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quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Fazer crescer a cultura da ternura e da compaixão

 

«Nesta mudança de época que vivemos, especialmente nós, cristãos, somos chamados a adotar o olhar compassivo de Jesus. Cuidemos de quem sofre e está sozinho, porventura marginalizado e descartado. Com o amor mútuo que Cristo Senhor nos oferece na oração, especialmente na Eucaristia, tratemos das feridas da solidão e do isolamento. E deste modo cooperamos para contrastar a cultura do individualismo, da indiferença, do descarte e fazer crescer a cultura da ternura e da compaixão».

Este excerto da mensagem do Papa Francisco para o 32.º dia mundial do doente, que celebramos, como habitualmente, no dia 11 de fevereiro, pretende chamar-nos a atenção «a todos a abrandar os ritmos exasperados em que estamos imersos e a reentrar em nós mesmos».
Partindo da frase bíblica - ‘não é conveniente que o homem esteja só’ - o Papa trata do tema ‘Cuidar do doente, cuidando das relações’.
Respigamos algumas das palavras desta mensagem papal:
- Fomos criados para estar juntos, não sozinhos. E precisamente porque este projeto de comunhão está inscrito tão profundamente no coração humano, a experiência do abandono e da solidão atemoriza-nos e olhamo-la como dolorosa e até desumana. E isto agrava-se ainda mais no tempo da fragilidade, da incerteza e da insegurança, causadas muitas vezes pelo aparecimento dalguma doença grave.

- Associo-me, pesaroso, à condição de sofrimento e solidão de quantos, por causa da guerra e suas trágicas consequências, se encontram sem apoio nem assistência: a guerra é a mais terrível das doenças sociais e as pessoas mais frágeis pagam-lhe o preço mais alto.

- É preciso assinalar que, mesmo nos países que gozam da paz e de maiores recursos, o tempo da velhice e da doença é vivido frequentemente na solidão e, por vezes, até no abandono. Esta triste realidade é consequência sobretudo da cultura do individualismo, que exalta a produção a todo o custo e cultiva o mito da eficiência, tornando-se indiferente e até implacável quando as pessoas já não têm as forças necessárias para lhe seguir o passo. Torna-se então cultura do descarte... O abandono das pessoas frágeis e a sua solidão acabam favorecidos ainda pela redução dos cuidados médicos apenas aos serviços de saúde, sem serem sapientemente acompanhados por uma «aliança terapêutica» entre médico, paciente e familiar.

- O primeiro cuidado de que necessitamos na doença é uma proximidade cheia de compaixão e ternura. Por isso, cuidar do doente significa, antes de mais nada, cuidar das suas relações, de todas as suas relações: com Deus, com os outros – familiares, amigos, profissionais de saúde –, com a criação, consigo mesmo.

- Recordemos esta verdade central da nossa vida: viemos ao mundo porque alguém nos acolheu, somos feitos para o amor, somos chamados à comunhão e à fraternidade. Esta dimensão do nosso ser sustém-nos sobretudo no tempo da doença e da fragilidade, e é a primeira terapia que todos, juntos, devemos adotar para curar as doenças da sociedade em que vivemos.

= Breve reflexão provocatória:
Somos todos doentes, antes, durante e depois do tempo em que vivemos. A fragilidade nos marca, sobretudo, com o avançar da idade. Como o aceitamos?
Pelo muito que significa a vida de cada de nós, a condição de doente é mais do que certa, mas saber vivê-lo à maneira de Jesus é essencial e com Ele havemos de entregar a nossa condição à sua redenção ativa e atuante neste tempo e de olhos postos na meta, que é Ele.
Queira Deus que aprendamos, de forma eucarística, viver a nossa fragilidade e de doença, mesmo sob a celebração do sacramento da Unção dos doentes, hoje.



António Sílvio Couto

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