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terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Trânsfugas - como entender?

 

Nunca como agora se ouviu tanto falar que elementos de um certo grupo partidário troque de cor e de opção ideológica. Na maior parte dos casos isso, anteriormente, tinha a designação de ‘independente’, mas agora emerge uma nova figura que tem tanto de bizarro quanto de patético. Mesmo que forma algo superficial este novo fenómeno da nossa política merece alguma reflexão senão mesmo uma análise atenta, cuidada e prospetiva.

1. A simples zanga com quem manda ou a não-presença nas listas a votar serão razões para mudar de partido e de campo ideológico? Ser de outra facção diferente de quem reina ou não se rever nos atuais dirigentes explica que se deixe incluir numa lista anteriormente adversária e concorrente? Quem tem razão nesta disputa: os que saem ou os que continuam? Quais as facetas psicológicas e inteletuais manifestadas por estes trânsfugas em abundância? Serão tantos assim ou isso fará parte de uma campanha de fraqueza do sistema partidário algo anquilosado senão mesmo bafiento?

2. Perante a evidente falta de qualidade de liderança da maior parte dos partidos políticos portugueses somos, agora, confrontados com esta onda de trânsfugas em busca de não quererem sair do seu terreno de ganha-pão. Isto diz bem da incapacidade de saberem ver a sua incompetência, arrastando-se nos postos de mando os que menos valem e que, nalgumas circunstâncias, poderão ser os mais oportunistas. Deste modo é como que trucidada aquela que era considerada uma arte - a da política - convertendo-se num espaço desvalorizado, menos bem frequentado e, possivelmente, abrindo caminho para espertos ditadores, mesmo que votados, legitimados e tolerados... Já foi assim noutras épocas da História!

3. Nota-se que é cada vez mais é difícil encontrar pessoas que estejam disponíveis para estarem na política ativa, isto é, de se submeterem a ter a vida espiolhada a todo o tempo, sem privacidade nem resguardo de si e da sua família. Este ambiente é clima tortulhoso para crescerem os que não prestam, aliados aos interesseiros mais subtis e em vias de assaltarem os lugares de governança. Veja-se o espetáculo da constituição das listas de candidatos/as ao próximo parlamento. Repare-se na desqualificação orquestrada com que certa comunicação social embala e promove uns tantos, denegrindo outros. Atente-se aos excertos dos discursos de alguns para depreciar as intervenções daqueles que menos lhes agradam... Não serão estes também trânsfugas e promotores de maior dissidência?

4. Com estas condições poderemos ver que a participação no próximo ato eleitoral será um teste à sobrevivência da (dita) democracia, que, com quase cinquenta anos, ainda tem muitos tiques de adolescência. Os paladinos deste regime de faz-de-conta serão os potenciais vencedores, pois ao promoverem a ignorância vão reinando sobre os incautos e descrentes da política como serviço de todos e para todos. Assim poderão perpetuar-se e aos seus no poder sem mérito nem glória!

5. «Os cidadãos devem, tanto quanto possível, tomar parte activa na vida pública. As modalidades desta participação podem variar de país para país ou de uma cultura para outra. «É de louvar o modo de agir das nações em que, em autêntica liberdade, o maior número possível de cidadãos participa nos assuntos públicos».
A participação de todos na promoção do bem comum implica, como qualquer dever ético, uma conversão incessantemente renovada dos parceiros sociais. A fraude e outros subterfúgios, pelos quais alguns se esquivam às obrigações da lei e às prescrições do dever social, devem ser firmemente condenados como incompatíveis com as exigências da justiça. Importa promover o progresso das instituições que melhorem as condições da vida humana» - Catecismo da Igreja Católica, n.os 1915-1916.
Numa palavra: o cristão - cidadão e eleitor - tem obrigação moral de votar e de decidir, segundo, os valores da doutrina da Igreja católica, participando no bem comum... Tudo o resto será de grave culpabilidade.

António Sílvio Couto

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