentes de riqueza pessoal/familiar.      

 

António Sílvio Couto 

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Um ‘panamá’ ou uma bofetada?



Há assuntos, no nosso coletivo mais ou menos de todos, que, ou se levam com sarcasmo ou, se vividos à risca, poderão deixar-nos em colapso psicológico e até moral por algum tempo...consciente.

Veja-se a (longa, ínclita e sensacional) lista dos ‘panama papers’, que listam os mais ricos dos tempos mais recentes – desde o já defunto Mao-Tsé-Tung… até outros tantos poderosos em ebulição – que conseguiram fazer fortuna em paraísos fiscais… sabe-se lá com que artes e manhas.

Por agora vemos, neste nosso rincão luso, um tal (pretenso) ministro da cultura a querer resolver à bofetada a divergência – de décadas e não só – em opiniões e escritos de menos-prazer… Se Eça de Queirós ainda escrevesse não teria melhor mote para levar à estampa alguns desses virulentos romances em que deixaria os contendores mal retratados ou, pelo menos, com algum pejo de serem novos/velhos da política do passado! 

= Neste país em regime de espécie de ‘vão-de-escada’, no contexto europeu e de quase sarjeta, na dimensão internacional, em que se tem vindo a tornar a nossa política, estes episódios são dignos de serem recriados num novo estilo – audaz, simples e de ressonância das ‘canções de escárnio e de maldizer’ – para que uns tantos não se esqueçam que a chegada a todo o custo ao poder não lhes dá autoridade – que nunca tiveram… nem na geração dos seus antepassados mais diretos… vivos ou defuntos – de tudo dizerem ou fazerem sem disso terem de responder pelos seus atos, ações ou intenções… de intimidação!

Será que é verdade que, uma certa fação do atual governo, entende-se tão bem com outros parceiros – das esquerdas radicais – porque até já estavam, no reinado do anterior chefe – o tal que ganhou por poucochinhos’ –  a preparar a adesão (transição) sub-reptícia às suas fileiras e só bastou um aceno para tudo se enquadrar… até ver bem de mais?

Os mentores, servidores e promovidos pelo compasso e o avental, cada vez mais se conseguem sobrepor – mesmo na composição governativa, autárquica, económico-social e não só – desde que possam favorecer, em breve, obras de beneficência dos amigos e comparsas… distritais ou nacionais?

 = Quanto custa um panamá – não nos referimos só ao dos jardins-de-infância e das escolinhas com que as crianças se defendem do sol – para frequentar a escola deste sucesso? Bastará – para já – um certo processo de silêncio ou será preciso algo mais de substancial… em género e/ou em papel? Porque surgiram certas figuras no palco em maré de vitória? De onde emergiram alguns ocupantes da cadeira do poder ou do enquadramento televisivo? Andavam na sombra e agora foram atirados para a ribalta… como que em reconhecimento ou como isco para outras conquistas? Desculpem a ignorância… em certos casos já iam surgindo como substitutos em atos eclesiais… já havia algum intuito mais consentido e/ou fundamentado?

 = Há coisas mais de âmbito empresarial – regional ou com implicações nacionais – que parecem continuar na nebulosa do faz-de-conta: ninguém diz, nem pergunta e, no entanto, as águas – do Tejo e da sua área de influência – movem-se…. Sabe-se lá para que foz…irão desaguar! Neste campo – segundo informações mais ou menos credíveis vai-se questionando: para quando a decisão sobre o ‘porto de águas profundas’, para o terminal de contentores, na região do (dito) vale do Tejo? Irá custar, de facto, o quíntuplo do que seria preciso, se fosse à beira Sado? A quem serve tal panamá? Quem está tão bem posicionado/a na decisão que irá colher os frutos diretos ou indiretos?

As tais bofetadas prometidas aos que não corroboram as opções culturais do ministro, terão de ser reorientadas para outros, que vão dissimulando com fait-divers outros factos, podem trazer consequências nefastas para todo um tecido social, económico, marítimo e cultural que tem andado escondido nas gavetas de certas forças e de beneficiários de investimentos (ainda) maiores do que os ‘panama papers’… ao nosso nível. Quem vai assumir a denúncia? Teremos de esperar pelos paladinos do nojo de funções pós-governativas… quando já foi tarde e sem retrocesso?

Com uma bofetada – irascível ou simplória – se pode fazer faltar o panamá de tantos interesses vendidos e muitos outros comprados com cumplicidades assumidas e/ou bem-pagas! Até quando?     

 

António Sílvio Couto

terça-feira, 5 de abril de 2016

O sentido das setas


Todos os partidos políticos têm símbolos que falam de si mesmos, tanto para os seus militantes como na relação com os seus adversários. Se bem elaborados na forma e no conteúdo devem ter significado mesmo ideológico e até as cores escolhidas têm carga e caraterizam os seus seguidores, adeptos ou simpatizantes.

Tem havido casos – dignos de estudo e de aprofundamento da identidade – que introduzem modificações ou até transformações que, na maior parte das vezes, correm mal aos ‘fautores’ de ocasião ou de arribação…

Independentemente da afinidade ou repulsa – tendo em conta o mais recente congresso (36.º) – será que as pessoas identificam o significado das setas do partido social-democrata? Por que razão tem aquela coloração a bandeira e qual o objetivo das três setas – mais ou menos constantes – na história de quatro décadas de existência? A que se deve a diferença com outras forças do nosso espetro partidário-ideológico?  

= Por uma questão de princípio fique claro que nada me move de exclusiva simpatia ou de qualquer aversão para com este partido… até porque gostaria de voltar a este tema com outras agremiações, que merecem ser esmiuçadas e aferidas ao que são, àquilo que fazem e, sobretudo, ao modo como se conduzem… agora que – segundo consta, ao menos na teoria – estamos numa fase de reflexão urgente de tudo e de todos… tentando salvaguardar o que ainda resta de democracia…nacional e/ou europeia. Sem sabermos quem somos, poderá ser mais fácil estar ao sabor da manipulação e de tantos tentáculos de ditadura, tenha ela a cor que tiver ou lhe convier!

 = A cor de laranja é uma cor quente matizada de entre as cores mais fortes – sobretudo o vermelho – de outros partidos no espectro mais à esquerda ideológica, de luta, de confronto e com meios mais interventivos pela força entre as classes sociais, laborais e económicas. A cor laranja tornou-se, assim, uma espécie de referência à social-democracia já vigente noutros países, particularmente, europeus.

As três setas – preta, vermelha e branca – fazem referência aos valores da social-democracia de liberdade, igualdade e solidariedade, envolvendo: a cor preta os movimentos libertários do século passado; a cor vermelha as lutas de classes trabalhadoras e dos seus movimentos de massas, enquanto a cor branca é uma referência aos valores humanistas, consubstanciados no personalismo, nalguns casos de influência cristã… Tudo rumo a uma sociedade nova, onde haja e possa haver justiça e liberdade das pessoas e das instituições.

 = Se as setas nos apontam caminho, como não poderemos sentir que algo que tem andado desorientado neste país, muitas das vezes acolhendo mais as promessas que são feitas ao estômago e menos à capacidade de inteligência e de emotividade. Se quiséssemos parafrasear um livro de Camilo Castelo Branco – ‘Coração, cabeça e estômago’, de 1862 – há mais interesse em exaltar o que se come com maior ou menor gosto e sabor – mesmo que nem sempre alimente – do que aquilo que faz ter sentido de vida, que obriga a pensar, questionando-se e desafia a olhar muito mais para a frente e menos para o presente, que depressa é expelido em lixo e estrume!

 = O sentido das setas – servimo-nos por agora das do símbolo gráfico deste partido, mas haveremos de ver, muito em breve, a tendência das mãos, abertas ou cerradas, egoístas ou em agressividade – obriga-nos a fazer um forte exame de consciência sobre tantos dos nossos servidores da vida pública – partidária, autárquica, associativa ou mesmo em contexto de fés e de igrejas – que, atendendo aos percursos realizados, pouco trarão, se continuarem nesta atitude individualista, de benfazejo à nossa sociedade…tão precisada de gente que faça do serviço altruísta algo mais do que uma bandeira de circunstância ou para aparecer nas fotos da comunicação social de serviço.

Apesar de sermos descendentes dos que ficaram – quais ‘velhos do Restelo’ – quando outros foram descobrir novos mundos, ainda acreditamos que as setas – aquelas ou outras – apontam para o alto, para mais longe e, sobretudo, para maior dádiva de vida e de ideais.

 

António Sílvio Couto

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Que felicidade entre os adolescentes?



Um estudo de âmbito mundial, envolvendo mais de 200 mil jovens, em 42 países da Europa e da América do Norte, revela que o fumo, o álcool, questões de saúde (obesidade e excesso de peso), problemas de desigualdade em razão do sexo… são questões de teor geral, enquanto nos rapazes se nota alguma propensão para brigas e consequentes lesões e nas raparigas revela-se alguma tendência a começarem a beber e a fumar cada vez mais cedo…

Embora estes estudos sejam algo generalistas, neles podemos encontrar aspetos e vertentes que revelam por onde anda o nosso futuro humano e cultural, na medida em que se está a semear o que muito em breve dará os seus frutos. Também é digno de ser referido que aquilo que se semeia é feito por quem hoje faz a escolha das sementes, bem como quem seleciona aquilo que se querer colher, tendo ainda em conta o modo como se prepara o terreno para que seja arroteado…

De facto, em muitas situações dos nossos dias – especialmente vemo-lo no nosso país – quem está em crise e à deriva são os adultos, muitos deles que eram adolescentes à ocasião da revolução do 25 de abril. Com efeito, alguma confusão moral – dir-se-ia quase duma certa amoral – foi semeado nesse tempo, trazendo hoje aos filhos e mesmo aos netos alguma perplexidade naquilo que tem de mais básico, isto é, nas questões dos valores e dos critérios de vida. Veja-se o trato dos problemas relacionados com a sexualidade, os temas da ética, as questões (pretensamente) fraturantes de género e de educação, de direitos, de liberdades e de garantias pessoais ou sociais, de assuntos laborais e políticos, etc.

Nestas situações tão diversas o que temos vindo a constatar é o desinteresse, a desmotivação e algum desleixo dos mais velhos, que se propagam – quase visceralmente – aos mais novos e que deixam em perigo o futuro da sociedade, enquanto corpo orgânico, estruturado e organizado, onde todos devem sentir os outros e interessarem-se, genuinamente, por eles. 

= Nota-se, no entanto, em quase todos os estudos e inquéritos, que se evita a abordagem ao tema da espiritualidade, ficando, na maior parte dos casos, reduzida a pessoa humana a elementos de natureza mais física e, nalgumas exceções, com breves resquícios de âmbito psicológico-emocional. Parece que há, por parte de alguns sectores intelectuais e (ditos) culturais, algum receio em tocar, mesmo que levemente, na dimensão mais específica humana: a sua espiritualidade. Embora haja quem considere que a vertente espiritual é, mesmo em caso de doença, um dos fatores de mais-valia para a enfrentar, aceitar e recuperar, há ainda correntes que se recusam, claramente, incluir na terapia da saúde a condição de espiritualidade da pessoa e da sua envolvência, familiar, hospitalar ou de sociedade… mesmo da Igreja!  

= Perante estas considerações e, tendo em conta, os dados do estudo supra citado, talvez seja urgente que saibamos investir na educação participativa dos adolescentes, tendo em conta as aspirações humanas, emocionais e espirituais, sem deixar de cuidar dos aspetos mais relevantes da sua construção na sociedade, que será deles a muito curto prazo.

. Não podemos continuar a deixar só à escola a educação para os valores éticos dos nossos adolescentes. Eles precisam de ser estimulados naquilo que têm de mais genuíno: o sonho de algo melhor, onde sejam intervenientes conscientes, ativos e criativos.

. Não podemos deixar que a sua felicidade (ou a mostra dela) se meça pela exibição de coisas (tlm, roupa, calçado, adereços e arrebiques), que causam ‘boa impressão’ nos outros, mas teremos de tentar cativá-los para ações em favor dos outros… e como são capazes, quando bem ajudados e orientados.

. Precisamos de lançar a semente de Deus nos nossos adolescentes, dando-lhes oportunidades de se fazerem um tanto felizes sem terem de chafurdar nos vícios e nas experiências que deixam marcas para o resto da vida… direta ou indiretamente.

Numa palavra: temos de ser pacientes para com os adolescentes, como outros o foram – à sua maneira – para connosco, quando fomos também adolescentes. Adultos amadurecidos, precisam-se!   
 

António Sílvio Couto