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quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Ser levado a sério

 


Em vários campos da nossa vida – pessoal ou coletiva – estamos a sofrer de algo extremamente perigoso: não ser levado a sério, não só em razão das posições já assumidas como das desconfianças emitidas ou mesmo dos preconceitos mais ou menos disfarçados de posições de opinião. Por vezes isso é de tal forma capciosa e subtil que será preciso desmontar certas razões e, sobretudo, arranjos de grupo, de facção ou ideológicos.

1. Comecemos pela batalha eleitoral que se avizinha: há figuras que sem terem prestados provas de jeito, pelo contrário, como que emergem na linha da solução, quando foram recentemente causa de problemas. Como se diz de alguns: não têm curriculum, mas antes cadastro. Não deixa de ser sintomático que promotores na sombra, noutras épocas, saiam da penumbra para influenciarem os mais incautos e ludibriados na onda... Mais uma vez assistimos à técnica quase estafada: por muito repetir uma mentira querem que ela se torne na versão da verdade. Quem foi que se demitiu? Por que onde insistir numa solução esgotada e algo bafienta?

2. No mundo do desporto – antes era só no futebol, agora foi estendido a outras modalidades – vive-se a tensão de que os erros dos outros como que apagam os insucessos dos nossos apaniguados: ei-los a discutir horas a fio as jogadas não sancionadas pelos árbitros de fora do campo, mas que podem explicar que o ganhar moral pode ser um êxito maior do que o conseguido no campo. Com que mestria se inventam soluções que já foram pasto de derrotas...

3. No âmbito da economia – trabalho, empresas ou na rua – surgem soluções que na maior parte dos casos não passam de enganos alicerçados na média generalista. O caso do salário médio distrital não passa de uma efabulação para distraídos. Os dados divulgados, pela segurança social, sobre o ano de 2023 apresentam os números seguintes: 1.300 euros em média geral, com o seguinte escalonamento: Lisboa - 1.535 euros; Setúbal - 1.378 euros; Porto - 1.316 euros... Em Braga, Viana do Castelo, Aveiro e Leiria os salários médios variam entre os 1.100 e os 1.200 euros. Não será que, mais uma vez, as médias são enganosas e não serão para levar a sério? Pelo que se pode ver e aferir tudo isto soa a engano e quase a mentira.

4. Nos espaços com incidência religiosa – particularmente na vertente cristã – nota-se que muito daquilo que se vê ser noticiado não pode ser levado a sério ou a mentira seria o guião de muitas condutas. O recurso a certos chavões de conveniência, numa linguagem a roçar o populismo, parecem mais confundir os incautos do que ajudar os que querem viver no mínimo de seriedade moral/ética e com condições para resultar no futuro próximo. Não deixa de ser quase-manipulação a insistência em certos temas pouco abonatórios dos prevaricadores, mas não estão todos nessa categoria. Habilidosamente se confunde a nuvem com Janus ou a árvore com a floresta...

5. Na complexidade da comunicação social – onde os grupos detentores não chegam a meia dúzia – vivem-se tempos conturbados, dado que os fazedores da notícias estão agora sob a mira da (dita) opinião pública. Muitos estão a receber a paga da fatura com que andaram a vender patranhas sobre outros. Dá a impressão que o tosquiador foi, afinal, tosquiado. Desgraçadamente para alguns já vai ser tarde para aprenderem as lições que pretenderam impingir aos outros. Por muito que queiram vender o produto da isenção vemos que esta nunca foi tão mal servida como neste tempo das redes sociais. Também aqui a (pretensa) denúncia anónima para encher páginas ou fazer parangonas nos noticiários se voltou contra aqueles que usam tal estratagema…

6. Como se dizia na velha Roma a cair de podre: não basta à mulher de César que seja séria, é preciso que o pareça também!



António Sílvio Couto

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