Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



terça-feira, 25 de março de 2014

Sorteio das Finanças: concurso ou engodo?


Mais de 46 milhões de faturas elegíveis são candidatas ao carro da sorte – um Audi A4 – que as Finanças vão sortear já em abril.

Para entrar neste concurso bastou que, durante o mês de janeiro passado, o contribuinte tenha pedido fatura no ato de compra/pagamento de algum produto, ficando submetidas ao sorteio todas as faturas emitidas e comunicadas à Autoridade Tributária e Aduaneira…não sendo necessária qualquer inscrição prévia!

- Embora este meio de ‘educar’ o povo contribuinte possa ser questionado, parece que a artimanha já começou a funcionar. Não deixa de ser inquietante que, ao balcão das compras, nos acirrem com a pergunta: quer fatura com número de contribuinte? Talvez tenhamos vivido demasiado à deriva em matéria de educação financeira, pois fomo-nos habituando a tentar enganar quem nos exige que façamos parte do bem comum e ao sabor dos nossos interesses mais ou menos individualistas.

Se atendermos que a (dita) economia paralela movimenta um quarto das compras/vendas, serviços/transações, então, teremos de concordar que temos um razoável caminho a fazer na consciencialização do nosso ‘eu coletivo’ como nação, país e povo!


- Apesar do aliciante de pode vir a ganhar um carro no valor de quase quarenta mil euros, parece-nos que este engodo tem tanto de imoral, quanto de inoportuno, pois, uma grande parte dos possíveis ganhadores do dito carro não terão qualquer utilidade em obtê-lo, na medida em que os gastos em combustível tornar-se-ão mais um fator de empobrecimento, de endividamento e até de superficialidade. Não seria mais útil – como foi sugerido, por alguns pensantes, quando o tema veio a público – entregar os prémios em géneros, sejam alimentares, sejam de outra necessidade, que o ganhador poderia escolher a seu critério? Não andaremos a enganar o ‘povo’ contribuinte com um novo-riquismo oco e sem valores de prioridades? Não terá mais utilidade e equidade beneficiar em redução de impostos quem tão sobrecarregado está em matéria de contribuições?

- Parece que este ardil de sortear automóveis pelas Finanças terá um tanto a ver com uma certa visão (ainda) retrógrada da mentalidade lusitana, pois o ‘carro’ já não é mais só um bem de luxo, mas antes um veículo de trabalho. Por isso, os governantes quase nos estão a qualificar – a todos e, particularmente, aos contribuintes – como se fossemos uma espécie de bando de subdesenvolvidos que veem no carro um artefacto de promoção. Também, em matéria de capital crítico não ficamos – todos e cada um – bem tratados com a possibilidade de sermos cumpridores das nossas obrigações só porque nos querem ganhar pelo prémio, diga-se novamente, muito pouco digno para quem se diz instruído nas coisas das ciências e das letras, mas talvez um tanto ignorante em questões éticas… mínimas.    

= Breves questões, desafios e provocações

Diante deste fenómeno social, que é o sorteio de um carro aos contribuintes cumpridores das suas obrigações fiscais, como que sentimos alguns desafios e provocações, que ousamos partilhar:

. Para quando a valorização ética/moral do cumprimento do dever em vez da promoção da falsidade, mesmo que possa render mais uns milhões aos cofres do Estado?

. Como poderemos educar para a corresponsabilidade social e comunitária quem só cumpre se for beneficiado (direta ou indiretamente) ou enquanto não seja descoberto na sua manha?

. Até onde irá (ou poderá e deverá ir) a participação das igrejas (comunidades e religiões) nesta ação cívica e de promoção da cidadania?

. Não teremos todos a ganhar em sermos mais sérios e bons cumpridores dos nossos deveres?

 
Basta de artimanhas e de subtilezas de mau gosto… Pela minha parte não quero participar nesta farsa!

 

António Sílvio Couto

segunda-feira, 17 de março de 2014

Cultivar um olhar de encanto…




Há dias, alguém me escrevia numa breve mensagem: ‘que Deus brilhe em nosso olhar’!

Isso fez-me refletir sobre o que será um olhar de encanto, isto é, onde brilhe Deus? Como pode Deus brilhar em nós, se não houver um olhar de encanto? Deus brilha no meu olhar? Como vejo, nos outros um olhar de encanto e os outros com esse olhar de encanto? Há ou pode haver malícia num olhar de encanto? Se tivéssemos de apresentar dois ou três exemplos, quem apresentaríamos como tendo um olhar de encanto?

- De fato, vivemos num mundo marcado por olhares muito diversos e nem sempre encontramos quem nos faça ver, com verdade e sinceridade, esse olhar de encanto, dado que poderá ser encantador, mas interesseiro, fascinante mas perigoso, marcante mas malicioso…

- Mesmo que a vida possa ser quase sempre dura e andemos de olhar turvo (isto é, sombrio e ensombrado), nós, cristãos, temos de cultivar um olhar sadio porque alicerçado no olhar de Cristo, que, como se diz tantas vezes no Evangelho (sobretudo de são Marcos), tinha um olhar de simpatia, um olhar de compaixão e um olhar de liberdade e de libertação.

- É verdade que os acontecimentos e as pessoas nos podem trazer, por vezes, menos boas recordações e isso nos pode cristalizar numa certa resistência à dádiva e à partilha para com os outros. Também as mais díspares situações humanas e culturais podem-nos endurecer, gerando um ambiente onde nos defendemos e podemos situar-nos mais em atitude de ataque do que na confiança para com aqueles/as que Deus coloca no nosso caminho, seja de forma fortuita ou mais regular.

= Como poderemos, então, cultivar um olhar de encanto, hoje?

Antes de mais para que esse olhar de encanto seja sincero e possa ser vivido de olhos levantados, temos de acreditar em nós mesmos, reconhecendo quem somos, com qualidades e defeitos, com bons e maus momentos, com virtudes e erros, com necessidade de arrependimento, de dar e receber o perdão…

O olhar de encanto precisa de ser cultivado pela verdade e nunca pactuando com a mentira, tanto para connosco mesmos como na relação com os outros. Estes não podem ser entendidos como adversários nem como concorrentes e tão pouco como inimigos.

Temos de saber levantar o olhar para que consigamos perceber os obstáculos que se colocam no nosso caminho, pois se andarmos de olhos pregados no chão corremos mais o risco de tropeçar e estatelar-nos, magoando e saindo magoados… sem vermos as pedras de tropeço a tempo.

Tal como se diz num certo aforisma popular: precisamos mais de olhar pelo vidro dianteiro do carro (vulgo para-brisas) do que pelo retrovisor, pois, este damos uma visão do (já) passado, ao contrário e em ponto reduzido, enquanto aquele nos faz ver o que está à frente, em dimensão real, enfrentando-o com naturalidade… sem subterfúgios nem medos!

Num contexto cristão/católico olhemos a passagem de Jesus na Cruz com a mãe e o discípulo. Ali, do alto da Cruz, Jesus tem um olhar de encanto sobre sua mãe e o discípulo que Ele amava – reparemos nesta designação com que o autor do quarto evangelho se refere a si mesmo e nos deixa espaço para que nos incluamos nessa qualidade perante Jesus – tentando perceber esse olhar terno e elevado, profundo e sereno, intenso e eterno. Não deveriam ser estas as qualidades do nosso olhar de encanto? Como poderemos viver a nossa fé se não tivermos um olhar de encanto sobre nós mesmos, sobre os outros e até sobre Deus?

Para terminar uma breve estória: havia uma jovem que se preocupava em saber de que cor eram os olhos de Jesus. Ela pensava: eram azuis, castanhos, pretos…de que cor será que eram? Nas orações, ela distraía-se e ficava longo tempo a pensar nisso e tentando descobrir. Um dia, ela estava a rezar, pedindo justamente essa graça, e de repente parece que ouviu Jesus dizer-lhe: ‘Filha, meus olhos têm a cor dos olhos de cada irmão e irmã que encontras’. Dali para frente, ela desistiu de querer saber a cor dos olhos de Jesus, e começou a olhar os olhos de cada pessoa que encontrava.

Afinal, um olhar de encanto é muito mais do que um olhar encantador, pois este pode seduzir e levar ao mal, enquanto aquele eleva e faz-nos encontrar Deus… nas pequenas como nas grandes coisas, isto é, sempre.


António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

quinta-feira, 13 de março de 2014

Entre José e Francisco… a nossa caminhada


Um faleceu na véspera em que o outro celebrava o primeiro ano de funções: D. José Policarpo morreu, com 78 anos, no dia 12 de março e o Papa Francisco celebrou o primeiro ano de ministério petrino no dia 13 deste mês. O primeiro esteve mesmo na eleição do segundo há um ano atrás e agora vivemos todos numa atitude de interpelação à nossa caminhada em tempo de quaresma.

Para mim tudo isto acontece num contexto de retiro anual e, com muito maior razão, estes momentos servem de reflexão sobre a nossa vida nos mais diversos aspetos em que ela se desenrola…
 

- Na casa de retiro onde estou – quando escrevo esta partilha – está uma bonita tapeçaria que tem inscrito o lema de episcopado do defunto Patriarca: ‘per obedientiam ad libertatem’ (da obediência à liberdade)…até porque foi na vigência do seu pontificado que este edifício – como tantos outros – foi erigido, como sinal de uma das facetas de D. José no diálogo entre a fé e a cultura, tanto na dimensão cristã como humanista.

Agora – como acontece quando alguém morre – tecem-se elogios, rasgam-se encómios e recordam-se etapas de proximidade com quem vemos anteceder-nos na partida. Quantas pessoas irão recordar o bem que Deus fez através de D. José. De quantas formas Deus se serviu para Se comunicar através dele. Quanto bem pode ter sido feito porque ele procurou ser fiel a Deus na Igreja, pela Igreja e com a Igreja…

A história de cada pessoa está cheia de sinais de Deus. A vida de cada pessoa tece-se com imensos fios de grandeza e entrecruza-se com linhas de pequenez. Cada um de nós pode e deve sentir-se grato ao Deus da vida e fazer com que a sua existência – longa ou breve – seja um hino de bênção do amor de Deus em cada etapa da nossa caminhada de fé, em esperança e pela caridade.

- ‘Da surpresa à interrogação’ como que poderá ser a caraterização do primeiro do ministério do Papa Francisco na condução da Igreja católica. Vindo do outro lado do mundo, Francisco criou um novo estilo, disse coisas que nem todos estavam à espera, gerou sinergias que o mundo (laico, indiferente e acristão) não previa. Digamos que o Papa Francisco colocou muitas das questões da fé num nível quase inesperado, trazendo à liça problemas que andavam em surdina e provocando temas que pareciam (quase) perdidos para a iluminação do Evangelho.

Homem do inesperado – bem diferente do mero improvisado – o Papa Francisco tornou-se um fenómeno de estudo, pois saiu do (quase) anonimato para ser uma das figuras mais marcantes na história do mundo atual. Quando anteriormente – como dizia há dias alguém – o Papa falava e se mudava logo de canal, agora, se é o Papa Francisco que diz, atende-se ao que está proferir ou pretende apresentar: ele tem, de verdade, a terna e eterna novidade do Evangelho de Jesus Cristo.


= Quais podem ser, então, os desafios, destas figuras de Deus na Igreja, que nos são colocados? Como devemos ler e interpretar as suas palavras e gestos? Onde está a linguagem de Deus a querermos conduzir, hoje?


. Desde logo mais do que loas a quem parte, temos de dar graças pelo que dele recebemos, seja nas qualidades, seja mesmo nos possíveis defeitos… e não nos estamos a reduzir ao patriarca emérito falecido. Todos somos suscetíveis de conversão, tanto mais que estamos em dinâmica quaresmal… rumo à Páscoa de Cristo. Conhecer-se é reconhecer-se digno diante de Deus e humilde perante os homens em cada tempo.

. Somos instrumentos de Deus para louvor da sua glória, deste modo, só aferindo a nossa caminhada ao Cristo do Evangelho poderemos ser instrumentos da ação de Deus em nós e d’Ele através de nós. Queremos e acreditamos que, na medida da luz de Cristo e na fidelidade ao Espírito Santo, poderemos construir um mundo mais irmanado nas possibilidades de bom convívio, de salutar fraternidade e de atenta comunhão, tanto nas alegrias como nas amarguras.
 
A memória de quem partiu merece, o ministério de quem serve se engrandece.
       

António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

sexta-feira, 7 de março de 2014

Viver na paciência


Dei comigo a refletir sobre uma palavra, que tem tanto de simples quanto de complexa: paciência. As pessoas dizem-se sem paciência. Os mais velhos perderam a paciência para com os novos. Estes, não o dizem, mas comportam-se como tal: sem paciência para com os mais velhos.

Que será, então, a paciência? Como podemos aferir que a temos? Em que circunstâncias a manifestamos, pela positiva ou negativamente? Antes de tudo ‘paciência’ pode decompor-se em ‘ciência’ da ‘paz’… isto é, ‘ciência da paz’. Creio que é isso que estou a precisar, mas também poderá ser isso que a pode alimentar a viver as provações que tem estado a viver… sobretudo na sua condição mais recente. Muitas vezes entendemos a ‘paciência’ como uma espécie de resignação, de desistência, de deixar correr… Mas ‘paciência’ é ativa na caridade, na fé e na esperança, pois nos faz viver no amor, na confiança e em atitude positiva em Deus e uns para com os outros. Sobretudo, a paciência é fruto do Espírito Santo… em nós.

 = Modalidades de paciência

De fato, há várias modalidades de paciência: a de Deus, a dos outros e aquela para connosco mesmos… Outras formas poderemos encontrar para falar desta caraterística dos nossos dias: a impaciência, manifestada em tantos e diversos momentos e situações.

- Paciência para connosco

Esta faceta da paciência é muito mais difícil do que possa parecer, pois exige de nós mesmos conhecimento, aceitação e maturidade. Conhecer a si mesmo é exigente e traz, por vezes, ligados aspetos de vida nem sempre fáceis de digerir, sobretudo quando isso tem ligado aspetos de sofrimento. A aceitação com paciência tem ligação a tudo quanto (positivo ou negativo) se viveu no passado, com a própria história pessoal e familiar e outros aspetos nem sempre fáceis de enquadrar, hoje. A maturidade que a paciência revela e faz crescer em maior maturidade ainda pode nem ter a ver só com a idade, mas com a disposição em enquadrar o que se vive no presente, numa abertura à sensibilidade de Deus no futuro. Digamos que a paciência para connosco mesmos tem ligação ao abandono à Providência divina, nem sempre fácil de viver numa época tão marcada pela pressa, pela superficialidade e pelo consumismo.

 - Paciência para com os outros

Esta vertente da paciência leva-nos a compreender nos outros o que nos custa a nós a viver, sendo mais exigentes para connosco e compreensivos para as debilidades e dificuldades dos outros. Quantas vezes os erros que apontamos aos outros mais não são do que os nossos próprios defeitos. Por isso, se sabemos o que nos custa corrigir-nos também nos fará ter paciência para com os outros sejam eles os mais próximos ou os que connosco se cruzam ocasionalmente. Como seria diferente o nosso espaço e o ambiente em que vivemos e existimos, se fossemos mais compreensivos e pacientes uns para com os outros. 

- Paciência de Deus… e (até) para com Deus

Como dizia recentemente o Papa Francisco: «a paciência de uma pessoa adulta [perante as provações], a paciência de Deus que nos carrega aos ombros é a paciência do povo». Com efeito, Deus é tão paciente para connosco, pois dando-nos tantos dons e graças, bênçãos e benefícios… mesmo sem os merecermos, continua à espera que correspondamos a tudo quanto Ele nos concede com misericórdia e amor.

Não será uma heresia dizer: ‘temos de ter paciência para com Deus’? Por certo se levarmos à letra que somos nós que devemos compreender o que Deus quer e não que seja Ele a entender o que nós queremos. No entanto, há tantas vezes que temos de pedir a paciência de Deus para entrarmos na lógica do que Ele quer, pois o seu tempo não é o nosso e os nossos critérios estão tantas vezes desfasados dos Seus. Deste modo podemos e devemos aprender a viver segundo do fruto do Espírito Santo, manifestado na paciência.

 

Na medida em que formos aprendendo a arte da paz – paciência – seremos capazes de construir a paz em nós mesmos, com os outros, porque a recebemos de Deus, que nos pacifica e faz caminhar na paciência… neste mundo conturbado, barulhento e perplexo.

 

António Sílvio Couto

terça-feira, 4 de março de 2014

Aprender a elogiar…com verdade


«A admiração mútua gera respeito e cria maior admiração por quem amamos e nos ama»!

Esta frase, que li por estes dias, foi complementada com o que ouvi, num programa de rádio (de âmbito nacional), em que andam à procura de situações nas pessoas queiram (pelas mais diferentes e saudáveis razões) elogiar os outros… É verdade que não consegui ainda ouvir nenhum desses programas, mas certamente tem sido um sucesso… até porque o tema está associado a uma cadeia de grande distribuição alimentar e continua a estar em antena!

Agora que estamos prestes a viver em tempo de dinâmica quaresmal: onde é que elogio rima com penitência? Como é que a conversão – atendendo às diversas tentações – pode ser conjugada com o apreciar os outros positivamente? Não será que dizer a verdade é uma outra forma de valorizar os outros e não servindo a maledicência?

Mesmo que o tempo da quaresma não seja já uma oportunidade de estar só quarenta dias – de 5 de março a 12 de abril – em contenção moral, em exercício espiritual e (até) numa tensão de conversão espiritual… ele pode (e deve) ser comparado ao tempo do ramadão islâmico, onde se pode sentir – ao menos de forma exterior – a vivência das condições religiosas em espaço social e cultural. Muito mal estaremos – como já aconteceu em França – se tivermos de dizer que ‘a quaresma é o ramadão cristão’, pois isso nos faria perceber que eles – os muçulmanos – vivem a sério o que nós, cristãos, vivemos numa espécie de faz-de-conta!

= Por que se tem (tanto) medo do elogio?

É caraterístico (quase) congénito do povo português desconfiar de quem e como elogia, pois, na maior parte dos casos não passa duma espécie de adulação ou de tentativa de conquistar o elogiado, embora sob alguma roupagem de falta de verdade do elogiador. Neste sentido vemos, normalmente, com olhos de dúvida que se faça o elogio de quem quer que seja, pois isso pode soar a oco e a intriguismo.

Gera-se, então, um clima de maledicência, onde o quanto pior (parece ser) melhor, mesmo que o contrário fosse o mais verdadeiro. Olhemos a dimensão política com exemplos da vida mais recente (ao tempo em que escrevemos… mas que facilmente surgirão outros fatos quando isto for lido) do nosso ‘eu coletivo’:

- Quem ainda está no governo quer fazer (sincera ou habilidosamente?) acordo para o tempo após-troika… logo a desconfiança da oposição estende as garras, pois pode soar a falso ou ser interesseiro… Como se, alguém que pretende ser alternativa de governação, não deveria ser parte da solução e não só do problema, mesmo que este possa ser – para já – uma questão de quem ocupa a cadeira do mando. Que miopia esta de canapé, onde nem se é capaz de participar e muito menos de se comprometer quem agora precisa de ajuda para (tentar) fazer melhor! Verdadeiramente o que temos é gente sem qualidades de perceber a quem serve, mas antes se serve dos outros para atingir os seus maquiavélicos interesses sem objetivos de serviço, embora se insinue que tal deseja…só não sabemos é quando!

- Se alguém pretende aceder – nem que seja na rotatividade ou alternância – ao poder terá de saber aproveitar os momentos de participação, para que mais não seja, quem for mais tarde votar, já perceba que as alternativas não são de promessa, mas antes foram testadas com medidas adequadas e exequíveis, percebendo o que lhes espera e não tendo de andar meses e anos a descobrir o significado das coisas, desde o vocabulário até aos meandros das decisões. Ora não é isso que temos visto por parte de quem aspira a ser primeiro, pois mais parece um aprendiz de ilusionismo do que um governante (e equipa) com projetos. Tudo parece muito feito em reação e não alicerçado em modelos sócio/políticos alternativos. Já basta de ineptos a mandar. Também temos de saber dar tempo para desenvolver o programa de quatro anos… Basta de cortar, ao fim de dois anos, o que se pretendia desenvolver com sequência… e futuro, sendo, então, avaliado no devido tempo.

Como país temos muito a aprender no campo do elogio feito com sinceridade e alicerçado na competência e não na adulação. Mais do que oportunistas precisamos de cidadãos que sejam servidores do bem comum, colocando ao serviço dos outros as qualidades recebidas numa atitude de bem-fazer e de fazer bem!

 

António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)