Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Bodes expiatórios... à la carte

 

A situação sócio-política nacional está deveras confusa, quantos aos casos, em relação às situações, atendendo às pessoas, considerando as oportunidades, tendo em conta o presente e tentando interpretar o futuro. Desde o dia 7 de novembro entramos em descalabro. A demissão do chefe do governo lançou nuvens de suspeitas. A marcação das eleições baralhou. A aferição dos partidos à contenda denota que a qualidade está em nítida rutura. Emergem acusações. Trepida tudo e todos em convulsões. O país está a afundar-se e poucos se obrigam a impedi-lo...

1. ‘Bodes expiatórios’
Há expressões usadas na linguagem habitual que, por vezes, precisam de ser enquadradas e explicadas. ‘Bode expiatório’ é uma delas. Vejamos a sua origem.
Em Lv 16,1-22 encontramos a narrativa da festa da expiação’ ou do grande perdão - em hebraico Yom kippur - em que o sumo-sacerdote tomava dois bodes, juntamente com um novilho, ao lugar de sacrifício, como parte dos sacrifícios do Templo de Jerusalém. No templo os sacerdotes sorteavam um dos bodes. Um era oferecido em holocausto no altar de sacrifício com o novilho. O segundo tornava-se o bode expiatório, pois o sacerdote impunha as mãos sobre a cabeça do animal e confessava os pecados de todo o povo de Israel. Posteriormente, o bode era deixado ir para o deserto, levando sobre si os pecados de todo o povo, para ser reclamado pelo anjo caído Azazel.
Em sentido figurado, um ‘bode expiatório’ é alguém que é escolhido arbitrariamente para levar (sozinho) a culpa de uma calamidade, crime ou de qualquer evento negativo (embora não o tenha cometido). A busca do ‘bode expiatório’ é um ato irracional de determinar que uma pessoa ou um grupo de pessoas, ou até mesmo algo, seja responsável de um ou mais problemas sem a constatação real dos fatos.

2. No contexto sócio-político que estamos a viver convulsivamente vermos surgirem – à la carte (como é conveniente) – acusações diversas sem que os verdadeiros culpados assumam as consequências dos seus atos. À negligência governativa apontam a justiça como a culpada, sem que se tenham esquecido que foram os legisladores quem deram poder para que se cumpram as leis feitas... Ao colapso das estruturas (ditas) democráticas foram os diversos governos e governantes que se desautorizaram com negociatas por debaixo da mesa... Das reclamações de incompetência de vários intervenientes podemos perceber que já só a pescar-no-aquário conseguiram encontrar quem quisesse aceitar que não os menos maus para os postos de governação... Aos fazedores da comunicação social convém fabricar uns tantos peões-de-brega, pois assim podem distrair e escarafunchar outras situações pestilentas, que não as suas vidas de ocasião...

3. Quem não se apercebeu já que certos fazedores de opinião usam de habilidades e rebuscadas manhas para branquearem os seus preferidos? Com que destreza ainda encontram ideias novas nos recauchutados discursos de antanho. Falta-nos liberdade de não querermos impor quem nos seja mais simpático ou de proximidade ideológica. As guerras de sucessão deixarão vir à tona tantos lacraus que morderão mesmo que sejam ajudados a safarem-se do pântano para onde empurram o país. Sente-se no ar um certo cheiro a conspiração e onde mais uma vez teremos de escolher entre o mau e o pior.

4. Temas como a saúde, a educação, a justiça, a segurança (social e individual), trabalho e salários, a habitação e tantos outros temas urgentes e necessários não podem ser escondidos por tricas e debates de baixa qualidade nem poderemos ficar reduzidos aos ataques de mediocra moralidade, pois todos tem culpas na situação a que chegamos. Não atirem pedras uns aos outros, pois podem fazer ricochete e causarem mais estragos do que pensam.

5. Portugal merece melhor!



António Sílvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário