Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Truculências neste país de papelão

Não sei se é da idade – dos outros ou minha – mas noto, ultimamente, que certas atitudes parecem-me truculência algo excessiva, tanto pelas palavras, quanto pelos comportamentos: declarações azedas, intervenções excessivas, comentários despropositados, correrias de quem precisa de aparecer... eis alguns exemplos contagiantes deste clima pouco salutar, antes confrangedor... Este país de papelão começa a dar indícios de se vir a desmoronar a médio prazo, tais são os sinais indisfarçáveis associados à má-qualidade dos intervenientes: cada vez mais vale ainda menos... até cairmos nesse atoleiro sem regresso.

1. Quando vemos e ouvimos transpirar agressividade de atuais e anteriores governantes parece que o tom belicista de outras paragens assentou arrais nas hostes dos ‘nossos’ partidos, nos diversas agremiações desportivas, nos espaços da comunicação social (escrita, falada e televisionada), nas conversas das pessoas, que facilmente descambam para discussões e ataques desmedidos: nada nem ninguém se respeita nem se faz respeitar. Quem tenha tido algum tempo para espreitar as atividades políticas - isto é, dos partidos - dos último dias terá ficado com a sensação de que há muita gente a precisar de ser notada, como se daí dependesse o sustento pessoal e familiar a curto prazo. Com efeito, muita gente quando lhe cheira ao poder sai da toca ávida de conquistar protagonismo. Eis o nível dos que pretendem servir. Não será isto, antes, servir-se?

2. Mais um forte sinal deste clima de truculência são os ataques de uns para com os outros. A avaliar pelo ensaio dos dias mais recentes, vamos viver dois meses – estamos a sessenta dias de irmos a eleições – de muito mau ambiente. Haver clareza de projetos não implica que tenha de se verificar um combate de tal forma atroz que a reconciliação posterior se possa tornar quase impossível. Para bem de todos precisamos de saber ao que se propõem fazer, pois a confusão, para além de má conselheira, torna-se muitas vezes foco de oportunismo, de clientelismo e até de mau serviço àqueles a quem se dirige a mensagem.

3. Nalguns dos intervenientes – deveriam ser dignos intérpretes – nota-se a fogosidade da idade. Dos dirigentes máximos dos seis partidos mais votados, quatro deles nasceram depois do 25 de abril de 1974 e os outros dois estão na barreira dos cinquenta anos. Apesar de quase todos terem boa formação inteletual no seu setor de atividade, carecem da experiência de vida e, sobretudo, da ponderação do antes para o depois. Mesmo que componham as suas equipas de trabalho com pessoas com mais experiências faltar-lhes-á a vivência que só a vida traz e ensina. Também neste capítulo um pouco de humildade será de introduzir a contento para que não se venha a verificar a humilhação por falta de bom senso. Este não se vende: ou se tem ou se espera vir a conseguir!

4. Embora na componente eclesial se incentive a participação dos jovens – este ciclo da vida não pode estender-se em excesso – não será desprezível que os responsáveis tenham maturidade suficiente para serem condutores de pessoas ao seu cuidado. A exposição (mediática, pública, nas redes sociais ou noutras formas) em excesso de alguém como que pode denunciar algo que não abona em favor da maturidade necessária. Também aqui o aforisma – o barulho não faz bem nem o bem faz barulho – tem lugar e poderia ser um critério de discernimento de todos e para todos. E nem a expressão introduzida pelo Papa Francisco - ‘todos, todos, todos’ - nos pode distrair do essencial, antes cuidando que haja silêncio e ponderação nas palavras, nos gestos, nas atitudes tão nas simples como nas mais complexas.

5. Nitidamente se nota que nos faltam dirigentes com capacidade e formação de liderança, pois esta é mais do que a soma dos votos amealados nas contendas internas ou por confronto com outros em disputa. Na Europa e no nosso país percebe-se a falta de qualidade em quem a dirige e nos guia...



António Sílvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário