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segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Reivindicações de polícias e de agricultores

 

O país tem vindo a ser sacudido por reivindicações de vários setores socio-profissionais: das forças de segurança (guarda nacional republicana e polícia de segurança pública, a que foi acrescentado o vetor das prisões), de agricultores e outros mais ou menos difundidos e noticiados. Se as forças de segurança andam nisto há semanas, os procedentes com ligação à agricultura surgiram em dois dias e logo sairam de circulação. Os primeiros organizaram manifestações com milhares de participantes (dizem: dez mil em Lisboa e quinze mil no Porto), enquanto os segundos com uns tantos tratores bloquearam nalgumas horas estradas... Estes receberam promessas e foram atendidos com milhões de euros de imediato, os primeiros pretendem igualdade com as forças de investigação naquilo que denominam de ‘suplemento de missão’, mas ainda não foram atendidos.

Estamos em época de campanha eleitoral para as eleições antecipadas de 10 de março. As várias formações partidárias andam, por aí, a vender o seu produto com maior ou menor convicção à mistura com a propaganda orquestrada por alguma comunicação social adstrita ao poder.

Neste contexto assaz confuso e um tanto nebuloso, ouso colocar algumas questões, embora se sinta que as respostas pelo silêncio soarão altissonantes:
- Não será confuso que se tente condicionar quem serve o Estado, só porque destoa quando era previsto colaborar?
- Por que querem comprar pela boca quem não alinha na versão oficial da governança?
- Onde está a liberdade de expressão, se os contestários são advertidos com processos e inquéritos?
- Por que há dinheiro para calar os agricultores e se inventam desculpas para nivelar as forças de segurança sem distinção?
- Não comportará algo de menos claro que as forças abrangidas pelo subsídio implementado pareçam uma espécie guarda pretoriana de quem está no poder, mesmo que em forma de gestão?
- Que dizer das fugas de informação - ao menos para certos órgãos de comunicação social - quando a força premiada está em ação?
- Que dizer ainda de alguma surpresa - e com uma certa eficiência - por parte de outras forças contra quem não ocupa o poder ou deambula por espaços afins?
- Até onde irá a mescla (subtil, insinuosa e bacoca) do poder judicial com tendências políticas?

Talvez já ninguém acredite no chavão - à política o que é da política e à justiça o que é da justiça - pois aquela, quando o jogo não lhe convém, muda as regras para que possa dar a impressão de que ganha, embora se perceba o ridículo e venha a perder...
Estamos a bater no fundo. Ainda não viram? Quem nos salvará dignamente do atoleiro para onde caminhamos?

António Sílvio Couto

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