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sábado, 13 de janeiro de 2024

Entre o ‘Dallas’ e o ‘big brother’

 



Numa leitura algo exagerada e, possivelmente, extremada, poderemos ver as nossas condições política em geral e a ação governativa em particular colocadas entre estes dois programas televisivos de épocas diferentes e com intérpretes diversificados: a série ‘Dallas’ dos anos setenta a noventa do século passado e o reality show ‘big brother’ já deste século.

Vejamos um pouco os enredos de cada um dos programas para perscrutarmos as razões de os colocarmos em confronto com a nossa situação político-social... cultural.

* Na série ‘Dallas’, exibida por um canal americano desde 2 de abril de 1978 a 3 de maio de 1991, encontramos a história de uma família texana alicerçada na fortuna e nas deambulações do negócio do petróleo... Aí se destaca um tal JR como o esperto vilão da família e dos negócios, sempre num registo de ganhador pela manha... ao longo de quase quatrocentos episódios. Por estes dias está a ser reposto em memória num canal português.

* Por seu turno, o reality show - dito das coisas da vida real - ‘big brother’ teve a sua primeira edição a 3 de setembro de 2000 e já teve mais de uma dezena de temporadas, com figuras anónimas, com alguns ditos ‘famosos’e com versões a tentar arrastar o (pseudo) interesse do público numa tentativa de conquistar publicidade para o canal detentor do exclusivo no nosso país.
Aqui vimos emergirem do anonimato figuras que se deslumbraram com a fama e rapidamente cairam no ridículo senão mesmo na lama de onde tinham saído.
Mesmo que assumindo nomes diferentes - secret story, casa dos segredos, duplo impacto, desafio final - notou-se uma espécie de exploração das debilidades dos ‘personagens’ deixando a nu falhas de personalidade, de caráter, de menos boa consciência...até moral.

= Diante destes dois exemplos televisivos, que inegavelmente influenciaram a vida pública, podemos e devemos colocar questões e nelas intentar perceber que tempo é este em que vivemos, que sociedade é esta em que estamos e, sobretudo, que futuro nos reserva esta mescla de subtilezas culturais em condição caleidoscópica.

- Certas figuras da vida política não se parecerão mais com o JR do que julgam? Os meandros da condução política aguentarão por muito mais tempo quem use da esperteza para vingar os seus intentos? À semelhança do JR da série não se descobrirá, mais depressa do que se julga, tanto daquilo que reluz enquanto reina? Não haverá algo de maquiavélico em tanto do poder em prática do que se percebe? Pelos indícios em jogo não se entendeu ainda que certas visões maniqueistas - ideológicas e do passado - já não têm incidência entre os eleitores e votantes?

- A avaliar pelas diversas edições do ‘big brother’ - com concorrentes às centenas, dizem - nota-se que ainda há muitas pessoas a quererem sair do anonimato para a visibilidade trucidante. Com efeito, há pessoas que não olham a meios para terem uns míseros segundos de fama. O custo é demasiado alto e os efeitos tornam-se excessivamente profundos. Enquanto houver quem não tenha pejo de se expor, mesmo à irrisão de todos, estes programas continuarão a entreter...na pela como na vida real!

- Numa palavra: falta bom senso e isso não se vende nem está em promoção.
Dispensamos tantos ‘JR’s’ de serviço e ansiamos que haja mais quem se resguarde na sua vulgaridade...



António Sílvio Couto

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